Julgamento

[...]

Uma semana se passou e os homens foram levados a julgamento. Vários cidadãos estavam presentes para testemunhar os acontecimentos. As princesas já ocupavam seus assentos quando as portas se abriram, revelando os guardas conduzindo os três homens algemados, obrigando-os a ajoelhar-se diante da rainha.

— Durante meses, vocês causaram caos e destruições em Etheria. Ofereci-lhes a oportunidade de se redimir, mas vocês a recusaram, optando por se aliar a uma criatura que nem sequer mais existe. Sequestraram uma grande amiga e parceira de She-ra. Escolheram escuridão em vez de luz! — proferiu com firmeza. Após uma breve pausa e uma rápida varredura com o olhar, declarou: — Após uma discussão entre todas as princesas, chegamos à opção de que vocês devem ser banidos de nosso reino e enviados para a nova prisão na terra vermelha... — Os três acusados trocaram olhares, e Catra podia ver o medo refletido em seus olhos. — No entanto, Catra, você foi vítima e agora cabe a você decidir. Qual será o seu veredito?

Catra encarou os três homens com seriedade, ergueu-se da cadeira e caminhou decidida em direção ao centro do salão, onde todos os presentes aguardavam silenciosamente.

— Perdão! — exclamou de repente, surpreendendo a todos. Fechou os olhos e respirou profundamente. — Como todos sabem, eu fui capitã da horda. Causei danos a Etheria por muito tempo. Assim como eles, merecia ser punida por meus erros. — Virou-se para as princesas e cerrando os punhos, continuou. — Mas vocês me deram uma segunda chance! — As pessoas cochichavam, com os olhares voltados para Catra. Seu peito doía, mas ela mantinha a compostura. Virou-se para os homens novamente e aproximou-se do mais jovem. — Eu lembro de você... — afirmou, fazendo-o erguer a cabeça. Quando seus olhos se encontraram, Catra estava olhando para um reflexo de si mesma. A ira, a dor, a tentativa de parecer forte, embora estivesse despedaçado por dentro. Ela sabia exatamente o que ele estava sentindo.

Perfuma pigarreou, atraindo a atenção de todos. — Eu concordo com a Catra. Nos últimos anos aprendemos que com paciência, cuidado, compreensão e amor, pode melhorar tudo. — expressou. Scorpia ergueu a mão e Cintilante consentiu.

— Também concordo! Aprisioná-los não resolverá nada. Mas auxiliá-los a se tornarem melhores pessoas, sim! — afirmou com um sorriso singelo. — Em meu reino há uma nova iniciativa, chamada Porto Seguro. Kyle, Rogélio e Lonnie lideram o projeto, e eu me ofereço para supervisioná-los. Acredito que se encaixarão lá.

Cintilante franziu a testa, pensativa. — Todas concordam com a Catra? — questionou, e todos confirmaram. — ... She-ra? — a chamou, enquanto Adora inspirava profundamente, focando seu olhar nos três.

— Eu concordo, sob uma condição... — Levantou-se, dirigindo-se até eles em passos firmes. — Acredito em segundas chances. Eu tive uma segunda chance também. Porém, se voltarem a se envolver em qualquer atividade criminosa ou com o mestre, não serão enviados para a prisão. Serão banidos de Etheria! — declarou, e todos voltaram a cochichar. As princesas trocaram olhares um tanto preocupadas.

— Ela pode fazer isso? — Arqueiro sussurrou para Cintilante, que deu de ombros.

— Se saírem da linha, não terei piedade. Está claro? — disse com seriedade, e eles assentiram.

Cintilante encerrou o julgamento e as algemas foram removidas. Adora abraçou Catra, acariciando suas costas para confortá-la. O garoto mais novo as observava, interrompeu sua caminhada e retornou até elas.

— Você lembra de mim...? — o menino perguntou. — Do meu nome? Meu pai? Minha mãe? Você lembra da expressão nos rostos deles antes de morrerem? — Todos pararam para ouvir o que o jovem dizia, seus olhos vermelhos e úmidos. Catra engoliu em seco e baixou as orelhas. — Tem razão... Eu nunca vou te perdoar. — a gata mordeu o beiço enquanto observava o rapaz ser levado pelo guarda. Catra enxugou uma lágrima e Adora segurou seu rosto, dando um selinho nela antes de se juntarem aos outros.

[...]

— Catra? — chamou a loira, entrando no quarto e trancando a porta. Ela tinha dois pratos com fatias de bolo, sentando no sofá perto da janela. Ela ouviu um barulho vindo da varanda e foi até lá, encontrando a gata e Melog encarando o céu. A loira voltou para dentro, pegou os pratos e caminhou até eles. — Com licença, a senhorita gostaria de um pedaço de bolo e da companhia da guerreira mais valente, bonita, e charmosa do universo? — disse ela, mostrando o bolo com um grande sorriso sapeca.

— Aceito o bolo... — a gata tirou o prato de suas mãos, enquanto a loira continuava a encarando. — E a sua companhia também! — viu o rosto da loira brilhar mais e revirou os olhos, comendo um pedaço do bolo.

Conversaram por um tempo, rindo, brincando, até a hora de dormir. Adora já estava na cama, deitada de bruços analisando alguns papeis que Cintilante havia lhe entregado. Deixando-os de lado e enterrando o rosto na cama, deixou escapar um gemido exausto.

— Cansada? — Catra perguntou ao sair do banheiro secando o cabelo, agora grande novamente. Adora ergueu o rosto para observar Catra se vestindo. O olhar da gata se cruzou com o da loira no espelho, e ela sorriu de leve. Terminando de secar os cabelos, Catra caminhou até a cama e deitou sobre Adora, segurando sua mão e beijando sua costa.

— Ei... podemos conversar? — perguntou a loira, e Catra consentiu com um murmúrio enquanto continuava a beijá-la. — Já faz um tempo desde aquela conversa... — mencionou, e Catra interrompeu os beijos. — Eu pensei e... o que você acha de tentarmos? — Confusa, Catra a fitou e se levantou lentamente.

— Tentar...? — questionou, afastando-se e sentando na beira da cama. Adora se aproximou ao se levantar e sentou ao lado dela, com uma perna cruzada sob a outra.

— Olha, eu sei que foi difícil. Mas eu conversei com a Perfuma e com a doutora que te examinou, ela disse que podemos tentar de novo se quisermos. — disse, e a gata encolheu os ombros. — Mas sem pressa! Eu só achei que... — limpou a garganta e aguardou por uma resposta da gata.

Catra se levantou, esfregando os olhos com força e soltando um suspiro longo. Parou diante do espelho, apoiando as mãos na mesa. Adora também se levantou, aproximando-se lentamente da gata.

— Catra...

— Pelo menos uma vez, Adora! — exclamou, batendo na mesa e virando-se para ela. — Fala! Diz que está com raiva de mim! — ela bateu no próprio peito, encarando-a enraivecida. Adora pressionou os lábios e suspirou.

— Tem razão. Eu fiquei chateada... — Catra balançou a cabeça, desviando o olhar da loira. — Fiquei chateada por não estar lá! Não estava lá quando você descobriu. Não estava lá quando você perdeu. E eu não estava quando você passou por todo esse luto sozinha. Mas não fiquei com raiva por perder o bebê!

— Mas eu...

— Mesmo que me dissesse que estava gravida, talvez você ainda perderia! Não tem como saber. — aproximou-se, segurou o rosto dela e fitou-a profundamente. — Sinto muito por não estar presente em nenhum momento. Mas estou aqui agora e continuarei ao seu lado. — beijou o rosto dela e encostou suas testas. Catra colocou as mãos em seu peito, percebendo seu coração batendo rápido. Olhou nos olhos dela e mais lágrimas escorreram.

— Ainda quer ter filhos comigo... mesmo depois do que fiz? — Perguntou com a voz trêmula devido ao choro.

— Catra... — interrompeu-se e respirou fundo. — Eu quero ter milhares de filhos com você! — assegurou, no entanto, Catra ainda estava incerta.

— E se eu não for boa para ter filhos...? — indagou com os olhos baixos e úmidos.

— Bem, nesse caso, sempre existem outras opções. — respondeu tentando animar a gata. Catra enxugou as lágrimas e soltou uma risada suave.

— Está certo... Vamos tentar! — Abraçou a loira por mais um instante e foram para a cama. Assim que a gata deitou a cabeça no travesseiro, uma dúvida surgiu em sua mente. — Adora... — chamou, vendo-a se acomodar na cama. — Você fez uma pausa por que não sabe meu sobrenome?

— Quê? Puff! Claro que eu sei seu sobrenome! — respondeu, e Catra arqueou a sobrancelha.

— Que é...? — Adora ficou com cara de paisagem, e Catra riu baixinho. — Pelo menos sabe meu primeiro nome? — Adora franziu a testa e sorriu.

— É Catra! — afirmou com confiança, mas seu sorriso logo se transformou em confusão. — Não é? — Catra negou com a cabeça, deixando a loira boquiaberta. — O QUÊ! Como assim? — exclamou ao sentar na cama, e a gata fez o mesmo. — Vivo com você minha vida inteira e você só me diz agora que seu nome não é Catra?!

— Ué, você nunca perguntou... — respondeu tranquilamente.

— Eu não preciso pergunta, sou sua namorada! — disse, caindo de costa no colchão. Se levantou num pulo, encarando a gata com seriedade. — Vai, me diz! Qual seu nome então? — Catra respirou profundamente, recostou-se na cabeceira da cama e usou o dedo para chamar a loira para mais perto. Adora prontamente obedeceu, aproximando-se enquanto a gata pedia para se aproximar ainda mais, como se estivesse prestes a revelar um grande segredo, deixando Adora ainda mais ansiosa.

— Elizabeth! — sussurrou Catra em seu ouvido, deixando Adora sem reação, enquanto ela processava a revelação feita.

— Sobrenome?

— Catherine. — respondeu simplesmente, mantendo Adora sem expressão.

— Isso é sério? — questionou um tanto indignada, e Catra franziu a testa com um sorriso.

— Sabe, eu é que deveria estar indignada, já que a mulher que amo nem sabia o meu nome! — disse Catra, fazendo Adora se encolher. Catra revirou os olhos e puxou a loira para deitar em seu peito, acariciando seu cabelo com os dedos. — Não se preocupe, amor. Só estou zoando com você. — riu, mas Adora ainda se sentia um pouco culpada. Era algo que ela deveria saber. Então, uma lembrança repentina veio à sua mente e ela se levantou rapidamente.

— Espera. Então quando estávamos na horda e o comodante disse que tinha uma nova recruta, era você? Você era a Elizabeth?

— Sim... Mas eu não gostava desse nome e por isso não apareci no primeiro dia. — explicou para a loira, que se deitou mais uma vez sobre o peito de Catra.

— Nossa... que loucura. — exclamou ela, o que fez a gata sorrir e revirar os olhos.

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