deception • 29

[de•cep•ção

substantivo feminino
1.
sentimento de tristeza, descontentamento ou frustração pela ocorrência de fato inesperado, que representa um mal; desilusão, desapontamento.
"já sofreu muitas d. amorosas"
2.
POR METONÍMIA
esse fato.
"a festa foi uma d."]


zayn malik point of view


Minha cabeça doía muito, eu estava sem sapato e com algo prendendo meus pés, minhas mãos estavam presas também, eu não podia me mexer. Eu me sentia sonolento, quase bêbado talvez, não conseguia abrir os olhos. Como se eu tivesse sido anestesiado e aos poucos retomasse a consciência.

Nada fazia muito sentido agora, eu não sei onde estou, e o porquê de eu não conseguir me mexer. Minha dor de cabeça era sem sentido, e a imersão também. Era difícil me lembrar da última coisa que aconteceu comigo, eu não conseguia nem ao menos começar a montar uma linha temporal com sentido.

Havia memórias rondando minha mente, memórias de outros dias, outros meses, outros anos. A lembrança de Louis montando alguma operação, e eu ansioso para executá-la. O dia em que conheci Gigi, o dia que vi ela na corrida e nossa última noite juntos, bebendo vinho e rindo. Nenhuma memória parecia forte o suficiente, clara o suficiente para fazer sentido ou ser coerente. Eram todas jogadas e misturadas, eu podia ouvir Louis e podia ouvir Gigi, como se estivessem no mesmo lugar.

Todas as memórias pararam de fazer sentido e foram se esvaindo, à medida que eu conseguia entender quais eram as palavras que estavam sendo ditas. Isso não poderia estar acontecendo, não fazia nenhum sentido, não podia ser real. O medo e pânico me dominaram, eu tentei gritar mas havia algo tampando minha boca. Eu precisava fazer alguma coisa, eles me pegaram e pegaram ela também.

- Isso é inaceitável, solte ele agora. - Eu nunca tinha escutado sua voz dessa maneira. Ela estava brava e assustada, me lembrei do tom desesperado de Bella por um segundo. Apenas ouvir era agoniante, ela podia estar presa também, só de imaginar ela machucada e assustada eu queria gritar. Mas eu ainda nem havia conseguido abrir meus olhos. Isso deve ser um pesadelo.

- Por que eu faria isso? - Louis ria, como sempre se divertindo com o sofrimento alheio - Ele invadiu meu território, havia um limite territorial bem claro que foi desrespeitado.

Mas ao contrário do esperado, ele parecia relaxado, como se realmente se sentisse confortável com Gigi, como se a conhecesse.

- Todo mundo sabe que você não dá a mínima para isso. - Ela não parecia ter medo algum, mesmo com um psicopata na sua frente. - Se essa fosse a questão, você teria pego ele a muito tempo, porque sabia exatamente quando ele estava no meu apartamento, que faz parte dessa merda de território que você diz defender. - Nada disso fazia sentido, eu devo ter perdido algo.- Solte ele. - Ela ordenou.

Louis não gritou, não deu nenhuma risada irônica, ele apenas suspirou.

- Eu não vou fazer isso, o tempo dele acabou, você sabe disso.

Ela sabe?

- Eu tenho a prova. - Ela estava segura do que estava dizendo, sua voz era confiante, tão autoritária quanto antes.

- Mostre agora. - Louis soava muito impaciente, nada fazia sentido algum.

- Não está comig- Gigi nem ao menos terminou de falar e foi interrompida.

- Eu não acredito em você. - Calmo, talvez até mesmo decepcionado.

- Lou, se você quisesse tanto matar ele, deveria ter feito isso antes. Zayn não fez nada de er- E novamente, ele não a deixa falar, agora faz um 'shh'.

Eu tinha muitas perguntas, se minha cabeça não estivesse doendo tanto eu teria certeza que tudo isso não passa de um sonho. Por que ela estaria tentando me defender? Que raio de prova é essa? Eu queria conseguir abrir meus olhos e vê-la, saber em que condição ela está.

- Eu não vou entrar nessa discussão com você, eu disse desde o início como iria funcionar e você aceitou os termos.

Ela aceitou o que? Gigi teria feito algum acordo com Louis?

Com muito esforço eu me remexi, abri meus olhos e tentei gritar. Meu barulho foi o suficiente para que olhassem diretamente para mim. Ela estava em pé, de frente ao Louis, nenhuma corrente ou corda a prendia, sem ao menos um arranhão. O alívio tomou conta de mim, ela está bem. Infelizmente não durou muito, isso não fazia sentido algum.

Ela me olhava, eu não conseguia entender o que seu olhar dizia, medo, alívio, raiva? Era ela, sem dúvidas, mas uma versão dela que eu não conhecia.

- Zayn! - Parecia uma súplica, eu gostaria de dizer seu nome da mesma forma. Ela deu dois passos em minha direção, Louis a segurou pelo braço a impedindo de chegar mais perto. Não parecia usar força, parecia apenas um aviso, um alerta. Eles se olharam por uns segundos, ela recuou e então ele soltou ela, voltando a olhar na minha direção Louis deu um sorriso, um perturbador.

- Oh, ele finalmente acordou. - Ele voltou seu olhar a Gigi, ela estava paralisada, analisando cada movimento de Louis, como um felino esperando a hora certa para atacar. Agradeci o fato dela não estar olhando na minha direção, esse seu novo olhar era desconhecido o bastante para eu me sentir desconfortável. - Que encontro inesperado deve ser esse para você. - Louis voltou a me olhar, com seu olhar cínico e debochado. - Como está se sentindo? - Por alguma razão ele esperou pela respostas por uns dez segundos, apenas para me deixar claro a minha impotência e imobilidade em relação a ele, eu não podia dizer nada e teria que ouvir cada merda que ele falasse, isso sim era uma tortura. - Oh, desculpa, você não pode responder.

- Louis para com isso. - Ela cruzou os braços, estava séria, e brava, sinceramente não sei. Não havia nada neles com que eu pudesse me familiarizar. Ela estava com uma roupa diferente da que costuma usar, isso era o que mais me deixava nervoso. - Deixa ele pelo menos ficar sem essa coisa horrível na boca. - Seu mau humor era evidente, seus olhos reviraram, mas ela ainda não havia olhado nos meus olhos desde que chamou meu nome.

- Eu quero falar com ele, e eu odeio ser interrompido, ele estaria gritando tanto agora se não fosse por isso. - Louis falava com ela como se eu não estivesse ali, casualmente e com um tom totalmente diferente do que usava comigo. Ele fez um gesto para que ela saísse, e foi como acordar uma fera.

- Pare com isso, me deixe falar com ele. - Ele nem se abalou apesar do tom firme de Gigi.

- Não, é uma conversa particular. - Ele disse pausadamente, ambos ainda pareciam ignorar minha presença.

- Louis você me deve isso, se você ao menos chegou perto dele foi graças a mim. - O que ela queria dizer com isso? Como ela teria permitido que ele chegasse perto de mim? - Eu quero contar para ele.

- Eu vou contar, não quero você aqui. - Ele indicou a saída da cela, a única entrada de luz.

Imaginei o que ela queria me contar, apenas por vê-la assim, como eu nunca tinha visto antes, imagino que ele tenha feito algum acordo com ela. Isso explicaria o porque dela não ter atendido meus telefonemas. Uma raiva começou a consumir meu corpo, como ela teria coragem de fazer isso comigo sabendo toda a verdade? Não, eu não acredito nisso, ele só pode estar chantageando ela, ou algo assim. Não fazia sentido, eu a amo.

- Eu não vou deixá-lo sozinho. - Ela parecia decidida. Parte de mim queria que ela ficasse, que eu pudesse abraçá-la e talvez entender tudo aquilo, mesmo que fosse para morrer em seguida. A outra parte queria que ela ficasse o mais longe possível, meu estômago doía e já denunciava o sentimento de decepção. Gigi tinha um envolvimento direto com essa merda, mas como?

- Você já deixou, foi por isso que eu peguei ele. - As memórias do dia ainda eram confusas, mas não me lembro dela ter terminado comigo. - Você ainda trabalha para mim, fora. - As palavras de Louis eram afiadas como facas, o sentimento de decepção ganhava ainda mais espaço dentro de mim.

Gigi trabalha para Louis.

Ela me enganou o tempo todo.

Eram fatos, não importava quais a circunstâncias que a levaram até essa situação. Eu confiei nela, eu disse a ela toda minha verdade e tudo o que ela sempre estava fazendo era me enganar. Eu olhei para ela, ela me olhou de volta e então eu reconheci seu olhar. Os mesmos olhos arrependidos e medrosos que me encarava quando eu fazia uma pergunta pessoal demais. Ali estava ela, com sua máscara caindo, finalmente me mostrando quem ela realmente é.

- Eu sinto muito. - Sua voz era rouca, quase como se estivesse chorando. Talvez estivesse, eu não saberia dizer porque eu estava. Meus olhos estavam cheios de lágrimas, eu queria que ela visse a decepção neles já que eu não podia dizer nada agora.

Ela deu as costas, e saiu o mais rápido que pode. Junto com ela se foi minha esperança, meu amor e a verdade. Eu não teria mais motivos para tentar, tudo foi me tirado de uma vez só.

Louis ainda em pé na minha frente, pegou uma cadeira e se sentou. Acendeu um cigarro e esperou até que as lágrimas estivessem secas. Ele era ainda mais digno do que ela, de alguma forma. Mesmo que a ideia tenha vindo dele, ela aceitou. Ela poderia ter recusado, poderia ter jogado limpo. Mas a vida nunca foi justa comigo, ela não seria agora.

- Você acordou antes do que eu imaginava e estragou o elemento surpresa. - Se essa era a surpresa, devo dizer que Louis continua não decepcionando, sua mente continua tão diabólica como sempre. Ele não me entregou menos do que eu esperava dele, um jogo mental sujo e nojento. - Não vou te machucar, ainda. - Eu não poderia imaginar uma dor maior, Louis nem ao menos precisava me tocar para acabar comigo, ele faria tudo com palavras. - Tenho planos maiores. Acho que eu posso começar com o como você está aqui. É uma parte importante, não quero que se esqueça.

Mesmo curioso, a decepção tirava grande parte da emoção da conversa. O que mais ele poderia dizer para me atingir?

- Eu não sei se eu sou sortudo ou se você é a pessoa com mais azar do mundo. Mas devemos concordar que você atrai problemas, desde o começo tem se metido com as pessoas erradas. Imagino como Gigi vai ficar quando descobrir quem matou aquele desgraçado que assassinou a irmã dela. Não tenho intenção de contar, ela iria acabar gostando mais de você.

A menção a Gigi me fez querer vomitar, ainda mais acompanhada com aquele episódio de horror que foi a morte da irmã dela. Claro que Louis não contaria, dizer que alguém que costumava trabalhar para ele era o responsável pela morte de Bella não ajudaria Louis em nada no seu plano.

- Não sei qual foi o ataque de burrice que te deu, mas você estava no bar do lado errado da cidade. Perrie te viu, e bem, ela queria se vingar então me ligou. Para ser sincero, eu não esperava por isso, ia acabar indo atrás de você quando saísse do apartamento da Gigi, geralmente você vai sozinho. O carro queimado não fez sentido para mim, vou perguntar ao Liam mais tarde.

Perrie, ela já era uma lembrança tão distante, mas necessária para que as peças se encaixassem. Me lembrei da nossa conversa desconfortável, do amargor da culpa e do remorso. Eu não podia julgá-la, não agora.

Quando ele menciona o apartamento de Gigi, as coisas vão se encaixando aos poucos. Ele sempre soube onde eu estive, o apartamento dela era como uma isca, do pior tipo, já que eu poderia cair a qualquer momento. Me perguntei do paradeiro de Liam, ele não estava aqui, mas Louis teria ido atrás dele com certeza, ele estava com o carro dela, não deve ter sido difícil.

- Eu tenho te observado, sei tudo o que faz, cada pequeno passo. Mas ontem foi um movimento irregular, imagino que algo tenha dado errado. Eu não vou me prender nesses detalhes, mas eu quero que saiba de algumas coisas. Se você achou por um segundo que tinha esperança, foi porque eu permiti. Até mesmo esse seu romance totalmente falso, Gigi sempre trabalhou aos meus comandos. Tivemos alguns imprevistos, como a overdose, mas até mesmo isso foi um ganho meu.

Com essa fala Louis deixou bem claro o nível de controle que ele teve na minha vida nos últimos meses, como até o que ele não tinha planejado, de certa forma ainda conspirava ao seu favor. Cada aparição de Gigi, planejada para me deixar ainda mais em suas mãos. Todas as mentiras estavam sendo expostas, e eu ainda me sentia triste. Porque eu achava mesmo que ela sentisse por mim o mesmo, ou pelo menos algo parecido, que eu sinto por ela. O melhor, sentia.

- Se serve de consolo, ela até gosta de você. Quer que eu te deixe em uma condição bem melhor, quer que eu não te mate, talvez acredite que você é inocente. - O que Louis ganharia com isso, com essas mentiras? Ele só queria me deixar ainda pior, era a única explicação. - Mas eu vi e ouvi cada coisa que disse a ela naquele apartamento, e você continua mentindo e manipulando as pessoas. Eu quase acreditei, se eu pudesse te daria um Oscar, foi muito emocionante. Mas acaba aí, porque eu sei quem você realmente é.

Era irônico, para não dizer cômico. Louis era cada uma das coisas que ele me acusava de ser.

Ele se aproximou com uma faca na mão, meu coração teria saído pela boca se ela não estivesse impedida de se mover. Ele cortou seja o que for que me impedia de falar, eu fechei minha boca recuperando toda a saliva que havia perdido. Queria xingá-lo sem falhar a voz.

- Vai se foder Louis. - Lancei um cuspe que atingiu sua cara, ele se assustou mas não se moveu. - Foda-se você, foda-se ela, foda-se tudo. - Ele fechou os olhos, com a lâmina da faca tirou o cuspe do rosto e limpou o que restava na camiseta. Como imaginado, nenhuma de minhas palavras o atingiu. - Eu quero mais é que se foda você e esse seu discurso ridículo. Se você me enchesse de porrada e deixasse morrer de fome estaria me torturando menos do que todo esse discurso sem noção e previsível.

Ele sorriu, lhe dei o que ele queria. Sua tortura estava dando certo. Era por isso que não havia nenhuma arma ou objeto de tortura na cela, como ele geralmente fazia. Nada lhe faria mais feliz do que a tortura da mente, a decepção e a raiva. Eu não tinha forças para lutar contra isso, não agora.

- Ah, mas você é previsível também. Imagino o que tem a dizer a Gigi, é como escutar um disco repetido.

Pensei no que eu diria para ela se estivesse aqui, ela não merecia nenhuma palavra que viesse de mim.

- Eu não tenho nada para falar com ela, ela foi a distração perfeita. Não passa disso, uma distração.

Aquela não era a resposta que Louis esperava, era ainda melhor. Ele não estava surpreso, ele estava contente, impressionado. Nem nos melhores sonhos ele teria um roteiro tão bom assim.

- É, você está se sentindo como? - Ele voltou a tragar seu cigarro - Usado? Enganado? Foi assim que eu me senti anos atrás, mas eu não tive a força que era preciso para te matar. - Era a primeira vez que ele dizia isso em voz alta, tenho certeza que ele disse apenas porque estávamos a sós. - Então aqui estamos, você a mataria se fosse preciso?

Ele realmente me perguntou se eu mataria Gigi. Era como se eles estivessem tentando justificar seus atos. Uma traição por outra, uma mentira por outra, uma morte por outra. Mas havia problemas que ele não era capaz de ver nessa equação. Eu não havia o traído, eu não tinha mentido, eu jamais a mataria.

- Você é doente, Louis. - Foi tudo que eu pude dizer, era a única resposta razoável. Não lhe daria o prazer de dizer que eu a amava, mesmo a odiando agora. Eu não diria isso.

- Você ama ela, ouvi você dizer enquanto ela dormia na última noite. - A lembrança feliz e intocada de Gigi nos meus braços, dormindo como um anjo, me mudou. Eu não tinha coragem para dizer com ela acordada, mas eu estava planejando dizer assim que conseguisse minha liberdade. Que grande ironia do destino, ele jogar esse momento tão íntimo na minha cara aqui e agora, era seu golpe mais baixo até agora. - É triste pensar que da parte dela grande parte foi apenas encenação. Sabe qual a posição que ela ocupa?

- Eu não poderia ligar menos. - Minha voz saiu sem que eu ao menos pensasse. Ela tinha um cargo, é claro.

- A mesma que a sua, ela é meu braço direito. Todos são substituíveis Zayn, todos.

Senti o nó na minha garganta, a raiva e a frustração. Louis se achava muito forte, parecia ser muito forte e intocável, mas não passava de um covarde.

- Eu tenho uma pergunta para você. - Ele ficou surpreso, tragou pela última vez o cigarro e prestou atenção em cada palavra que eu disse em seguida. - Você realmente tem coragem de me matar? Eu acho que não, quantas oportunidades você deixou passar? Todos os dias desde que eu conheci Gigi você tinha o poder de escolher me matar, mas bem quando eu mudo minha rota, porque estava planejando deixar a cidade, você acha que é o momento. Eu nunca vi você deixar uma oportunidade sequer passar.

Ele estava paralisado, sem resposta. Seu olhar transbordava ódio, ele não queria que a conversa tivesse chegado aqui. Ele riu, gargalhou como se tivesse finalmente entendido qual era a piada. Eu senti vontade de voar no seu pescoço.

- Você é muito arrogante Zayn, vai ser divertido acabar com você. - Ele se levantou.

- Não acho que você vá, qual a chance que vai acabar me dando hoje? - Sua postura caiu por um momento, totalmente sem defesas, eu estava certo. - Vai finalmente ouvir o que eu tenho a dizer? Vai querer uma confissão? Ou quer que eu trabalhe para você como um prisioneiro?

Ele me encarou por um tempo maior que o normal, como se procurasse as palavras que diria com cuidado. Ele não podia me atingir, não depois de tudo isso. Era uma luta, e como em toda luta, nenhum de nós sairia ileso.

- Eu não quero nada que venha de você, você era como um irmão para mim, mas você destruiu tudo. Você é a pessoa mais mentirosa e manipuladora que eu conheço.

- Você não me conhece.


Publicado em: 19/10/2020

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