26. uma chama, que dançava perigosamente em meio ao caos.
E eu estava recuperando o fôlego
O piso da cabana rangendo
Sob meus pés
E eu não tinha certeza
Eu tive uma sensação tão peculiar
De que essa dor não iria durar para sempre
(evermore - Taylor Swift)
♡
— Eu não deveria estar aqui. — Yoongi murmurou, assim que passaram pela porta do apartamento.
Taehyung encarou-o, não desfazendo o enlace dos seus dedos e sorriu.
— Que bom que está, então.
O músico lhe lançou um olhar cético, mas havia certa suavidade em suas expressões. Ele queria estar ali, ele sentia-se confortável em sua presença. Taehyung quase soltou um suspiro aliviado ao constatar isso. Eles haviam se beijado em um ato de coragem num espaço público, e agora Yoongi estava em sua casa, com os dedos entrelaçados nos seus.
Eram muito corajosos ou muito loucos?
Taehyung não conseguia decidir, mas contentava-se com a presença suave de Yoongi ao seu lado. Caminharam pela sala como adolescentes descobrindo um mundo novo. O sorriso de Taehyung era sincero, e os olhos de Yoongi eram a obra de arte mais linda que já viu, por isso não era capaz de desviar o foco para outro lugar além deles.
— E o Joon? — ele questionou, com certa dificuldade.
— Foi passar a noite com Jin. — o rapaz finalmente afastou-se do toque das mãos ásperas de Yoongi, sentindo falta delas no mesmo instante. — Fique a vontade, eu já volto.
Taehyung foi até a cozinha, procurando alguma bebida para acompanhá-los naquela noite e encontrou apenas um vinho rosé de Namjoon. Ele não iria se importar se pegasse emprestado, certo? Iria comprar outra garrafa depois, pensou enquanto pegava duas taças no armário. Na verdade, com o humor que estava, compraria uma vinícola inteira para o amigo se ele quisesse.
Yoongi estava sentado no sofá quando retornou a sala. Com os olhos fixos na janela à sua frente, parecia ver bem mais que um céu sem estrelas. Taehyung permaneceu parado na porta, não denunciando sua chegada e permitiu-se admirar aquele homem tão bonito. O moletom escuro contrastava com a pele leitosa, o cabelo longo caído no rosto como uma cachoeira, os olhos castanhos, as mãos fortes e o perfume.
A fragrância cítrica dançava pelo ambiente com suavidade, trazendo a Taehyung uma ligeira sensação de estar de volta ao lar depois de uma Grande Guerra. Observar Yoongi em seu sofá era algo extremamente único, pois jamais imaginou que um dia teria a oportunidade de visualizar essa cena. Se recordou brevemente dos momentos escuros da sua vida, da fatalidade que levou sua mãe, do medo de rejeição constante, dos gritos e choro, das brigas com seus amigos, dos pesadelos. Houve um tempo que teve uma sensação peculiar que essa dor jamais teria fim, mas ali, encarando Yoongi na sua sala, teve a impressão de que estava sendo ingênuo demais.
Pois as memórias ruins ainda existiam, suas cicatrizes ainda doíam como feridas recentes, mas havia também em si uma chama, que dançava perigosamente em meio ao caos. Uma esperança de recomeços, um sentimento novo que não sabia nomear, mas que era demasiadamente bom. Fazia-o suspirar em deleite a cada segundo, sorrir abobalhado e ter o coração disparado por toques e beijos de um homem extremamente bonito.
E este homem em particular, dono dos olhos mais lindos de toda a América, finalmente notou-o parado no batente da porta e soltou uma espécie de risinho, parecendo bem mais relaxado que quando entraram no apartamento. Taehyung sorriu envergonhado, caminhando na sua direção, sentindo que essa era definitivamente sua atividade favorita da vida.
— O que fazia parado ali? — o anjo em forma humana perguntou, em um tom curioso e divertido.
Taehyung depositou as taças na mesinha de centro, ocupado na tarefa de servi-los da bebida barata de Namjoon.
— Pensando no quanto você é bonito. — as palavras escaparam com tanta naturalidade dos seus lábios, que até mesmo ele se surpreendeu com isso.
— É sempre tão direto assim?
Taehyung sorriu presunçoso ao segurar as taças com o líquido rosado e ocupou o lugar ao lado de Yoongi, ao mesmo tempo que lhe ofereceu uma das bebidas.
— Você sabe que sim. — ele piscou um olho, divertindo-se com o fato de que o músico adquiriu um tom rubro nas bochechas. — Mas concordo que ultimamente tenho sido mais, culpe Hoseok, meu terapeuta.
Taehyung sorveu um pouco da bebida adocicada da taça, não deixando de notar o olhar analítico de Yoongi sobre si, que parecia tentar desvendá-lo a cada frase.
— Você parece... diferente.
— Isso é bom?
Yoongi demorou a responder, com o olhar perdido nos olhos alheios. Taehyung sorriu em resposta, não sabia o que dizer, mas tinha uma enorme vontade de sorrir o tempo inteiro para aquele homem.
— Eu acho que sim? — sua resposta pareceu mais uma pergunta e Taehyung sorriu novamente. — Você parece mais... leve. Então acho que isso é realmente bom.
— Obrigado? — Taehyung imitou o tom de Yoongi e isso arrancou um pequeno sorriso dele. — Eu me sinto bem, Yoongi. Só não tanto quanto quando você me beijou no parque.
Yoongi corou novamente e Taehyung sentiu uma insana vontade de pular em seus braços e beijá-lo até que ele perdesse o fôlego. Como conseguia ser tão adorável? O músico finalmente sorveu o líquido da sua taça e evitou contato visual com Taehyung.
— Posso te fazer uma pergunta? — o tom neutro de Yoongi lhe surpreendeu, fazendo-o franzir o cenho.
— Claro.
— Naquele dia no Queens... Tony disse que você chorou me vendo cantar. Por quê?
Taehyung suspirou, recordando-se dos sentimentos que lhe assolavam naquela tarde. Jamais se esqueceria da magia que sentiu ao escutar a voz de Yoongi pela primeira vez, ainda mais aquela música, em um dia tão oportuno.
— Era aniversário da minha mãe. — confessou com dificuldade, sentindo a garganta áspera. — Eu nunca tinha ouvido nenhuma música sua, mas o Tony insistiu tanto...
— Tae — Yoongi chamou com suavidade, trazendo o rapaz de volta à realidade. O músico depositou a taça na mesinha e se aproximou calmamente dele com um olhar amável. Era tão óbvio assim sua dor? Talvez Taehyung estivesse com o coração na manga. — Tudo bem se não quiser falar sobre isso.
Taehyung negou, abandonando sua taça na mesa também. Fazia algum tempo que não falava da mulher que lhe deu a vida, e sentia que precisava daquilo, queria compartilhar aquele fato sobre a sua vida com Yoongi.
— Tudo bem, eu quero. — ele respirou fundo, cruzando os dedos no colo e recordando-se lentamente do dia em questão. — Dia de Primavera me lembrou a minha mãe, não só por ser a estação favorita dela, mas... por todo o sentimento que ela carrega, toda a... saudade. Eu... acho que nunca disse isso, mas é uma música linda, Yoongi.
— Taehyung... — Yoongi murmurou, amável. Taehyung sentiu um toque delicado nas suas mãos e permitiu entrelaçar seus dedos novamente. — Obrigado, de verdade. Fico feliz que minha música tenha te tocado dessa forma.
Taehyung encarou aquele rosto angelical, se perdendo nos lábios rosados e se encontrando em cada estrela presente no olhar castanho dele. Um sorriso triste escapou dele ao constatar o quão perdidamente apaixonado estava por aquele homem com olhos de gatinho.
— Acho que ela teria gostado de você.
— É mesmo? E por quê?
— Sei lá, Yoongi. — soltou um risinho, deixando uma carícia tímida no dorso da mão alheia. — É bem fácil se encantar por você, só por isso.
— Você é muito exagerado, Taehyung Kim.
— Apaixonado, você quis dizer.
Yoongi riu, desacreditado. Taehyung estava começando a crer que estava fazendo papel de bobo na frente daquele homem, mas a ideia não lhe causou tanto desconforto. Seria um bobalhão todos os dias se isso significasse arrancar aqueles sorrisos sinceros de Yoongi.
— Quer me contar o que aconteceu? — o músico inquiriu, com cautela. Taehyung franziu o cenho, confuso. — Com a sua mãe. Mas apenas você se sentir confortável.
Taehyung assentiu, se demorando na resposta. Não gostava de lembrar daquela noite, ainda tinha pesadelos em noites tempestuosas e perdia o sono se culpando. Mesmo que Hoseok tenha garantido que não foi sua culpa, que fatalidades acontecem o tempo todo e ninguém tem o poder de controlá-las. Respirou fundo. Se havia conseguido falar sobre aquela noite com seu terapeuta, conseguiria com Yoongi.
— Acidente de carro, eu tinha seis anos e estava junto com ela. Eu me lembro de tudo, Yoongi...— ele começou, mas sentiu a visão embaçar no mesmo instante. A garganta doeu, sentia que estava engolindo uma colher de areia. — Chovia muito, a pista estava molhada...
— Ah, Taehyung... — Yoongi não disse mais nada, apenas puxou-o para um abraço apertado e o rapaz sentiu todas as suas muralhas caírem por terra.
O perfume de Yoongi era reconfortante, os braços, as mãos dele eram a perfeita definição de paz. Então, Taehyung chorou, assim como fez no consultório do doutor Jung, ele desabou toda a sua dor em lágrimas e pediu silenciosamente para que um dia conseguisse falar o nome Naya Hall sem sentir o mundo ao seu redor sucumbir.
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