Eu não fazia ideia de como era a comida de Banshee, mas acredito que a tripulação se encontrava em estado de calamidade, visto que alguns deles quase choraram quando fiz a primeira refeição. A sereia se mostrou ser alguém muito simpática, apesar de eu ainda ser apenas a desconhecida, eventualmente nos tornamos colegas de cabine.

- Não sou tão desconfiada quanto Mestre Deuce - ela disse os cabelos cheios e ondulados se curvando para frente -, mas gostaria de saber porque tem uma lágrima do mar no pescoço. Essa joia já é rara na Ilha dos Tritões, simplesmente não aparece na superfície.

Olhei para o colo onde o colar que Nerissa me deu brilhava, segurei a pedra na mão e coloquei para dentro das minhas vestes - Foi um presente, de uma boa amiga.

Senti os olhos da sereia caírem sob mim, analisando meus movimentos - Não sei porque você fica de capa, se percebeu algo sobre a tripulação é que não existe preconceito, somos muitos e de todas as raças.

- Minha capa é para proteger vocês, não o contrário - puxei o capuz sobre o rosto e pisei num caixote para subir na parte de cima da cama da cabine que dividimos. - Pode passar a palavra para frente, aposto que Masked te pediu para ficar de olho em mim. Mas realmente só preciso de uma carona.

Gallie estava empoleirada na madeira, piou como se estivesse concordando.

- Se é o que você diz - ela andou em direção à porta e então a fechou em seguida.

Encarei o teto de madeira, escutando as ondas baterem na lateral do navio. Uma semana se passou num piscar de olhos, o navio conseguiu entrar na Grand Line sem precisar passar pela montanha reversa, normalmente ficariam presos no Calm Belt, mas graças a um mecanismo preso ao navio isso não aconteceu. O tritão e a sereia também foram de grande ajuda em relação aos reis dos mares que apareceram no caminho. Contudo, nenhum deles era pário para Ace e seu poder.

Logo no primeiro dia, soube que ele havia comido uma akuma no mi. Afinal, não é qualquer pessoa que coloca fogo no próprio navio sem querer. Por um momento achei que ele também era um Solerian, mas suas chamas eram de uma cor diferente das minhas e pareciam ser a própria composição do seu corpo, enquanto as minhas parecem ficar guardadas nas veias.

Mera Mera no Mi, a fruta da chama. Era similar ao meu poder, mas ainda assim muito diferente.

Cruzei os braços atrás da cabeça, apesar de treinar dois anos com Ray grande parte das minhas habilidades eram desconhecidas. Mais do que ficar dependendo da chama da minha raça, escolhi lutar com minha própria força. Mira, agilidade com a lâmina, haki, o fogo branco de pontas vermelhas era um complemento que devia ser usado apenas em situações de risco.

Os anos parecem que calaram os boatos da criança com olhos de ouro da tripulação do ruivo, mas sabendo que o Governo e principalmente os Tenryuubitos nunca esqueceriam disso, ainda precisava tomar cuidado. Os olhos que me fazem ver, também são minha prisão.

Minha tripulação me protegeria do que fosse necessário, esse bando de desconhecidos provavelmente me deixariam para trás num único instante. Principalmente se falando de Deuce. Esse cara realmente me odeia, não que eu goste muito dele também, diria que estamos nos suportando. Por enquanto estou na zona neutra, pronta para cair em seu lado ruim a qualquer instante.

Pelo que observei, o mascarado, Skull, o colecionador e vendedor de informações e o professor Mihal, eram o que podemos chamar de comandantes. Toda a tripulação escuta o que eles falam com atenção, e dependendo suas decisões são tão importantes quanto as do capitão. Ace por conta da sua natureza acabava atraindo pessoas do tipo lutadora, mas esses três que eram a cabeça por trás da tripulação. E que bom, Ace apesar de parecer alguém de bom coração, pensava mais com a barriga do que com a cabeça de verdade.

Enquanto fazendo um resumo dos meus primeiros dias com os piratas Spades, escutei uma comoção vindo do lado de fora. Quando levantei a cabeça e olhei pela janela que havia na cabine, vi outro navio se emparelhando com Piece of Spadille.

Num salto pulei da cama chamando a ave.

Gallie fez um barulho em resposta e então se agarrou nas minhas vestes enquanto eu corria para o convés. Quando cheguei lá havia uma embarcação do lado do navio e seus tripulantes saltavam para o convés com armas erguidas. O número era incrivelmente superior as 20 pessoas da tripulação de Ace, bem, 21 contando comigo que sou apenas uma passageira.

Tirei a lâmina benihime das costas a girando imediatamente na direção de um invasor, um talho foi aberto em suas costas e nesse mesmo movimento puxei a arma que ele tinha na cintura disparando em outro cara que estava prestes a pegar um dos membros da tripulação pelas costas. Senti alguém se aproximando pela minha lateral, mas antes que pudesse fazer algo Gallie deu um vôo rasante cravando as garras em seu rosto, desesperado com a dor o indivíduo abaixou completamente suas defesas sendo chutado para fora do navio logo sem seguida.

Tomei um momento para olhar do outro lado, onde Ace parecia estar lidando com talvez 10 deles de uma vez. Seu fogo de centro vermelho mesclado com pontas alaranjadas passou cruzando uma parte do convés, jogando os invasores no mar. Seus punhos estavam fechados completamente envolvidos em chamas, justificando o nome recebido da Marinha.

Punhos de Fogo.

Seu estilo de luta era de alguma forma fascinante, as chamas frenéticas e o controle preciso, brilhavam e destacava a precisão de seus movimentos, evitando acertar qualquer um de sua tripulação por acidente.

Um grupo pareceu notar a minha presença singela no canto, e entendendo ser um alvo fácil se juntaram para me atacar. Finquei os pés no chão mantendo o equilíbrio e então defendi seus ataques tirando pelo menos três do grupo da minha cola com um único golpe. Gallie havia se transformado e estava fazendo algum tipo de limpeza aérea, pois pegava os alvos no navio, se erguia aos céus e então os soltava.

Desviei de um ataque e escutei um tiro ser disparado, um dos homens atrás de mim fora acertado no braço que imediatamente fez com que sua arma caísse.

- Não se descuide - a voz disse, distante como um fantasma. Tentei localizar de onde ela veio, mas não consegui. Só poderia ser Mihal, o professor. Pelo que soube ele quase nunca deixa a sua cabine, devo ter visto ele uma ou duas vezes enquanto trabalhando na cozinha. O homem era o vigilante do navio e confirmando sua lenda, ele podia acertar tiros de mira perfeita de qualquer lugar.

Aproveitei a janela de tempo e me livrei de outros dois, restando apenas um.

Claramente ele era diferente, seus movimentos eram mais polidos e a espada em sua mão cortava o ar em silêncio, a força também era superior daqueles que encontrei anteriormente. Contudo, ninguém se comparava com Rayleigh.

Deixei um chute que o fez voar batendo na lateral do navio.

- Sua vadia - a feição distorcida com dor cuspiu na minha direção, a lâmina da sua espada fincou na madeira servindo de apoio para levantar -, você não estava na relação de integrantes. Quem é você?

- Agora, sua assassina - avancei rapidamente em sua direção, a espada não aguentou o choque e voou em direção ao mar, o segurei pelo pescoço o levantando. Foi então que uma brisa soprou contrária a mim, jogando o capuz para trás.

Seu rosto se distorceu, uma máscara de surpresa se fez presente, mas antes que ele pudesse falar qualquer coisa benihime roubou o brilho dos seus olhos. Seu corpo também foi jogado ao mar, meus olhos cor de ouro sendo a última imagem antes de sua morte.

Ajeitei o pano sobre o rosto - Essa foi por pouco.

- Essa sua lâmina é bonita, parece rara.

Me virei para dar de frente com Skull, ele mirava a wakizashi intensamente. Como se fosse mais um item para sua coleção. Limpei a lâmina num dos corpos caídos próximos e então a guardei bem longe de seus olhos.

- Se é rara, não sei, sei que faz seu papel em cortar - respondi com uma frase curta.

O colecionador pareceu resmungar para si e então deu uma risada saindo de lado para se encontrar com Deuce e Ace no centro do convés. Gallie empoleirada na lateral, indicou o corpo caído e então com poucos segundos o joguei para o mar, se houvesse reis dos mares por ali com certeza serviria de lanche.

- Ouça! Pegue seus amigos caídos e saiam deste navio! - gritou para os vivos que ainda estavam espalhados no convés. Aqueles sãos pareceram ser afetados pelas palavras do capitão e também pelo rugido que veio do enorme felino ao seu lado.

Kotatsu, um lince gigante, assim como Gallie uma espécie rara. Geralmente ele ficava perto de Ace, mas nos dias mais recentes tive o felino de companhia nos momentos de descanso. Parece que mesmo sem usar meu poder ele parecia se atrair pelo calor das chamas brancas.

O navio de recompensas se afastou, sem os saqueadores o navio voltou a ficar silencioso, até deprimente. Como se toda a vida tivesse desaparecido e o ataque nunca tivesse acontecido. Foi então que o capitão bradou com um sorriso.

- Tudo bem, pessoal, vamos dar uma festa!

Naquele mar calmo e silencioso, seu grito ecoou, palavras e exclamações de alegria foram ouvidas da tripulação enquanto corriam para pegar bebidas e carnes. Não tinha porque eu me juntar a eles, era só uma carona, mas pelas lembranças que a situação trazia me permiti abaixar algumas barreiras e aproveitar.

Ao menos até o próximo ataque.

N/A: Que surpresa ein!! Lembrando aqui que estou seguindo a novel (escrita) do Ace para essa parte. Todos esses personagens são de lá também, vale a pena dar uma olhada na página do One Piece Wiki para se familiarizar.

Vou tentar manter nesses mencionados hoje, Mihal, Skull, Masked Deuce, Banshee, e o Kotatsu.

Obrigada por ler até aqui!!

Até a próxima, Xx!