Capítulo II - O Natal do menino engraxate

O Natal do menino engraxate

Naquela época (1945), era comum crianças trabalharem. Ainda mais crianças cujos pais haviam morrido ou aquelas que haviam sido deixadas aos cuidados das ruas, porque suas próprias casas não lhes ofereciam abrigo, segurança e proteção. E, no caso daquele menino, meu avô, era porque seus pais haviam falecido.

O menino, por volta de seus dez anos de idade, tinha muitos sonhos, mas o que mais o iluminava no momento, era aquele em que conseguia comprar a tão sonhada "espingardinha" de brinquedo, que era vendida em uma das lojinhas da Avenida Brigadeiro Luis Antônio, em São Paulo.

Naquela época a cidade era basicamente como a vemos em fotos antigas: preta e branca. As construções, muito bem arquitetadas e decoradas, possuíam cores não muito vibrantes. Nada que fugisse à monotonia da vida corrida da cidade grande.

A única coisa que coloria a cidade com vida eram as pessoas que ali residiam. As pessoas e seus sonhos.

O menino sonhou em comprar aquele brinquedo por muito tempo e, na noite de natal, finalmente conseguiria comprá-lo. Trabalhou o dia inteirinho, sem se importar com almoço ou janta. Tudo o que mais almejava era o dinheiro para comprar a espingarda de brinquedo que parecia brilhar na vitrine da loja.

Atendia os clientes na frente de um bar, trabalhando como engraxate. Não ganhava muito, mas o que ganhava, ao longo do dia inteirinho e juntando suas economias, seria suficiente para que pudesse realizar seu sonho de Natal.

Trabalhou, trabalhou, trabalhou. Lustrava e engraxava os sapatos, conversando com os clientes para que se sentissem bem. Finalmente, conseguiu a quantia que precisava, mas sua irmã, preocupada com a demora, foi buscá-lo. E levou-o para casa, antes que pudesse comprar o brinquedo.

Ele reclamou? Não. Em nenhum momento reclamou de ter trabalhado e juntado o dinheiro por tanto tempo, para depois precisar esperar mais para comprar. Aguardou o dia seguinte e conseguiu comprar a "espingardinha". Um desejo que pareca simples para nós hoje em dia, mas que demonstrava o quanto aquele menino, tão jovem, tão inocente, tão supostamente ingênuo, era também tão batalhador quanto um homem adulto.

O Natal do menino engraxate foi muito feliz e ele se lembra disso com orgulho, pois viu o fruto do seu trabalho. Seu esforço se transmutar na realização de um sonho. Ele afirma, e com completa razão, que não precisou roubar nada de ninguém para conseguir o que desejava.

"Sonhar nunca é demais. Um sonho, por mais difícil que pareça, nunca será impossível. Continue sempre tentando alcançá-lo com honestidade e perseverança, e você irá conseguir com toda a certeza."

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