exit • 32

[ saí-da

substantivo feminino
1.
ação ou efeito de sair; saimento.
"o povo aguardava a s. do desfile"]

Dois meses, parece muita coisa pensando agora, mas era como se eu ainda estivesse presa no tempo. Presa na última vez que eu vi Zayn, seu sangue quente nas minhas mãos, seus olhos fixos nos meus e nenhuma palavra entre nós. Muita coisa havia acontecido, mas eu ainda me encontrava inerente, cheia de respostas prontas e não fazendo menos que o mínimo.

Na primeira semana, foi bem fácil, Louis não exigiu nada de mim. Me agradeceu e pediu desculpas, eu queria ter gritado com ele e dizer que ele era uma pessoa horrível. Mas do que adiantaria? Ele não podia trazer Bella de volta, ele não tinha poder para mais nada, muito menos para dizer a verdade. Eu me senti fraca, eu queria chorar e gritar, mas ao invés disso eu tomei uma pílula e ficou tudo bem, por um tempo.

Aos poucos, a rotina foi voltando, Niall estava se recuperando e eu o ajudava na fisioterapia. Meu tempo com ele era sempre agradável, Niall é um bom amigo, mesmo fazendo todo o seu drama habitual. E tua ia bem, até que alguém falasse sobre o Zayn, e então eu tinha que tomar outra pílula novamente. Conforme os dias iam passando, eu ia me sentindo mais vazia e sozinha. Não tinha com quem falar, muito menos sobre o que.

Camila me via as vezes, ela subiu de cargo e agora treinava Lauren. Ver elas juntas era fofo no começo, mas eu comecei a me sentir mal com o tempo e para não tomar mais pílulas comecei a evitá-las. Rejeitei seus convites o máximo que pude, acho que ninguém realmente vai me querer lá de qualquer forma.

Era engraçado, quando acontecia algo legal ou inesperado no meu dia, a primeira coisa que eu pensava era em dizer isso ao Zayn, mas ele não leria minhas mensagens, não atendia as ligações, não viria me ver. Ele era quase um fantasma, havia um moletom dele na minha antiga casa que eu não consegui me desfazer, costumava conversar com a peça quando ficava muito bêbada. Sim, adquiri o hábito de beber sozinha.

Eu sai do apartamento, porque cada cômodo me lembrava dele, mas eu não o teria novamente, era melhor não ter nem as lembranças também. Não havia nada que eu disse a Louis que ele não fizesse, houve muito trabalho nesse meio tempo, eliminamos quase metade do cartel por eles terem ligações com Josh. A única parte boa disso foi poder ver esse cara morrendo lentamente de fome.

Eu nunca fui muito fã de pílulas, mas a partir do momento que elas me faziam dormir bem e não sentir esse buraco no meu peito, virei a fã número um. Qualquer sentimento que me deixasse desconfortável, qualquer pensamento fora da minha zona de conforto já era eliminado por elas. Escutei algumas pessoas comentarem que eu estava viciada, que eu não deveria trabalhar chapada, sinceramente não poderia ligar menos. Tente fazer um trabalho melhor do que o meu e então depois venha me dizer alguma merda.

Mas hoje era minha folga, e além disso é o aniversário de Bella. Eu havia acordado cedo e tomado um banho quente, passei na floricultura e comprei o buquê com as flores mais coloridas e diversas que eu tinha visto. Passei numa padaria e peguei os favoritos de Bella, para viagem. Meu novo carro era confortável e chamava menos atenção do que o antigo, cheirava a novo ainda, já que parei de fumar.

Assim que cheguei no cemitério, o sol da manhã já estava quente o suficiente para não usar um casaco. Havia uma brisa fina e tranquila, não era um lugar feio, parecia um jardim. Fui até a pedra de mármore com o nome dela entalhado, entendi uma toalha e comecei a arrumar nosso café da manhã.

Eu fazia isso todos os anos, quando ela era viva nós tomávamos café da manhã no nosso quintal, como um piquenique, e aqui, sozinha, eu fazia o mesmo. Por ela, por nós. Deixei as flores ao lado da pedra, acendi uma vela com cuidado para que não apagasse com o vento.

Era minha primeira refeição de verdade em dias, eu comecei a comer em silêncio. Não tinha muito o que dizer, e ela não estaria aqui para escutar também. Eu estava sozinha, não havia muito a ser feito agora.

- Eu sabia que você iria estar aqui. - Uma voz conhecida me tirou da minha inércia, eu não preciso olhar pra saber quem é.

- Junte-se a mim, há comida o suficiente para dois. - olhei em sua direção, mas não pode ver muito tem, ele estava contra o Sol.

- Não posso recusar um pedido deste, ainda mais seu. - Ele colocou um buquê de rosas brancas ao lado do colorido, se sentou ao meu lado com cuidado para não apagar a vela. - Sinto falta dela, mas também sinto a sua falta.

- Por incrível que pareça, sinto sua falta também. Mas nunca mais será a mesma coisa sem ela pai, sinto que é como viver uma mentira. Me sentar ao redor da lareira e fingir que está tudo bem, porque não esta. - Deixei meu bolinho de volta na embalagem, não queria mais comer.

- Eu sei, e não é o que eu estou pedindo para você. Anwar te deve desculpas, eu te devo desculpas, mas você deve desculpas a sua mãe. - Ele pegou na minha mão e apertou.

- Faça uma torta, e eu estarei lá. - Sorri fraco, mas ele tinha lágrimas nos olhos, de felicidade.

- Eu te amo querida, não há nada que eu não faria por você. - Meu pai estava sendo sincero, e eu queria que ele não tivesse que passar por toda essa dor que eu causei.

- Eu também te amo pai. - O abracei, era para ser rápido, mas minutos viram segundos. Era o lugar mais seguro que eu tinha estado nos últimos dias, e eu não queira deixá-lo.

Ele quebrou o abraço com gentileza, colocou meu cabelo para trás e beijou minha testa com cuidado. Uma brisa gelada fez meus ossos tremerem por um segundo. Eu respirei fundo, o cheiro do perfume do meu pai se misturou com os das flores, eu senti paz.

- O que aconteceu com seu carro? - meu pai perguntou depois de um tempo, enquanto ele tomava um gole do suco de pêssego.

- Oh, eu emprestei a um amigo e ele bateu o carro. Ia ficar mais barato comprar um novo do que arrumar, foi o que eu fiz. - Dei os ombros, era uma meia verdade.

- Ainda tem meu número?

- Sim, eu ligo quando estiver com um dia livre.

Não acho que mentir melhoraria alguma coisa, ele já sabia. E o que ele estava fazendo era me aceitar de volta mesmo depois de tudo, apesar de tudo. Não mentiria mais quando as coisas fossem ser sobre mim.

- Eu vou esperar, tenho que ir. Você vai ficar bem, querida? - Ele se levantou e colocou as mãos na cintura.

- Sim, obrigada. Mande a mamãe um abraço. - Sorri, mesmo que bem fraco, mas ele pode ver.

- Eu vou, não suma de novo e cuidado... Não foi fácil saber que a minha garota estava no hospital, chegar lá e ter uma pessoa que eu nem conheço "cuidando" de você. - O rancor e a amargura eram bem claros, meu coração se apertou.

- Me desculpe por isso, não vai acontecer de novo. - Ele assentiu.

- Eu sei, fique bem. - Ele deu um último beijo na minha testa e saiu andando pelo grande jardim à fora.

Meu coração estava tranquilo, as coisas estavam finalmente tendo alguma melhora. O restante do café da manhã foi tranquilo e agradável, comi um pouco mais e então comecei a recolher as coisas, assim que terminei apaguei a vela e deixei um beijo no ar para Bella.

Andei pela cidade com o carro, sem um destino específico, eu apenas estava enrolando para não voltar para casa. Nem ao menos era a minha casa, era apenas o cartel de Louis, com um quarto que eu chamava de meu. Aparentemente tudo pertencia a ele, era como se tudo a minha volta só estivesse ali porque ele colocou, porque ele quis assim. Sempre que penso em Louis, ou vejo, galo com ele, eu acabo tento que tomar uma pílula.

Ao estacionar o carro na minha vaga senti algo muito estranho, meu café da manhã voltou na hora, uma vontade de vomitar incontrolável. Eu segurei o máximo que eu pude, abri o carro e conseguir dar dois passos, arruinei todas as tulipas do jardim. Eu não deveria ter comido tanto, ainda mais depois de ter ficado tanto tempo sem comer.

Esperei até que minha pressão voltasse ao normal e peguei minhas coisas, ainda era cedo de mais para que as pessoas viessem a cozinha almoçar. Lavei as coisas que sujei e fiz o caminho até o quarto, eu precisava de um banho. Minha gatinha estava dormindo tranquilamente na minha cama, desejei ser ela naquele momento, nada podia de fato afetar ela, ela poderia simplesmente fugir se quisesse, eu não tinha essa opção.

Meu banho foi rápido, vesti um moletom, estava decidia a maratonar alguma série hoje. Assim que terminei de secar o cabelo, duas batidas na porta anunciaram o fim dos meus planos. Ninguém viria aqui se não fosse algo importante, ainda mais na minha folga. Disse um breve 'entre', torcendo com que a pessoa desista ou tenha errado a porta.

- Bom dia Gigi. - Louis disse, suavemente, assim que fechou a porta. Eu não respondi, estava chateada com ele, era preciso mais do que um bom dia para tirar alguma palavra da minha boca. - Sei que é seu dia de folga, mas eu marquei uma reunião para depois do almoço, gostaria que você fosse.

- Reunião? Posso saber do que se trata? - Me sentei no cama, simplesmente porque eu não iria querer sair daqui mesmo.

- Acho justo que você saiba antes de todos de qualquer forma... Depois de demitir tantas pessoas, acabei tendo que recrutar mais pessoas.

- É, seria legal ter dois dias de folga como antes. Eu só não acho que minha presença na reunião seja de fato necessária, posso conhecer o pessoal novo amanhã no treino. - Dei os ombros.

- Eu queria fazer uma surpresa... Você já conhece as novas pessoas, Liam e Zayn vão trabalhar com a gente.

Eu senti minha pressão cair de novo, suei frio, senti a vontade de vomitar de novo, mas para sorte de Louis que estava na minha frente eu não tinha mais nada no estomago. Nem ao menos parecia real, eu nem ao menos sabia o que sentir naquele momento. Eu veria Zayn de novo, ele estaria aqui, e eu o veria quase todos os dias. Ou talvez não, não sei que tipo de trabalho ele vai fazer. Eu tinha muitas perguntas e estava passando mal para poder fazer todas elas.

- Zayn? - Foi a única coisa que eu pude dizer, eu nem ao menos me lembrava como era dizer seu nome em voz alta, era um som totalmente diferente para mim agora.

- É, eu sei... Nós conversamos muito, somos no mínimo colegas de novo, ele estava com um problemas e eu o ajudei. - Louis falava com naturalidade, mas ou mesmo tampo com muito cuidado, como se pisasse em ovos.

- E ele aceitou? Trabalhar para você de novo? - Eu estava incrédula, jamais em mil anos tinha imaginado um motivo sequer para que ele fizesse isso de novo.

- Houve algumas condições é claro, mas vamos trabalhar juntos daqui para frente. - Ele parecia animado e apreensivo.

- Juntos? E o que ele vai fazer exatamente? - Eu podia sentir o gosto da bile, a ansiedade me mataria qualquer dia destes.

- Tanto ele, quanto Louis vão fazer parte do nosso esquadrão principal é claro. Zayn é atirador como você, Liam é bom também é claro. Mas... - Havia algo que ele estava escondendo.

- Mas?

- Ele queria ter a mesma posição que você. - Louis deu um sorriso frouxo, e eu agradeci por estar em pé, ele queria ter contato comigo novamente.

- O que exatamente isso quer dizer? Eu sou seu braço direito, ninguém tem dois braços direitos Louis. Você está me rebaixando? Vou ter que seguir ordens dele? - Minha voz era desesperada, denunciando meu estado de espirito.

- Não, vocês serão iguais, com o mesmo poder. Nem ele pode mandar em você nem em você nele, é uma condição dele. Eu não te rebaixaria, sem você nem estaríamos aqui Gigi. - Louis parecia triste, apesar de esperançoso.

Eu respirei fundo, nem ao menos saberia como seria vê-lo novamente. Zayn já tinha deixado minha realidade há muito tempo, habitava apenas meus sonhos e delírios. Eu tinha aceitado o fato de não ter ele nunca mais na minha vida, e agora, ele estará mais presente do que nunca nela.

Eu fiquei em silencio, imaginando todos os cenários possíveis. Eu não estava pronta para isso. Ele levou um tiro por mim, ele me odiava. Nada mudaria isso, ele mesmo disse enquanto eu pressionava seu ferimento, isso não muda nada. Estar ao seu redor sem poder toca-lo, sem poder ficar olhando nos seus olhos e sorrindo. Mesmo depois de todas as coisas horríveis que ele havia me dito, eu apenas me lembrava dos momentos bons.

- Não sei como isso possa dar certo Louis. - Olhei para ele, que agora estava sentado ao meu lado, com a testa franzida e um sorriso triste.

- Eu torço para que dê, vamos fazer um teste durante essa semana... Ele me disse que não pretende falar muito com você, apenas o necessário, você pode seguir fazendo suas coisas e vai ter mais uma folga é claro. - Mesmo que suas palavras fossem para me convencer de que daria certo, elas tiveram efeito contrário. Ele me ignoraria sempre que preciso.

Eu jamais podia me deixar ficar tão vulnerável ao seu redor, ele não podia mais ter esse controle sobre mim. Fazer com que eu me sentisse mal, com que eu revivesse todos os dias as minhas mentiras, minha culpa e minhas dores. Era difícil me manter bem estando longe, com ele ao meu redor seria ainda mais difícil.

- Gigi, quero que saiba que você não é obrigada a ficar. Eu sei que tem sido difícil para você, acredito que o ultimo encontro de vocês tenha sido horrível. Eu me arrependi muito de ter te colocado naquela situação, mas você conseguiu concertar tudo, você arrumou uma bagunça que nem ao menos era sua. Eu não tenho ideia do inferno que tenha sido, eu estava cego e nem ao menos vi o quanto eu estava sendo egoísta e cruel. Quero que me desculpe, se puder é claro.

Ele estava sendo sincero, eu senti um nó se formar na minha garganta. Louis estava me dando a opção de partir. Essa era a maior prova de amizade, o maior pedido de desculpas que ele poderia me oferecer. Uma saída.

Eu tinha que pensar para onde ir, o que eu iria fazer com essa liberdade. Eu ainda teria para onde ir depois desse tempo todo? Eu deveria ficar? A dor do meu estomago nem me incomodava mais.

- Por que está fazendo isso? - Minha voz não mais alta do que um sussurro.

- É uma questão de igualdade, ele aceitou, você tem que aceitar também. Posso te mudar de posição, você tem direitos a fazer condições também.

A luz do quarto não me deixava ver exatamente sua expressão, eu estava confusa.

- Eu te perdoo, até mesmo a sua mentira sobre não saber nada sobre o assassino da minha irmã. Mas eu estou farta de mentiras Louis, estou farta de ser a ultima a saber sobre coisas que mudaram minha vida, ou o jeito que eu vivo ela. Você deveria ter discutido essa ideia comigo antes de ao menos dizer algo para ele, achei que nós estávamos trabalhando juntos. - Minha voz transparecia toda minha raiva e meu rancor, Louis se encolheu.

- Eu não sabia como contar, antes não fazia sentido, você iria querer conhecer o Zayn e eu não queria dar o braço a torcer sobre isso. E quando você descobriu sobre ele, te dizer a verdade só faria com que ele te conquistasse mais. Você tinha mesmo o direito de saber, me desculpe.

Era como ver um cão arrependido, ele todo encolhido e dizendo as coisas com pesar na voz. Eu queria não acreditar, mas no final das contas, Louis era um amigo.

- Não vou dizer que eu entendo, porque eu jamais esconderia algo assim de você, mas sei que não era um segredo só seu. - Dei os ombros, senti uma lágrima querendo se formar.

Eu iria me despedir dele.

- Eu agradeço por tudo, mas não quero continuar aqui. Na verdade, eu queria ter ido embora desde quando tudo aconteceu. Sabia que precisava de mim, mas agora você tem mais pessoas ao seu lado e eu sinto que posso ir. Eu entrei aqui para descobrir a verdade sobre minha irmã e agora que eu sei, não vejo mais nenhum motivo que me faça querer ficar. - Disse quase chorando, com o coração engasgado na garganta.

- Eu entendo, sabia que isso iria acontecer em algum momento...

- Não é pessoal Louis, não é por você, por Zayn, ou por qualquer outra pessoa... Eu preciso sair por mim mesma. - Enquanto eu dizia a ele como as coisas eram, eu descobri como elas seriam daqui para frente. Eu não poderia continuar minha vida assim, de vicio em vicio, era insustentável. - Eu não me sinto bem, e se eu não me cuidar isso sempre vai ser assim. Talvez eu volte, talvez não, mas aqui é o único lugar que eu não posso mais estar. Obrigada por me deixar partir sem culpa.

Louis me abraçou, era um abraço de conforto e carinho, ele entendia meus motivos e me apoiava.

- Sinta-se livre para frequentar minha casa, para vir aqui e para voltar quando quiser. Eu vou sentir sua falta. - Ele levantou, cruzando os braços.

- Pode me fazer um favor? - Eu disse sem ou menos pensar muito.

- O que quiser. - Louis sorriu.

- Diga ao Zayn que eu nunca vou me esquecer das estrelas no verão. - Louis franziu a testa, mas assentiu. Eu sorri, e ele deixou meu quarto.

Eu fiquei parada, pensando no que tinha acabado de acontecer. Eu precisava fazer minhas malas agora.








Publicado em: 11/11/2020

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