recordings ➤ tony stark
Esses dias tava no instagram e me deparei com esse post:
E como uma boa marvete pensei: porra, isso dá um imagine. Então tá aí, um pouco diferente do normal (sem sn e tal) mas espero que gostem assim como eu gostei de escrevê-lo.
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Além do som da respiração entrecortada de Morgan Stark e os seus passos sorrateiros atravessando a sala completamente escura, nada se ouvia através do silêncio da noite no chalé. A garota procurou incansavelmente pelo interruptor de luz na parede até o momento em que ligou as luminárias do cômodo, que imediatamente iluminaram a vasta extensão da sala com seus aspectos rústicos.
Morgan Stark subiu os últimos degraus restantes que a separavam do "escritório" de seu pai; se assemelhava à algo como uma plataforma de madeira suspensa na sala do chalé por meio de pilares de mesmo material. Não era como se Pepper nunca tivesse deixado a garota explorar por ali já que, na verdade, quando Morgan começou a dar seus primeiros passos na "direção da tecnologia" a mulher imediatamente permitiu que a filha começasse a explorar as mais diversas criações de Tony (sempre monitorando cada movimento da garota, claro). Muitas das máquinas e criações de Tony foram retiradas dali, deixando apenas alguns itens para "matar a saudade"—o que, na verdade, era apenas uma maneira de manter Tony Stark vivo dentro daquela casa. Nada havia restado do seu corpo, tecnicamente. Então suas invenções supostamente serviam para suprir essa saudade inevitável.
Morgan finalmente chegou ao topo do "escritório", indo imediatamente de encontro com a mesa principal do local que exibia o grande painel muito usado por Tony antes da sua morte. A garota passou suas mãos pelas bagunças de peças e fios em cima da mesma, empurrando para o lado diversas ferramentas e permitindo que alguns objetos mais irrelevantes caíssem e rolassem pelo chão de madeira.
Sua mãe provavelmente estava dormindo naquele momento, mas Morgan não conseguiu pregar os olhos desde o momento em que deitou-se na cama; Pepper diria que isso era a "mente de uma jovem Stark trabalhando incansavelmente", e talvez ela estivesse totalmente certa. Morgan dificilmente conseguia descansar quando as engrenagens da sua cabeça estavam todas trabalhando em conjunto enquanto concretizavam algum tipo de criação ou quando a saudade a invadia por completo. E assim protagonizavam-se os seus episódios de insônia recorrentes.
A ausência de Tony havia lhe custado muitos choros no dia dos pais, várias piadinhas por parte de crianças maldosas e a dor aparente de Pepper ao ter que explicar exatamente o que acontecera com ele. Muitas pessoas realmente acreditaram que Morgan mal iria lembrar-se do seu pai, já que ela era apenas uma inocente criança que não nutria nenhum tipo de noção do que exatamente a morte se tratava. Mas era difícil tentar não sentir-se angustiada em um mundo onde os feitos honrosos e o gênio astuto de Tony Stark são lembrados quase todos os dias. Morgan apenas teve que aprender a conviver com isso.
A garota ligou o painel e imediatamente começou a passar seus dedos pelo mesmo, clicando sem hesitar nos diversos comandos e atualizações que o mesmo exigia. Aos dez anos de idade fora quando Morgan Stark descobriu que talvez nutrisse algum tipo de apreço por tecnologias e invenções após tirar a sua primeira nota dez de muitas outras em um trabalho de robótica na escola. Aos doze bisbilhotou nas criações de seu pai e levou uma bronca daquelas; não era como se Pepper não permitisse que a garota explorasse os feitos convidativos de Stark, mas Morgan realmente mantinha seu respeito pela mãe. E agora, aos quatorze, decidiu iniciar algum tipo de busca desenfreada pela última— Morgan acreditava fielmente que seria a última— lembrança manual que restou do seu pai.
Dias antes, Happy Hogan havia cometido o gravíssimo erro de revelar para a garota que Tony Stark provavelmente mantinha gravações de testes em suas primeiras armaduras guardadas em algum lugar no chalé— isso se Pepper já não houvesse as jogado fora. Happy realmente caiu na sua própria ilusão de que Morgan iria esquecer-se daquela singela revelações em pouco tempo; mas, por Deus, estamos falando da filha de Tony Stark. Era óbvio que a garota não iria deixar isso barato.
Morgan abriu a décima segunda gaveta da extensa mesa, sentindo-se levemente frustrada por ainda não ter achado nada semelhante à gravações dentro das mesmas. Ela tentava fazer o mínimo de barulho possível mas toda vez que ela abria uma gaveta e apenas se deparava com papéis e mais papéis um suspiro raivoso escapava pelos seus lábios contraídos, fazendo com que a garota sentisse uma grande e repentina vontade de chorar.
Ela chutou a última gaveta da mesa com mais força do que o normal e bufou, sentindo-se completamente frustrada com o fato de que era duas da manhã e, ao invés de estar dormindo tranquilamente no aconchego do seu quarto, estava alia acordada em uma busca desenfreada por algo que muito provavelmente nem existia mais.
— Argh!— a garota resmungou com indignação, esfregando seu rosto com as mãos com certa brutalidade enquanto resmungava mais alguns palavrões inaudíveis em forma de sussurros.
— Minha pequena Stark não consegue dormir?
Morgan paralisou no lugar e ergueu as mãos em rendição acima da cabeça, sentindo-se mais frustrada ainda por ter sido pega no flagra mais uma vez. A garota virou-se lentamente na direção das escadas de madeira, onde Pepper Potts estava escorada contra o pilar de sustentação enquanto sorria animadamente na direção da filha.
— O que está fazendo aí?— a mulher gesticulou com a cabeça na direção de Morgan, enquanto a mais nova dava de ombros de modo despreocupado.— São as gravações, não é?
A garota ergueu seu olhar indiferente do chão e encarou a sua mãe com certa esperança; era fato que Pepper havia envelhecido notavelmente nos últimos anos, mas todos os seus velhos amigos viviam repetindo que ela continuava a mesma mulher exuberante e jovial de sempre.
Pepper com certeza teve suas feições envelhecidas pelo tempo. E pela saudade.
— Venha aqui.— a mais velha deu um passo na direção da filha e acenou com a cabeça para que ela a seguisse.— E antes que pergunte: sim, eu pretendia mostrar isso para você algum dia.
Morgan seguiu sua mãe até o outro lado do pequeno escritório, os passos pesados de ambas estalando na madeira desgastada pelo tempo. Pepper parou em frente a um armário imenso e o abriu, logo começando a revirar caixas e mais caixas empoeiradas dispostas simetricamente uma ao lado da outra ali dentro.
— Mantemos nesse armário as principais lembranças do seu pai.— ela começou a justificar-se enquanto revirava todos os itens ali dentro.— Fico surpresa em saber que você nunca pensou em bisbilhotar aqui dentro.
— E ficar ouvindo seus sermões por duas horas à fio? Nem pensar.
Pepper riu, puxando com certa dificuldade uma caixa abarrotada de coisas de dentro do armário.
— Falou igualzinho ao seu pai agora.
Igual ao seu pai. Morgan Stark havia ouvido aquela frase tantas vezes durante os últimos anos que ela nem lhe causava mais efeito nenhum.
— As gravações estão aqui dentro.— a mais velha anunciou por fim, estendendo a caixa na direção da filha.
— Nessa caixa escrita: "Não abra. Propriedade privada de Anthony Edward Stark"?— Morgan estreitou os olhos na direção da caixa de papelão de tamanho médio nos braços de Pepper.— "Esse aviso se aplica à você também, Pepper Potts".
A mais velha riu baixinho, observando com um certo brilho nos olhos Morgan tomar aquela caixa nos braços como se fosse a coisa mais frágil do mundo.
— Divirta-se.
Antes que Morgan pudesse agradecer ou falar algo do tipo, Pepper já havia descido os degraus da escada de dois em dois rumo ao seu quarto.
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— Tá gravando?— a voz estridente de Tony saiu dos altos falantes da televisão no exato momento em que Morgan conseguiu conectar o único cabo compatível com aquele tipo de instalação nas entradas da TV.— Foco para cima.
Ah, a voz do seu pai. Morgan quase havia se esquecido de quão fraternal e familiar ela lhe soava.
A garota sentou-se no sofá e segurou o controle remoto firmemente em uma das mãos, sentindo uma repentina onda de ansiedade e algo semelhante à tristeza aflorando dentro do seu peito cada vez que a figura de Tony movia-se de um lado para o outro em frente à pequena câmera.
— Ei, cabeçuda!— ele saiu do foco da câmera e apontou para um pequeno robô segurando uma vassoura em um dos seus ganchos.— Tem sangue no meu tapete. Limpa.
Morgan riu baixinho. Então agora ela entendia o porquê as pessoas diziam como a sua teimosia e sarcasmo eram iguais ao do seu pai.
— Boa noite. E bem vindos à maternidade...— Tony retomou a fala depois de longos segundos em silêncio, enquanto aproximava seu rosto da câmera.— Tenho o prazer de anunciar a chegada iminente da sua linda irmãzinha: casca grossa.
A câmera, que provavelmente era segurada por um dos robôs de Tony, virou-se na direção de algumas peças de uma suposta armadura largadas em cima de uma mesa bagunçada, apenas aguardando pelo momento certo para serem usadas.
— Close em mim! Coloca dia e hora...— o homem gesticulou com as mãos em frente à gravação, enquanto o robô ajustava a câmera em um ângulo favorável para Tony.— Mark 42. Teste do traje de propulsão autônoma. Iniciar sequência.
Stark posicionou-se no centro da sala da sua oficina, movimentando os braços no ar enquanto parecia estar se alongando ou algo do tipo.
— Jarvis, abaixa a agulha.
A melodia de uma música que até o momento era desconhecida para Morgan soou alto na gravação, enquanto Tony começava a mexer seus braços e quadris no ritmo das batidas em uma dança no mínimo esquisita.
Os dotes dançarinos de Tony também haviam sido herdados por Morgan, aparentemente.
Ele estendeu um dos braços na direção da mesa com as partes da sua armadura enquanto ficava totalmente imóvel por alguns segundos naquela posição, esperando por seja lá o que deveria acontecer naquele momento.
— Droga.— Stark resmungou, dando leves apertões no seu antebraço com a ponta dos dedos.
Ele ergueu o braço no ar mais uma vez e, dessa vez, o antebraço de ferro da sua armadura voou diretamente no membro superior do mesmo, encaixando-se perfeitamente ali. A parte do ombro também encaixou-se no seu respectivo lugar, enquanto Tony estendia o outro braço para que o restante das partes fossem colocadas nos seus devidos locais para que a armadura começasse a tomar forma.
— Consegui!— ele ergueu ambos os braços no ar em triunfo e sorriu, enquanto a parte inferior da armadura correspondente à suas pernas encaixava-se no devido lugar.
Mas Morgan sabia que tudo estava ocorrendo certo demais. Como se tivesse adivinhado isso, a parte traseira da armadura de Tony desviou-se para o lado e acertou o vidro da oficina do homem— aquele que exibia as outras armaduras de Tony postas simetricamente uma ao lado da outra. Como se isso não bastasse, mais uma parte da armadura errou o caminho e obrigou Tony a defender-se com um dos braços, resultando em uma lâmpada suspensa no ar quebrada e alguns fios estourados.
— Está indo muito rápido. Diminui a velocidade.— ele fez sinal de tempo com as mãos e precisou desviar de mais uma parte da armadura que voou a toda a velocidade na direção do seu rosto, não acertando-o em cheio por questão de segundos.
Os minutos seguintes foram de total caos e desordem na oficina de Tony; canos sendo quebrados, ferramentas voando de cima das mesas e Stark no meio disso tudo, enquanto o restante das peças da sua armadura iam encaixando-se no seu devido lugar de modo desajeitado. Entre meio a um tropeço e outro, Tony deu uma cambalhota no ar e aterrissou graciosamente com um dos punhos no chão, enquanto a parte frontal da armadura no seu rosto encaixava-se perfeitamente no local de sempre, dando a entender que o teste fora um sucesso.
— Sem graça.— Morgan suspirou.— Onde está a parte que tudo dá errado?
A parte traseira da armadura que estava cravada no vidro atrás de Tony até aquele exato momento voou na direção do homem, acertando-o em cheio por trás. Stark perdeu o seu equilíbrio e caiu em cheio no chão abaixo de si, enquanto todas as peças da armadura desencaixavam-se do seu corpo e se espalhavam por toda a extensão do piso.
Morgan gargalhou alto, tentando inutilmente controlar o tom das suas risadas enquanto continuava a assistir Tony levantando-se de modo desajeitado do chão enquanto resmungava alguns palavrões inaudíveis para a câmera.
— Desculpe se você achou que seria algum tipo de... homenagem.— o tom de voz sereno de Pepper acabou por assustar a pobre garota, que pausou a gravação no mesmo instante.
— Tudo bem.— Morgan sorriu, largando o controle no sofá enquanto levantava-se do mesmo.
— Sente-se melhor?— Pepper perguntou, avançando em passos lentos na direção da filha.
Morgan respirou fundo algumas vezes e, em um acesso repentino de tristeza, jogou-se nos braços de sua mãe, que correspondeu ao abraço necessitado da filha no mesmo instante. Pepper afagou com certa delicadeza as costas arqueadas de Morgan, enquanto os soluços entrecortados da garota preenchiam toda a extensão do silencioso chalé.
— Tudo bem, minha pequena Stark.— a mais velha sussurrou contra os cabelos castanhos da garota, compartilhando o mesmo sentimento de saudade e tristeza que a garota sentia naquele momento.
Quando o choro doloroso de Morgan cessou, ela não separou-se do abraço caloroso e afetuoso da sua mãe; ela sentia-se tão segura nos braços de Pepper que era quase impossível de largá-la naquele momento. O toque amoroso da sua mãe fora um ponto importante nos anos que se seguiram após a morte de Tony; não era como se eles fossem suprir a ausência do homem, mas já eram um bom começo.
— Tem mais de onde esse veio...— a mais velha sorriu contra o topo da cabeça da filha.— Caso você queira...
— Eu quero.— Morgan respondeu prontamente, levantando seu olhar choroso do peito da mãe.— Por favor.
Pepper sorriu.
Morgan poderia nunca mais ver Tony Stark novamente, mas enquanto suas memórias ainda continuassem frescas dentro da sua mente, ela não hesitaria ao tentar lembrar-se de tudo o que seu pai significou e com certeza ainda significa para ela.
— Eu te amo mil milhões.— a garota sussurrou com certo pesar, enquanto sua mente vagava entre o presente e o passado onde ela, Pepper e Tony ainda estavam viviam juntos e podiam desfrutar um o amor do outro incondicionalmente como uma família feliz.
Mas parte da jornada é o fim, aparentemente. E não há nada que possamos fazer para tentar mudar isso.
— Pensei por todos esses anos que eu estava entre os seiscentos e novecentos.— Pepper riu, beijando o topo da cabeça da filha antes de puxá-la pela mão na direção do escritório.
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