Saudade
Me apoiei na lateral do Red Force, os mares no Novo Mundo eram certamente uma loucura. Ter um pouco de calmaria era o suficiente para me fazem aproveitar quase pendurada o balançar suave do mar, afinal nunca se sabe quando de repente teremos um tornado surgindo, ou pedras de gelo gigantes caindo do céu.
Puxei o colar que Nerissa me entregou, apesar de na superfície brilhava como se fosse um pedaço da ilha dos tritões. Cintilando com cores intensas, vibrante e com pequenas bolhas de arco-iris dentro, tinha a superfície lisa fria como a própria descida até a ilha.
Me afastei da lateral deitando no chão e vendo as nuvens no céu, soltando o pingente, tinha uma sensação nova em meu peito que eu não sabia o que era e nem o que fazer com ela. Incomodava, era um aperto. Suspirei na tentativa de aliviar o desconhecido, só que continuava ali presente ainda intenso.
— Certo, os rapazes estão preocupados. Quase não ouvimos sua voz nos últimos dias.
— Porque estávamos em tempestades — rebati o ruivo que se aproximou chutando a sola da minha bota.
Uma careta surgiu em seu rosto e Shanks escolheu sentar ao meu lado, Gallie voou para seu joelho recebendo de bom grado a atenção do capitão. Já que sua dona se encontrava num conflito interno.
— Você entendeu o que quis dizer, tem estado distante desde que saímos da ilha dos tritões.
Me sentei num instante e cruzei os braços — Está doendo.
O ruivo virou o rosto para mim rapidamente confuso — O que está doendo?
— Aqui — encostei o dedão no centro do meu tórax — parece que tem alguém apertando meu coração com a mão, como uma fruta mole.
Gallie pulou de seu joelho e voou pousando no topo da minha cabeça, Shanks gargalhou, não entendi o porquê já que era um assunto sério. Mantive uma careta até que ele parasse e secasse as lágrimas de riso dos olhos.
— Me esqueço que você é só uma pirralha às vezes, é saudade isso.
— Saudade?
Ele apoiou a única mão no chão e se levantou — Um sentimento que parece que está te esmagando por dentro e que te faz pensar apenas no que ficou para trás, às vezes amargo ou só uma boa lembrança. Está sentindo falta da sereia não é?
Nerissa, Rayleigh, parecia que quando eu pensava neles essa tal saudade se aplicava.
— Não se preocupe, consegue conviver com ela, não vai te matar — o homem se apoiou na mesma madeira que antes eu estava, olhando para o vasto mar azul em nossa volta.
— Não é muito reconfortante vindo de você.
— Pare de ser tão ruim, tem coisas que tenho saudade e ainda estou vivo.
— Como o quê? — questionei levantando o queixo para pode o olhar da cabeça aos pés.
— Quem sabe... Tem um bom saquê no West Blue que tenho saudade — respondeu, segui seu gesto e me levantei em seguida. A ave pulou da minha cabeça e se ergueu aos céus contornando o mastro principal e passando entre as velas.
Foi então que me lembrei da outra tripulante que costumava andar pelo convés do Red Force, antes mesmo de eu chegar. — Você sente falta da sua filha? Uta?
Seu rosto se manteve imóvel, sem uma sensação de felicidade e nem de tristeza, ele apenas olhava para o horizonte contemplando.
— Sim, pode se dizer isso.
Eu me lembrava bem dela afinal foi minha companhia por um bom tempo. Quando cheguei no navio tinha cinco anos e Uta quatro, ela tinha mais experiência do que eu e ter outra menina roubando a atenção do capitão não a fez ser particularmente agradável no começo, mas melhorou com o passar dos anos. Pouco me lembro daquela época, mas algumas situações mais recentes ainda perduravam em minha mente.
Era mais um dia em que a tripulação se reunia envolta da filha do capitão para a ouvir cantar. Da minha cabine apenas escutava as vozes abafadas, afinal ainda tinha três capítulos para ler de um livro que Benn me dera, depois disso ficaria com Yassop para treinar minha mira.
Gallie apoiada no poleiro piou tentando me dar alguma animação, mas já estava ali a um bom tempo. O imediato não iria me dar uma bronca por tirar alguns minutos para tomar um ar, né?
Peguei Gallie no braço e andei em direção ao convés, a claridade me cegou um pouco os olhos, mas logo me ajustei. Andei até a lateral e joguei a ave para cima, depois disso me mantive observando a festa de longe, a pequena diva e música dos piratas do ruivo.
Os mais velhos aplaudiram e vendo que eu continuava apoiada na lateral no fundo, ela veio andando até mim.
— Não vai me aplaudir também?
— Já tem todos os outros, não precisa do meu.
— Mas é educado fazer isso.
Silêncio — Entendo.
Uta resmungou — Fala sério, você sequer sabe como se divertir? Sempre fica no canto olhando como, como... Uma coruja! — colocando as mãos no rosto abriu os olhos — Uma coruja com grandes olhos dourados!
Tombei a cabeça para o lado — Então você é um coelho.
— Coelho?
— É — respondi colocando a mão na cabeça imitando seu penteado —, seu cabelo lembra. Ele sobre e desce, é fofo.
O rosto da garota ficou vermelho e num movimento ela pegou meu pulso e me puxou virando para o outro lado — Suas roupas não são fofas, você precisa melhorar um pouco seu gosto.
— Mas não é só para vestir? Importa se é bonito?
— Claro que sim! Quando eu for uma grande cantora as pessoas vão te conhecer também, não posso deixar uma pessoa da minha família vestida assim.
A última vez que a vi foi quando partiram do reino de Goa, eu estava doente então fiquei um tempo na ilha com Makino e o prefeito. Quando os piratas voltaram ela já não estava com eles e sempre que eu perguntava a resposta era a mesma "deixou o bando para se tornar uma cantora".
— Também sinto falta dela.
Ele empurrou minha cabeça para trás em silêncio e em seguida mudou de assunto se afastando, gritando ordens para os marujos sobre os ventos e o caminho.
Não eram muitos que sabiam sobre a filha de Shanks, e acho que no fundo ele queria manter assim. Afinal era perigoso ter qualquer relação com ele, poderiam a usar como isca. Éramos próximo e ele foi a figura paterna que tive por perto só que ainda era diferente, nossa relação não era o maior peso na questão de perigo e minha própria natureza e existência. Estaria com problemas em qualquer situação.
Olhando dessa maneira é mais fácil entender o porquê dos treinos e as aulas, eu precisava aprender a me virar, mesmo que sem os piratas por perto.
Benn estava na sala do capitão, deixei Gallie aproveitando o céu e fui até ele para observar as cartas náuticas. De tudo que acontecia no navio era o que eu menos entendia, então seria uma boa chance de tentar aprender.
— Faz um tempo [Nome] — comentou quando me viu sentar na cadeira —, esteve distante.
— Estive confusa — respondi —, agora não mais.
O mais velho sorriu empurrando uma pilha de mapas na minha direção — Então devemos começar, ainda existe um longo caminho para fazer de Shanks um imperador.
Ajudei com as rotas por algum tempo, na verdade apenas escutei enquanto Benn me explicava, não foi até o fim do dia que toda a calmaria acabou devido a uma tempestade terrível. Mesmo na cabine eu andava de um lado pelo outro tentando manter o equilíbrio, as ondas eram gigante e sentia o eixo do Red Force mudar quando embicava no mar revolto.
O imediato teve que sair correndo para assumir o leme e a porta da cabine estava meio aberta, foi num desses movimentos intensos do navio que bati contra a madeira e fui parar no convés.
Imediatamente fiquei encharcada e surpresa com as ondas que se erguiam a muito acima do mastro principal, haviam gritos sufocados por trovões. Muitos deles seguravam os canhões e cordas para evitar que o Red Force virasse. Escorreguei pelo convés molhado até bater na base do mastro dianteiro.
Saquei a wakizashi, Benihime e cravei na madeira para me manter no navio. Como se apenas a tempestade não fosse o suficiente, a água do mar começou a contornar o navio e nos levar para o que parecia ser o centro de um redemoinho. Era o caos se instalando, passamos por muitas tempestades, mas nenhuma se comparava com essa.
O céu nebuloso pareceu se abrir e descendo como uma lança luminosa um raio cortou o cortou caindo direto na ponta do mastro que estava apoiada, lascas de madeira voaram e mesmo que alguns tripulantes tentassem me alcançar não foi possível.
Estava frustrada, depois de tudo que passei deveria ter um pouco mais de força para lidar com a situação, não só esperar alguém me estender a mão. Balancei a cabeça para tirar os cabelos da minha frente. Calor percorreu minhas veias, iluminando os caminhos de sangue mesmo sob a minha pele, evaporando as gotas de chuva antes mesmo de chegar até mim.
Tentei me lembrar das sensações de quando afundei o navio da marinha, a turbulência e o poder que parecia como o próprio sol. Nascendo debaixo do navio e circulando o redemoinho na direção contrária, espirais de fogo branco com pontas vermelhas surgiam, não só tentando desfazer a centrífuga mas também mudando a corrente marítima pelo momento.
A madeira que eu segurava começava a queimar, se não terminasse tudo rapidamente colocava em risco o próprio Red Force.
Eu era as chamas, o fogo e o calor. Nascia das minhas veias, fazia parte de mim como meus braços, deviam seguir minhas vontades como qualquer outra parte do meu corpo. Treinar e visualizar o próximo ataque, era uma das lições que me deram enquanto treinando com espadas, teria de servir também para desfazer aquela tempestade.
O funil de água se afunilava não levaria muito tempo para que algo realmente ruim acontecesse. Mais e mais vapor surgia, a madeira estava praticamente em chamas, com um último impulso as chamas brancas alcançaram o topo do redemoinho. Foi nesse momento que a movimentação se desfez e o Red Force se lançou para fora enquanto a água voltava ao seu lugar original.
No céu também havia uma abertura sem nuvens, elas se dissipavam aos poucos levando o resto de tempestade com ela.
Respirei fundo sentindo minhas mãos tremerem, e um frio intenso que surgiu após cessar meu poder. Não consegui me levantar, depois de tirar a lâmina fincada na madeira engatinhei para longe do mastro quebrado deitando de costas no convés molhado.
— [Nome]! — Yassop foi o primeiro que se aproximou — Está bem?
— Sim, só um pouco zonza — aceitei sua mão e me sentei. — Estou com algumas farpas também.
Haviam pequenos pontos em vermelho em meus braços de onde as lascas que voaram do mastro principal bateram.
— [Nome]-chan arrancou a porta — Bonk comentou segurando a placa de madeira que ficava na entrada da cabine do capitão.
— Essa foi sem querer — expliquei —, onde está Gallie?
— A salvo.
Shanks veio andando em minha direção com uma cara não muito boa, não é como se tivesse feito de propósito. Mantive meus olhos firmes como se quisesse passar por eles a minha decisão.
— Quando vier a próxima tempestade, não vou me esconder.
N/A: Quem é vivo sempre aparece!
Primeiro desculpa pela falta de atualizações, quando eu começei a escrever a fic não existia a Uta e depois que ela apareceu me deixou muito conflitante. Quem já viu as outras obras que eu escrevo sabe que eu gosto de deixar o mais fiel possível, então estive num dilema por algum tempo.
Mas depois de assistir o filme RED consegui me encontrar e encaixar a Uta de maneira sutil, não terá mais muito tempo entre atualizações. Espero conseguir manter a frequência de no máximo duas semanas para atualizações novamente.
A parte 1 da infância está quase acabando, mas não vou fazer uma pausa entre as temporadas vou continuar tudo nesse livro mesmo e vamos que vamos!
Obrigada por esperar!
Até a próxima, Xx!
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