love - 34

[ a-mor

substantivo masculino

5. afeição baseada em admiração, benevolência ou interesses comuns; forte amizade]

gigi hadid point of view

Mais um dia nasceu no Bethlem Royal Hospital, seria um dia normal se não fosse pela minha alta, era o meu último dia nesse hospital psiquiátrico. Eu não havia dormido nada, fiquei a noite toda encarando minhas malas, esse lugar foi a minha casa nesses últimos seis meses, tenho medo de não conseguir me adaptar fora dele. Apesar de ter sido uma decisão difícil, deixar Londres e ir até Beckenham foi a melhor coisa que eu poderia ter feito pela minha saúde mental.

Foi preciso uma grande conversa com a minha mãe, assim que deixei Zayn nas montanhas eu fui para a casa dos meus pais. Três dias foram o suficiente para eu perceber que eu não conseguiria, o fantasma de Bella não me deixava em paz, toda culpa e dor me assombravam. Minha mãe preferia que eu fosse para alguma clínica chique nos Estados Unidos, meu irmão achava que apenas um acompanhamento semanal numa psicóloga seria o suficiente, mas meu pai me apoiou sobre o Bethlem.

Soava mal dizer que sua filha estava internada no Bethlem, o lugar não tinha um histórico muito bom, mas era melhor do que dizer que sua filha está trabalhando para o tráfico londrino. Mas nada era ruim aqui na verdade, havia muito dinheiro envolvido já que meu pai decidiu que ele pagaria por todo o tratamento. Eu tinha um quarto só para mim, a comida não era ruim e o lugar não é feio. O frio o deixava um pouco assustador, mas ainda era melhor do que a realidade fria do quarto que eu dormia na casa dos meus pais.

Tem muitas pessoas aqui, pessoas com problemas de verdade, não que o meu vício em drogas não seja um problema de verdade, mas ver outras realidades abre sua mente. Eram histórias tão tristes quanto a minha, mulheres tão fortes quanto eu, mais forte que eu na verdade. Mas ver o sofrimento de alguém não deixava nada mais fácil, longe disso, meu tratamento foi dolorido, nada se compara a crise de abstinência. Foi uma semana impossível, seguida de dias difíceis e horas tediosas. Eu pensava em fugir às vezes, mas apenas em pensar que eu teria que passar por todo o início do tratamento de novo me fazia desistir desse tipo de ideia.

Por mais incrível que pareça, fiz boas amigas aqui e aprendi coisas que vou levar para vida. Os melhores dias eram os dias de visita, ver minha mãe, meu irmão e meu pai colocava um sorriso no meu rosto que durava quase dois dias. Às vezes eles traziam alguma coisa diferente para que eu pudesse comer, alguma carta de amigos e parentes, pequenas coisas que me faziam sorrir. Eu estava conseguindo superar, seguir em frente, aprendendo a viver por mim mesma pela primeira vez na vida. Mas eu ainda pensava nele, e me perguntava se ele pensava em mim também.

Convenci minha mãe a reformar os quartos da casa, incluindo o de Bella, que segundo ela viraria um estúdio, para mim, já que aqui eu tive tempo livre para voltar a fazer meus desenhos. Eu não estava apenas me curando, mas eu estava ajudando a curar todos à minha volta também. Louis veio me visitar algumas vezes nesses seis meses, eu não dizia nada sobre Zayn, mas dizia que o cartel ia bem, que talvez vendesse ele. Não era uma vida fácil, ter a família tem perigo constantemente era uma pressão que eu sabia que ele não sabia lidar por muito tempo. Seria Zayn um comprador em potencial?

Eu pensei bem sobre o que eu faria assim que saísse daqui, viveria um pouco na casa dos meus pais até eu ter um emprego legal e então começaria a construir minha vida novamente. Me aproximar de pessoas ligadas ao crime foi o que tirou minha irmã de mim, foi graças a minha amizade com Louis que um maníaco conheceu Bella. Eu manteria a maior distância que eu pudesse de tudo isso, eu merecia uma vida calma e tranquila depois de tudo isso, filhos talvez, quem sabe.

Enquanto eu fazia planos, para um futuro próximo ou distante, uma enfermeira veio até meu quarto me acordar. Segundo ela, eu deveria me trocar, tomar meu café da manhã e então perto das dez horas meus pais estariam aqui para me buscar. Eu estava ansiosa, o que fez meu banho matinal ser nitidamente mais curto do que é regularmente. Eu pude vestir as minhas roupas em vez do uniforme do hospital, isso por si só já me deixou feliz.

O café da manhã foi repleto de carinho, grande parte das garotas vieram até mim para se despedir, me senti no último dia da escola, mas só eu teria um rumo diferente na vida no final daquele dia. Eu ainda tinha uma hora até meus pais chegarem, então caminhei pelo jardim que me confortou nos últimos meses, eu com certeza faria um jardim de gardenias quando tivesse minha própria casa, com lírios é claro.

Quando cheguei no meu quarto, eles estavam lá me esperando, minha mãe, meu pai e minha terapeuta. Tivemos uma conversa séria, eu prometi ficar longe das drogas e até mesmo do álcool, me concentrar em coisas boas e produtivas, e continuar o tratamento com o psicólogo para o resto da minha vida. Eu me senti verdadeiramente feliz com tudo isso, com quem eu me tornei e como minha vida estava agora. Não havia mais mentiras, planos e perigo. Tudo era quente, confortável e seguro, só havia espaço para o amor. Amor por mim mesma, amor pela vida, amor pela minha família e meus bons amigos.

Era estranho estar em um carro de novo, ver pessoas que não estavam internadas, ver que o mundo fora de Bethlem continuou sem mim. Todo mundo seguiu suas vidas, ninguém precisava de mim para viver, e eu também não precisava de ninguém além de mim.

A primeira parada em Londres foi na minha sorveteria favorita, meu pai estava sorridente e minha mãe queria tirar fotos nossas o tempo todo. Eu acabei tomando mais do que um sorvete, eu não me lembrava que açúcar era tão bom assim. Assim que eu não pude aguentar mais nenhuma colher de sorvete, voltamos para casa, eu voltei depois de seis meses, finalmente. Mas já era uma nova casa, uma nova Gigi, uma nova vida.

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Eu tinha voltado para casa há quatro dias, e eu já estava querendo mandar Anwar para o inferno, irmãos mais novos são tão irritantes. Quando meu pai disse que teria que viajar e minha mãe iria junto para fazer compras em um lugar diferente, eu não imaginei que seria tão irritante ficar com meu irmão sozinha em casa. É uma casa grande, dá para se esconder, mas fica difícil quando ele te chama para sair e você está com fome.

- Eu não acredito que você me tirou de casa para ir comer e esqueceu a carteira, que tipo de masoquista você é? - Minha irritação estava fora do normal, eu já havia meditado hoje, mas existem coisas que apenas seu irmão pode fazer você sentir. - Você me levou até o melhor lugar do mundo apenas para eu ver o cardápio e então ter que voltar para casa? Eu poderia ter esperado lá Anwar.

Ele continuava dirigindo, como se nem ao menos ligasse para o que eu estava dizendo. Talvez não ligasse mesmo, talvez a missão dele na Terra era apenas me irritar, e se esse for o caso ele estava se saindo muito bem.

- Eu estou sem meu celular também, se acontece alguma coisa como eu vou te ligar? - Eu respirei fundo. Quem sai de casa sem ao menos levar o celular hoje em dia? Aparentemente apenas meu irmão é capaz disso. - Ainda não sei me comunicar por telepatia, a gente pode jantar em casa se você não quiser voltar.

- Eu preciso dos meus cartões de volta, se eu tivesse minhas coisas a gente não teria passado por isso, e eu não quero comer em casa eu me arrumei toda... - Esse era o momento que eu sentia falta de andar com uma arma, eu jamais teria passado por isso se eu não decidisse ser uma pessoa melhor, Deus só pode estar me testando agora.

- Tudo bem então, você desce sozinha para ser mais rápido. - Minhas sobrancelhas sobem instantaneamente, era a primeira coisa sensata que ele havia dito até agora. Só havia um problema sobre isso.

- Onde está sua carteira? E seu celular é claro - Eu perguntei assim que o carro parou na frente de casa, ele fez uma cara de confuso e coçou a cabeça.

- Provavelmente na mesa de centro da sala de estar - Ele disse sem muita certeza, eu revirei os olhos, como ele pode ser tão irresponsável?

- Se não tiver lá eu faço o que? - Eu nem ao menos tentava esconder minha irritação.

- Vai no meu quarto, mas vai estar na sala - Ele parecia irritado com a minha demora de deixar o carro, como se o esquecimento dele não fosse um motivo bom o suficiente para eu estar brava com ele. Ele deveria estar indo pegar, ele que não ouse tentar me apressar.

- Assim espero - Digo e deixo o carro, sem apressar meus passos, eu andaria normalmente, se eu corresse ou não, que diferença faria?

Peguei a chave com dificuldade, porque além de esquecer a carteira ele ainda deixou a luz do jardim de fora totalmente apagada e eu não via quase nada direito. Assim que eu abri a porta tive que acender a luz, e tomei um susto enorme.

- Surpresa! - Eu ouvi todos que estavam no hall de entrada da minha casa gritando, eu quase caio para trás.

- Meu Deus! Gente? O que está acontecendo? - Eu estava totalmente desorientada, basicamente todas as pessoas que eu conheci na minha vida estavam ali. Eu não esperava por isso, toda minha irritação com Anwar sumiu, ele só estava me distraindo.

- Uma festa surpresa de boas vindas? - Taylor, minha melhor amiga da escola disse, já no caminho para me abraçar - Bem vinda de volta Gigi.

Eu abracei Taylor, feliz de vê-la de novo. E assim eu fui abraçando um por um, com um pouco de lágrimas nos meus olhos e o peito apertado. Havia balões que formavam a frase "welcome back gigi', uma mesa repleta de coisas para comer e beber, era de fato uma festa, havia até um bolo. Me senti fazendo aniversário fora da época.

Além de Taylor, algumas outras pessoas que estudavam comigo estavam lá, pessoas que fizeram parte da minha história em algum momento da minha vida. Louis principalmente, ele me abraçou com força, me apresentou seu namorado Harry Styles. Eu achei fofo, porque Louis perdia totalmente a pose de bandido ao lado dele, parecia outra pessoa. Louis disse que o cartel estava sendo finalmente comprado por uma pessoa que Louis confiava, ele agora só se concentraria na sua família e em Harry.

Enquanto Harry conversava com Taylor, Louis disse que o pediria em casamento quando viajarem para Roma no próximo verão e que tinha planos de abrir uma galeria de arte, ele não queria expor apenas quadros, mas fotos também, na verdade qualquer tipo de arte seria bem vindo na sua galeria. Ele queria dar espaço para artistas menos favorecidos, negros, imigrantes e membros da comunidade LGBTQIA+.

Niall já estava totalmente recuperado, me desafiou para uma maratona e também para jogar golfe. Não é meu esporte favorito, mas ele prometeu que seria divertido se a gente apostasse dinheiro, imagino que tudo que Niall faça seja divertido apenas por ser ele quem está fazendo. Ele disse que não trabalharia para mais nenhum cartel, ele se acha um jogador de golfe bom demais para estar no crime, eu só pude concordar.

Camila e Lauren estavam juntas, como sempre. Lauren pagou sua dívida com a máfia cubana, e agora elas tinham uma pequena empresa de investigação particular. Elas ajudavam famílias a encontrar suas crianças desaparecidas, parentes perdidos, crimes não solucionados pela polícia e até mesmo casos de traição. Elas haviam começado a pouco tempo, mas já tinham uma boa reputação e ótimos clientes. Camila planejava trazer sua família de Miami para viver mais perto dela aqui em Londres em breve, e Lauren já tinha enfiado um anel de noivado no dedo dela, elas se casariam daqui uns anos, quando a família de Camila já estiver estável por aqui.

Enquanto eu comia alguns sanduíches, Taylor falava sobre como foi a faculdade e como ela acabou apenas desistindo disso. Ela simplesmente não deixava que ninguém se aproximasse de mais de mim, era um pouco engraçado ver Niall tentando entrar na conversa, mas sem receber nenhum gancho meu ou dela. Niall desistiu eventualmente, e logo o champanhe fez efeito e Taylor precisou ir ao banheiro. Foi quando eu vi Liam, numa conversa não tão confortável entre Lauren e Niall.

- Hey Liam fico feliz que tenha vindo - Ele sorriu, provavelmente em agradecimento por eu ter tirado ele do meio dos dois. Ele me deu um breve abraço, notei que segurava algo.

- Bom, Louis me convidou, eu pensei que seria um pouco rude não aparecer já que você me ajudou - Liam era extremamente adorável, eu sempre gostei dele, ele era um cara desconfiado, mas com razão. - Tivemos algumas desavenças, mas acho que tudo já passou. Te trouxe um presente - Ele me estendeu uma caixa pequena, eu achei estranho a princípio, mas não julgaria seu presente.

- Obrigada, não precisava... - Eu agradeci e peguei a caixa da sua mão,já começando a desfazer o embrulho prateado.

- Claro que precisava, é falta de educação vir a casa das pessoas de mãos vazias. Ainda mais depois de ter destruído o carro dessa pessoa. - Dei uma risada involuntária, eu nem me lembrava desse detalhe. O presente era uma miniatura do meu antigo carro, meu nome estava escrito na placa, parecia algo semi-personalizado.

- Eu nem me lembrava mais disso. Eu adorei, obrigada - Liam sorriu tão abertamente quanto eu, e eu continuei olhando para os pequenos detalhes da miniatura do meu ex-carro.

- Louis me ajudou a escolher, quer dizer, ele fez um comentário maldoso sobre eu ter destruído seu carro e eu tive a ideia - Liam parecia mais divertido aqui e agora, só o vi assim naquela noite que ele apareceu com Zayn na minha casa coberto de dinheiro.

- Ah, ele tem bom gosto, e provoca grandes ideias. Mas... - Eu respirei fundo, ainda um pouco insegura, mas eu precisava perguntar mesmo assim -  Você deixou o cartel também? Quando eu saí da cidade você e Zayn iam trabalhar com Louis...

Ele pareceu pensar bem na resposta, como se nos últimos seis meses tantas coisas tivessem acontecido que a menção desse evento em específico era quase insignificante agora.

- Ah... Nós trabalhamos muito bem juntos, sem dúvidas. Mas... Quando Louis decidiu que isso não fazia mais sentido para ele, eu, principalmente, revi algumas decisões na minha vida. Vou me mudar, ele tem razão sobre a família e eu quero estar mais perto do meu filho, talvez eu consiga algum trabalho por aí, no momento eu estou apenas vendendo as minhas coisas.

Eu me perguntei quais seriam as coisas que Liam estaria vendendo, mas me lembrei que isso não era da minha conta. Eu não deveria perguntar demais, eu deveria ser bem direta sobre o que eu queria saber ou de quem. Acontece que Liam é bem intimidador, eu sempre achei que ele descobriria tudo seu tudo tivesse demorado mais duas semanas para acontecer.

- Vai se mudar para onde? - Liam fez uma careta, eu estava o deixando desconfortável.

- Não é tão longe, Brookwood, em Surrey. - Eu acenei, realmente não era longe, mas era longe o suficiente para sair do poço de mesmice que Londres pode se tornar.

- Então... Onde está o Zayn? - Ele respirou aliviado, ele preferia falar sobre Zayn do que sobre sua vida pessoal, o que era totalmente plausível já que nosso nível de intimidade não era assim tão grande.

- Ah... Ele foi convidado, disso eu sei, mas ele não disse se viria ou não. Sinto muito. - Liam não é o tipo de pessoa que realmente diz que sente muito sem sentir, o que de certa forma diz mais sobre ele não concordar com o que Zayn decidiu.

- Ele está chateado comigo? - Era uma pergunta sincera, e de certa forma justa. Eu não o culparia por ele sentir assim, mas não era minha culpa também.

Liam deu uma pequena risada da minha pergunta, como se ela fosse um absurdo. E pensando bem, era mesmo. O que eu fiz ou poderia ter feito para deixá-lo chateado comigo. Eu não fui embora sem dizer adeus, eu não menti sobre meus sentimentos ou algo assim.

- Ele esperava que você fosse procurar por ele assim que chegasse, e como você não fez isso... Ele acha que você já está em outra, algo assim. - E então foi a minha vez de rir, de nervoso. Zayn é simplesmente muito sentimental, e ele não tem ideia de como lidar com isso.

- Ele ficou no cartel? - Eu tentei perguntar o mais casualmente possível, mas ele sabia que ele era minha melhor fonte de informação sobre o Zayn. É claro que eu poderia perguntar a outra pessoa, mas Liam tinha os segredos de Zayn junto com ele, eles eram confidentes.

- Não, mas ele vai trabalhar com Louis na galeria - Ele respondeu, de forma tão casualmente quanto eu fiz a minha pergunta.

- Isso é interessante no mínimo, fico feliz por ele. - Olhei ao redor e pude ver Taylor se aproximando novamente, era minha deixa perfeita para acabar aquela conversa da forma mais elegante possível. -  Sinta-se em casa Liam.

- Obrigado, de novo - Ele me agradeceu um sorriso verdadeiro, que foi prontamente retribuído por mim.

A festa seguiu, e em algum momento meu irmão teve a ideia brilhante de começar uma competição de karaokê, e eu não disse isso de forma irônica, foi brilhante de verdade. Era como se todo mundo ali tivesse secretamente um grande talento para a música, eu não tive nem chance de passar da primeira fase. E por incrível que pareça, Niall ganhou a competição apenas cantando músicas da Katy Perry. Taylor e Harry foram os últimos finalistas com ele, e Louis foi desclassificado por ameaçar os outros participantes.

Parecia uma grande reunião escolar, todos conversando ao mesmo tempo, um caos, um caos bom. E quando a bebida começou a acabar, as pessoas foram aos poucos indo embora. Quando me dei conta eu estava sozinha com Taylor, porque até meu irmão tinha simplesmente sumido com a namorada nova e me deixado com toda a bagunça da sala.

- Obrigada por ter me ajudado a limpar tudo aqui, eu perdi Anwar no momento que a namorada dele chegou. Como ele e Louis podem organizar uma festa surpresa para mim e eu acabar tendo que limpar toda a bagunça depois? - A cada copo que eu colocava na sacola de lixo a raiva que eu sentia do meu irmão crescia um pouco mais.

- Ah eu não sei se você pode culpá-lo, Dua é simplesmente maravilhosa, tomei a liberdade de pegar o numero dela. Acho que vou chamá-la para jantar com a gente um dia. O que você acha? - Ela guardava as sobras separadamente na geladeira enquanto falava.

- Acho que uma noite das meninas seria a melhor opção, quanto maior a distancia entre mim e Anwar, menores são as chances que eu tenho de cometer um assassinato - Taylor fez uma cara feia para mim, mas não aguentou ela por muito tempo e então apenas deu uma risada contida de mim.

- Pare de reclamar, falta pouco agora e eu não vejo problema em te ajudar. Inclusive, eu não acho que você está agradecida o suficiente pela minha ajuda. - Ela tinha a caixa do bolo nas mãos e tentava achar um canto na geladeira para ele.

- Quantas vezes eu tenho que agradecer? - Eu fechei o saco de lixo, já não havia mais nada para colocar nele.

- Duas a cada cinco minutos, por favor. - Eu revirei os olhos, e preparei minha melhor atuação possível para ela.

- Claro querida, muito obrigada pela sua grande ajuda - Ela fechou a geladeira e me lançou um olhar repreensivo, ela seria uma ótima mãe.

- Eu gostei, mas sei que você consegue fazer melhor - Ela jogou o guardanapo que tinha usado para secar as taças de vinho na minha cara, eu abri a minha como se estivesse extremamente chocada com seu ato violento.

- Eu nem deveria estar aqui, é uma festa para mim, eu não teria que ter trabalho nenhum, diga-se de passagem.

- Hum... Definitivamente não é o que eu queria ouvir, tente novamente mais tarde. - Eu não pude sustentar minha atuação por mais tempo, e acabei rindo dela - Bom, está bem tarde, acho que vou indo.

Eu queria fazer um drama, e fazer com que ela ficasse mais um pouco, mas eu estava tão cansada que pensei duas vezes antes de dizer alguma coisa. Foi um dia agitado demais, até mesmo para alguém que acabou de sair da reabilitação de um dos hospitais psiquiátricos mais famosos do mundo.

- Eu ainda tenho que tomar um banho, não contava com tudo isso hoje - Confessei, já me sentando numa das cadeiras da bancada.

-É a intenção de uma festa surpresa - Ela deu a volta e pegou a sua bolsa que estava na bancada, do lado oposto ao meu -  Foi muito bom te ver, não some de novo, por favor.

- Não vou a lugar nenhum - Eu prometi, e ela veio até mim me oferecendo um abraço. Nós caminhamos até a porta da sala, ainda abraçadas.

- Eu vou te ligar - Ela disse assim que a porta estava aberta.

- Vou estar esperando - Taylor mandou um beijo e eu fechei a porta, e então, finalmente sozinha eu respirei fundo. Foi uma ótima noite, as coisas estavam ficando bem de verdade, isso é assustador.

Ainda parada no hall de entrada, olhei as fotos ao meu redor, Bella teria amado tudo isso.

Assim que eu me virei para voltar para a cozinha, a porta soou com o barulho de duas batidas tímidas. Só podia ser a Taylor, esquecendo as chaves ou algo assim, como sempre.

-  Ah eu sabia que você ia esquecer alguma cois... Zayn?!

Meu corpo entrou em choque assim que eu o vi na minha frente, ele estava arrumado e com um buquê de flores na mão. Um buquê um pouco murcho, mas colorido. Ele tinha um sorriso tímido no rosto, e parecia tão surpreso quanto eu. Eu precisei respirar fortemente antes de poder pensar em dizer alguma coisa que fizesse sentido naquele momento.

- Acho que eu me atrasei um pouco para a festa, mas pelo menos mantive o elemento surpresa. - Ele fez uma careta e deu os ombros, estendeu o buquê alguns centímetros a frente e sorriu - Para você.

Parecia que eu tinha sido abduzida do planeta terra há dez anos e nem ao menos me lembrava como se falava com outro humano. Em menos de um minuto, apenas com a sua presença Zayn tinha me deixado completamente sem palavras.

- Obrigada, entre - Eu disse um pouco alto demais, e me assustei com a minha voz, ele fingiu não notar meu nervosismo enquanto eu dava passagem para que ele entrasse. Fechei a porta, ainda um pouco incrédula, eu não podia estar delirando, era perfeito demais até mesmo para um delírio meu. - Acho que eu ainda tenho algo para te servir da festa, vem.

- Acho que tive sorte. - Ele me seguiu, cordialmente até a cozinha. Sem nenhum contato visual, apenas uma leve aproximação.

- Ah, você perdeu uma intensa competição no karaokê, eu não tive nem chance. - Disse tentando parecer o mais casual possível, olhando ao redor e procurando algum vaso em potencial para dar uma levantada nessas lindas flores.

- Niall cantou Katy Perry? - Eu não pude deixar de olhar em sua direção e rir do seu palpite mais do que certo.

- Três vezes. - Fiz uma careta.

- Eu deveria ter vindo antes mesmo. - Ele se sentou na mesma cadeira que eu estava minutos antes, eu dei a volta até a pia e coloquei um pouco de água no vaso, mergulhando os caules das flores nela em seguida. Eu as deixaria na cozinha mesmo, por agora.

- Sim, senti sua falta. - Fiz questão de dizer isso olhando em seus olhos, ele precisava saber que eu não estava falando apenas da festa, mas sim de todo o tempo que passei longe dele.

- Eu também senti sua falta - Ele respondeu, prontamente. Sorri sem ao menos perceber, me virei para geladeira e peguei o bolo, cortei uma fatia generosa e o servi.

- Vinho?

- Só se você me acompanhar.

- Não posso abusar, já tomei champanhe demais por hoje - minha sentença estava acompanhada de um sorriso amarelo, mas Zayn emanava tranquilidade do outro lado da bancada.

-  Então não, obrigado. Só o bolo está ótimo - Ele agradeceu e deu uma garfada.

- Como você está? - Caminhei até o seu lado enquanto eu fazia a pergunta, talvez a mais sincera que eu tenha feito hoje. Ele deixou o garfo sobre o prato e se virou na minha direção.

- Feliz em te ver, acho que foi uma boa estratégia vir depois que todos já foram, tenho sua atenção só para mim agora. - Não pude deixar de sorrir com as suas palavras, meu coração já estava calmo por tê lo ao meu redor. Era como se nada tivesse mudado de fato, era apenas eu e ele, ali na minha cozinha.

- Não é como se você precisasse disputar por ela, com Taylor talvez, mas eu teria te mantido ao meu lado a noite toda de qualquer forma.

Zayn sorriu, passou a mão suavemente pelos cabelos, como se ele pudesse ser mais perfeito. Não havia nada fora do lugar ali, talvez o único defeito era a distância entre nós. Ele respirou fundo, e como se tivesse lido a minha mente, se aproximou delicadamente.

- Eu esperei por você - Sua voz era suave, não tinha nenhum resquício de mágoa, era apenas uma constatação, uma declaração.

- Eu disse para você não esperar.

- Não tive muita escolha, todas as garotas ficaram chatas depois que eu te conheci - Eu não tinha a intenção de jogo, mas se eu tivesse eu teria perdido tudo ali. Meu sangue corou meu rosto antes que eu pudesse perceber e tentar lutar contra isso, era uma luta perdida de qualquer forma  -  Bom saber que você ainda fica sem graça comigo.

- Calado - Eu tentei esconder meu rosto com as minhas mãos, mas ele me impediu. Seu toque era comparável a uma música antiga, daquelas que sempre que ouvimos podemos sentir como se fosse a primeira vez, porque é ainda melhor do que se lembrava.

Eu suspirei. Antes que ele tirasse as suas mãos do contato com as minhas eu o segurei firmemente, olhei bem para elas, encaixadas como se fossem feitas perfeitamente umas para as outras. Eu jamais poderia negar isso, ou lutar contra isso.

- Eu comecei a odiar castelos de areia desde que você partiu.

Eu nem ao menos tinha notado que tínhamos ficado calados por tanto tempo, eu só percebi quando ele me lembrou da minha infeliz frase. A memória dele ao meu lado, as estrelas sobre nós e como foi difícil deixá-lo lá era dolorosa, mas agora que eu tenho ele ao meu lado de novo, eu não deixaria que isso se repetisse.

- Você deveria desconsiderar tudo que eu lhe disse naquela noite, eu basicamente saí de lá e fui direto para o Bathlem. - Zayn segurou o riso, deixando escapar apenas o suficiente para não quebrar a atmosfera que tinha se formado a nossa volta.

- Até mesmo a parte que você disse que me ama?

Zayn era esperto com as palavras, perspicaz e direto. E eu seria assim com ele também.

- Isso é algo que nunca vai mudar.

Ele me olhou, como se procurasse alguma resposta, mas eu não sabia exatamente para qual pergunta. Não medi muito as consequências, me aproximei mais dele, nosos lábios se tocaram. Mas nenhum de nós tinha coragem o suficiente para poder iniciar o beijo. De olhos apertos, nós nos encarávamos, queimando de desejo por dentro. Nossa respiração se misturava, seu hálito quente me deixava tonta, não era o suficiente. Eu o queria, o queria mais perto, o queria sempre. Mas havia mais uma barreira que eu havia que criar.

- O amor é o suficiente agora?

Eu fechei meus olhos, e pressionei meus lábios contra os dele. Não havia pressa nenhuma, eu aproveitaria cada mínimo detalhe daquele momento, cada segundo que eu passasse ao seu lado seria uma dádiva apreciada. Quando nossas línguas se tocaram, tudo ao meu redor não importava mais, eu já tinha o que eu queria ali, o mais perto possível. Com sua boca se conectando com a minha, em uma sintonia tão perfeita e única. Cada movimento, como se tivesse sido ensaiado um milhão de vezes, eu tive toda a certeza de que sim, eu queria ele e eu não me permitiria sentir medo de novo.

Dentre tudo que me trouxe até aqui, vada sentimento que me sufocou, cada insegurança que tirava minha paz, cada pedaço da culpa que tirava meu sono e sugava minha energia. Zayn era meu ponto de paz, ele despertava o melhor em mim, ele trouxe de volta uma versão de mim que eu pensava que havia morrido há muito tempo. Era como se agora, tudo tivesse ao menos me levado até ele. Eu não poderia ter um final mais feliz, ele deveria saber.

Quando ele quebrou o beijo, vi seus olhos marejados de lágrimas, sorri suavemente. Coloquei minhas mãos em seu rosto e beijei sua testa, suas bochechas e seu nariz, ele era perfeito. Limpei minha garganta, e torci para que as minhas palavras fossem capazes de transmitir tudo que eu sinto para ele.

- Eu pensei muito sobre isso Zayn, e eu não tenho uma resposta, talvez eu nunca tenha a resposta. Mas eu estou disposta a tentar de novo, começar de novo, do zero. Sem nenhuma mentira entre nós, sem ninguém que possa interferir no nosso relacionamento ou tentar matar você, ou eu. Eu quero algo que dê certo, que não seja só um amor de verão, mas que me ajude a decorar a casa durante o inverno e a cuidar do meu jardim de gardênias. Eu quero você, mas não porque eu preciso de você para poder viver. Eu quero você porque você deixa minha vida melhor, porque estar com você não é um sacrifício, é um privilégio. Eu amo você por tudo de bom que você me faz sentir e ser, e por todas as coisas que ainda vai fazer. Nem todas as pessoas podem ficar com o amor da vida delas, algumas apenas não têm coragem o suficiente para tentar e outras estragaram tudo por razões erradas. Mas eu quero ficar com o amor da minha vida, e eu vou ser corajosa o suficiente para isso, eu não estragar tudo de novo. O amor é apenas para os corajosos. Você é corajoso o suficiente?




Publicado em: 26/11/2020

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