Festa

[...]

A festa começou, Adora e Cintilante estavam recebendo os convidados. — Que música é essa? — a loira indagou, franzindo a testa e olhando ao redor.

— Ah, esqueci de te contar. Alguns planetas têm tradições diferentes. Descobri que não são fãs de música clássica, preferem esse ritmo. — explicou, mexendo-se conforme a batida.

— E que batida... — soltou uma risada. Cintilante deu um gole na bebida e observou a loira de cima a baixo. — Que foi?

— Notei que vocês trocaram... — a rainha comentou, deixando a outra confusa. — Geralmente, você usa vestido nos bailes e a Catra calças, mas hoje estão diferentes.

— Ah, sim! Ela ganhou o vestido de presente da Scorpia e da Perfuma. Ela disse que usaria até as cortinas se fecharem e depois trocaria de roupa. — afirmou, fazendo-a rir mais uma vez.

Diversos líderes vieram cumprimentá-las e, mais uma vez, Cintilante a apresentou não só como She-ra, mas também como "rainha", recebendo olhares incertos da loira. Quando os líderes se afastaram, Adora questionou:

— Por que você insiste em dizer que sou rainha?

Cintilante, pegando outra taça de vinho, respondeu: — Ora, tecnicamente você é rainha. A protetora do universo!

— Sim, She-ra, protetora do universo! Não rainha de Etheria! — Cintilante suspirou, desviando o olhar e tornando-se ainda mais desconfortável. — Escute... Já tenho uma grande responsabilidade nas costas... Ser princesa do poder é legal e tal. Mas rainha de Etheria? — Cintilante voltou seu olhar para a loira. — Desculpe, Cintilante, não posso fazer isso. — Os olhos da rainha encheram de lágrimas, que ela rapidamente enxugou.

— Eu sei, desculpa. E-Eu só achei que, se você se tornasse rainha, poderia se aposentar da She-ra. Q-Quer dizer, há tantas coisas que ainda não sabemos, se você pudesse trocar com alguém, e-eu... — Adora segurou o braço dela, afastando-se da multidão. Cintilante pegou um pano e limpou o rosto. Suspirou fundo, pousando as mãos na cintura. — Eu só... não quero te perder também. — Adora respirou profundamente, apoiando-se na parede e cruzando os braços.

— Cintilante... a morte é inevitável e vira para todos nos. Eu também não quero te perder, mas me tornar rainha não muda nada.

Cintilante balançou a cabeça e suspirou alto. — É, tá certo. Foi mal, não queria te pressionar...

— Relaxa, tá de boa. — disse e a rainha se aproximou, abrindo os braços para a loira. Adora retribuiu o gesto, dando leves tapinhas em suas costas. Separaram-se e voltaram para a festa.

— Pensando bem, seria estranho chamar a Catra de rainha. — Comentou, soltando um riso.

— Como assim 'rainha'? — perguntou, virando o copo e esvaziando a taça.

— Ela é sua namorada, se você se tornasse rainha e se casassem, ela também seria a rainha de Etheria. — Explicou enquanto mastigava as frutas dispostas sobre a mesa. Adora sorriu e mordeu o lábio.

— Também seria estranho chamar o Arqueiro de rei. — falou, e Cintilante a fitou com uma sobrancelha arqueada. — Três anos juntos... — a loira começou, dando de ombros e desviando o olhar.

— Primeiramente, ainda estamos nos entendendo. — disse, e Adora balançou a cabeça.

— Claro! Na cama, certo? — riu. Cintilante suspirou, engolindo as palavras.

— Tá bom, olha só, vou buscar outra taça e fugir dessa conversa. — Limpou as mãos e afastou-se.

— Não exagere na bebida! — Gritou para ela, recebendo apenas um joinha antes sumir no meio da multidão.

Pegou um petisco da mesa e ficou observando ao redor, até avistar a gata conversando alegremente com seus amigos. Observou a felina com um largo sorriso. Catra desviou o olhar e encontrou os olhos azuis da loira fixos nela.

Era como se o tempo estivesse em câmera lenta, somente elas ali, atraídas uma pela outra por uma força misteriosa. Catra deu um sorriso travesso e ficaram encarando-se, até que alguém passou e cumprimentou Adora, fazendo-a desviar a atenção de Catra. Quando voltou seu olhar para a gata, percebeu que ela não estava mais lá. Adora procurou Catra na multidão e a viu seguindo em direção a um corredor escuro, então decidiu segui-la.

Enquanto percorria o corredor escuro, Adora foi surpreendida ao ser pressionada contra a parede.

— O que a senhorita pensa que está fazendo, seguindo uma mulher por um corredor escuro? — sussurrou a voz da gata em seu ouvido, fazendo Adora sorrir.

— Eu queria saber se gostaria de uma massagem antes do grande espetáculo... — respondeu Adora, sentindo um pouco de dor.

— Você é uma safada, sabia? — a gata provocou.

— Disse a mulher que está com a mão no meu peito. — Catra soltou uma risadinha e continuou a explorar o corpo da loira, deslizando a mão por debaixo da sua camisa. Catra soltou Adora, que se virou rapidamente e, puxando sua cintura, bateu suas costas na parede. — Então... vai aceitar minha massagem? — questionou, beijando sua bochecha.

— Subo ao palco em 45 minutos... — disse ela, segurando a nuca da loira, enquanto ela beija seu pescoço.

— Não se preocupe. Vou tomar apenas dez minutos do seu tempo. — Se afastaram da parede e Adora abriu a porta de um quarto.

— Se bagunçar meu cabelo te mato! — ameaçou, com um sorriso malicioso.

— Não vou encostar em nenhum fio do seu precioso cabelo. — Adora fechou a porta e a trancou.

[...]

Cintilante andava de um lado para o outro atrás do palco. Adora e Catra chegaram rapidamente, um pouco ofegantes.

— Onde estavam? Só falta você! — ela disse, e Catra se olhou em uma superfície reflexiva para verificar sua aparência.

— Certo, estou pronta. — disse, mas Adora percebeu que ela estava nervosa. Puxou-a rapidamente para um beijo e desejou boa sorte. Adora e Cintilante retornaram ao salão, posicionando-se em frente ao palco. Com um olhar intenso, Cintilante atraiu a atenção de Adora.

— Onde vocês estavam? — questionou, com seriedade.

— Estávamos conversando e perdemos a noção do tempo. — explicou, enquanto passava a mão no cabelo. Cintilante se aproximou e arrumou a camisa da loira, fechando os botões.

— Esse chupão me diz que fizeram mais do que conversar. — afirmou, com uma sobrancelha levantada, fazendo Adora corar levemente.

As cortinas se abriram e as luzes do salão se atenuaram, focando no palco. Catra estava segurando o microfone com ambas as mãos e com a cabeça baixa. Adora sentiu seu coração apertado, desejando estar ao lado dela, segurando sua mão.

[Para melhor experiência ouça – Warriors (She-ra and the Princesses of Power)]

O som suave do piano começou a tocar, capturando a atenção de todos. Catra ergueu a cabeça e com os olhos fechados começou a cantar. A cada nota, a cada palavra, Catra sentia seu coração ficar mais leve. Colocando toda sua essência na música, Catra conseguiu transmitir isso para todos os presentes, especialmente para Adora. A loira não desviava o olhar da felina, estava totalmente admirada. Embora já tivesse ouvido um pedaço da canção, ouvi-la por completo fez o coração de Adora disparar ainda mais.

Aquela mesma sensação de estar em câmera lenta retornou, e quando Catra finalmente abriu os olhos, só conseguia ver Adora no salão. Seus olhos ficaram marejados, queria desabar em lágrimas, gritar; suas mãos tremiam segurando o microfone, mas ela se conteve.

Respirando fundo, ela encheu seus pulmões, fechou os olhos mais uma vez, fazendo uma retrospectiva de tudo o que viveu no passado: os arrependimentos, as dores, as noites insones.

Ao concluir a canção, Catra acabou, impulsivamente, mencionando o nome da loira no final. Os convidados ficaram confusos, mas indiferentes, aplaudindo a magnífica apresentação da felina. As cortinas se fecharam, e os aplausos continuaram; Adora e Cintilante correram para os bastidores, encontrando Catra sentada com a cabeça baixa.

— Catra! — Quando a loira chamou por seu nome, Catra prontamente ergueu a cabeça e se levantou, envolvendo-a em um abraço apertado. Não compreendia a razão de estar chorando, mas sentia uma urgência em liberar aquelas lágrimas antes que se afogasse nelas.

Com carinho, a loira acariciou a gata e beijou sua testa, enquanto ela soluçava copiosamente. Agradecendo a todos da banda, se retiraram sem chamar atenção, rumando para o jardim. Sentada no banco, Catra começou a hiperventilar, preocupando as duas. Cintilante sentou ao seu lado, enquanto Adora se ajoelhava segurando suas mãos.

— Amor, olhe para mim! — insistiu, porém a gata relutava em abrir os olhos. Sentia um nó na garganta, uma sensação de sufocamento que não conseguia libertar como fazia com as lágrimas. O medo de sucumbir sem conseguir se expressar era palpável. Adora apertou suas mãos e se ergueu, encostando suas testas e guiando a mão da gata para seu peito. — Sente meus batimentos? Consegue imitá-los? — perguntou, e ela abriu os olhos, balançando a cabeça. Observou o ritmo do coração da loira e lentamente foi se acalmando.

Cintilante movia as mãos para cima e para baixo nas costas da gata. O tempo todo querendo se desculpar por ter a colocado sob tanta pressão.

— Sente-se melhor? — perguntou Cintilante ao vê-la mais tranquila. Ela acenou com a cabeça e enxugou as lágrimas. Seus lábios se tocaram suavemente e suas testas permaneceram juntas. A rainha se levantou e suspirou profundamente, dando espaço para ambas, sussurrando no ouvido da loira que iria vê-las mais tarde.

Adora se levantou e sentou ao seu lado, abraçando a gata. — Você está bem de verdade?

— Sim. Desculpe, não sei o que aconteceu. — respondeu, fungando um pouco. — Será que esse baile vai demorar para acabar? — ela questionou.

— Acho que sim... Mas se quiser voltar para o quarto não tem problema. — respondeu e se levantaram, seguindo por outro caminho até seu quarto. Melog apareceu de repente, assustando Adora, mas Catra já sabia da presença do felino. Fez carinho nele e entraram no quarto. Sem nem tirar a roupa, apenas se jogou na cama e suspirou. Adora sentou na beirada da cama e afastou um fio de cabelo do rosto dela.

A loira imitou o gesto e se deitou ao lado dela, observando o rosto da gata por um longo tempo antes de adormecer.

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