Floresta do Mar
***- Mudança de POV e/ou cena
No caminho para a Floresta do mar a Rainha me passou algumas informações sobre o país e sua situação. Diferente de quando fomos para o café na parte da manhã tomamos um transporte chamado Onibus Osakana.
Nerissa e a Madame nos acompanharam, mesmo após questionar se poderiam mesmo, mas ambas disseram que não tinha problema. Ainda tinha algum receio de ficar perto da rainha pelo tapa, embora tenha se explicado depois, mas não queria ficar dentro de seu alcance.
— Então você esteve viajando com piratas todo este tempo? — Otohime me perguntou, e entrou num alvoroço em seguida de como eu era nova, que tinha uma vida terrível como se de alguma forma o destino tivesse sido absurdamente cruel comigo.
— Não se deixe enganar Otohime... — Nerissa me olhou de canto de olho — sama.
— Sou o que sou, vi coisas. Até mesmo entre piratas existe um pouco de honra, nem todos eles são feitos apenas de maldade, existem aqueles que protegem os que navegam sob sua bandeira. Posso ter dado sorte de ter alguém que me protege de verdade, mas não tenho vergonha da minha vida ou preciso que alguém tenha pena dela.
— O que eu te disse sobre desrespeitar a família real? — a sereia de cabelos esverdeados apertou a minha bochecha.
— Desrespeitar seria mentir, só disse a verdade.
— Você tem razão — a rainha dos tritões agora tinha um rosto sério — É tolice minha supor fatos sobre a vida dos outros. Tem sábias palavras para alguém tão nova, [Nome].
Felizmente aquela parte do assunto acabou por ali, olhando pela janela do transporte vi que estávamos bem perto da dita floresta. Só então consegui me permitir ficar feliz novamente, Gallie no meu ombro também parecia animada já que as ordens foram para que não voasse. Contudo, ali em baixo a harpia poderia finalmente se libertar e esticar as asas.
Mesmo à distância, vi algumas figuras — Tem alguém ali.
— Tomei a liberdade de pedir para trazerem meus filhos.
Eram aqueles que causaram uma cena no distrito dos doces, bem não me importava, desde que me deixassem em paz. O local era muito mais interessante, joguei o capuz na cabeça e não esperei permissão para descer.
Estar vigiada a todo momento ou ter alguém perto estava começando a me irritar, então ainda sem esperar uma pausa eu me lancei pela porta caindo no meio de alguns corais. Ouvi de longe gritarem por mim, mas queria algum tempo sozinha.
A luz que vinha das raízes iluminava o local de uma forma diferente e a quantidade de cores ali era deslumbrante. — Fique por perto Gallie não sabemos o que vamos encontrar.
O que imaginei não chegava nem perto da beleza de verdade da floresta, tinha um certo encanto que parecia ser reservado apenas para contos de fadas. Claro que as árvores não eram exatamente árvores, mas ainda assim se erguia até onde não conseguia mais ver.
— Se dividam! Continuaremos procurando.
A voz soou perto de mim, ainda não queria voltar então me coloquei a correr dentro daquela fauna para qualquer direção, aquele movimento pareceu chamar atenção, pois ouvi alguém me seguindo de perto. Alguém insistente.
Enquanto minhas pernas me conduziam a um lugar desconhecido, reparei numa área clara que não tinha árvores. Era uma clareira aberta com alguns poucos corais coloridos no chão, no canto da minha visão reparei numa pedra quadrada que ficava bem no meio, gradualmente diminuí o passo e quando reparei estava seguindo na direção daquela coisa.
Havia poucas situações em que Shanks me impedia de participar das conversas dentro do Red Force, uma delas sendo sobre o One Piece e a sua verdadeira motivação. Em certos casos eu ouvi conversas entre os executivos sobre cartas deixadas para trás, mensagens esculpidas em pedras que ganharam o nome de "poneglifos". Nunca nos anos em que passei navegando com os piratas do ruivo cheguei a encontrar com uma dessas pedras.
Andei devagar para o centro da clareira, era enorme de fato, uma pedra azulada com escritos que não podia ler, mas mesmo assim não consegui tirar os olhos daquelas linhas desenhadas. Quanto mais olhava mais passava a sensação de que estavam vivas e nesse momento, senti meus olhos lacrimejarem e não por emoção, porquê parecia arder.
Passei a mão sobre as pálpebras fechadas lágrimas escorrendo por conta do incômodo, poderia ser pela visão embaçada, mas as letras esculpidas na pedra pareceram se mover por um instante e se reorganizarem para eu conseguir desvendar seus escritos.
— Você não pode vir aqui! Espere, está chorando?
Pisquei algumas vezes para ver um borrão azul atrás de mim — Não, meus olhos estão ardendo.
No fim mesmo a contragosto tive que acompanhar o príncipe Fukaboshi de volta, meus olhos pararam de lacrimejar conforme me afastava da pedra, seria algo no ar da clareira?
O tritão me acompanhava de perto, até perto demais para meu gosto, e casualmente me olhava de canto de olho quando pensava que eu não estava percebendo.
— Se quer me perguntar algo, faça logo.
Minha fala pareceu o pegar de surpresa, já que seus ombros se levantaram num susto enquanto seu rosto ficou vermelho.
— Hum? Eu... Quero dizer — ele pareceu se enroscar nas próprias palavras — Em nome do reino agradeço pelos serviços prestados durante o resgate das sereias.
Tinha certeza que não tinha nada a ver com o que ele queria falar antes, mas não prolonguei o assunto — Não foi nada, só fiz o que gostaria que fizessem por mim.
— Por que alguém te sequestraria?
Fukaboshi ainda parecia interessado, e no momento não julguei que seria um problema compartilhar algo a mais com o príncipe, ainda mais que ele parecia interessado. Respirei fundo e parei de andar.
— Assim como vocês têm tipos diferentes de tritões e sereias aqui em baixo o mesmo acontece com os humanos da superfície. — ergui a minha mão deixando que o calor fluísse para minha palma, as pontas dos meus dedos ganharam uma cor vermelha enquanto o resto até a altura do pulso estava praticamente branco.
— Sempre existe medo e interesse nas coisas que não conhecemos — disse — Isso é uma regra no céu, na terra e no ar. Quem fica no poder decide qual precisa ser erradicada ou... Controlada.
— Eu não deveria falar esse tipo de coisa para ninguém, então espero que mantenha esse segredo entre nós dois.
— Um segredo... Entre nós? — num movimento ele se virou de costas.
Aquele príncipe era tão estranho, Gallie pulou do meu ombro em direção ao tritão e começou a atacar. Revirei os olhos e saí da floresta para encontrar Nerissa e as outras sereias, mas tinha uma figura ali que eu não conhecia, na verdade, parecia uma criança sereia. Mas era grande, bem grande.
— Chega Gallie — chamei a harpia — Aproveite para voar.
Sentei-me perto delas enquanto a ave parava de bicar Fukaboshi e aproveitava o espaço que tinha ali. Cruzei os braços e respirei fundo.
— Parece chateada [Nome] — Nerissa ficou atrás de mim, tomando um momento para mexer nos meus cabelos — Não era o que esperava?
— Não é isso, estou pensando. Quem é você? — perguntei para sereia criança.
— Nossa irmãzinha — os outros dois príncipes disseram — Princesa Shirahoshi la-si-do.
Era uma sereia um tanto quanto... Estranha, todas as que conheci até agora pareciam estar bem certas de seus pensamentos, entretanto ela ali tinha uma expressão de como se pudesse começar a chorar a qualquer momento. Seus olhos se mantinham em Gallie que estava voando alegremente.
Soltei o ar pela boca — Nerissa sabe se meu pai chegou a vir até aqui?
— Acredito que não — ela continuava a mexer nos meus cabelos — Por que pergunta?
— Curiosidade.
Enquanto isso Madame Shyarly mantinha os olhos fixos em mim, de uma maneira curiosa. Ela não falara muito e parecia estar por perto mais para nos observar que qualquer outra coisa, às vezes era difícil entender suas ações.
— Eu posso ir até o cemitério de navios?
— Não acredito que seja seguro — Nerissa respondeu.
— Fukaboshi, Ryuboshi, Manboshi acompanhem [Nome] até lá — a rainha interviu — Não deve ter grandes problemas dessa maneira.
Era melhor que nada, me levantei e parti na direção dos naufrágios acompanhada dos três tritões. O que não sabia, é que atrás de mim eu era o assunto.
***
Shyarly respirou fundo encarando as costas da criança humana enquanto ela se afastava acompanhada dos três príncipes. Também a seguindo com os olhos, Nerissa tinha uma feição preocupada — Você se apegou a humana, não é?
— Ela tem os olhos dele.
Foi tudo que respondeu, Shyarly a conhecia a muito mais tempo do que as jovens que trabalhavam no café e poderia dizer até que era sua melhor amiga, embora fosse alguns anos mais velha do que si mesma.
Sabia que um dia ela fora apaixonada por um humano, um dos motivos por nunca ter tido interesse em machos da ilha.
— [Nome] tem uma presença diferente — Shyaly resolveu compartilhar — Eu não consigo explicar, mas me deixa... Receosa.
— Por isso você insistiu em acompanhar?
Assentiu com a cabeça ao questionamento da sereia e continuou — Não consigo distinguir se é uma coisa boa ou ruim.
— Então, teremos que continuar observando.
N/A: Obrigada por ler até aqui! Xx
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