Os piratas do ruivo


Estava com a bochecha apoiada na mão, o Red Force acompanhava o movimento das ondas preguiçosamente enquanto aguardava ancorado no porto da ilha. Gallie estava ao meu lado e bicava a ponta de minha orelha tentando chamar atenção, a pequena harpia branca e cinza tem sido a minha única distração nos últimos dias.

— Se você quiser voar, pode ir — falei em voz alta e soltei um suspiro acariciando a cabeça da ave, ganhando um pio de satisfação. — Sabe que Shanks não gosta muito quando voamos acima do oceano, principalmente quando ele não está por perto.

Apesar de fazer parte da tripulação desde que me lembrava, tanto o capitão quanto os tripulantes tinham regras bem específicas quanto a minha presença no navio. E o fato de ser um segredo reservado apenas aos associados do ruivo, contribuía para isso.

Tem um certo grau de ironia o meu guardião ser justamente um pirata.

Desencostei da lateral e deitei no convés do navio, olhando as nuvens fazendo formas estranhas no meio do céu azul. Erguendo a mão em direção ao infinito, abri a palma, tampando a luz do sol, ter os raios batendo contra a pele a fazia formigar.

Algumas pessoas da tripulação começaram a aparecer trazendo os mantimentos necessários para uma longa jornada,  casualmente acenavam ou falavam comigo. Então supus que logo estaríamos partindo do porto para a próxima viagem.

Respondi os que falavam comigo com um aceno de mão, mantendo os olhos fechados aproveitando a brisa quente e salgada, não percebi o capitão voltando para o barco. Apenas tomando ciência da sua presença quando parou perto de mim fazendo sombra no meu rosto.

— Você tende a deixar a sua guarda muito baixa [Nome] — disse com um tom de riso. Abri apenas um olho para escarar o rosto flutuando acima de mim. Os cabelos vermelhos na altura do queixo balançavam assim como a capa, o homem tinha uma mão no cabo da espada e a outra apoiada na cintura.

— Vi a tripulação saindo da cidade e Gallie me avisaria se visse algo estranho — falei sem nenhum pingo de emoção.

— Eh... [Nome] continua aqui? — Benn perguntou trazendo um barril de saquê nos ombros. Logo sendo ajudado pelo restante dos marujos. O homem era o segundo no comando, como sempre, tinha um rifle na cintura, um cigarro na boca e uma expressão calma no rosto.

— Por que não estaria? — me levantei ganhando um cabelo bagunçado, cortesia do capitão. Mostrei a língua para ele e me afastei ajeitando os fios.

— Achei que talvez você quisesse vo-

Não precisava ouvir o restante da frase, no mesmo momento corri e usando a lateral do navio tomei impulso para pular. Abri os braços aproveitando a sensação de liberdade, mas antes que pudesse alcançar o mar, Gallie já estava embaixo de mim nos levando para o céu enquanto circulava o mastro principal.

— [Nome], me deixe terminar de falar! Ainda sou seu capitão! — Shanks gritava da mesma lateral em que estava apoiada anteriormente.

O ruivo era a coisa mais perto que eu tinha de um pai, afinal não lembro muito do meu, então nossa ligação vai muito além do que uma simples promessa a um amigo do passado. Gallie mergulhou na direção do convés e nós passamos bem do lado dele. Gargalhei o vendo se jogar para o lado para desviar.

Shanks sabia que não tinha jeito, então só sorriu e acenou de longe.

— Gallie, permissão confirmada, podemos ir mais alto.

A harpia piou e subiu ainda mais. Normalmente sua forma era realmente pequena, mas Gallie é especial, consegue transmutar o seu tamanho mesmo sem ter uma fruta do diabo. Dizem as lendas que é uma raça especial de uma Ilha de deserto na Grand Line e que servia como transporte de carga.

Abri os braços sentindo o vento bater contra a minha pele, o Red Force não passava de um pontinho no mar agora. A ave atravessou as nuvens e começou a planar, realmente era uma visão magnífica, ficamos algum tempo ali em cima até que o ar se tornasse úmido e gelado.

Foquei meus olhos mais a frente e vi uma massa escura se arrastando na direção da ilha. Dei dois tapinhas nas costas da harpia e ela fez o caminho de volta para o navio, Shanks conversava distraído com Yasopp. Foi quando saltei para voltar a segurança do convés de madeira.

— Bela aterrissagem [Nome] — Lucky gargalhava enquanto o outro caíra de testa no chão do navio.

O atirador grunhiu algumas coisas inaudíveis, foi quando eu percebi que ainda estava em cima dele.

— Desculpa — falei e ajudei ele sentar. — Calculei errado.

Gallie pousou no meu ombro e piou me lembrando da tempestade.

— Shanks — ele terminou de virar a caneca de saque e me encarou. Continuei a falar vendo que tinha a atenção do capitão. — Tem uma tempestade vindo do norte em direção à ilha. Chega aqui em pouco tempo.

O capitão mudou a expressão e ficou mais sério — Certo rapazes, vocês ouviram a [Nome]. Soltem as velas, vamos aproveitar que a brisa está virando um vento e ganhar velocidade.

No exato momento toda a tripulação começou a se mover de maneira ordenada e logo já tínhamos saído da ilha.

— Bom trabalho — Shanks colocou a mão na minha cabeça olhando as nuvens que começavam a de fazer visíveis no horizonte.

Senti meu rosto esquentar e desviei o olhar para o chão.

Gallie voou do meu ombro ao mesmo tempo que Shanks me pegou e jogou nas costas dele, como se eu fosse um saco de batatas — Quase me esqueci, trouxemos algumas coisas para você.

— Verdade? — perguntei olhando para ele, o ruivo sorriu e disse que sim. Ele continuou andando na direção da minha cabine.

— E já menti para você alguma vez?

O ruivo me colocou no chão e eu vi os pacotes — Várias.

Shanks gargalhou e sentou numa cadeira qualquer que tinha ali. Me sentei na cama, algumas roupas novas, como camisas de manga e calças, além de uma capa que combinava com a do capitão. Tinham alguns livros e material de escrita também.

Mas o que mais me chamou a atenção foi uma caixa branca com um laço vermelho.

O homem se mexeu e inclinou para frente, as mãos estavam cruzadas na altura da boca tentando esconder um sorrio. Shanks parecia animado, olhei pra caixa delicada e desfiz o laço.

— Feliz aniversário — ele disse e se levantou para se aproximar de mim — Sabemos que já foi há algum tempo, mas como estávamos no mar não pudemos encontrar um presente adequado.

— Obrigada — pulei da cama e abracei ele pela cintura.

— É um presente da tripulação inteira. Todos ajudaram a escolher.

Peguei a pistola de cano longo, era um pouco pesada, mas nada que um pouco de prática não resolvesse. Ela tinha um tom brilhante de prata e adornos cor de cobre, o cabo era de madeira branca e tinha o símbolo da nossa jolly roger entalhada na base. Era realmente linda.

Abri a parte onde ficam as balas, felizmente carregada.

Soltei um riso e corri de volta para o Deck subindo para parte mais alta que era onde ficava o leme e gritando em seguida para chamar a atenção.

— Pessoal, obrigada — segurei o presente no ar, a tripulação gritou e aplaudiu com gritos de encorajamento.

— Precisa dar o tiro de estreia [Nome] — Lucky disse entre uma mordida e outra num pedaço de carne.

— Alguém se oferece? — apontei a arma na direção deles e a maioria correu, gargalhei. — Maricas.

Yasopp levantou uma esfera de vidro.

— Esse é seu alvo — o atirador disse. Como meu professor, é claro que ele viria com um desafio.

O capitão saiu a tempo de ver os tripulantes correrem da minha mira, Shanks negou com a cabeça e sentou em cima de um dos barris.

— Joga — minha voz enlaçada com uma confiança que nem sabia que tinha, ajeitei a arma no meu punho e mirei na direção do oceano.

— Não tem segunda chance, ein!

— Você consegue, [Nome]!

Todos os tipos de comentários enchiam o convés, respirei fundo e anunciei — Não vou errar.

Yasopp lançou a bola para cima, meus olhos acompanhavam a forma com atenção. Assim que ela atingisse o ponto máximo de altura ganharia uma janela, a esfera ficaria parada no ar por um milissegundo antes de começar a cair, nessa hora eu atiraria.

Acompanhei o percurso e deixei o gatilho firme sob o meu dedo indicador. Olhei de canto de olho pro ruivo e sorri, virei a cabeça, contei até dois e apertei o gatilho.

— Que exibida — ouvi Benn murmurando.

A tripulação tinha a boca aberta até o chão enquanto acompanhavam os cristais do que antes era a esfera caírem no mar.

— Falei que ia acertar.

Yasopp me deu um olhar de aprovação — Foi um belo tiro.

Receber esse tipo de elogio do atirador do navio não era qualquer coisa, então estava mais que satisfeita, a tripulação brindava e gritava meu nome. Nem percebi o Shanks levantando a caneca e dizendo.

— A [Nome], saúde!















N/A: Essa história estava como projeto no Creative Garden e finalmente consegui ver um caminho para ela nascer.

Obrigada por chegar até aqui.

Até semana que vem, Xx!

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