24. um sentimento além de compaixão daquele homem

Voltar ao passado lentamente

Faça parecer melhor, sim, faça durar para sempre

Não diga que está tudo bem

Disse que estou bem, disse que ficarei bem

Desculpe, é uma mentira, não vá embora

Não vá para lá longe

(Love me again - V)


A primeira coisa que Taehyung viu assim que abriu os olhos foi um buquê de girassóis. Ficou um tempo encarando as flores, sentindo algo nascer em seu peito. Haviam poucas pessoas que sabiam sobre sua paixão por aquela espécie, mas duvidava que seus amigos lhe comprariam flores algum dia. Não era do feitio de nenhum, nem mesmo de Namjoon. Então quem havia deixado aquele buquê ali? Olhou ao redor, constatando que não estava em seu quarto, mas sim em um quarto de hospital. Namjoon dormia em uma posição nada confortável na poltrona ao lado da janela e havia um leve aroma de lavanda no ar, que o fez suspirar.

Forçou-se a tentar lembrar do que havia acontecido, em como havia parado ali, mas quanto mais tentava, mais sua cabeça doía. Sentou-se na cama, esforçando-se ao máximo para não acordar o rapaz na poltrona. A noite passada era como um borrão, não se recordava de nada com clareza. Suas lembranças eram como fragmentos de uma louça quebrada, nada fazia muito sentido, e quando tentava juntar os pedaços, nada se encaixava.

— Como se sente? — uma voz soou, assustando-o. Estava tão focado em tentar se lembrar da noite passada, que nem mesmo notou Jin entrando no quarto. Ele segurava um copo de café e sentou-se na beirada da cama, olhando com carinho.

Taehyung sentiu um déjà vu. Já havia vivido aquele momento?

— Minha cabeça dói como um inferno. — respondeu, espalmando a mão na testa. — O que aconteceu? Como eu vim parar aqui?

— Você não se lembra de nada? — Jin parecia surpreso, e ainda mais preocupado. Taehyung o encarou confuso e negou.

— Eu me lembro de estar na festa do Queens, de sentir tédio porque estava sozinho e... apareceu um homem gentil que me ofereceu uma taça de champanhe. Depois disso tudo é tão confuso... acho que misturei a realidade com um sonho.

— Um sonho?

— É... — Taehyung encarou as flores na mesinha ao lado e franziu o cenho, se recordando de todos os fragmentos sem lógica espalhados pela sua mente. — Tinha fadas, o gato Cheshire e o... Yoongi. — ele soltou um risinho descrente e voltou a encarar o amigo. — Só pode ter sido um sonho, né?

— Hyunie...

Jin teve sua fala cortada por Namjoon, que praticamente pulou no pescoço de Taehyung em um abraço de urso. O rapaz sorriu sem jeito, retribuindo a demonstração de afeto do amigo. Independente do que havia acontecido, sabia o quanto Joon deveria ter ficado preocupado.

— Nunca mais faça isso, seu idiota! — o rapaz exclamou, com a voz abafada. — Sabe o quanto eu surtei quando o Yoongi me ligou no meio da noite e disse que você estava num hospital?

Taehyung sentiu seu sorriso morrer, seu coração falhou algumas batidas e se afastou de Namjoon com suavidade.

— O que?

Namjoon não pareceu notar suas reações e muito menos notou o que havia falado, continuou seu sermão, ignorando as dúvidas de Taehyung.

— Você não sabe que não deve aceitar bebidas de estranhos? Se o Yoongi não estivesse lá... — Namjoon passou os dedos pelo cabelo de maneira nervosa, enquanto Taehyung o fitava com o cenho franzido. Yoongi? Bebidas? Yoongi estava naquela festa? — Não quero nem pensar!

— Jin, do que ele tá falando? — Taehyung encarou o amigo, esperando por respostas para todas as perguntas que pipocavam na sua mente. Jin suspirou, abandonando o copo na mesinha ao lado dos girassóis.

— Amor, ele disse que não se lembra de nada.

— Ah... — Namjoon exclamou, parecia desconcertado. — O médico disse que isso provavelmente aconteceria. Eu me esqueci.

— Será que vocês podem me contar o que aconteceu? — os dois pares de olhos encararam Taehyung com certa indecisão, ele bufou. — O que o Yoongi tem a ver comigo em um hospital?

E então, Jin contou. Sobre a ligação de Yoongi no meio da noite, e o fato de que ele o salvou de um possível maníaco abusador. Taehyung escutou cada palavra em silêncio, ainda não se recordando de nada que aconteceu na noite anterior, mas tendo a certeza de uma coisa: Yoongi estava mesmo lá. Sua mente não havia lhe pregado peças, ele estava presente na noite anterior. Se lembrava de sentir o cheiro doce do seu shampoo, assim como o aroma cítrico do seu perfume. A fragrância que misturava laranja e kiwi lhe abraçava com carinho, quase proteção.

Taehyung jamais poderia se esquecer da sensação de sentir aquele cheiro tão familiar.

Quando os meninos terminaram de falar sobre os acontecimentos da noite passada, os olhos amendoados fitaram as flores amarelas sobre a mesinha e um suspiro escapou por entre seus lábios. Seria muita inocência sua esperar que ele havia deixado aquelas flores ali? Seria muita ingenuidade esperar um sentimento além de compaixão daquele homem tão bom? Seria estupido pedir seu número para Jin, ligar e esclarecer toda a confusão do seu peito? Seria demais confessar toda a saudade e o desejo de estar sempre perto?

— Quem comprou essas flores? — foi a primeira coisa que Taehyung disse após o silêncio que se instalou após as revelações da noite anterior.

— Elas chegaram hoje bem cedinho, não tinha nenhum cartão. — Jin respondeu, em um tom inquisitivo demais. Taehyung o ignorou, ainda focado nas flores. — Tem alguma ideia de quem possa ser o remetente?

— São lindas... — Namjoon exclamou, parecendo distante. Ele se aproximou do vaso, tão pensativo quanto Taehyung. — Com certeza é alguém que te conhece o suficiente para saber o quanto gosta de girassóis.

Taehyung se sentia impossibilitado de desviar os olhos do ramalhete, mas suspirou em deleite com a esperança de ser ele. Disso ser uma possível demonstração de algo a mais, de ser um sinal positivo, de... Não. Taehyung não deveria ser tão otimista, eram apenas flores. Não poderia ser sinal de nada, talvez fosse apenas uma coincidência estranha. Mas, mesmo assim, ele encarou Jin Reed com certa determinação antes de perguntar:

— Posso te pedir um favor?

[...]

Ele estava escutando a versão demo da sua nova música sentindo-se satisfeito com a perfeição dos acordes e rimas que, juntos, ficaram harmoniosos. Havia conseguido passar o sentimento que queria, Yoongi se sentia nas nuvens. Foi quando seu celular vibrou sobre a mesa, avisando a chegada de uma nova mensagem. Ele rapidamente o pegou, recordando-se que havia perguntado sobre Taehyung a Jin há algumas horas, mas não havia tido respostas.

Jin ♥️

ele está bem, acordou agora pouco :D | 08:45

disse que não se lembra de nada e eu contei sobre você | 08:46

espero que não fique chateado comigo mas... | 08:46

eu dei seu numero pra ele | 08:47

ele disse que queria agradecer | 08:48

ficou chateado? | 08:49

Yoongi suspirou alto, e tentando inútilmente controlar as batidas desenfreadas do seu coração com aquelas mensagens. Taehyung não se lembrava de nada, o que incluía que ele provavelmente não fazia ideia da última conversa que tiveram, onde confissões e segredos foram revelados. Yoongi não sabia se deveria se sentir aliviado ou preocupado. Havia uma parte de si que queria repelir Taehyung como polos iguais, mas havia outra parte sua, uma ingênua, boba e apaixonada, que queria-o sempre perto.

Era confuso, Yoongi sentia-se prestes a sucumbir à loucura.

Estava digitando uma mensagem a Jin, dizendo que não havia problema em Taehyung ter seu número, mesmo que essa informação tivesse lhe gerado alguns formigamentos. Jin não precisava saber disso. Foi então que uma nova notificação fez seu mundo paralisar e seu coração bater freneticamente no peito. Não precisava abrir a conversa para saber de quem se tratava, mas mesmo assim ele o fez.

Porque Yoongi era a porra de um sadico.

Número Desconhecido:

obrigado por ter me salvado | 08:55

você é muito bom, Yoongi. sinto que não te mereço, que deveria ficar o mais longe possível de mim. | 08:56

mas eu sou egoísta e te quero bem perto | 08:56

Você:

fiz por você o que faria por qualquer um, mas de nada | 08:57

não deveria me dizer essas coisas | 08:58

Não deveria dizer que me quer perto quando me afasta, não deveria soar tão doce quando destila veneno como uma serpente. Não deveria ser tão viciante, hipnotizante. Ah, Taehyung... Não deveria fazer muitas coisas.

Número Desconhecido:

por quê? | 08:59

se for sobre Cassandra... Yoongi, tem algumas coisas que preciso te dizer | 09:00

não acredite em tudo que os tablóides dizem e a princesa é uma mentirosa tão boa quanto eu | 09:01

Você:

você não precisa me dizer nada, Taehyung | 09:02

já disse, não quero saber. não me interessa. | 09:03

Yoongi havia aprendido a ser um mentiroso também, pois era óbvio que queria ouvir tudo o que Taehyung tinha a dizer, lógico que seu peito gritava por ele a cada nova mensagem lida. Se sentia curioso sobre as revelações de um Taehyung sob efeito de drogas, seus dedos formigavam para perguntar se era verdade que ele não estava em um relacionamento de verdade. Mas... o que isso mudava? Taehyung continuava sendo um mentiroso, manipulador e... que droga, por que continuava com ela então?

Número Desconhecido:

não preciso, mas quero | 09:04

por favor, me ouça | 09:04

é importante | 09:05

Você:

o que quer dizer? | 09:06

Número Desconhecido:

estarei te esperando na Bow Bridge às 16:00 | 09:07

você merece a minha sinceridade e é o que terá | 09:07

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