15. só queria que Taehyung fosse um homem melhor.

Você sabe que eu me deixo levar em um momento
Não dá pra eu chamar de amor se eu demonstrar
Eu só estrago tudo, se não deu pra perceber
Você percebeu? Me diga, você percebeu?

(Lilith - Halsey feat. Suga)

— Que porra você fez, Taehyung? — Jin exclamou furioso, assim que a porta bateu e Yoongi desapareceu, levando consigo toda a calmaria que antes existia no apartamento. O rapaz, que ainda segurava um engradado de cerveja, não disse nada. Continuou estático, parado no mesmo lugar, encarando o espaço onde outrora Yoongi estava sentado.

— Amor, se acalme... — Namjoon pediu com uma voz suave, se afastando das suas plantas e se aproximando lentamente do namorado. Jungkook e Jimin continuavam parados na porta da cozinha, encarando os amigos com os cenhos franzidos e olhares confusos.

Me acalmar? Você tem ideia do que ele fez? — o ator subiu mais um tom da voz e o namorado se retraiu, não por medo, mas sentiu a culpa lhe pesar nos ombros, impossibilitando de encarar o outro nos olhos. — Espera, você sabe?

Namjoon suspirou, parecendo cansado e até triste.

— Ele me contou...

— E mesmo assim deixou que eu trouxesse o Yoongi aqui? — Jin passou os dedos pelo cabelo de maneira nervosa e suspirou como se quisesse arrancá-lo da cabeça. — Porra, Namjoon. Que grande merda!

O estudante de História encarou o namorado, com um par de olhos culpados e um tanto magoados.

— Eu pensei que soubesse. Você não disse que se tornaram bastante próximos?

— Yoongi me contou — Jin novamente elevou o tom de voz desnecessariamente, e ao perceber isso se arrependeu e suspirou profundamente. — Desculpe. Yoongi me contou, mas não citou nomes. Talvez por estarmos falando da maldita princesa da Inglaterra, não?

— Gente — a voz suave de Jungkook soou e todos, com exceção de Taehyung, encararam o rapaz parado na porta da cozinha. Os olhos de jabuticaba estavam arregalados e Jin soltou outro suspiro cansado. — O que tá rolando?

O ator encarou ele e Jimin, que comia os sanduíches com uma expressão tão confusa quanto a de Jungkook. Por fim, seus olhos fitaram o causador de tanto tumulto, que ainda permanecia no mesmo lugar, encarando o estofado com olhos melancólicos.

— Meninos, é apenas o nosso querido Hyunie sendo um insensível. Nada demais. — Jin exclamou cada palavra com amargura, deixando transparecer toda a sua mágoa.

— Jin, menos. — Namjoon suspirou e o namorado encarou-o no mesmo instante.

Menos? — Jin sorriu sem humor. — Está passando a mão na cabeça dele?

— Lógico que não. — o rapaz respondeu afetado. — Não concordo com o que Taehyung fez, não achei bonitinho ele machucar outra pessoa. Mas ficar brigando e apontando o dedo na cara dele não vai ajudar.

— Ah, claro! E abraçá-lo e dizer que ele é um bom menino sim?

Taehyung encarou o casal que discutia e sentiu seu mundo girar. Seus amigos estavam brigando por sua causa, Yoongi havia chorado por sua culpa, sua mãe havia partido por um capricho seu. Até quando iria continuar preso nessa teia de ferir todos ao seu redor? Até quando seria esse insensível que Jin descreveu?

— Você precisa se acalmar. — Namjoon exclamou cansado, soltando mais um dos inúmeros suspiros daquela noite. Ele se sentou no sofá e desviou os olhos para a janela, onde haviam algumas suculentas coloridas.

— Você diz isso porque não viu como Yoongi ficou. — Jin se aproximou do namorado, forçando-o a encará-lo. Do outro lado da sala, Jungkook e Jimin fitavam a cena como se fossem telespectadores de um filme de ação. — Mas eu vi, Namjoon. E por isso não consigo me acalmar, não consigo agir como se não fosse nada demais. Taehyung passou dos limites.

Namjoon apenas continuou encarando-o e nada disse. Não era como se houvesse muito a dizer, seu olhar cansado denunciava isso. Taehyung sentiu a culpa pesar nos seus ombros ao fitá-lo daquela forma, quis ajoelhar aos seus pés e pedir por perdão.

Talvez Jin estivesse certo. Taehyung passou dos limites.

Namjoon havia acabado de discutir com o namorado por sua culpa, era tudo por sua culpa.

— Você não tem nada a dizer? — a voz de Jin soou entre o silêncio do cômodo, arrancando Taehyung dos seus pensamentos que o sugava cada vez mais para um abismo sem fim. Ele encarou o amigo, vendo-o com o corpo virado para si, denunciando que aquela pergunta havia sido direcionada a ele.

— Eu... — começou, mas sua voz se perdeu, as palavras fugiram como carros de corrida na pista. O que diria? Que sente muito? Que está arrependido? Palavras são apenas palavras. Todos os seus amigos lhe encaravam com curiosidade e expectativa e ele sentiu que estava prestes a decepcioná-los novamente. Não queria isso. Portanto, apenas abaixou a cabeça, sentindo as lágrimas molharem suas bochechas e uma faca lhe perfurar o coração.

— Taehyung — Jin chamou, em um tom mais ameno e extremamente cansado. — Não acha que está na hora de crescer? Chega de joguinhos, veja onde isso está te levando. Você não é mais um garotinho que precisa da aprovação e atenção do seu pai, você é um homem que machuca outras pessoas ao seu bel prazer. — uma pausa, mais lágrimas desciam pelo rosto abatido de Taehyung e ele nunca se odiou tanto como naquele momento. — Esse é o tipo de pessoa que deseja continuar sendo? Porque se for, eu não posso continuar sendo seu amigo.

O rapaz ergueu a cabeça no mesmo instante, chocado, sentido as palavras do amigo lhe atingirem com a força de uma bala de canhão. Abriu a boca para dizer algo, mas novamente as frases se perderam no abismo da sua mente. Observou Jin apanhar as chaves e o celular na mesinha e deixar um beijo casto na testa do namorado. Sentiu um olhar magoado, um silêncio sepulcral e mais lágrimas descerem do seu rosto. Ouviu a porta se fechar atrás de si e sua boca amargou no mesmo instante, sentindo o peso da realidade lhe atingir com força.

— Cara — Jimin quebrou o silêncio após alguns minutos da partida de Jin. — Isso foi intenso.

— Pra caralho. — Jungkook completou e pescou um sanduíche do prato do amigo.

[...]

Yoongi caminhava pelas ruas de Nova York se sentindo perdido em sua própria cidade natal. Os faróis dos carros não eram o suficiente para clarear sua mente, os táxis jamais levariam-no de volta a um tempo distante onde ele pensou ter encontrado o amor. Afinal, o que havia encontrado em Paris? O que aqueles olhos carregavam? Qual era a história não contada por aqueles lábios silenciosamente venenosos? O músico suspirou, sentindo seus pés pesarem a cada passo. Jamais saberia as verdades de Taehyung, e mesmo que estivesse tentado a investigar, não faria isso.

Não seria tolo em deixar ser abraçado pela serpente mais uma vez.

Por mais que a imagem de Taehyung estivesse viva e gravada em si como tatuagem, e seu cheiro fantasmagórico ainda estava preso em um pequeno frasco amarelado na cômoda de Yoongi, ele não se renderia a aquele sentimento. O rapaz ainda vivia em seus pensamentos como uma mancha de vinho teimosa em um tecido branco que não sai por nada, mas ele conviveria com aquela coisa desagradável sem precisar cair em tentação.

Mesmo que seus lábios fossem o pecado mais saboroso existente, Yoongi não o beijaria novamente. Na verdade, faria o possível para evitá-lo a todo custo. Mesmo que soubesse o quanto isso seria difícil pertencendo ao círculo social de Jin Reed, pois não tinha a intenção de se afastar dele. Estava em um impasse, não tinha ideia do que faria naquela noite e muito menos no dia seguinte.

Yoongi deu um suspiro, ao mesmo tempo que um relâmpago cortou o céu, denunciando que choveria a qualquer momento. Ele olhou para a imensidão negra acima de si, se deparando com o mesmo que havia em sua cabeça. Nada, um grande e imenso vácuo escuro. Pensou em pegar o celular, ligar para Jin ou o seu motorista, mas não o fez. Naquela noite, não importava que ele fosse um pop star parado no meio da rua e corresse o risco de ser reconhecido por algum maluco. Pois sua mente continuava como o céu límpido, ao mesmo tempo que seu coração soava como os trovões que ressoavam vez ou outra.

Os primeiros pingos caíram na bochecha de Yoongi, e logo, ele e a cidade estavam encharcados. Inconscientemente, seus pensamentos voaram até Taehyung e se perguntou como ele estaria com aquela tempestade. Se lembrou dos olhos inundados, os dedos trêmulos e o coração acelerado. Ele com certeza tinha um passado, cicatrizes que ainda doíam e segredos guardados a sete chaves por uma personalidade agressiva. No entanto, isso lhe dava o direito de machucar outras pessoas? De manipular, enganar, trair?

Não. Não há justificativas para o injustificável.

Contudo, Yoongi continuava procurando brechas em suas ações. Ali, parado no meio de uma tempestade, repassava cada frase e ação do londrino em sua mente à procura de um motivo que lhe fizesse voltar a aquele apartamento e escutar sua versão da história. Mas não havia nada, Taehyung havia lhe dado apenas o silêncio e frases ácidas. As lágrimas de Yoongi caíram, mesclando-se com a água da chuva, fazendo-o se sentir ainda mais fraco e patético. Por que ainda chorava por aquele homem? Por que continuava preso nos dias em Paris daquela forma?

Tolo.

O músico se agachou, colocando as mãos no joelho e sentindo que vomitaria a qualquer momento. Quis gritar, mas sua voz ficou presa na garganta, assim como todos os girassois* que se alastraram feito praga por toda a sua alma. Se lembrou de um sorriso retangular, da voz doce e aveludada ao dizer que essas flores amarelas eram as suas favoritas e em como ficou radiante ao receber um de Yoongi. O rapaz chorou, como há dias não chorava por aquele que tanto lhe atormentava em pensamentos. Sentia saudades daqueles momentos que teve em Paris, do cheiro de lar e gosto de pertencimento que Taehyung tinha. Do riso contagioso, dos toques delicados, do corpo que parecia se encaixar tão perfeitamente ao seu.

Yoongi o amava tanto, assim como sentia sua falta. Ele só queria que Taehyung fosse um homem melhor.

A chuva parou repentinamente e Yoongi olhou para cima confuso, se deparando com Jin Reed segurando um guarda-chuva e lhe encarando com uma expressão mais culpada que piedosa.

— Vem, eu vou te levar para casa.


N/A: girassóis*: mais referências a Hanahaki, mas como já disse, de forma metafórica, é claro. 

não esquece da estrelinha e nem de comentar o que achou! nos vemos no próximo sábado!

beijinhos de morango,

vick.

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