Capítulo Seis: Vingança, Uma Promessa é Cumprida
Marshall
Com um binóculo vejo Walter Thistell saindo de seu carro caríssimo, um Magnus Emerald. Como sempre visivelmente elegante, ostentando o dinheiro que conseguiu a custa da pobreza de todos com seu posto de líder da nação, vejo seus cabelos grisalhos e como sempre veste um terno preto.
Ele é escoltado por vários guarda-costas que o cercam como batedores do exército, sua segurança está muito reforçada desde que deixei o exército e explicitamente jurei vingança a todos que foram responsáveis pela morte da Mellanie e de meu pai. E agora que muitos envolvidos na criação das ogivas Siruss estão mortos ele sabe que logo será o próximo alvo, só não sabe que será hoje.
Entediado olho novamente o relatório que minha mãe me deu no ano passado, seu nome está como o responsável por fazer o plano Siruss realmente funcionar, ele é o culpado. Vê-lo me faz lembrar o porquê estou aqui.
Fecho as persianas de sua sala e espero até ouvir barulhos de passos e vozes se aproximando, a porta se abre e uma fresta de luz transpassa a abertura antes de a luz ser acessa. Apenas Walter entra, seus guarda-costas ficam para o lado de fora sem saber de minha presença.
Quando Walter Thistell senta-se em sua cadeira fica de frente para mim, ele se assusta e tenta pegar uma arma na gaveta próxima a seu colo. Ele procura por algum tempo e desiste ao ver que não a acha e que não estou preocupado quanto a ele encontrar.
– Você acha mesmo que ainda está ai? – pergunto levantando o revólver que ele procurava e o apontando para seu peito.
– Por que de tudo isso Marshall? – pergunta ele provavelmente querendo saber por quais de seus crimes está prestes a morrer, vejo que sente medo de mim, contudo tenta manter sua postura sempre imparcial.
Jogo o fichário em sua mesa, ele o abre e me encara com um ar de que isso não é motivo para matá-lo, ele não vê a farsa que criou como algo errado. Não entendo como pude um dia ser seu guarda-costas.
– Aí menciona sete ogivas, cadê as outras duas? – eu li muitas vezes o fichário que minha mãe me deu e pesquisei muito desde que deixei o exército, definitivamente nada explica a ausência delas e nem seu paradeiro. Apenas a morte de Thistell não irá evitar duas novas tempestades Siruss que como todas as outras viriam com muitas mortes e lágrimas.
– Foram roubadas no ano passado.
Engatilho a arma apontada para ele e eu vejo que ele está com medo.
– Não minta!
– É a verdade. Um comboio que as estava transferindo foi roubado, inicialmente nós pensamos que os responsáveis queriam alguma forma de pagamento pelo resgate, porém nunca entraram em contato e Altair não teve mais notícias, apenas sabemos que elas não foram detonadas.
Lembro-me do assalto a um blindado no ano passado que gerou um alarde anormal e mal explicado pelas autoridades.
– Acredito em você, contudo isso não é o suficiente para te salvar.
Ser um Nacionalista não era crime, mas depois das Cinco Tempestades Siruss, os Nacionalistas puderam ser caçados e mortos, por culpa do Ministério e principalmente dele, meu pai morreu, centenas de inocentes morreram.
– Pessoas como você, simplesmente não merece viver.
– Espere, tudo que fiz foi necessário, em toda Altair estava prestes a emergir uma guerra civil assim como ocorreu na Revolução Separatista da Grande República. – ele sabe que se gritar irá morrer, então tenta me convencer a não fazê-lo, ele acredita que consegue fazer isso.
– Isso não é motivo para culpar e matar inocentes apenas por que lutam por reformas e não é motivo para adoecer milhares de pessoas.
– Se não o tivéssemos feito, perderíamos a guerra contra Arcádia, perderíamos nossa liberdade e principalmente perderíamos tudo que conquistamos.
– Quer dizer que perderia tudo que você fez, apenas está preocupado com o seu posto.
Atiro realmente desejando a morte de meu alvo, mais friamente que sempre soube ser capaz. O projétil lhe atravessa o peito, seu paletó azul claro começa a se encharcar de seu sangue imundo, completamente corrompido pelo ódio de todas suas vitimas. Ele me encara suplicante, atiro mais duas vezes, uma atinge novamente seu peito e a outra sua cabeça.
Ele pende para frente e cai com metade do corpo sobre a mesa, me encarando e ainda respirando, seu sangue cobrindo a papelada em cima de sua mesa, não tem como ele sobreviver, essa é minha marca, sempre mato com três tiros precisos e ninguém nunca sobreviveu a meu desejo de vingança.
A porta se abre e entram seus guarda-costas, dois deles corre para socorrê-lo e os outros vêm me neutralizar, não luto, nos últimos meses tenho vivido a mercê do sistema, sempre fugindo, contudo agora eu não preciso mais, já cumpri meu objetivo, vinguei todos que não puderam fazê-lo por si mesmos.
Acordo em uma cela úmida e fria. Vejo pelo menos seis soldados a minha volta, estou de cabeça para baixo, com os braços algemados. As luzes são extremamente fortes como em todos os prédios governamentais e militares. Interrogam-me com uma infinidade de perguntas, na maioria sobre mim, meus crimes, minhas fugas, mas também me interrogam sobre os Nacionalistas e meu pai. Quando demoro em responder, não digo o que querem ouvir ou pensam que estou mentindo me torturam brutalmente.
Desferem socos sobre minha barriga, sinto a lâmina afiada de uma faca cortando a pele de meus braços e peito. Um soldado marca um X em minhas costas que vai dos meus ombros à cintura. Eu posso sentir meu sangue esvair de meu corpo, molhando meus cabelos, escorrendo por meus braços, pelas correntes que impedem meus movimentos e por fim espalhar-se pelo chão abaixo de mim.
Mas isso não é nada, a pior das torturas é a Trice, minha pequenina irmã, sentada em uma cadeira a minha frente, vendo minha desgraça. Seus cabelos estão soltos e isso me faz recordar quando nós éramos crianças antes de nos separarmos, ela observa a cena séria, seu olhar imparcial, porém sei que por dentro ela sente tanta dor quanto eu.
Minha irmãzinha, eu a coloquei nessa, ela foi pega me ajudando, um soldado interagindo com um criminoso. Agora ela está com vinte e um anos, já tem idade para responder criminalmente e sendo uma militar é pior ainda. Ela será exemplarmente punida e por minha culpa, mas não será detida, graças à alta patente de nossa mãe, se ela fosse executada por minha causa, eu jamais me perdoaria e não conseguiria continuar a viver.
A nossa mãe entra na cela, ela está fardada. Ao ver seu olhar severo lembro-me de minha infância, das centenas de vezes que me bateu apenas por que eu sou parecido com o meu pai.
– Eu sempre quis que você seguisse minhas ordens... mas não, você tinha que ser igual a seu pai.
– Não tenho culpa de ser melhor do que você! – Minha voz é entre cortada pela dor.
– Joguem água nele!
Um soldado obedece e joga um balde de água em mim, a água limpa o sangue de meu corpo, diminui o meu calor corporal e perco o ar.
– Não sei mais o que fazer. É a pena capital que você quer?! – ela caminha até um soldado que lhe entrega uma arma de tortura, cujo fim é desferir descargas elétricas. – Uma execução pública seria o que você merece! – diz ela encostando a ponta metálica da arma em minha barriga. Todo meu corpo responde a eletricidade se contorcendo em dor. Por causa do forte choque grito em agonia enquanto involuntariamente meu corpo se debate.
No dia seguinte a Trice vem me visitar, embora eu não tenha um horário de visita igual a prisioneiros comum, deve ter conseguido isso usando seu posto para burlar a segurança.
Ela se aproxima de minha cela e segura nas barras da grade que nos separa, ela está abatida e seus olhos estão inchados de lágrimas derramadas há pouco. Ela tenta parecer firme para agradar nossa mãe e manter a compostura que sua posição exige, mas às vezes ela é doce como agora e eu vejo seus verdadeiros sentimentos. Sempre é a que mais sofre com minhas decisões.
– Como você está? – pergunta ela, a única pessoa que se preocupa comigo, apenas por causa dela sofri muito quando abandonei minha antiga vida.
– Não precisa se preocupar comigo.
– Mas como não? Você sabe o que te espera? Certamente você será... – ela não termina a frase, porém não é necessário que a complete, eu sei que a última palavra de sua frase é executado.
– Está tudo bem, apenas se cuide. – não ligo para isso, estou cansado de levar minha vida assim, apenas lamento por ela.
– Não haja como se estivesse tudo acabado. Prometa-me que no final tudo vai ficar bem.
Hesito por um momento, certamente minha morte não faz parte de "estar tudo bem" para ela.
– Por favor, promete...
– Prometo... – Digo por fim, não acho que poderei cumprir, entretanto não consigo negar seu pedido.
– Nunca se esqueça.
Ela estende a mão entre as barras da grade, em um punho fechado, e ao abrir me revela uma chave velha, ela não é a que os soldados usaram para me trancar aqui, contudo seguramente é a que me libertará.
– Você prometeu e agora não pode quebrar sua palavra, viva por mim. – diz ela entre um sorriso afetuoso.
– Eu vou.
– Confesso que não o entendo, mas a sua empreitada em destruir Altair está dando certo Marshall. – vejo em seus olhos que mesmo nossas escolhas nos colocando em lados opostos ela torce por mim. – Você aparece em todas as telas e outdoors por toda a nação, Altair te teme mais que aos Nacionalistas ou Arcádia e você dá esperança ao povo de lutar por um dia melhor.
– Já cumprir meu objetivo.
– Agora tenho que ir. – nos despedimos e ela se afasta, antes de sumir no corredor vira-se e diz como se tivesse se esquecido de mencionar antes. – Ahh Marshall... Você está enganado Thistell ainda vive...
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