Verdades


Minha mãe ficara duas semanas comigo no hospital. Viajou para Belo Horizonte assim que descobriu que sua filha estava com um osso do braço trincado e um dreno no tórax para retirar toda hemorragia que se espalhara pelos seus pulmões. Infelizmente o trabalho não permitiu que ficasse mais do que duas semanas, então, contragosto, mas entendendo que não podia simplesmente se demitir, aceitou que Ela cuidasse de mim, junto Dele e a Mãe dela, que, depois que entendeu o que eu significava pra Ela, me aceitou de forma amorosa.

Quando deixaram que eu recebesse mais de uma visita por vez, Ele apareceu com a prima e o namorado dela, com flores e choro. Ele não conseguia ficar muito tempo por perto, mesmo eu dizendo que ninguém tinha culpa de nada, e que não adiantaria ficar com raiva da mãe e nem do pai, pois nada daquilo fora culpa deles. Eu é que não sabia atravessar uma rua movimentada.

Seus olhos avaliavam o estrago pelo meu corpo e logo saia pela porta com os olhos vermelhos.

No último dia que fiquei no hospital antes da alta, Ela deitou-se na minha cama, ao meu lado e adormeceu. Ele e eu ainda conversávamos – depois algumas semanas Ele decidiu se perdoar. - sobre a festa de formatura dela e a colação de grau que eu não permiti que Eles faltassem. Nos dois dias eu recebi Lives dos momentos mais importantes.

- Ela ficou bêbada na festa e começou a chorar. - Ele começou.

- Quando fica bêbada é um funeral ambulante, você sabe disso... - comentei.

- Antes de você chegar, antes de conhecer você e tudo mais, nós estávamos pensando em terminar. - o comentário dele me pegou de surpresa. - Então conversei com a minha prima e ela deu a ideia de convidar você, sabe? Apimentar a relação.

Eu não sabia o que dizer, então não disse nada. Ele suspirou fundo, seus olhos foram de encontro com o meu soro, que pingava de forma rítmica.

- Estávamos cada vez mais amigos e muito menos namorados. - Ele continuou. - quando decidimos comprar aquele anel pra você, eu deveria ter pulado fora...

Franzi meu rosto, confusa, sem entender o que ele queria dizer com aquilo. Se estava com medo antes, não deveria ter me levado pra casa da mãe dele para ouvirmos o exorcismo que ela pretendia ladainhar pra nós três.

-Ela ama você. Quando Ela sonha, fala seu nome entre os nomes de panos, cores e todas essas tranqueiras que ela tanto ama.

O comentário dele acelerou meus batimentos cardíacos e meu pescoço e orelhas pareciam pegar fogo. Eu gostei de ouvir aquilo mais do que imaginaria, mas me senti culpada também, então comentei de forma rápida e incisiva.

- Ela ama você também. Nós te amamos também.- embora eu o amasse de outra forma. Como um amigo colorido, talvez.

- Eu sei. Tenho certeza disso, mas é diferente, você sabe que me ama como amigo, assim como ela passou a me amar há muito tempo. - eu tentei dizer algo mais continuou sem me deixar interrompê-lo. - Eu também amo vocês dessa forma. Faz algum tempo... Faz algum tempo que eu venho me interessando por outra pessoa.

Novamente eu não sabia o que dizer. Eu senti um pouco de ciúmes do que Ele disse. E o considerei um idiota por esconder aquilo de nós duas. Teria sido mais fácil, simples e, bem, agora fazia muito mais sentido toda aquela culpa.

- Ela é bonita? - eu perguntei, curiosa.

- Ela é maravilhosa. - E deu aquele sorriso radiante que eu adorava e entendi que Ele estava apaixonado. Eu olhei pra garota deitada ao meu lado e ouvi ele dizer:

- Ela sabe. Eu contei depois da formatura. Mas eu não contei sobre seus papéis da faculdade.

Meu corpo travou. Como Ele sabia? Eu não tinha contado pra ninguém.

-No dia do anel, eu achei em cima da sua cama e escondi na gaveta do seu quarto antes que ela olhasse. - Ele comentou. - Quando nos contaria que faria um intercambio no Canadá?

Ela moveu-se. Eu olhei novamente para o rosto dela, mas ela permanecia dormindo. Eu não respondi. Estava muito envergonhada por ter escondido algo tão grande, algo que, apesar de não ter certeza, ainda poderia fazer parte dos meus planos.

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