É muito doloroso dizer
Talvez eu não irei
Ei, querido, você é uma bola de demolição
E você está aqui esmagando tudo o que eu disse

(Revelation - Troye Sivan, Jónsi)

♡

Após dividirem uma pizza tarde da noite dentro do carro, Jin e Yoongi não se desgrudaram mais. O músico não sabia que algum dia seria capaz de se afeiçoar por alguém tão depressa, mas em pouco mais de uma semana já considerava o homem de riso fácil o seu melhor amigo. Todavia, ninguém poderia culpá-lo, sua lista de amigos era bastante reduzida a alguns conhecidos e Elijah. Esse último que teve um ataque de fúria ao encontrar Jin Reed saindo do banheiro de Yoongi apenas com uma toalha enrolada na cintura. Eram apenas sete da manhã e Elijah estava gritando sermões sobre responsabilidade aos rapazes como se os dois estivessem sido pegos transando no tapete da sala.

Quando na realidade eles só tinham passado a noite bebendo e Yoongi ofereceu um quarto ao ator.

Era uma noite de sábado, Jin havia convencido Yoongi a ir em um encontro com seus amigos e ele se sentia nervoso a cada quadra que passavam. Interações humanas não eram o seu forte, ainda mais com pessoas do mesmo nicho que o seu. Nem mesmo sabia como havia conseguido se aproximar do ator, nunca conseguiu ser amigo de colegas famosos. Sempre que se aproximavam era por puro interesse profissional, algo que lhes beneficiava também. Então, não estava acostumado a interagir com outros naturalmente como fazia com Jin e nem sabia como deveria se portar naquele encontro.

O carro parou em frente a um prédio de tijolos vermelhos no Uptown e Yoongi afastou os devaneios de um ansioso para encarar o imovel com o cenho franzido. Não havia nada de extravagante ou que denunciasse que ali vivia um milionário. Pelo contrário, parecia até simples demais para alguém com o nome Jin Reed entrar.

— Eles não são como nós. — a voz do ator reverberou pelo automóvel, e Yoongi o encarou confuso. Jin ajeitava o topete perfeito no espelho retrovisor e lançou um olhar impaciente ao músico. — Vamos logo.

O motorista desceu do carro, forçando Yoongi a fazer o mesmo. Algumas pessoas que passavam, encaravam a BMW com curiosidade e o músico abaixou a cabeça, enquanto seguia o homem que sorria galanteador para qualquer alma que passasse por eles. Yoongi não gostava de chamar atenção pelas ruas, acreditava que o palco era o único lugar que deveria ser a estrela. Naquele dia mesmo, só queria ser um cara indo fazer novos amigos. Mas Jin gostava dessa atenção, as ruas de Nova York eram passarelas e ele nunca abaixava a cabeça enquanto andava. Por isso, os dois funcionavam bem juntos.

— O que quis dizer com eles não são como nós? — Yoongi perguntou quando as portas do elevador se fecharam, Jin lhe encarou e sorriu de lado.

— Não são famosos, Yoongi. — exclamou simplista. — Dois deles são mais ricos que eu e você, mas ainda sim, são só garotos comuns.

Após dois andares, as portas do elevador abriram-se e os rapazes seguiram por um extenso corredor até pararem em frente a uma porta com o número sete e Jin tocou a campainha. Havia um enfeite de porta de um violino preso por um pequeno prego dourado e Yoongi sentiu algo embrulhar no estômago ao encará-lo.

Nunca mais veria um violino da mesma forma.

A porta foi aberta e um rapaz de cabelo castanho e óculos de grau os recebeu com um sorriso enfeitado por covinhas. Pelo olhar abobalhado que ele trocou com Jin, Yoongi deduziu ser o namorado perfeito que o ator tanto fala sobre.

— Entrem, por favor. — ele exclamou ainda sorrindo e Yoongi sorriu de volta ao passar pela porta. Desviou o olhar quando os amantes trocaram um selinho e sorrisos cúmplices, mas o momento particular não durou tanto e Jin logo fez as honras de apresentar o músico aos garotos.

Namjoon era o rapaz alto de sorriso gentil que fisgou o coração do homem mundialmente bonito. Yoongi também conheceu Jimin, um garoto de fios cor-de-rosa e um sorriso que parecia sugerir todos os pecados descritos na bíblia. O músico até mesmo engoliu em seco quando apertaram as mãos e o menino exclamou em sincera perplexidade:

— Uau, você é ainda mais bonito pessoalmente.

Yoongi apenas sorriu sem graça e agradeceu o elogio, não deixando de notar o olhar enviesado que Jungkook lhe lançava. O rapaz de cabelos e olhos tão negros quanto o céu noturno era o mais novo do grupo, e tinha um sorriso meigo com dentes de coelho quando Yoongi não estava dando atenção para as investidas de Jimin.

Estavam todos sentados no sofá, jogando conversa fora e Yoongi há muito tempo não se sentia tão bem. Foi quando Jin passeou as íris cor de terra pelo ambiente e franziu o cenho.

— Onde está o Hyunie?

— Foi comprar cerveja. — Jimin respondeu e lançou um olhar rápido para a porta. — Já deve estar voltando, faz um tempinho que saiu.

— Você é um folgado. — disse Jungkook, chutando de leve o outro com os pés descalços. — Fez o Hyunie ir comprar cerveja para você mesmo sabendo que ele não tá bem.

Jimin o empurrou e sentou-se mais perto de Yoongi, fazendo o músico prender o riso. Era engraçado observá-los juntos, pareciam duas crianças.

— Eu não sou folgado nada! Eu fiz um favor para ele, aquele cabeça dura precisava sair um pouco da toca, ver gente, sabe. — os dedos ornados por anéis passearam pelos fios rosados e Jungkook o encarava de modo vidrado, Yoongi novamente teve que prender o riso. — Hyunie é o mais baladeiro de nós e queria passar o final de semana trancado no quarto? Aí tem coisa.

— O problema dele não é falta de socializar, Ji. — Namjoon exclamou, enquanto regava algumas plantas próximo à janela. Yoongi observou Jin sumir pela porta que deveria ser a cozinha e se perdeu em devaneios quando seus olhos pararam numa planta de folhagens vistosas próxima a porta de entrada.

— Viu aí, seu folgado? — Jungkook cutucou Jimin novamente, fazendo o rapaz resmungar e Yoongi os encarou soltando um risinho nasal. — Deveria ter deixado o menino quieto.

— Para de me cutucar, estrupício! — Jimin empurrou o garoto tatuado novamente e Yoongi soltou outro risinho. Eles eram adoráveis.

Jin surgiu da cozinha carregando um copo de um suco amarelado e lançou um olhar feio para dupla dinâmica, o músico apenas sorriu para tudo, estava se divertindo.

— Parem de gracinha, temos visita, esqueceram? — o ator exclamou com seriedade, mas os garotos continuaram trocando farpas, causando entretenimento para Yoongi. O copo foi estendido na sua direção e ele agradeceu em um murmúrio.

— Não se preocupem comigo, eu não ligo. — o músico disse ainda sorrindo, mas seu sorriso morreu ao bebericar o suco e constatar que era de laranja. Um sentimento de déjà vu lhe assolou e ele focou nos rapazes a sua frente na tentativa de amenizar o sentimento ruim que tomou conta de si. — Desculpe ser invasivo, mas vocês namoram?

Qualquer um que visse os garotos trocando farpas como duas crianças poderia achar que eram apenas amigos que demonstravam seu carinho de maneira singular. No entanto, Yoongi não era bobo, percebeu os olhares significativos que eles trocavam vez ou outra. Principalmente Jungkook, que não disfarçava nada como encarava Jimin, como se o garoto fosse uma obra de arte exposta num museu pela primeira vez.

— Sim.

— Não.

Jungkook e Jimin responderam respectivamente ao mesmo tempo, fazendo Yoongi ter que segurar o riso novamente. Ele deu outro gole no suco para disfarçar e ouviu Jin soltar um risinho do seu lado.

— Não? — Jungkook perguntou inquisitivo, encarando Jimin confuso, enquanto o rapaz olhava para todos os cantos do apartamento menos para ele.

— Estão com fome? — desconversou, se levantando. — Eu estou faminto, vou preparar alguma coisa pra gente.

E saiu da sala, mas Jungkook logo o seguiu com aquela mesma expressão de quem não está entendendo nada.

— Acho que eles têm muito o que conversar. — Namjoon exclamou pensativo, enquanto admirava seus pequenos seres vivos esverdeados.

— Eles sempre tem muito o que conversar, amor. — Jin soltou outro riso e suspirou ao se esparramar no sofá como se estivesse em casa. — Desculpe pelas crianças mal educadas, Yoongi. Mas eles são bonzinhos, juro.

— Acho que fui um pouco invasivo demais... — respondeu sem graça. — Mas não se preocupe, eu adorei os dois. — Yoongi ofereceu um sorriso gengival adorável aos rapazes e depositou o copo de suco na mesinha de centro, incerto se conseguiria mesmo continuar bebendo aquele sabor.

— Ah, espere só para conhecer o... — Jin cortou sua fala ao escutar o barulho da trava da porta e todos encararam a entrada com expectativa. — Oh, ele chegou! Hyunie, venha conhecer meu amigo!

Yoongi tentou sorrir, mas seu riso se perdeu em um espaço-tempo entre aquele apartamento e a voz de Jin. Seu corpo se petrificou ao encarar o rapaz parado na porta feito uma estátua de gelo. Os olhos antes tão gélidos, agora faiscavam como fogos de artifício no céu. Arregalados, surpresos, tão doces quanto uma barra de chocolate. O homem lhe fitava tão chocado quanto ele, com a franja desgrenhada caída na testa e os lábios entreabertos.

Houve um silêncio desconfortável no recinto, onde Yoongi se perdeu na imensidão dos olhos dele, enquanto o rapaz tinha a expressão de um menino assustado. Ele iria fugir? Destilar seu veneno em palavras novamente? O músico não queria ficar para ver, desejava pular a janela apenas para não ter que encarar aqueles olhos novamente. No entanto, seu corpo continuava congelado, impossibilitado de se mover para longe daquele que tanto lhe feriu.

— Yoongi... — Taehyung exclamou em um sussurro quase inaudível e o músico sentiu agulhas perfurando seu coração. Como sentiu saudade daquela voz, naquele timbre manhoso que só ele tinha. Mas, em contrapartida, havia aqueles olhos brilhantes, aquela boca ardilosa e memórias de frases que jamais sairiam da mente de Yoongi.

Cruel, confuso, contraditório.

— Oh, vocês se conhecem? — Jin perguntou curioso, e Yoongi quis sair correndo. Como explicaria a ele que aquele homem era o protagonista dos seus sonhos mais selvagens, assim como os mais terríveis? Como resumir uma semana intensa regada a vinho e lágrimas?

O músico desviou os olhos do fantasma vivo da porta e encarou Jin como quem pede ajuda.

— Eu... — ele se levantou, sem saber o que dizer, fazer, para onde olhar. — Me desculpem, é melhor eu ir.

Jin levantou-se, com uma expressão séria que fugia completamente de sua normalidade.

— Me diz que não foi ele... — não foi preciso completar, assim como não foi necessário uma resposta. O olhar que Yoongi lhe lançou gritava por entre o silêncio do apartamento e Jin soltou um suspiro alto o suficiente para deixar o clima ainda pior.

— Ih, o que foi que eu perdi? — Jimin surgiu na sala, carregando um prato com sanduíches.

— Me desculpem por isso. — Yoongi exclamou, já indo em direção a saída, calculando uma rota que não envolvesse passar muito perto de Taehyung, que continuava parado no mesmo lugar com aquela mesma expressão de cão abandonado. — Foi um prazer conhecer todos, eu só... — seu olhar encontrou com o do rapaz parado na porta. — preciso ir.

E saiu praticamente correndo do apartamento, deixando para trás um cheiro de flor de laranjeira e seu coração.

N/A: ui ui, coisas estão sendo reveladas... alguém esperava que Jin fosse amigo do menino tae? 

uma confissão: eu amo essa turminha de amigos, a relação que eles tem é... linda. estava ansiosa para mostrar um pouquinho deles para vocês. o que acharam das minhas crianças?

ah, e o proximo capítulo promete... respostas, perguntas, e... muito mais. se preparem, viu. hehe

se cuidem e até o próximo sábado!

beijinhos de morango,

vick.