Capitulo Dez: Retorno, Projeto Reativado

Mellanie


As luzes se acendem clareado tudo, revelando os intrusos em minha casa, tem seis homens vestidos de preto espalhados pela sala, todos agora me encarando através de máscaras.

– Mellanie Silence, nós estávamos te aguardando...

– Quem são vocês? O que querem?

– Isso não importa. – diz um deles, assim como os outros ele está completamente fardado e com o rosto coberto por uma touca igual à usada por esquadrões táticos, apenas posso ver seus olhos escuros brilharem de entusiasmo.

Viro no calcanhar e corro para a porta de onde acabei de vir. Um homem grande se posta a minha frente, já tarde demais para parar vou direto para seus braços e ele me segura fortemente. Luto debatendo-me para me soltar, mas ele é forte demais para mim.

Enquanto ele me mantêm Imobilizada, alguém segura meu braço e o esticado a força, e assim que sinto a picada de uma agulha toda minha força é trocada por um sono repentino, sinto-me exausta e sem poder lutar, eu perco a consciência.

TTT

Acordo, os sedativos em meu sangue ainda me mantêm parcialmente dopada. Eu abro os olhos para um teto todo branco, claro demais. Estou vestida com algo que parece uma camisola hospitalar de um tecido muito fino, sinto-me como se estivesse completamente pelada, tento me mover, mas cintos e fivelas prendem as minhas mãos e meus pés a uma cama de metal.

Na sala à minha volta há três pessoas, todos usam jaleco, onde vejo o logo da Sile Mëllen Corporation, percebo que estou em um laboratório de pesquisas, imagino quanto tempo estou aqui, por quanto tempo mais eu ficarei e por que estou aqui.

– O que os exames apontaram? – olho para o lado e vejo um homem quase na terceira idade de jaleco branco e cabelos grisalhos interrogando uma mulher. Ela me encara antes de responder ao homem vendo numa prancheta.

– Encontramos duas anomalias, o nível de melanina está muito baixo e as células hospedeiras estão agindo mais rapidamente que o normal, agredindo ferozmente qualquer invasor.

Ouço uma porta se abrir e olho para sua direção, vejo Walter Thistell entrando na sala, o líder supremo de Altair. Como sempre que vi nas telas de propaganda seu olhar é rígido e expressão é severa, parece que seu rosto foi moldado exclusivamente para a seriedade e que ele é incapaz de sorrir como todo mundo, seus cabelos são grisalhos e estão cada vez mais brancos, mas diferente de mim no caso dele não é por causa do Siruss e sim a idade mudando sua aparência aos poucos.

– Como ela está? – pergunta ele diretamente para o velho homem.

– Até o momento em perfeito estado.

A mulher que segurava a prancheta entrega um par de luvas a Thistell, ele as coloca e se aproxima de mim.

– Ai! – gemo quando ele levanta a pálpebra de meu olho esquerdo com violência para algo tão sensível, ele avalia meu olho como um oculista.

– Certo, inicie o processo de hibernação. – diz ele tirando a luva. – a partir de agora o experimento Valkyria 13 está reativo.

Com uma seringa a jovem mulher injeta na mangueira de soro o conteúdo de uma ampola azul, vejo o líquido da mesma cor, descê-la lentamente em direção à agulha presa em minha veia, volto a ficar inconsciente.

Acordo numa espécie de laboratório, eu permaneço presa a uma maca por fivelas que limitam meus movimentos. O teto e todas as paredes ao meu redor são espelhados então vejo meu reflexo, com espanto vejo que estou mais velha e meu rosto não é mais tão redondo, devido à queda brusca de melanina meus cabelos agora são completamente brancos e as pupilas de meus olhos estão muito vermelhas.

Vejo que novamente Walter Thistell está presente, mas desta vez ele apenas assiste tudo calado, estou envolta de uma equipe de cinco pessoas, todas vestidas de jaleco, óculos e luvas, quando desperto completamente eles me aplicam uma injeção que faz com que meu corpo pare de me obedecer, eles soltam as fivelas que me mantêm presa, mas eu não consigo me mover ou falar, apenas meus olhos me obedecem, mas ainda assim todos meus sentidos estão ativos, sinto a temperatura artificial da sala em minha pele, os vejo e ouço tudo com perfeição e sinto os exames.

Eles fazem todo tipo de testes e exames em mim, muitos que nem sei o nome, mas reconheço os mais comuns e entre eles fazem eletrocardiograma, encefalograma e ressonância magnética e tiram diversas amostras de meu corpo, ampolas com meu sangue e saliva, e os piores viram-me de lado e com uma enorme seringa retiram um pouco do líquido de minha medula espinhal e por último enfiam uma agulha muitíssimo fina em meu olho que dói muito e se eu pudesse me contorceria de dor, eles extraem um liquido branco de meu olho.

Dizem para Thistell que ainda não estou pronta, mas eles não falam para o quê eu tinha que estar pronta. Então como para os demais testes eles não precisam que eu esteja acordada me colocam novamente para dormir, um coma induzido que chamam de hibernação.

Quando desperto novamente a primeira sensação que tenho é de ter todo meu corpo mergulhado, sinto a água em contato com minha pele nua. Respiro com dificuldade através de uma máscara de oxigênio.

Mesmo que minha mente ache que fiquei inconsciente por somente alguns minutos, abro meus olhos exaustos de se manterem fechados por tanto tempo.

Vejo-me dentro de um enorme tangue de água num laboratório militar, muito mais sofisticado do que o qual eles me colocaram anteriormente. Como dos dois lados do tanque é de aço, posso olhar apenas para frente e o que vejo são dois soldados e três homens de jaleco, provavelmente pesquisadores, todos inconscientes no chão da sala branca.

Ao constatar onde estou uma agonia cresce dentro de meu peito, tento me soltar, mas fivelas envoltas em minhas mãos e minha cintura prendem-me em pé.

Um ralo se abre abaixo de mim e rapidamente a água começa a ser drenada por ele. Assim que a água acaba o tanque se move inclinando-se para trás até ficar completamente na horizontal me deixando deitada. Quando todo o tanque para de se mover, a parede de vidro a minha frente se abre para cima como uma porta de correr.

Não entendo o que está acontecendo até meu pai aparecer na borda, agora aberta. Ele sorri quando me vê.

– Oi querida, vim te tirar daqui... – diz ele já desafivelando meu braço direito, eu ainda atônita demais não respondo nada.

Logo estou livre e saio do tanque, meu pai me entrega uma toalha e algumas roupas grandes demais para mim, vejo claramente que ele está com pressa.

Olho para ele e me parece que o vi hoje mesmo, mas ele está visivelmente mais velho, com rugas de expressão mais destacadas e alguns pelos brancos estão surgindo em sua barba agora levemente grisalha e maior do que costuma ser. Não apenas ele, eu noto muitas diferenças em mim também, meus cabelos que escorriam apenas até o ombro, agora passam consideravelmente de meu peito, mas o mais estranho de tudo é o que me é óbvio.

Sei que estou cerca de cinco centímetros maior do que no dia em que fui capturada e meu corpo está muito mais desenvolvido, agora realmente parecendo de uma mulher e não uma garota em transição. Isso me faz questionar quanto tempo fiquei presa aqui, o quanto eu fui privada de minha vida.

Como não quero perder a liberdade que ele acaba de me dar e nem fazer nós sermos pegos, me seco de qualquer jeito e visto as roupas ainda estando meio molhada. Como previ, elas realmente ficam muito grandes para mim, mesmo para meu novo corpo.

Acho que ao sairmos da sala estará uma algazarra total, com uma evacuação completa em andamento e soldados fortemente armados nos esperando, mas tudo está normal, para todos hoje é um dia de trabalho como qualquer outro, pelo menos até notarem que eu fugi ou corpos no meu lugar. Assim como todos que vejo fora do laboratório, meu pai está vestido como um cientista da Sile Mëllen Corporation e usando um crachá com uma identidade falsa.

Como um anticlímax total nós saímos do prédio sem problemas, um Civic preto e discreto nos aguarda na garagem em ponto morto, certamente roubado já que meu pai não teria condições de comprá-lo. Mesmo sem usar seu chip de identificação para destravar o painel ele liga o carro sem problemas e partimos para o oeste, em direção a Grande Capital.

Passamos apenas pelas ruas mais distantes das avenidas principais. Deve estar tarde por que a escuridão da noite cobre tudo a nossa volta, mas depois de ficar tanto tempo inconsciente a ideia de dormir passa bem longe da minha cabeça.

Eu nunca estive aqui, a Grande Capital para mim assim como para muitos sempre foi apenas um sonho inalcançável.

Desde que deixamos o prédio da Sile Mëllen Corporation meu pai fica quieto pensando e repentinamente sem dar sinal algum começa a falar. – Antes de Thistell chegar ao poder, foi feito pesquisas aplicando o Siruss em embriões humanos, em alguns casos os bebês viveram e suas células conseguiram conviver tranquilamente com o vírus, mas as pesquisas foram proibidas, então os responsáveis esconderam algumas crianças que não foram mortas, chamamos essas crianças de geração fantasma.

– Por que está me falando sobre isso agora?

– Eu quero que saiba de tudo, nesse momento você deve estar cheia de perguntas.

– Tudo o que? – questiono ainda sem saber a aonde ele quer chegar.

– Você e o Marshall fazem parte dessa geração e por isso Altair a quer tanto. Na época eu era um cientista que trabalhava para Altair e quando os bebês começaram a ser mortos, assim como poucos outros eu te resgatei.

– E a minha mãe?

– Eu te criei num laboratório escondido e a partir de seus cinco anos eu a levei para morar comigo, para você ter uma vida normal assim que eu sonhava.

– Mas com assim? Eu me lembro de quando a mamãe morreu atropelada, de ter vivido em um orfanato até você me adotar e me levar para morar com minha irmã.

– Isso são lembranças que foram introduzidas em suas memórias.

– Você quer dizer que toda minha vida é uma fraude?

– Não querida... Não tudo, eu realmente a amo muito como minha filha e suas irmãs também.

Viro para a janela e encaro a enorme cidade da Grande Capital se transformando na paisagem selvagem do deserto. Penso em tudo que ele me disse, e principalmente em como o Marshall está agora, isso me faz querer mais do que qualquer outra coisa estar ao lado dele.

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