Um estranho no Red Force




Ao contrário do que achamos, a tempestade acabou avançando bem mais rápido e nos alcançou não muito tempo depois. Só ouvia os comandos serem dados e os passos apressados batendo contra a madeira do convés.

As ondas se chocavam com violência na proa fazendo o barco balançar, Gallie que estava no poleiro dela piava constantemente. A harpia odiava tempestades e eu também, era o único momento que estava proibida de deixar a cabine.

Olhei os papéis na minha frente. Benn me dava aulas com frequência, sendo a pessoa mais inteligente presente no Red Force, tentava passar um pouco de seu conhecimento para mim.

Apoiei a bochecha na mão e olhei para pequena janela de formato oval. O mar fazia ondas cada vez maiores, e as águas estavam escuras como o céu sem estrelas.

Levantei para guardar os livros, afinal não conseguiria ler com todo aquele balanço. Os coloquei no pequeno armário foi quando o navio inclinou de um jeito que fui lançada para trás fazendo com que desse cambalhotas até bater com as minhas costas na madeira, minhas pernas estavam pra cima e todo o meu cabelo no meu rosto.

Soprei os fios do meu rosto ao mesmo tempo que a porta abriu. Shanks estava encharcado da cabeça aos pés.

— Vim ver se estava tudo bem. — se aproximou e riu pegando meu tornozelo e levantando me fazendo ficar de ponta cabeça.

— Tudo sob controle capitão — falei batendo uma continência desleixada. Ainda sendo segurada pelos pés, reparei na trilha molhada que ele deixou no caminho. Já que a água pingava pela capa e pelas roupas dele. — Oe, está molhando minha cabine.

Shanks resmungou e virou a cabeça para ver o rastro que deixou.

— Grande [Nome] Damateraz com medo de um pouco de água? Cadê toda sua força de vontade? Ou só serve quando é para me convencer a te deixar voar?

— Primeiro uma coisa não tem a ver com a outra — tentei me balançar e me livrar dele. — Segundo, a única coisa que posso fazer é voar com Gallie. E só de vez em quando.

O homem riu e me jogou na cama seguindo até a gaiola, a harpia ficando mais do que feliz em subir no braço dele. A chuva já tinha parado e alguns raios de sol surgiam entre as nuvens cinzentas de tempestade, Shanks abriu a janela e a logo a ave se lançou pela abertura voando pelo céu.

— Sabe que é para sua própria proteção, não posso desonrar a promessa que fiz ao seu pai. O mar não é seguro, principalmente para alguém como você.

— O que quer dizer com isso?

— Uma criança feia e fracote — Shank colocou a mão na minha cabeça forçando para baixo antes de sair gargalhando.

— Hey — reclamei —, você que já está velho e enrugado.

— Continuo na flor da idade, tá bom?

Shanks sempre partia pra provocação quando precisava mudar de assunto, ficamos discutindo bobagens até chegar no convés. Benn passou por nós e bagunçou o meu cabelo antes de subir e tomar o leme, ganhando uma reclamação audível da minha parte.

— Gallie achou alguma coisa Shanks — Lucky apontou para harpia que voava em círculos.

— Capitão, tem um corpo boiando. Parece estar apoiado numa tábua. — o membro da tripulação que estava no ninho gritou.

Olhei onde estava a harpia e deixei a minha mão no alto fazendo um sinal pra Gallie voltar, a ave voltou e pousou na minha cabeça. Subi para parte mais alta, fazendo companhia a Benn, parando para observar, o homem girou o Red Force e o navio navegou tranquilamente na direção do náufrago.

Em poucos segundos eles já estavam com o corpo deitado no convés, o homem era corpulento, tinha um cabelo volumoso e espesso, arfava buscando ar mesmo do alto consegui ver um único dente de outro em sua boca. Estava vestido como um pirata qualquer, mas tinha algo diferente.

Benn deve ter percebido o jeito que encarava para o sujeito, pois me questionou.

— Que foi [Nome]?

Olhei para o imediato — Não gosto do ar que ele tem. — Me escondi levemente atrás do mais velho. — Tem alguma coisa nele que me incomoda.

No mesmo momento ele tombou a cabeça para o lado e encontrou meus olhos, um calafrio desceu pela minha espinha. Porém, não desviei o olhar, não podia deixar ele saber que eu estava me sentindo intimidada por sua presença.

Felizmente, alguém falou o forçando olhar para o outro lado e Shanks se abaixou para perguntar alguma coisa. O homem pareceu rir e falar algo para o ruivo, mas consegui ver por trás daquelas ações que não tinha nada de correto.

Se aproximando, o capitão comentou com Benn alto o suficiente para que também ouvisse — Vamos ficar em alerta.

— Não gosto dele aqui — anunciei sem me mexer.

Shanks e o imediato se entreolharam — Vamos desviar um pouco a rota e o deixar na próxima ilha. Não vai ficar aqui por muito tempo.

Assim eu esperava, durante toda a tarde não deixei a cabine com receio de topar com o visitante nos corredores do Red Force. O navio era grande, mas mesmo assim o olhar que o náufrago me deu ainda no convés durante a tarde me trazia receio.

Só saí quando Lucky Roux me chamou dizendo que a refeição estava servida, fiquei entre os tripulantes do navio que me sentia mais confortável e o mais escondida possível daquele homem.

Não era apenas uma impressão, era como se um agouro tivesse se instalado sobre a tripulação do ruivo no momento em que ele subiu a bordo.

Me separei do grupo para acompanhar Gallie no último voo da noite, o leme estava travado numa direção então o local estava vazio. O mar estava calmo e o navio seguia tranquilo deixando ondas por onde passava.

Estava no mais completo silêncio, então achei estranho quando ouvi a madeira rangendo.

— Ouvi rumores sobre a criança do Red Force, mas não achei que fosse verdade até chegar aqui — a figura riu em seguida, e parou. O homem resgatado sorriu com malícia para mim, porém não ousou se aproximar.

— São belos olhos esses que você tem... Um tom único de dourado que parece ouro derretido, poderia comprar um navio com cada um deles se quisesse. Só precisaria encontrar o vendedor certo.

Parecia estar falando mais para ele do que para mim, mas de repente gargalhou dando um passo para frente.

— Acho bom você parar — avisei —, não sei o que você está planejando, mas não tente fazer mal a ninguém da tripulação do ruivo.

— Oh, ela fala — comentou —, imagino se você também herdou o nome do seu pai, Damateraz.

— Isso não é nada que te interesse.

— Só estava pensando alto — levantou as mãos em sinal de redenção.

Semicerrei os olhos. Um vento gelado soprou jogando meus cabelos para o lado, sentia que a pressão do ar estava aumentando à medida que nos encaramos.

— Algum problema aqui? [Nome]? — Desviei apenas para ver que o atirador subiu pela outra escada, passando um olhar desconfiado entre mim e o intruso

— Me desculpe — respondeu colocando a mão na nuca num ato encenado — Ouvi boatos sobre a criança na tripulação do ruivo. Queria apenas saber se é verdade.

— Então existem boatos sobre isso? — Yasopp cruzou os braços pensativo. — Capitão não vai ficar muito feliz. O que eles dizem?

— Que a tripulação do Red Force tem um tesouro, uma criança especial com olhos de ouro, protegida pelo próprio capitão. — respondeu sem desviar o olhar de mim.

— [Nome], vamos. — Yasopp colocou a mão no meu ombro e me guiou para longe, Gallie acompanhou e pousou em mim antes de entrarmos na cabine do capitão. Lucky e Benn estavam ali também.

— Yasopp — Shanks disse —, algum problema?

Passei pelos homens sem falar nada e me sentei num pequeno banco que tinha atrás do ruivo abaixo da janela.

— Sim, sai para ronda e como sempre [Nome] estava acompanhando Gallie no último voo da noite, mas ela não estava sozinha. O cara que resgatamos estava lá também e ele me disse algo preocupante.

O atirador viu que tinha total atenção dos presentes e continuou – Existe um boato entre os piratas de que o Red Force tem uma criança especial com olhos de ouro.

Benn cruzou os braços — Era inevitável. O que faremos Shanks?

— [Nome] deveria começar a treinar — Lucky disse dando uma mordida na maçã que ele tinha na mão. — Ela já é boa com a mira.

Shanks inclinou na cadeira do capitão — Sim. Embora eu quisesse evitar essa situação por mais algum tempo.

— Por quê? — perguntei chamando a atenção dos mais velhos.

— Você precisa ser capaz de se defender sozinha. — Lucky disse.

Balancei a cabeça — Não isso. Por que meus olhos são importantes?

Eles se entreolharam e Shanks deu um aceno de cabeça, não demorou para que logo estivéssemos sozinhos na cabine. O mais virou na cadeira para poder me encarar de frente.

— Esperava que estivesse um pouco mais velha para termos essa conversa, primeiro deve saber que o que eu vou te falar foi seu pai que me contou. — começou e cruzou as mãos na frente do corpo — Você não é como nós [Nome].

— Já ouviu as histórias sobre Skypieans, é real. As ilhas no céu, visitamos enquanto fazíamos parte da tripulação do capitão Roger.

O ruivo mantinha uma expressão no rosto de felicidade, devia estar tendo uma boa lembrança enquanto conversava comigo.

— Foi lá que descobrimos que Cyrus Damateraz, seu pai, era até então o último descendente de uma ilha que foi destruída. Uma raça de aparência humana, mas abençoada pelo sol e com olhos cor de ouro derretido.

Shanks esticou a mão para segurar meu queixo e virar ele de leve — Olhos especiais que fizeram os sobreviventes ser caçados até a extinção. É um dos motivos por que não deixamos que você saia do navio com frequência.

— Mas especial por quê? Mihawk também tem olhos assim.

De alguma forma, Shanks pareceu ofendido — Não se compare com ele, é diferente. Porém, não sei dizer como, essa é uma pergunta que só seu pai poderia responder. Desculpe.

O homem soltou meu rosto cruzando os braços atrás da cabeça — Mas de qualquer forma vamos precisar te preparar para o mar, afinal um grande pirata como eu, não posso me dar ao luxo de ter uma fracote na tripulação.

— Eu sou tão boa com a mira quanto Yasopp.

— Eh... E quando as armas não forem o suficiente vai fazer o quê?

Não tive uma resposta para dar pra ele.

— Então está decidido.








N/A: Acho que eu mencionei nas notas, a primeira parte já está toda escrita então posso me dar ao luxo de vos presentear com mais um capítulo. 

Achei válido já que o primeiro foi tão bem :)

Agora só semana que vem mesmo. Xx

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