Hipocrisia
— [Nome], como sempre a comida está uma delícia!
Praticamente gritaram na minha face com lágrimas dos olhos, a cada momento agradecia a Lucky por me deixar ficar vendo ele cozinhar na cozinha do Red Force. Certamente está salvando a minha vida nesse momento.
No geral a atmosfera do navio era tranquila, Gallie se mantinha a maior parte do tempo no ombro, apenas saindo para voar quando ficava no convés. A ave não parecia gostar muito dos tripulantes, mas se mantinha especialmente longe de Ace. Se tinha alguém que chamava sua atenção, era o lince Kotatsu.
— Ei Ace, aqueles caras que nos atacaram disseram que te amavam — escutei Masked dizer ao capitão quando passei por perto.
— Sim, porque se pegarem a minha cabeça vão a vender por enorme quantia de dinheiro.
De certa forma podia me identificar com isso, fingi pegar algo ali perto para continuar a escutar sua conversa. Mas estava um pouco complicado acompanhar todas as falas, a última coisa que escutei foi o imediato gritando algo nas linhas de: para ser amado é preciso ser melhor do que para ser odiado ou desprezado, independente de quem está te amando.
Esse é um conceito diferente, um pirata que está preocupado em ser amado.
Gallie que estava junto do lince, soltou um pio longo e esganiçado, que calou a tripulação e deu espaço para que o rugido do gato grande ecoasse. Ambos estavam virados para o horizonte, onde acima do mar havia uma neblina espessa. Forcei o olhar e não consegui impedir de uma careta aparecer.
— Isso não é bom.
— É a Marinha!
A maior diferença entre os mares e a Grand Line, além das questões, obvias relacionada a variação de tempo. Com certeza é a quantidade de marinheiros navegando por ela. Seus navios muitas vezes são melhor preparados para lidar com todas as adversidades, o acaba sendo para os piratas um pé no saco lidar com eles. Uma vez que eles podem entrar e sair como bem entenderem.
Nesse caso, o que estava vindo em direção do navio da tripulação de Ace, era uma frota completa. O simbolo muito bem estampado no tecido branco das velas não deixava dúvidas da perseguição.
Tendo como capitão do navio alguém que a cada momento tinha uma recompensa ainda maior, é de esperar. Ainda que não me agrade, e quando pensando racionalmente, não faça sentido. Sim, é um usuário de Akuma no Mi, mas não me lembro de ter visto nenhuma grande atrocidade sendo feito que justifique todo esse valor.
— É o navio da Pregadora — disse Skull —, falam que é uma segunda-Tenente bem desagradável.
Masked se adiantou gritando ordens, enquanto o capitão discutia com o tripulante qual era o significado por trás da alcunha da tenente. Minha harpia voltou para o ombro, enquanto o restante tomava seus postos. Porém, antes de qualquer movimento ser feito, uma figura surgiu no convés.
— Capitão Ace, essa é a Pregadora — Skull gritou apontando.
Com uma cara de decepção, o capitão respondeu — Estava esperando um carpinteiro grande e corpulento.
Existe um certo charme nesse lado bobalhão dele, devo admitir, ao contrário da sua imaginação simplista. A figura parada no convés era uma jovem, da minha idade, poucos anos mais velhas talvez, com uma capa ao vento com o escrito "Justiça" gravado no tecido branco.
— Sou a Segunda-Tenente Asuka, você deve ser o Ace, Punhos de Fogo — bradou com um tom de ordem apontando sua espada na direção dele —, você está preso.
— Pode realmente me cortar com essa coisa? — rebateu o capitão com um tom divertido e brincalhão. Ignorando por completo a tensão da situação.
Sozinha a mulher avançou na direção dele encontrando apenas um corpo feito de fogo, toda a tripulação se colocou ao redor dela. Buscando proteger seu capitão, os movimentos da marinheira eram precisos e faziam jus ao seu apelido, visto que no momento em que pisasse no seu alcance tinha a probabilidade de ser furado pela ponta afiada de metal.
Gallie chamou a minha atenção, apesar da figura ter roubado o foco, os navios continuavam se movendo de maneira individual fazendo o cerco.
Subi para popa onde Masked Deuce estava — Os navios estão fazendo uma emboscada, precisamos sair daqui agora.
— Porque, de repente, está tão interessada em fugir da marinha?
Sem aguentar mais uma palavra de desprezo, segurei o imediato pela gola das vestes alinhadas dele. — Escuta aqui, quer me odiar, me odeia. Nada de bom vai sair dessa situação se a marinha nos alcançar agora, entenda a organizar as suas prioridades.
— Tem um recife de corais por perto — a voz de Mihal, o professor escondido, ecoou. — Vou passar as direções Masked-san. Concordo com a senhorita cozinheira.
Olhei para trás e um dos navios já estava perto demais — Droga, continue guiando o Piece of Spadille vou ganhar algum tempo.
Gallie voou e sem um segundo pensamento pisei na borda do navio e me lancei ao ar segurando nas penas da harpia do deserto com força assim que aterrissei em suas costas. Me recuso deixar ser presa num lugar como esse, por teimosia de um idiota mascarado. Bati nas costas da ave, imediatamente ela voou para acima das nuvens buscando camuflagem.
— Mire de bico no meio, não temos tempo para ficar brincando. Me pegue no mar depois.
Um som de concordância e foi exatamente o que fizemos. As veias do meu braço ficaram brancas e a força da minha raça ferveu, ainda do alto saí das costas da ave deixando que a queda aumentasse a força do meu impacto. Imaginar a cara do imediato na madeira só me deu um incentivo a mais.
Foi rápido, eficiente, e sem nenhuma brecha de identificação, até chegar nas placas de pedra do mar onde usei toda a minha força para as derreter e atravessar por completo. Embaixo da água, vi as sombras dos recifes e a casco do navio dos Piratas de Espadas se aproximando rapidamente. Me afastei de onde o navio afundava e emergi erguendo o braço para que Gallie me pegasse de uma vez.
As vestes molhadas secaram durante o trajeto, e quando voltei para o navio. Ele já estava seguro. Ou quase isso, a maioria dos marinheiros estavam perdidos nas ondas ferozes do recife. Qualquer um teria dificuldades em se manter ali, mas é o preço por perseguirem essa tripulação.
A mulher chamada Isuka, ao perceber a situação dos subordinados, embainhou a espada colocando o pé no parapeito do navio. Assim como eu havia feito antes.
— Eh, vai fugir agora? — Ace questionou.
— Vou salvá-los, seu tolo!
Típico de um bom marinheiro que ainda não sabe de toda a sujeira que tem grudada nas cadeiras superiores. Com dificuldade ela nadou até eles, dando pedaços de madeiras para que se segurassem, um após ao outro.
— Ela é incrível — Skull comentou, seguido de um assovio.
Revirei os olhos, pensando no que havia de incrível em saber nadar e cuidar de seus subordinados, coisa que devia ser uma obrigação uma vez que é um líder.
Até mesmo uma sereia teria dificuldade por ali, depois de distribuir todos os destroços ela mesma ficou sem ter o que se agarrar, foi nesse momento que Ace tomou uma boia salva-vidas e jogou em sua direção.
Isuka com fúria, e talvez vergonha por ter sido salva por um pirata, gritou a plenos pulmões para o capitão, perguntando o porquê dele te-la salvo. Ganhando uma resposta simples e sem grandes pensamentos em retorno, resumida nas palavras "não sei".
— Punhos de Fogo! Vou capturá-lo na próxima vez! Farei você se arrepender de ter me ajudado!
Com um sorriso, olhando para a área dos recifes pelo qual o navio acabara de atravessar, o capitão disse — Ela é uma boa pessoa.
Tudo parecia estar normal de novo, então aproveitei a minha chance para trocar as vestes repletas de sal. Assim que vesti o capuz novamente e saí da cabine, um calafrio percorreu a minha espinha, tirei a lâmina das costas pronta para atacar. A silhueta era alta, parecia vestir um casaco e tinha um chapéu na cabeça. Travei os dentes e abaixei a lâmina.
— É raro te ver andando pelos corredores, professor.
— Realmente, mas tenho algo a te falar — ele cruzou as mãos atrás das costas, pisando em direção à luz e me olhando com atenção. Por cima dos óculos pequenos e retangulares.
— Você, não é uma humana comum, não é?
Franzi — Não sei do que você está falando.
Mihal ergueu as mãos em sinal de rendição — Sou um professor [Nome], não tenho muito interesses além de livros.
— E ainda assim se tornou um pirata.
— Porque o capitão disse que iria ajudar no meu sonho — explicou —, de dar educação para todas as crianças. Aqui, fique com a minha pistola, eu realmente só quero conversar.
Não disse nada em resposta, mas também não aceitei a sua arma. O homem tomou meu silêncio como um sim, e pediu para o seguir até sua biblioteca improvisada.
— Geralmente eu não me importo muito com as pessoas que entram no bando, já que Ace costuma atrair boas pessoas. Mas quando você apareceu, sem tirar sequer uma única vez o capuz, fiquei intrigado. — ele começou a revirar alguns livros. — Mesmo com todo cuidado, existem momentos onde é possível ter uma pequena visão dos seus olhos.
— Posso assumir o motivo de os esconder, mas não precisa se preocupar com isso aqui. — deu seu ultimato.
Já que ele tinha tanta certeza, puxei o capuz, deixando a minha verdadeira face exposta pela primeira vez em muito tempo. — Então, o que vai fazer com essa informação?
— Nada — respondeu —, você tem coisas para esconder. Todos nós temos, Mask e Ace também, quanto mais você se fechar mais longe ficará do seu objetivo.
— Não confiam em mim para dizer seus segredos, mas cobra que os meus sejam anunciados. Sabe o quanto isso soa hipócrita professor?
Ele abriu a boca para responder, mas da voz ecoar, a porta também se abriu num único movimento. Por instinto a minha cabeça também se virou, pela primeira vez tendo os olhos se chocando com os do capitão, ser ter as sombras do capuz servindo como um véu.
Ace piscou algumas vezes, como se seus olhos não pudessem acreditar.
— Capitão, por favor feche a porta atrás de você.
— Ah certo — ele fechou a porta com cuidado.
Levantei a mão para a testa, um saber já era ruim, dois ainda pior. Mas não havia nada que eu pudesse fazer. Ainda precisava da carona, até pelo menos chegar ao Novo Mundo. Senti o olhar dos Punhos de Fogo ainda sobre mim.
— Não é educado ficar encarando uma pessoa dessa maneira — me virei em sua direção.
Seus ombros se levantaram um pouco por conta do ríspido tom de voz.
— Desculpe é que nunca vi olhos como os seus — falou — parecem...
Ouro derretido, completei mentalmente.
— O sol.
N/A: Olha só que coisa boa, uma atualização assim no meio da semana.
Se fosse ontem seriam três meses seguidos, olha que evolução, hahaha.
Obrigada por acompanharem mesmo tendo as atualizações bem lentas, será que o homem já teve seu coração balançado? Veremos, eles vão começar a ficar mais próximos a partir desse ponto.
Afinal, segredos aproximam pessoas.
Obrigada por ler até aqui!
Até mais, Xx!
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