Segundo Ato


Num bar qualquer eu me lembrava de todas as aventuras de dois anos atrás, um pouco mais, considerando que tinha me separado de Ray a cerca de três meses.

Muito mudou nesse tempo longe da tripulação, começando pelo ruivo que tomou o posto de yonkou se juntando aos outros três imperadores do mar. Sei que é importante e também acaba sendo potencialmente problemático para mim, pois sem um vivre card dificulta o rastreamento do Shanks. E sobre o caracol que o ruivo me deu, Rayleigh o liberou assim que achamos uma ilha para treinar. O máximo de informação que consegui foi com os associados, mas suas falas também eram soltas, afirmando apenas que ele ainda estava no Novo Mundo.

— Até mesmo longe esse ruivo me dá problema — Gallie piou no meu ombro concordando.

Ajustei o capuz e olhei o log pose, ainda levaria algum tempo para ele se ajustar, por enquanto eu não tinha tantas opções além de trilhar o mesmo caminho que os jovens piratas faziam. Começando a jornada em Loguetown.

Me pergunto se aquela loja de sorvete continua aberta. Apesar de fazer muitos anos, é uma memória proeminente, não é sempre que pode parar para comer uma sobremesa sendo uma pirata.

As ruas tinham uma certa familiaridade, mas ainda assim estavam bem diferentes do que eu me lembrava. Gallie estava no meu ombro, quieta, também me ajudando a olhar ao redor, uma vez que a quantidade de marinheiros naquele lugar aumentara consideravelmente.

Foi andando tranquilamente pelas ruas que reconheci a parede azul com bolinhas amarelas e o cheiro doce que fazia a boca salivar. Haviam ainda mais sabores disponíveis, e também outros tipos de doces. Me lembravam aqueles da ilha dos tritões, se Lucky estivesse por perto ele já teria limpado o balcão.

Atrás de mim, na rua, escutei uma correria. A marinha estava passando em direção ao sul da cidade com armas em mãos e muitos soldados.

— Não se preocupe — a dona da loja disse —, esse cenário e comum por aqui. Muitos piratas acabam parando na cidade para abastecer.

Sorri — Deve ser assustador.

— Depois de um tempo se acostuma, obrigada pela compra — ela me entregou o sorvete e logo em seguida sai da loja.

Gallie reclamou e se curvou para frente tentando mergulhar o bico na delícia gelada, abaixei o sorvete e a ave mordiscou meu ouvido por cima do capuz.

— Sabe que fica doente — disse para a ave — estou te fazendo um favor.

Ouvi uma explosão ecoando pelas ruas da cidade, virando imediatamente para onde a fumaça escura se erguia. Realmente não era um problema meu, enquanto a marinha não estava no meu pé, não me importo. O cartaz de procurado do Red Blanca, da tripulação do ruivo, ainda tinha a mesma foto de dois anos atrás. Dificilmente alguém iria me reconhecer por ela.

Levantei o sorvete até a boca, pronta para sentir sua doçura derreter na língua. Mas antes disso acontecer, um empurrão destruiu o meu sonho. Trazendo uma amarga sensação de dejávu.

Um marinheiro que corria em direção à explosão bateu no meu ombro e o que estava na minha mão logo estava sendo pisoteado no chão, por botas escuras. Não por um, mas por uma dúzia de soldados que passaram correndo por ali.

Fechei a mão em punho. Foram dois anos e três meses comendo só o que tinha disponível nas ilhas, uma dieta extremamente restrita ao que Ray caçava durante o dia e o que dava para pegar das árvores e quando surge a oportunidade de comer algo que eu realmente gosto, algo como isso acontece.

Agora é pessoal.

— Ei marinheiro! — gritei fazendo o grupo parar e se virar.

— O que foi? — o que esbarrou em mim disse — Diga de uma vez.

— Isso — apontei para os restos mortais da minha sobremesa.

O grupo seguiu a direção do meu dedo — Isso o quê?

— Você derrubou meu sorvete, o mínimo que deve fazer é se desculpar.

Atônitos o grupo de marinheiros explodiu numa grande gargalhada, o criminoso andou até mim com um sorriso cruel fazendo questão de pisar em cima já dos restos e esfregar a sola das botas.

— Tenho um trabalho mais importante para fazer do que isso, vá caçar alguma coisa para fazer.

— Isso foi bem indelicado da sua parte. A marinha não devia proteger as pessoas? Por que está comprando briga comigo sendo que me prejudicou em primeiro lugar?

As pessoas envolta começaram a cochichar.

— Não tenho tempo para você — disse fazendo a voz soar mais alta que a da multidão — estamos combatendo piratas! Vamos!

— Oi, pelo menos dê algum dinheiro para a moça comprar outro — uma voz gritou com um tom de empatia —, não é isso que um cavalheiro deve fazer?

Três coisas me chamaram atenção nessa frase. A primeira que quem a disse vestia uma combinação peculiar de chapéu laranja com grandes esferas rubras e uma camisa amarela. Segunda, que ele parecia ter a mesma idade que eu e a terceira, é que apesar da capa larga e o rosto escondido, ele percebeu ser 'ela'.

— Sim, ele está certo!

Quando as pessoas começaram a se virar contra o marinheiro, ele enfiou a mão no bolso e jogou algumas moedas na minha direção com pouco menos de cortesia do que se esperaria e em seguida saiu correndo.

— Obrigada — agradeci o desconhecido com um pouco de desconfiança e também tomando um pouco mais de tempo para observar sua figura. O rapaz vestia shorts que passavam dos joelhos, presos na cintura com um cinto escuro e um distinto 'A' moldado na fivela.

— Não foi nada, não tem nada pior do que ter alguém roubando sua comida. Ou quase isso — ele apontou para o chão. — É uma pena.

Por algum motivo ele juntou as mãos na frente do corpo como se estivesse prestando uma prece para a comida. É preciso respeitar o alimento, mas não sei se eu, que perdi uma refeição, estava tão chateada quanto ele.

O garoto começava a chamar atenção, então me adiantei e abaixei ao seu lado pegando as ditas moedas do marinheiro — Já é um pouco demais, já que me ajudou a ganhar um trocado, me deixe pagar um para você.

— Verdade? — ele colocou as duas mãos ao lado do corpo e se curvou — Muito obrigado.

Gallie piou me alertando sobre a confusão, os marinheiros que saíram correndo agora voltavam para nossa direção com mais pessoas do que antes.

— Você pirata para agora mesmo! — senti meu corpo tencionar, levei a mãos para as costas a fim de pegar minha lâmina benihime, mas antes disso acontecer. O rapaz lamentou.

— Que pena, achei que ia conseguir ficar mais na cidade — ele colocou a mão no chapéu — acho que nosso encontro vai precisar ser interrompido, senhorita.

— Portgas D. Ace, parado agora mesmo!

Os marinheiros avançaram sobre ele, mas o rapaz desviou com certa habilidade sem sequer devolver os golpes. Para mim, que via de fora, parecia mais que ele estava brincando com os marinheiros.

Ace... Eu já ouvi esse nome antes. Em alguma outra ilha, um rookie que veio do East Blue, capitão dos Piratas Espada. Como já faz algum tempo que eles começaram a ascender, pensei que já estivessem na Grand Line. Por um momento me perdi em pensamentos, mas de alguma forma acabei envolvida na briga, provavelmente o marinheiro de antes humilhado na rua aproveitou a chance para revidar.

Desviei de um golpe — O que pensa que está fazendo? Não estou na briga.

— Do jeito que aquele pirata te defendeu é lógico que é seu companheiro — seu sorriso era nojento e repleto de segundas intenções —, imagine se eu conseguir prender Portgas D. Ace e seus associados. Talvez vire um capitão!

— Você está delirando — franzi respondendo seu comentário —, eu nem conheço aquele cara.

Desviei mais uma vez.

— Mesmo que seja, sua voz não terá importância alguma, porque eu sou um importante marinheiro da frota.

Respirei fundo, esperando mais uma vez por seu ataque desengonçado e o acertei na nuca. Sem uma chance de se defender, o não tão poderoso marinheiro, caiu de cara no chão.

— Gente como você me irrita profundamente.

— Oh até que você sabe lutar — Ace disse, já havia alguns marinheiros caídos aos seus pés e pelo que percebi mais deles estavam se aproximando pelas ruas principais.

— Capitão!

Um homem veio correndo em nossa direção junto de algumas outras pessoas, ele vestia um casaco verde aberto e calças azuis com as barras presas dentro de uma bota. Seus cabelos tinham um tom azulado e quando se aproximou reparei ter uma máscara sobre os olhos.

— Mask-san! — Ace o cumprimentou. — Já terminou o que tinha para fazer?

— Sim, mas eu não disse para você não causar problemas seu idiota! A explosão na praça principal foi sua culpa não foi? Foi lá que o Rei dos p-

— Não — ele interrompeu, algo soou diferente em sua voz, me despertando certa curiosidade.

Todo tom divertido que estava enlaçado a sua fala foi substituído por algo que a princípio rotulei como rancor, o motivo de surgir com a menção do suposto companheiro de bando sendo um mistério.

— Fala sério, temos que voltar para o navio agora. Antes que algum capitão da Marinha venha.

— Não me diga que está com medo? — questionou Ace.

O companheiro dele colocou a mão na testa — Prefiro o termo evasão estratégica, não precisamos comprar problema aqui.

Ver a discussão deles acontecendo no meio da rua enquanto mais marinheiros vinham para os atacar era fascinante, mas não queria que sobrasse para mim. Então, aproveitei que a atenção estava neles para sumir com Gallie e ver a situação de uma perspectiva diferente.

Foi então que algo inimaginável aconteceu, Ace simplesmente caiu no chão. Sem ser atacado, nem nada. Apoiei o rosto na mão vendo os subordinados gritarem algo relacionado a dormir.

— Qual é o problema desse cara? — acabei me permitindo rir ao ver a situação caótica da cena — É uma surpresa que ele sobreviveu no mar até aqui.

Como se fosse destinado a provar que minhas palavras estavam erradas, Ace se levantou e num segundo todos os marinheiros que estavam próximos foram mais uma vez derrotado. Dessa vez, num único golpe feito de fogo.

Nesse momento eu que fiquei sem palavras, seu poder era como o meu, e ainda assim diferente. Pois seu fogo era de um laranja vibrante que tinha nas beiradas tons avermelhados e um centro luminoso. Tiros foram disparados, mas atravessaram seu corpo de chamas sem causar dano. Olhei para minha mão, essa não é uma vantagem que o meu sangue possui. Balas, feridas, de qualquer tipo de ferro formal ou até mesmo de pedra do mar, estava condicionada a me ferir com qualquer uma delas.

O grupo logo se afastou, provavelmente seguindo em direção ao porto, e se eu não quisesse ser um efeito colateral, devia fazer o mesmo.

Porém, algo estava me incomodando profundamente, tombei a cabeça para o lado em pensamentos.

— Por que tenho a sensação que perdi para ele? — reclamei em voz baixa.

De todos os piratas que eu andei olhando por aí, Ace parecia ser do tipo que não coloca muito pensamento das coisas. Também foi gentil o suficiente para defender uma estranha na rua. Ponderei mais um pouco andando pelas ruas, sua presença estrondosa também me ajudou de alguma forma... Parei na frente da sorveteria mais uma vez, e entrei pedindo dessa vez dois sorvetes.

Não faz mal algum agradecer por sua gentileza.














N/A: Começando a segunda parte!  Atualizações vão continuar quando der, então se quer saber onde essa história vai parar, não esquece de incluir nas listas, bibliotecas e afins.

Capa vai mudar conforme o ato :)

Cronologicamente no ano que o Ace parte de Goa, então ele está com 17 anos, assim como a [Nome].

Canônicamente, depois que o Ace fica preso com o Masked Ace na ilha Sixis e come a Mera Mera. Começo dos Spade Pirates, vou seguir mais ou menos a novel dele com a minha parte original, como de costume.

Obrigada por ler, e aguardar, até aqui!

Até mais, Xx!

Bạn đang đọc truyện trên: AzTruyen.Top