nervous • 16

[ner-vo-so
/ô/

6.
substantivo masculino
m.q. NERVOSISMO ('ansiedade').]

zayn point of view

O que era pra ser uma noite agradável, divertida e sensual se tornou num pesadelo. De um lado eu tinha Liam que estava bravo me evitando. Eu não faço ideia de qual seria o motivo, e aqui também não é o lugar de perguntar. Já do outro estava Bella, ela checava o celular a cada cinco minutos, não havia terminado nem a segunda bebida, ela estava estranha.

A fumaça do lugar já não me faz bem, me levanto para ir a uma área externa e chamo Bella para vir junto. Ela hesita mas acaba me seguindo.

- Você quer ir embora? - Perguntei enquanto preparava um baseado.

- Não são nem três horas ainda... - Ela tinha suas mãos inquietas, o que me deixou ansioso.

- Mas você quer ir? Preferia ter ido ao restaurante? - Eu sei que ela está chateada mas hoje Liam precisava vir aqui fechar um negócio e eu não ia deixá-lo sozinho de novo, quando eu estava no mesmo local as coisas eram mais fáceis.

Nós iriamos começar a fornecer heroína para esse lugar, o que implica um contrato realmente grande e milionário. Era um passo grande e ambicioso. Louis não vendia para o inferno nada além de maconha e cocaína. A bebida daqui ja era fornecida por outro cartel.

Nós tivemos sorte, o fornecedor de heroína deles caiu, e nós estávamos em teste nesses últimos dois meses. Hoje Liam selaria o contrato de exclusividade, nós realmente estamos ficando grandes.

- Eu... eu estou bem, gosto daqui. - Bella estava muito estranha hoje, muito mesmo.

- Não foi o que eu perguntei, aconteceu alguma coisa?

Ela continua em silêncio, me observando. Ela evita me olhar, está agindo exatamente igual ao dia em que eu fiz a tatuagem dela na minha casa. Como se estivesse louca para ir embora e nunca mais me ver. Esse pensamento me deixa louco, o que eu fiz dessa vez?

- Bella...

- Achei que teria toda sua atenção hoje, não contava com o Liam, ele é intimidador - Seu tom é calmo, como se tivesse pensado em cada palavra antes de dizer, ela tinha esse costume.

- Ele te disse alguma coisa? Te ameaçou?

Ela não respondeu, tirou o baseado já pronto da minha mão e o acendeu. Liam tinha essa mania de proteção, sempre dizendo as pessoas para ficar longe de mim, com medo de ser alguém enviado por Louis.

- Eu vou conversar com ele... - Eu disse tentando ser solidário.

- Não, ele foi legal. Está tudo bem... Eu sou obrigada a dar razão para ele...

- O que aconteceu?

- Ele me pegou vendo a estante de livros, eu não costumo fazer isso... Eu não deveria... - Sua voz era baixa, suave e com um tom estranho.

- Oh... - Então tudo começou a fazer sentido.

- Eu não vou mexer mais em nada... Inclusive você poderia dormir no meu apartamento hoje, vou ficar sem graça de voltar na sua casa.

- Sério? - Meu tom é surpreso porque ela nunca tinha mencionado o lugar onde mora antes, quando minha casa fica indisponível pela quantidade de drogas, nós sempre acabamos indo para o mesmo motel ou para as colinas.

- Só se você quiser é claro. - Ela estava cautelosa com as palavras.

- Eu aceito se você se divertir, esquece o Liam., tá tudo bem, nada que ele disser vai mudar o que a gente tem.

Ela respira fundo.

- Eu sei, mas fiquei com medo de você ficar chateado sabe, esquece isso, eu vou tentar esquecer também.

À abracei, depositei um beijo em sua testa e ela me apertou conta seu corpo. Não era de um jeito sexual, isso é diferente. Tudo tem ficado diferente.

Tenho sonhado com ela quase todas as noites, trabalho pensando nela, e quando estamos juntos tudo é mais leve.


Estava tomando uma cerveja enquanto Bella dançava com umas garotas na pista. Liam continuava na dele, agora fumando um cigarro e vendo algo no celular. Me sentei ao seu lado e ele não pareceu perceber.

- Aconteceu alguma coisa?

- Não, só estou esperando Jasper me mandar uma mensagem sobre o contrato.

- Você não ta curtindo nada hoje, tem algo para dizer? - Nada como jogar o verde para tentar colher o maduro.

- Para você estar falando alguma coisa assim, você já sabe.

- Qual é Liam? Um livro te deixou assim?

- Livro? - ele riu de nervoso - Ela estava tirando fotos da pasta dos fornecedores do Canadá, pasta que você deveria ter guardado, diga-se de passagem...

- Tirando fotos? - Nada fazia sentido.

- Sim, fotos. Olhe o celular dela...

- Liam, onde você quer chegar com isso?

- Acho que ela sabe mais sobre você do que você imagina. - Meu estômago reclama, eu não esperava por isso.

- Não faz sentido, ela esteve lá tantas outras vezes e isso nunca aconteceu, porque ela faria isso do nada?

- Como tem certeza de que nunca aconteceu?

Uma fúria enorme cresce dentro de mim, eu estou sendo feito de bobo?

- Eu vou descobrir o que está acontecendo.

- Cuidado, ela é uma mentirosa. - Ele queria dizer alguma coisa, ele sabia de algo que não queria dizer.

- Liam...

- Bella nem é o nome dela. Eu pensei que você fosse mais esperto Zayn.

Minha visão fica turva.

- O que? E qual seria então?

Ele me olha, pronto para dizer.

- Pergunte você mesmo, tenho coisas a fazer.

Olho para ela dançando, que tipo de coisa passa por aquela mente? Eu jamais suportaria algum tipo de mentira, qualquer forma de traição. Não é quem eu sou, não faz parte do meu caráter. Ela sorri para mim e meu primeiro instinto é sorrir de volta, mas surgiu um gosto amargo na minha garganta, algo que me consumiu imediatamente, a decepção.

De longe ela não pareceu perceber, eu me levantei e fui na direção do bar. Um pouco de uísque me ajuda a clarear as ideias, ou talvez suma com todas elas. Quando vejo já tomei mais doses do que eu pude contar, minha mente gira, eu tento me equilibrar em vão. As luzes me deixam confuso e eu não escuto nada nesse momento, tudo é um grande borrão e não existe nenhum pensamento, sinto uma vontade enorme de vomitar mas seguro o máximo que eu posso. Não deveria ter misturado tantas coisas.

Eu escuto uma voz doce, ela me chama mas eu não consigo nem ao menos abrir os olhos, quem me dera responder. Alguém me levanta e vai me conduzindo até um lugar diferente, sinto um vento bater.

- Vomita, vamos Zayn, abra os olhos...

A voz que agora reconheci como sendo de Bella, ou qualquer que seja seu nome, me trás de volta e me faz vomitar na hora. Ela me inclina, abro meu olhos e vejo algumas plantas agora todas sujas com meu vômito.

- O que deu em você? - Meu corpo a rejeita.

- Eu estou melhor agora, obrigada. - Me afasto, ela respeita.

Passamos um tempo em silêncio, eu nem ao menos olhei para ela. Eu não tinha coragem, sinto medo do que eu posso descobrir.

O silêncio já estava desconfortável, isso não costumava acontecer, não com ela. Uma luta começou a travar no meu interior. Devo confrontar ela aqui? Agora? Depois?

- Você parece... Eu não sei, quer ir embora?

Ela quebrou o silêncio, parecia preocupada. Tomei coragem para falar agora, não há tempo a perder.

- Pode me emprestar seu celular? - Perguntei num impulso.

- Vai ligar para o Liam? Eu posso ir chamar ele, duvido que vá escutar com todo o barulho.

- Não é isso... - Eu não conseguia formular uma frase boa para confrontar ela, eu não sei por onde começar, queria que ela me dissesse tudo ali sem que tivesse que perguntar.

- Zayn você está bem?

Eu levantei a minha cabeça e agora ela estava abaixada com um joelho encostando no piso e com o braço apoiado ao corpo.

- Não, mas não é pela bebida.

- O que houve Zayn? - Ela estava confusa.

- Eu não sei Bella, ah claro me desculpe, esse não é seu nome.

Ela não estava supresa, nem um pouquinho. Ela revirou os olhos e fez uma cara ilegível. Ela sabia que isso estava por vir.

- Me desculpe, eu não sei como explicar isso. Mas me deixe falar.

Não disse nada mas acenei com a cabeça, apenas concordando.

- Meu pai é definitivamente muito rico, isso já trouxe muitos problemas para minha família. Minha irmã já foi perseguida por anos por um cara, e esse cara matou ela. Ninguém nunca descobriu quem ele é e isso é muito fodido. Eu uso nomes falsos as vezes, como quando vou a lugares onde não quero que ninguém reconheça meu sobre nome. Uso o nome da minha irmã as vezes, para as identidades falsas. Eu não sabia como dizer isso, simplesmente não tinha como retirar a mentira Zayn, e eu me acostumei. Me desculpe.

Eu não sabia o que dizer.

- Meu nome é Jelena Hadid.

Hadid.

PUTA MERDA.

HADID.

Eu respiro fundo, ela está dizendo a verdade, eu conheço a história, não tem ninguém em Londres que não tenha ficado chocado com o acontecimento na época, ainda mais eu.

- Tudo bem, Jelena.

- Gigi, por favor.

- Gigi. - Repito, respirando fundo. Eu não sabia para onde tudo isso iria. - Certo, mas isso não é tudo, é? Liam me contou algo e eu estou realmente enlouquecendo, não quero ser injusto com você mas não posso fingir que nada aconteceu. Ele viu, você tirando fotos, de algo particular nosso. Vou lhe dar a oportunidade de me contar tudo... Sem mentiras por favor... Eu não quero...

Não pude terminar a frase, mas ela pareceu entender.

- Não é o que parece... - Ela pareceu pensar varias vezes antes de continuar o que iria dizer, ela simplesmente ficou em silêncio por um longo tempo e eu tentei não pensar em nada enquanto isso, lhe daria o beneficio da duvida antes de julga-la. - Você se lembra de Matty?

- Sim... - Disse tão baixo que se não estivesse tão próximo dela eu duvido que ela teria escutado, mas ela escutou e suspirou com a minha resposta. Eu estava realmente confuso com o rumo que essa conversa estava tomando.

- Você não vai gostar disso...  - outra pausa, isso não me irritou muito porque eu pelo menos tive a oportunidade de me preparar para a próxima frase - Bem, nós nos vimos a alguns dias, eu não disse nada sobre aquela noite mas ele disse algo que realmente me deixou confusa, ele disse que você costumava trabalhar para um cara, o cara que Matty trabalha... Eu realmente fiquei confusa porque me lembrei do que você disse sobre ele naquela noite no motel, eu conheço Matty o suficiente para saber que apesar de ele estar metido em algum tipo de traficante ou sei lá o que, ele é uma boa pessoa e não faria nada... - Ela deixou a sentença no ar mas não é difícil imaginar como ela terminou na sua cabeça. -  Eu não sabia como perguntar algo assim, como chegar ao assunto. Matty disse que você é seu próprio chefe agora e isso é muito perigoso porque alguém pode não gostar disso e vir atras de você, eu entendi na hora o que ele queria me dizer, eu sei... Na verdade eu quero saber de você, o seu lado da história porque eu preciso saber onde eu estou me metendo, eu preciso saber que você não vai sumir do nada...

Eu não soube o que pensar, era muita informação e muito a se pensar e considerar antes de dizer qualquer meia verdade a ela, minha mente girava e eu poderia vomitar novamente se tivesse algo no meu estomago ainda. Ela tinha lagrimas nos olhos e seu corpo estava numa posição totalmente defensiva, eu podia ver o medo no seus olhos, eu podia sentir a tristeza e o desespero em suas palavras.

Não sei como pude duvidar da sua lealdade mesmo que por um minuto, ela merecia saber a verdade e merecia saber onde estava se metendo e quais eram os riscos de ficar andando por ai comigo.

Eu consegui imaginar o que poderia acontecer com ela se Louis a visse ao meu lado, toda a perseguição e os seus jogos doentio de poder. Eu podia imaginar ela toda machucada e sofrendo por causa de erro bobo meu. E então toda a decepção e raiva que eu senti anteriormente não eram mais nada. Todo aquele sentimento insuportável de ser feito de bobo era tão pequeno perto da possibilidade de perder essa garota na minha frente.

Eu apenas me levantei a abracei, o mais forte que pude para ter certeza de que aquele momento era real, de que ela ainda estava ali na minha frente respirando e viva. E seu perfume me tirou todas as duvidas, o calor de seu corpo acalmou todas as ondas revoltas de meus pensamentos.

Ela sabia apenas uma parte de quem eu era e mesmo assim não fugiu, ela também me deu o beneficio da duvida.

Mas então eu percebi o que ela pode ter pensado sobre mim, pode ter se perguntado se eu era cruel, seu eu ja tinha machucado alguém antes, se havia sangue em minhas mãos.

Ela estava aqui justamente me perguntando que tipo de pessoa eu era, se eu era digno de sua atenção ou não. E talvez eu não seja, eu não sou o cara certo nem de longe, mas o que eu sinto nesse momento é tao real que eu entro em conflito com o que eu mereço e o que eu quero.

- Vamos sair daqui, vou te contar tudo, com calma, mas em outro lugar.

Ela apenas me seguiu sem dizer nada, avistei Liam conversando com Jasper no bar, ele parecia de boa e relaxado. Não sei o que ele vai achar disso, provavelmente vai achar que tudo não passa de uma mentira e de que nós não podemos confiar nela, mas ele não vai se opor a nenhuma decisão minha, eu sou um adulto e eu sei o que eu faço da minha vida.

De qualquer forma a chave do nosso carro estava com ele mas Gigi (não sei como me acostumar com isso), está de carro também, achei melhor não atrapalhar a conversa dele, era algo importante. Apenas escrevi uma mensagem e mandei, até chegarmos ao estacionamento ele já havia respondido, disse que estava tudo bem e que ele estava conseguindo fechar o contrato.

Gigi não me deixou dirigir, o que me deixou ansioso. Tudo em mim me incomodava naquele momento, o gosto de vômito da minha boca, o cheiro de fumaça que ficou no meu cabelo, a roupa que estava grudada no meu corpo por causa do suor produzido pelo meu nervosismo e não podemos esquecer desse sapato maldito que eu peguei de Liam, era maior do que o meu pé e já estava me dando nos nervos.

Em 40 minutos estávamos na garagem de um prédio no centro, geralmente não costumo vir para cá porque existe uma grande chance de alguém que trabalha para o Louis me ver, talvez seja tarde de mais para me preocupar com isso.

O apartamento dela não era grande mas era confortável, me lembrou um pouco o lugar que eu morei em Bradford nos últimos anos. Tinha algumas plantas, um porta retrato com uma foto dela com a sua irmã, a verdadeira Bella.

Elas realmente se pareciam muito, mas ao mesmo tempo nem tanto, Bella tinha o cabelo mais escuro e traços mais marcados. Eu me lembro de Bella, eu a conheci.

Tinha uma outra foto onde Gigi segura uma gatinha que logo pude ouvir miar do sofá.

Gigi chamou ela e então a levou até a sacada para comer ou coisa assim, ela me apontou o quarto e disse que eu poderia ficar a vontade. As roupas que ela roubava de mim finalmente seriam usadas por mim novamente.

Ela as guardava em uma gaveta. Passei pela sala que tinha dois sofás cinzas que pareciam novos e fui até a porta indicada, o quarto era mais quente que o resto da casa e tinha um abajur aceso que me permitiu ver a cama, um grande espelho e uma comoda com livros em cima, tinha mais duas portas que levaram ao banheiro e ao closet.

Achei com facilidade uma muda de roupas já bem conhecidas por mim e fui tomar um banho. Se o quarto era arrumado era porque todo o caos estava concentrado no banheiro, uma bancada grande abrigava muitos produtos, um secador e chapinha.

Pude ate ver um espelho com um pouco de pó em cima. A água quente me ajudou a colocar uns pensamentos no lugar, tudo começou a fazer algum sentido. Ela apenas tentou descobrir a verdade sobre mim sem me perguntar, por isso tinha agido de forma estranha.

E sobre seu nome falso, era deveras compreensível, eu provavelmente faria o mesmo.

Então resolvi ali, no seu banheiro mesmo que eu lhe diria tudo, cada parte da verdade, cada crime que cometi e cada arrependimento.

Porque era ela.

Quando não havia mais nada a ser feito ali, e eu já havia experimentado todos seus shampoos, então resolvi que já podia terminar o banho. Me troquei ali mesmo e usei um perfume dela, meu favorito.

Quando voltei para o quarto ela estava sentada na cama com o computador no colo, parecia concentrada, mas assim que me viu ela sorriu. Um sorriso que não é muito comum da parte dela, e eu me perguntei porque ela estaria tão feliz já que estamos aqui por um motivo sério.

- Você está usando meu perfume...

Ela parecia ter lido minha mente e respondido minha pergunta, eu dei os ombros e fui me juntar a ela na cama. Dei uma olhada no computador e pude ver a página de um advogado aberta.

- Problemas com a lei? - Perguntei receoso, nunca sei o que esperar dela.

- Bom, uma amiga minha está saindo com esse cara, dei um Google no nome dele e descobri que ele é um advogado famoso...

- Não conheço esse cara, mas também nunca precisei de um advogado...

- Isso é algo bom de se ouvir.

Ela fechou a pagina e desligou o computador, se levantou e foi ao banheiro. Ouvi o barulho do chuveiro depois de um tempo e me perguntei se havia deixado água quente o suficiente para ela tomar seu banho.

Provavelmente não, já que seu banho foi bem rápido e logo ela apareceu de toalha. Fiquei observando ela colocar um moletom e uma calcinha e finalmente se deitar ao meu lado.

Nada foi dito, havia um espaço entre nós. Eu não sabia como iniciar a conversa e ela provavelmente também não sabia como tirar isso de mim. Eu estava disposto a dizer tudo, mas não conseguia começar a dizer as coisas do nada.

Nem sei por onde começar, o que dizer, qual é o início dessa história?

Me virei e fiquei encarando seu rosto por um tempo, ela fazia o mesmo comigo. Apenas nos olhamos e tentamos decifrar o que o outro estava pensando sobre tudo aquilo. Seu silêncio já não era tão intimidador, sua respiração era calma e eu finalmente consegui relaxar o suficiente para começar essa conversa, havia muito a ser dito.

- Você confia em mim? - Eu perguntei, minha voz nunca foi tão firme.

- De olhos fechados. - Sua resposta foi tão firme como a minha. - E você, confia em mim?

- Sem nenhum resquício de dúvida. - Ela sorriu, mas não foi o mesmo sorriso de quando me viu e percebeu que eu usava seu perfume, era um sorriso triste, um sorriso de culpa talvez. E mais uma vez eu me peguei perguntando o que aquilo significava, o que passa na cabeça dela?

Eu respirei fundo, apertei sua mão e a trouxe até a minha boca para depositar um beijo. Ela fixou seu olhar em nossos dedos entrelaçados e eu fiz o mesmo. Então eu soube por onde começar.

- Eu nunca fui um garoto rico, sempre vivi numa casa pequena e sem privacidade. Vi meus pais se matando para colocar comida na mesa e aquilo me deixava mal. Aquele olhar de frustração quando eu ou minhas irmãs pedíamos algo que eles não podiam pagar. Assim que eu entendi o quão difícil seria sair daquela realidade eu comecei a pensar sobre as minhas opções, se eu não tomasse uma atitude teria um futuro muito parecido com o deles e eu realmente não quero ter que dizer "não" ao meu filho porque eu não tenho dinheiro. "

"Eu decidi mentir para minha mãe, dizer que havia uma oportunidade de emprego em Londres que eu não podia perder. Que eu finalmente poderia ajudar ela, só precisava me estabelecer primeiro e então a ajuda chegaria. Foi uma despedida difícil, meu pai não disse nada e minhas irmãs fizeram pedidos. Mas não havia nada, vim para Londres com uma mochila e algumas trocas de roupa, 200 libras, era tudo que eu tinha. Não tinha um plano, não fazia ideia de como começar a procurar. Vi um cartaz anunciando uma festa, era para aquele mesmo dia, então eu fui ao local da festa e implorei por um emprego. Disse que já tinha sido garçom e que eu precisava trabalhar. Eles disseram que sim, pediram para eu voltar em duas horas com um terno."

"Eu não tinha um terno, mas eu aluguei um, por 150 libras. Troquei de roupa numa cafeteria e voltei para o lugar da festa. Na festa eu conheci Louis. Louis é um tipo de pessoa que atrai muita atenção, ele é divertido e engraçado, ele pode convencer qualquer pessoa a fazer qualquer coisa. E naquela noite ele me convenceu a fazer um trabalho para ele, eu tinha que levar droga para os convidados. Ele apenas me apontaria para quem e eu deveria levar uma taça de champanhe junto com um saquinho com cocaína. Eu ganharia 300 libras para trabalhar na festa aquela noite, mas ganharia 2 mil libras para trabalhar para Louis. Foi assim que ele me convenceu."

"Antes de ir embora ele me deu um cartão com seu número, ele disse que eu podia procurar por ele depois das três da tarde e ele me pagaria. Foi o que eu fiz, ainda sem dormir e sem tomar banho, só havia comido algumas sobras da festa. Louis me pagou e perguntou se eu queria trabalhar para ele mais uma noite, eu não sabia se eu aceitava ou não. Eu nunca tinha nem usado drogas antes, mas eu demoraria muito para conseguir a grana que ele me ofereceu. Eu aceitei. E assim eu poderia ficar em hotel, teria o que comer e poderia mandar dinheiro para minha mãe sem que ela achasse que tinha alguma coisa errada."

"Fiquei trabalhando assim para ele por uns três meses e então eu contei minha história a ele. Ele me chamou para trabalhar com ele oficialmente, morar com ele. Ele me treinou, me ensinou a lutar, a usar uma arma e fazer negócios. Ele me tirou da miséria, eu e a minha família, e eu era extremamente grato a ele. Eu sou. E não importa em quantos caras eu tive que dar uma surra, quantas vezes eu tive que atirar em alguém. Eu estava lá porque eu queria, porque eu gostava. Gostava de ser seu braço direito, gostava de ter as garotas ao meus pés e ficar doidão com ele. Conheci Liam no cartel. Ele logo se tornou um amigo, assim como Louis era para mim... Mas não era só nós três, longe disso. Eu gostava bastante de Niall, ele era engraçado e me fazia esquecer da parte pesada do trabalho. Até mesmo de Josh que era um pouco implicante comigo... Eu gostava."

"Mas algo aconteceu, tudo começou a dar errado de uma forma totalmente estranha. Todo negócio que eu era encarregado de fechar dava errado, e aos poucos todos deram errado. Nós quase fomos presos, tivemos muita mercadoria confiscada, alguns armamentos. Uma parte do dinheiro sumiu e alguém deu a entender que podia ser obra de alguém dali de dentro mesmo. E desconfiaram de mim. Me investigaram e alguém achou uma conta em um banco de Bradford com a exata quantia de dinheiro que havia sumido. Mas eu não sabia de absolutamente nada sobre aquilo... Alguém armou para mim. Mas Louis não acreditou, e eu realmente não sei como ele deixou ser manipulado por alguém dessa forma... Gigi eu amava meu trabalho e eu sempre fui muito grato por ele."

"Louis tentou me matar, várias vezes, mas Liam me ajudou a fugir em todas as vezes. Ele foi a única pessoa a acreditar em mim. Então eu fugi de verdade e o Liam convenceu Louis a deixar pra lá, eu ja estava longe e então Louis disse que se me visse outra vez não deixaria a oportunidade escapar. E eu passei quase três anos escondido, voltei pra Bradford quando já era seguro e passei um tempo com a minha família. Mas eu não era mais aquele mesmo garoto, eu sentia falta do trabalho e isso é tudo que eu sei fazer. Liam e eu mantemos contato e então ele e eu resolvemos começar um negócio em Bradford. E foi bom por um tempo mas eu o convenci a voltar para Londres e fazer algo aqui... Mas não foi uma boa ideia, pelo o que seu amigo lhe disse, Louis ainda lembra de mim e ainda quer me matar. Não fui eu, eu jamais faria algo assim com quem me tirou da miséria..."

Ela não disse nada, apertou minha mão bem forte. Quando eu olhei para seu rosto, ela mexeu os lábios sem emitir nenhum som.

"Eu acredito em você"







Revisado em :  02/08/2020

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