Justiça Falha




Era sufocante, mais do que isso, insuportável. Estar na companhia de Deuce já era uma tortura. Estar junto dele e da Pregadora, a segunda-tenente da Marinha, era simplesmente uma tortura. Sem falar na divisão de assentos.

Deuce estava na minha frente, Ace na minha diagonal e Isuka ao meu lado. Eu estava me apertando contra a lateral tentando evitar de esbarrar na marinheira e também escapar com os joelhos de encostar em Deuce. O meu único alento é que o imediato parecia estar num momento tão ruim quanto o meu.

Apenas Ace estava animado olhando animado para o cenário enquanto a Pregadora mantinha o olhar fixo nos dois no banco oposto ao nosso.

— Então, quando as bolhas chegam a uma certa distância do chão, elas simplesmente explodem, né?

Pelo menos alguém estava se divertindo e fazendo algum barulho dentro da cabine, caso contrário estaríamos nos contorcendo de constrangimento e prontos para nos lançar das janelas. Ainda que mal tivéssemos saído do chão, a gôndola seguia lentamente fazendo o seu caminho até o topo.

Masked estava com os olhos baixos, mas percebi quando ele virou para encarar as mãos da Pregadora, a qual uma delas tinha uma cicatriz bem grosseira, provavelmente proveniente de uma queimadura. Nunca havia as percebido antes, nem teria como, sempre que ela aparecia eu tentava me esconder, mas aparentemente era um ferimento antigo.

— Curioso? — ela questionou Masked, foi a primeira vez que vi o homem mostrar surpresa numa situação. Devido ao silêncio na cabine, ele deu um pequeno pulo, e quando não respondeu, ela voltou a perguntar.

— Eu perguntei, você está curioso quanto a minha queimadura.

Ele assentiu com uma série de murmúrios, também chamando a minha atenção para a história, apesar disso virei o rosto para os encarar pelo reflexo do vidro.

— Aconteceu quando eu era criança. Piratas atearam fogo na vila em que cresci, em instantes tudo se tornou um mar de chamas — disse. Ace teve uma reação ao ser mencionado o fogo, e a história também me lembrava um certo acontecimento da infância.

— Fiquei presa pelas chamas e fumaça, foi um oficial da marinha que correu para o local e me salvou. — explicou acariciando a cicatriz. — Todas as vezes que olho para essa mão, me lembro da minha infância. Eu não quero que nenhuma outra criança tenha que passar pelo que passei, é por isso que fiz uma promessa de prender todos os piratas malvados.

Ela continuou sorrindo, com uma voz doce e calma, completamente enviesada.

— Tenho certeza que vocês ficariam bem num uniforme da Marinha. Pelo que posso dizer, vocês não parecem ser pessoas ruins. — e continuou. — Escute aqui Punhos de Fogo, desista da vida de pirata.

Sem perceber, uma gargalhada nasceu na minha garganta, sarcástica e venenosa. Pela primeira vez me mexi, cruzando os braços, mas sem deixar de olhar para o lado de fora.

— E sobre todos os marinheiros ruins? O que fará com eles.

— A justiça... — ela começou a falar, mas a interrompi.

— É falha e escolhe aqueles que quer defender — continuei com a voz firme. — Você foi salva por um marinheiro, eu fui sequestrada por um e quase vendida como escrava. Quem me salvou foram piratas. E então, como fica a história?

Virei a cabeça agora para olhar para eles de verdade, minha voz preenchendo o silêncio da cabine com autoridade. — O que faz de você boa, ou nós ruins? A grande maioria de nós sequer temos escolha.

Vi Ace me olhando pelo vidro e então Deuce me encarando com uma feição mista, entre pena, culpa e compreensão. Não precisava de sua piedade e então voltei a olhar para a janela.

— Você teve sorte em ser salva, mas não pode culpar todos os outros que gritaram para o vento e nunca foram escutados por essa "justiça" que defende. — terminei. — Abra um pouco os olhos se quiser realmente fazer alguma diferença.

Sei que existem marinheiros bem intencionados, que acham que podem salvar o mundo de todo mal, mas alguns deles não fazem diferença numa instituição podre até o centro. De alguma forma a aura dela me lembrava Smoker, o cara de Loguetown. Ele já havia me dado uma conversa parecida, imaginei que Isuka fosse partir para o mesmo discurso.

Houve um silêncio e quando ela fez menção de me responder, um clique cortou a sua fala.

— Ei a porta está aberta — Ace disse com uma expressão preocupada.

— Você não deve abrir, quero dizer, ela não pode ser aberta dessa forma!

Escondi um sorriso nas sombras, Ace só parecia bobo. Ele estava mexendo na tranca desde o começo, fingindo se inclinar na janela procurando uma falha, agora que ele conseguiu a porta estava completamente aberta balançando no topo da roda gigante.

— Na verdade, eu estou ficando com fome, então vou ser o primeiro a pular.

— O quê? — Masked gritou quando Ace se levantou e se inclinou pelo vão da porta.

— Espere! Você ainda não me deu uma resposta — insistiu a segunda-tenente.

— Desistir da vida de pirata para ser um homem da Marinha? Sinto muito, mas não posso fazer isso.

Vi as mesmas chamas que envolviam seus punhos surgirem em seus olhos, em seguida sendo escondidos pelo sorriso largo que surgiu em seu rosto.

— Até logo, Isuka! — disse e então pulou da gôndola.

Os dois ficaram encarando por onde ele sumiu apenas para o imediato voltar a puxar conversa em seguida.

— E agora? — questionou Deuce.

— E agora o quê? — respondeu à garota.

— Ace não vai deixar de ser um pirata. E os Piratas Spade vão continuar seguindo seu comando. Então, não importa o que aconteça, continuaremos sendo inimigos.

— Imagino que seja verdade — disse com um tom de voz levemente desapontado.

A cabine começava a fazer seu caminho para o chão quando Masked perguntou se ela nos tomaria como reféns, garantindo que se fizesse isso, Ace iria atrás, pois esse é o tipo de pessoa que ele é.

— Desde quando uma pessoa da Justiça toma reféns? Tolo — disse dando também uma resposta velada para tudo o que eu disse a ela. Continuando num murmúrio baixo. — É exatamente por esse motivo que quero ele ao meu lado.

Quando enfim voltamos para o chão, a Pregadora fez uma enorme cena dentro da gôndola, cruzando os braços e virando o rosto para o lado.

— Voltarei para tentar mais uma vez. Hoje vocês estão livres para ir — comentou bufando. — A verdade é que não estou de serviço agora. Estava de folga.

Como todos já sabíamos.

Descemos da pequena cabine deixando Isuka para trás, sem saber exatamente para onde Ace foi, mas dessa vez ele estava com sua carteira, então não deveria ter mais problemas. Eu já havia abusado demais da sorte, e dito mais do que realmente deveria. O lugar mais seguro para estar era o bar de Shakky, mas estava muito longe da ilha comercial. Escolhi então retornar para o Piece de Spadille. Ignorando por completo os olhares de Masked Deuce e suas tentativas de conversa, era fácil perceber que ele estava repassando a minha história na mente.

Vi o navio sendo preparado para receber o revestimento e apertei o passo.

— Esqueça tudo que ouviu Sr. Imediato — disse e então parei para virar para trás por um momento. — Pode continuar me odiando como fez até aqui. Fará um favor para nós dois.

Indiquei a entrada da ilha comercial novamente — Te indicaria ficar atrás do capitão, nunca se sabe o que ele pode fazer.

Masked Deuce manteve a boca fechada, mas seguiu a minha sugestão, se virando como se fosse seu objetivo original e ignorando completamente a minha presença. Respirei fundo e subi no navio, sendo recebida por Skull, mas seguindo diretamente para minha cabine onde Gallie estava me esperando.

A ave voou para meu pulso, me recebendo de volta com um som alegre.

— Se prepare Gallie, serão 3 longos dias.








N/A: Olha só! 

Estava com saudade dessa aqui, sobrou um tempo para terminar o que estava escrito então têm um novo capítulo pra vocês.

Sabe que eu fico olhando os capítulos/episódios recentes e fico viajando na história. Um dia chegaremos lá! Confia.

Obrigada por ler até aqui!

Até mais, Xx!!

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