bônus: azedo e doce

Eles me disseram que todas as minhas jaulas eram mentais
Então eu me perdi, assim como todo o meu potencial
E minhas palavras atiram para matar quando estou bravo
Eu me arrependo bastante disso

(This is me trying - Taylor Swift)

Taehyung voltou ao bar, sentou-se na frente da garota bonita que ficou preocupada com o sangue que escorria do seu lábio. Ele não disse nada, apenas continuou naquela mesma posição com uma expressão de quem não estava naquele mundo. O garçom colocou um copo com uma bebida azulada na sua frente e ele a encarou como se todas as respostas para as perguntas que vagavam pela sua mente estivesse ali. A garota dizia alguma coisa, mas ele não conseguia ouvir, somente o som seco do seu coração que batia em um ritmo irritantemente acelerado.

O rapaz suspirou cansado. Não teria energias para garotas iludidas, assuntos desnecessários, e toques supérfluos. Não quando sua mente estava em outro lugar, não quando seu coração batia de modo acelerado desde que viu um homem de jaqueta de couro caminhar na sua direção com um olhar mortal. Taehyung puxou algumas cédulas da carteira e jogou-as sobre a mesa antes de se levantar, pronto para ir embora.

— Desculpe, não estou mais no clima. — disse para a garota que não lembrava o nome. Ela adquiriu uma expressão chateada, mas parecia estranhamente compreensiva com o estado do rapaz. Talvez por ele ter sido arrastado por um cara bêbado e voltado com um corte na boca.

— Podemos nos encontrar novamente?

Taehyung a encarou e suspirou ao dar de ombros. Não sei, queria dizer. Tanto faz, ele não se importava com nada além de um par de olhos felinos e raivosos. Por isso apenas deu as costas a ela, e saiu do bar. Queria ir embora, para o conforto do seu edredom quentinho e suas playlists tristes.

No entanto, ele estancou no lugar assim que passou pela porta e reconheceu o homem sentado no meio fio. Sentiu uma facada no peito ao vê-lo naquele estado, pois sabia que era por sua causa. Yoongi tinha os cotovelos apoiados nos joelhos, a cabeça baixa, o cabelo cobrindo parcialmente o rosto e olhos fechados. Ele chorava como uma criança e Taehyung quis correr até ele, quis abraçá-lo e dizer que não havia motivos para chorar tanto.

Mas... havia sim. Era ele. Taehyung era o motivo de tanto choro, tanta decepção. Com seu jeito doce, como uma bala envolta em um plástico bonito, chamativo. Ele era doce, mas depois azedo. Azedo, depois açucarado. Taehyung Kim nunca se limitava ao que os olhos viam ou ouvidos curiosos ouviam. No entanto, isso podia ser até fatal. Homens bons poderiam se decepcionar com o seu lado azedo, se iludir com sua doçura e viciar em sua receita secreta. Taehyung normalmente não se importava com isso, sorria ao ver corações em pedaços e se deliciava com o sofrimento alheio. Mas, assistir Yoongi naquele estado despertou sentimentos reprimidos em seu peito, sentimentos que ele negaria até em seu leito de morte.

Ele não se daria ao luxo de sentir, não seria tão fraco.

Observou Yoongi entrar em um táxi com dificuldade, dizendo para si mesmo que não se importava com ele, e que a vontade insana de ajudá-lo naquele momento tão deplorável era por pura piedade. Ele viu o carro amarelo sumir pela avenida, desejou que o músico chegasse em segurança, enquanto se convencia que era por consideração e não afeição exagerada. Caminhou até o seu apartamento com confiança, mas na verdade sua mente vagava por entre os prédios e seus pensamentos se perdiam com os ratos correndo em becos. Passou pela porta, ficou encarando um vaso de uma planta estranha na entrada e quis voltar, refazer seu caminho e correr até o homem de jaqueta de couro e olhos inundados. Ao invés disso, apenas suspirou e começou andar pela sala, sentindo o aroma suave de lavanda da vela aromática que queimava na mesinha perto da janela.

Teve um déjà vu, que o fez estancar no meio do caminho até o seu quarto. Aquele cheiro lembrava o shampoo de Yoongi, fragrância que ele sentia todas as manhãs na semana em Paris e que tinha sempre um efeito tranquilizante melhor que a vela. Se lembrou daqueles fios macios enroscados nos seus dedos, espalhados pelo travesseiro, e o sorriso doce matinal. Seu peito doeu e o ar começou a ficar arenoso enquanto ele caminhava lentamente até a mesinha, a caminho da chama que dançava suavemente como se pudesse sentir suas emoções e se divertisse disso.

— Hyunie? — Namjoon exclamou preocupado. Taehyung o encarou, com olhos nublados e pensamentos embaralhados, vendo o amigo fechar o livro que lia antes com suavidade. — Tudo bem? — inquiriu cauteloso, ajeitou os óculos e franziu o cenho.

Taehyung voltou a fitar a vela, sentindo a boca secar e sua visão embaçar. O que estava havendo? Ele iria chorar? Não. Ele não se importava com Yoongi, não sentia falta do cheiro do seu shampoo, não queria vê-lo de novo. Estava bem assim, voltaria a sua vida normalmente, dali alguns dias receberia a visita da princesa e seu país enlouqueceria. Seu pai o veria, teria orgulho de dizer que o rapaz era seu filho. Taehyung deu um passo para trás, precisava se afastar daquela vela, dos sentimentos que lhe atormentavam, da lembrança dos toques suaves de Yoongi e seus lábios adocicados.

— Taehyung? — seu colega de apartamento exclamou, um tom mais alto e com uma preocupação elevada. O rapaz lhe encarou, confuso, atordoado, enquanto Namjoon tinha uma expressão chocada e alarmada já de pé na sua frente. — O que aconteceu?

— Q-Que? — só então Taehyung notou que havia lágrimas no seu rosto. Ele passou as mãos pelas bochechas, com uma expressão confusa. Seu amigo lhe encarava como se ele fosse uma bomba relógio. — Não foi nada... Eu estou bem.

— Hyunie, você está chorando! — Namjoon constatou o óbvio, ao segurá-lo pelos ombros. Taehyung evitou contato visual, sabia o quanto seu amigo era perspicaz. — Como não foi nada? Olhe para mim e repita que está bem.

Namjoon Kim era o irmão mais velho que Taehyung nunca teve, mas também agia como um pai super protetor e carinhoso às vezes. O londrino era grato pela existência maravilhosa do amigo, mas naquele momento queria atirá-lo pela janela. Ele suspirou, encarou Namjoon com a velocidade de uma tartaruga e sentiu todas as suas armaduras caírem por terra ao encontrar um par de olhos castanhos gentis e amáveis na sua direção. Podia mentir para o seu país, para Yoongi, para si mesmo, mas jamais seria capaz de ir contra aquele olhar afetuoso e preferir alguma mentira suja e barata. Por isso sentiu as lágrimas vindo novamente, descendo dos seus olhos como cachoeiras violentas. Seu peito doía, Namjoon lhe encarava com preocupação e carinho.

— Eu sou um idiota, Namjoon. — foi tudo o que disse com a voz embargada, antes de começar a chorar copiosamente e o amigo embalá-lo em um abraço de urso. 


N/A: senta que lá vem textão. esse capitulo foi curtinho, apenas para dar um gostinho do que se passa na cabecinha do menino tae. quero aproveitar para dizer que vocês já devem ter percebido que Volúvel, apesar de ser escrita em terceira pessoa, é focada na visão de um único personagem; o Yoongi. portanto, tudo o que vocês vêem é apenas o que o guinho vê, okay? e eu pretendo continuar essa linha, sem intercalar muitos pontos de vistas, pois assim a narrativa não ficará tão extensa e cansativa. 

no planejamento, há um unico capítulo (não me recordo o número agora) que é narrado pelo ponto de vista do tae, mas isso é por um motivo especifico (que logicamente não posso falar) e isso está no roteiro desde sempre. entretanto, essa coisinha que vocês acabaram de ler, foi algo espontaneo, que surgiu para mim numa tarde de domingo após ouvir a musica da midia (por sinal, escutem!). e mesmo não estando no planejamento, mesmo que isso foi o meu lindo taehyung que ama sair do roteiro todo santo dia, eu gostei. acho que ficou bastante condinzente com a trama e o atual curso da história.

sabe por que? porque eu deixei algumas pessoas confusas e divididas sobre odiar pouco ou muito o tae. acertei?

se não, me diga, o que sentiu após conhecer um pouquinho do meu menino? foi o mesmo sentimento do capítulo anterior? me conte, estou curiosa.

por hoje é só, beijinhos de morango e até sabádo que vem!

~ vick

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