Capítulo III - O Filho do Governador
A molecada naquela época corria de pé descalço. Subia em árvore para catar frutas. Jogava futebol com bola feita jornal amassado, isso quando tinham jornal. Uma brincadeira de rico, sabe qual era? Empinar pipa.
Sim. Não eram todos que tinham capital para comprar papel e material para a construção daquele brinquedo, hoje em dia algo tão simples e banal. A molecada daqueles tempos se unia na casa do governador de São Paulo para fazer pipas com seu filho.
Uma das poucas pessoas que possuía poder aquisitivo suficiente para gastar com papel e não com comida ou produtos de higiene básica. Aquela era a diversão da garotada. Brincavam todos juntos, sem se importar com classes sociais.
Hoje em dia a coisa é tão escandalosa que há casos em que as próprias crianças copiam as falas dos adultos e ofendem uns aos outros sem nem entender o significado da ofensa. Alegam que são melhores que tal coleguinha porque moram em determinado lugar e porque os pais tem dinheiro.
Vovô tem pena dessa geração. Queria ele poder ensinar-lhes pessoalmente o verdadeiro valor das pessoas, que é nulo. Isso mesmo. Nulo. Zero. Porque não se atribui um valor monetário às pessoas, os valores que as relações humanas têm ultrapassam essa fronteira.
Meu avô sempre ajudou quem precisava e nem sempre "se deu bem" com isso. Já foi prejudicado por aqueles que ajudou, e muito. Mas isso não o impediu de continuar ajudando e de sempre procurar o bem nas pessoas, partindo da ideia de dar sempre o bem também.
Assim, para ele, não importava que o garoto das pipas fosse o filho do governador de São Paulo, ou que os adultos não os deixassem passar do jardim. O que realmente importava era construir o brinquedo, todos juntos, para que, todos juntos, brincassem depois e pudessem aproveitar o que a infância tem de melhor.
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