02: um mundo nada comum - parte II

Em dias comuns, caminhar pela floresta sem obter arranhões ou tornozelos torcidos já era uma tarefa de extrema dificuldade.

Em tempos de caça, os problemas tornavam-se ainda maiores, visto que o mínimo de barulho causado transformava-se em seu pior inimigo. É por isso que Margareth absteve-se de comparecer aos dias em que Enrico saía para caçar e, por muito tempo, ficara aliviada por não ter de enfrentar a realidade assustadora que um acúmulo de árvores poderia lhe causar. Naquele momento, arrependeu-se da troca feita.

Foi, ao tentar correr dentro de uma floresta, que Margareth lembrou-se de um odioso fato: ela nunca havia corrido dentro de uma floresta e não sabia o quão difícil era isso.

Depois de escorregar no solo úmido, pisar em falso vezes demais para se contar e receber um arranhão furioso de um galho pontiagudo em seu olho, decidiu parar sua corrida e tomar mais cuidado com os lugares por onde pisava. A floresta podia ser extremamente rude, quando queria.

Ela cessou a andança sem destino e atreveu-se a olhar para trás por um momento, mas tudo o que encontrava-se diante de seus olhos era a densidade das árvores, que impedia-lhe de alcançar qualquer caminho que pudesse levar-lhe de volta para casa. Entretanto, independente de seus desejos de reencontrar o vilarejo, o cheiro eminente de fumaça ainda pairava por todo o ambiente. E, por isso, ela não podia voltar.

Então, continuou a caminhada até uma árvore e encostou-se sobre o tronco para recuperar o fôlego. No meio tempo, olhou para o céu coberto por folhas e concentrou-se em sua visão. As únicas partes de seu corpo que bem funcionavam, naquele momento, eram sua audição e sua mente. E isso não era nada bom. Os sons daquele lugar sombrio eram contínuos e nem um pouco amigáveis e misturados com seus pensamentos inoportunos, cada minuto que se passava servia apenas para assustá-la um pouco mais.

Em meio ao desespero e à dor de cabeça que logo vinha, Marga fechou os olhos com força e pôs-se a chorar, enquanto clamava para que um sinal divino lhe mostrasse o caminho para sair dali.

Retirou de sua manga a pétala seca que carregava consigo desde criança e segurou-a com ambas as mãos. Ela encontrava-se extremamente patética: com os cabelos emaranhados ao rosto, os ombros circundados em si mesma e as pernas trêmulas feito um animalzinho assustado. Qualquer um que passasse por ali, ou sentiria pena da pobre donzela, ou correria para longe da mesma. Ela, mais do que tudo, queria poder ser capaz de escolher a segunda opção e fugir de sua própria situação.

Remetendo, em sua mente, o rosto escuro, os olhos castanhos e a melódica voz de Enrico, tudo o que desejava era desfazer os últimos minutos daquele dia. E por saber que não havia possibilidade de tal ação ser feita e, também, por estar mais cansada do que nunca, ela jogou-se ao chão e xingou o irmão em voz alta, como se o mesmo fosse capaz de escutá-la. Concordar com sua ideia era a última coisa que deveria ter feito. Deveria ter ficado no vilarejo e enfrentado-os, como todos os outros faziam. Mas é claro que não foi o que ela fez. Era uma covarde. E, agora, arrependia-se amargamente. Perdeu-se entre os troncos fantasmagóricos da floresta e estava sozinha.

Sentada em sua própria miséria, Margareth apertou o rosto contra as duas mãos e abafou um grito oriundo vindo das profundezas de sua garganta. Há quanto tempo que não gritava? Ou, mesmo, que não falava algo em verdadeira voz alta? Há muito, por certo.

Ela gritou mais uma vez, agora, sem abafar a voz. Se aquele houvesse a ser o santuário de seu desalento, queria colocar para fora toda a dor que carregou consigo durante os últimos dezenove anos. E berrou novamente, em meio ao seu choro barulhento.


Vinte minutos se passaram. Pronto. Agora, estava mais calma e resoluta a si mesma. Suas bochechas já estavam livres de lágrimas, a floresta parecia entrar num cômodo silêncio e os mosquitos, por sua vez, resolveram desistir de pegar o seu sangue e recolheram-se onde quer que fossem seus próprios santuários.

Com o olhar longe, Margareth respirava fundo e meditava cada vez mais. Imaginou que a calmaria inesperada do ambiente fosse um sinal para que tentasse voltar ao vilarejo. Imaginou que aquilo fosse uma mensagem de esperança.

Isso, ao menos, até virar o rosto para o lado e assustar-se com o que vira.

 ...

O que precedeu a indesejada aventura de Margareth pelas florestas do extremo oeste fora um típico ocorrido que, por sua vez, procedeu-se em um nada típico ocorrido.

Após acordá-la no início do pôr do sol e retirá-la de sua cama, Enrico levara a irmã para fora da cabana e empurrou-a contra a parede dos fundos, enquanto fazia um sinal para que a mesma permanecesse em silêncio. A garota não assustou-se com a inesperada atitude do rapaz, pois tinha em mente a incalculável bondade do irmão. Em vez disso, preocupou-se com o que levou-o a fazer aquilo, mas tal preocupação não durou mais do que cinco minutos, pois, assim que eles saíram da casa e esconderam-se nos fundos, puderam ouvir o trotar de o que parecia ser inúmeros cavalos aumentar substancialmente. Cavalos significavam guerreiros. Se haviam guerreiros percorrendo o vilarejo, era bem provável de que, independente de sua origem, fossem inimigos. E tanto Marga, que permanecia em silêncio, quanto Enrico, tinha plena noção disso.

— Escute — sussurrou ele. — Eles estão vindo.

— Rebeldes? — indagou a mais nova, assim que pôde.

— Não. — O irmão engoliu em seco. — Pior.

Tal resposta causou em Margareth um curioso frio na barriga. É claro que o medo de rebeldes nunca realmente havia a abandonado, porém, da maneira com a qual as palavras saíram da boca de Enrico, "eles" aparentavam trazer um perigo muito mais eminente do que o de um típico ataque antipacifista.

— Como, pior? O que é pior? — Ela arregalou os olhos, amedrontada. — Enrico, o que é pior?

A garota engoliu em seco perante o silêncio, pois algo no olhar do irmão indicava-lhe maus presságios. Ele, porém, pareceu ignorar o grito dos próprios pensamentos e tratou-se de voltar à realidade que o chamava.

— Estão perto demais — explicou o rapaz, incapaz de olhá-la nos olhos. — Se eu ir pelo caminho da frente, verão que estou aqui. Vou contornar o monte e ir pela estrada mais longa, onde há arbustos em que posso me esconder. Demorará mais, é claro, mas é o caminho mais seguro.

Diante da explicação, ela manteve-se calada. A declarada falta de menções à irmã em seu discurso deixava claro a decisão de que ela não iria com ele.

Enquanto tais pensamentos velejavam a mente da jovem, Enrico desenterrava sua espada, que estava escondida entre as palhas que, há poucas horas, serviam de cama para a camponesa.

— E o que farei? — indagou ela, com a voz trêmula.

Como resposta, o irmão suspirou.

— Não pode ir comigo, desta vez — exprimiu com pesar. — Desculpe. Não é seguro.

— Mas o que farei, então? — repetiu, impaciente.

O que procedeu-se na conversa foi dito por Enrico com uma hesitação nunca vista antes, pois sabia o quão perigoso havia de ser. Margareth, ademais, parecia já pressentir que seu destino não estaria em boas mãos.

— Bem — murmurou ele —, precisa se esconder na floresta. Como se nunca antes houvesse se escondido. Está me entendendo?

As palavras do rapaz atingiram-na de forma confusa. A floresta, até então, nunca havia sido opção para nenhum dos dois. Por essa razão, o coração de Marga bateu forte no peito quando, apesar de não compreender todo o alarme causado pelo irmão, concordou com a emergência em seu olhar.

— Mas — advertiu ela — isso não faz sentido! Não conheço bem a floresta e, ainda assim, poderei encontrar-me com algum deles lá dentro.

— Eles não estarão lá — afirmou, com convicção, o rapaz. — Nós protegemos a floresta. Eles não estarão lá.

A menina reprimiu a face. Enrico acabava de afirmar que os moradores da vila observavam, na floresta, algo de valioso o bastante para protegê-la de invasões. Apesar de a parte racional de sua mente acreditar piamente que tratava-se da temporada de caça e de como era necessário mantê-la viva para a sobrevivência de todos, a outra parte dizia que aquele não era o único motivo para tal. Mas, antes que Margareth pudesse contestar o porquê de tal afirmação, ambos entraram em alerta pelo eminente som da cada vez mais rápida aproximação dos inimigos. Diante disso, Enrico não esperou um só segundo – talvez porque soubesse que, caso esperasse, seria atordoado com perguntas quanto ao que dissera – e puxou a irmã para um abraço.

— Deve me prometer — sussurrou ele nos ouvidos da garota — que prestará atenção na fumaça. Vá para longe da fumaça. E não saia da floresta até que a fumaça suma de seu caminho. Entendeu?

A irmã assentiu com a cabeça e aceitou a promessa, pois não sabia o que aquilo significava, mas confiava, mais do que qualquer coisa, em seu irmão.

— Prometo te encontrar, depois de tudo isso — ele finalizou. — Está na hora de ir.

Margareth engoliu em seco. Ambos soltaram-se do abraço e fitaram-se, face a face, uma última vez. Não era a primeira vez que separavam-se durante um ataque; aquilo era costumeiro para ambos. Por isso, Marga prometeu que seria forte, pois, mesmo que tudo o que seu coração desejasse fosse que ela explodisse em lágrimas naquele mesmo momento, ainda assim, evitou-as. E com um largo sorriso em seu rosto, que reprimia todo o suposto sofrimento dentro de si, ela embarcou na aglomeração de assustadores troncos sem hesitar e nem olhar para trás. E tal separação resumiu-se naquilo. Num simplório adeus, incrustado em amor e confiança, mas sem declarações de tais sentimentos. Pois, mesmo que quisessem, mesmo que seus corações pedissem por uma despedida, eles não a fizeram. Ambos sabiam que veriam-se novamente.

 ...

Enfim, na floresta.

Ela ainda estava a salvo. Esperava, estática, seu coração desacelerar, enquanto observava o que, a primeiro momento, rigorosamente acreditara tratar-se de um fantasma. Caso suas primeiras desconfianças fossem verdadeiras e a pequena cabana de tecidos claros que encontrava-se a alguns metros de distância dela fosse mesmo um fantasma, imaginou que estaria menos amedrontada do que naquele infortunado momento. A sinistra cabana revelava um fato bem mais perigoso do que um simples fantasma: a presença de outros homens, além dela, naquela floresta. E um fantasma, ao menos, não podia matá-la de forma tão feroz quanto um homem.

Diante do provável empecilho, ponderou, enquanto permanecia acobertada pelo tronco de um Pinheiro, o que poderia suceder-se caso ela fosse examinar a moradia. O silêncio vindo de dentro do local extinguia a probabilidade de que houvesse alguém lá dentro, e acreditou que, caso o desconhecido estivesse apenas a dormir, já teria despertado de seu sono e revelado-se com armas nas mãos, pelo tanto que, há pouco, ela havia gritado. Então, resolveu, ao menos, aproximar-se do local, ainda que com um pé atrás quanto à sua segurança, e examinar mais de perto o que estava posto à sua frente.

Não havia muito o que observar sobre uma minúscula e improvisada cabana em meio às árvores, além de que os tecidos que formavam-na eram macios e de origem afortunada. Mesmo com a decadente obscuridade que cobria, feito um véu, todas as áreas daquela floresta, nunca havia deparado-se com um creme tão brilhante, sedoso, e puro em todos os seus dezenove anos vividos.

O dia já escurecia e, diante de seus calafrios, ela decidiu que, se realmente não mais houvesse alguém vivendo por ali, passaria a noite dentro daquela cabana.

Ainda assim, demorou muito para que tomasse a coragem de adentrar o local, mas isso, em algum momento dos seguintes trinta minutos de sua cuidadosa observação, ela fez. E já lá dentro, deparou-se com um acomodável recanto, com uma improvisada cama feita de cobertores no canto direito e duas velas postas ao seu lado, no chão. Uma já estava derretida e gasta, enquanto a outra parecia descansar por ali já há um bom tempo, à espera do dia em que alguém pudesse acendê-la.

Atacada pelos ventos gélidos do final da tarde, lá fora, ela soltou de suas mãos as cortinas da entrada e fechou-se ali.

Quando aconchegou-se na cama – que também era imensamente macia – ela percebeu a presença de um espelho no canto esquerdo da cabana, onde, até então, não havia notado nada. O reflexo, porém, não serviu-lhe de agrado, pois tudo o que vira através do pequeno vidro eram seus pés, que encontravam-se sujos e calejados. Ela retirou suas sandálias e, no mesmo momento, abaixou-se para encontrar seu rosto, cheio de arranhões. Sobre a pele clara, cobria-se um profundo róseo, que surgira por conta do cansaço e da falta de ar que ainda a perturbava. E os cabelos, que antes estavam trançados para trás, agora resumiam-se em bagunça e suor. Ainda assim, não importava-se em ser vista por alguém, caso o mesmo fosse o responsável a levá-la de volta para casa.

Marga, enfim, deitou-se por completo sobre a cama, sem aguentar o peso de seu próprio corpo. Observava, ao seu lado, a vela usada jogada ao chão, pronta para o fim de sua vida, e a mais nova, esperando ao seu lado. Pelo que esperava, ela não sabia. Mas por algo, definitivamente, esperava. Aquilo trouxe-lhe antigas lembranças. Lembranças que ainda eram vívidas em sua memória. Mas tais lembranças sempre levavam-na a um suspiro abatido. Se, ao menos, a pequena vela soubesse o que estava pré-determinado para seu futuro, revesse sua escolha de ficar ali, esperando.

Ela esfregou os olhos, que lacrimejavam, e encarou, acima de si, o florido e pálido tecido escurecer-se conforme o sol se punha. Ali, apesar de não ser capaz de pegar no sono, ela descansou pelo que, em sua ansiosa mente, pareceram horas.


Levantou-se, porém, em um só pulo, após escutar o padrão de sons da floresta quebrar-se em barulhos mundanos. Passos apressados demarcavam o compasso lá fora e furiosas vozes sussurrantes acompanhavam-nos. Logo, um incomodado sermão de origem feminina destacou-se entre os passos:

— Tudo o que pedi foi para serem discretos. Como podem ter permitido que uma situação tão deplorável como esta ocorresse!?

Não havia nenhuma resposta, pois a mulher, até então, não parava de falar.

— Eram meus melhores guardas! — continuou em sua reprovação. — E precisávamos de uma só noite. Uma! — Um "shhh!" que pareceu ter saído de mais de uma boca procedeu os gritos, e a mulher caiu-se em mais fúria ainda. — Não ordenem que me eu cale! Foi por sua conta que aqueles selvagens perceberam nossa presença e roubaram nossa carruagem. Sabe o que acontece caso nos encontrem? Eles nos matam! E ninguém, nunca mais, teria notícias nossas. Deem graças a Deus que aqueles viajantes nos defenderam e deram tempo para que fugíssemos.

O silêncio, a seguir, aprofundou-se por um tempo, pois a desconhecida precisava recuperar o ar que perdeu em seu discurso sem pausas. A respiração de Margareth, por sua vez, aumentava a cada segundo. E logo, ela encheu-se de pensamentos quanto ao que ocorria consigo, naquela situação. Todas as possibilidades, infelizmente, terminavam em tragédias.

— Temos de partir, o mais rápido o possível. Desmontem essa cabana velha e iremos embora — disse a desconhecida, agora, com mais calma. — Lembrem-se de não deixar vestígio algum. E façam isso direito, ao menos.

— Sim, majestade — responderam em uníssono duas novas vozes, o que fez o coração de Margareth pular uma gigantesca vez em seu peito. Majestade, eles disseram?

Ela imaginou o que sucederia tais passos que aproximavam-se, cada vez mais, de alcançar as cortinas da cabana e revelá-la. Nada de bom, concluiu ela.

Marga ouvia histórias sobre reis e rainhas, e estas não costumavam ter finais agradáveis. Se a "Majestade" fosse, de fato, uma majestade, acreditava que, muito provavelmente, aquele seria o seu fim. Ela não despediu-se de Enrico e muito menos vira Eleanor uma última vez. E, ali, estava prestes a enfrentar o que quer que fosse o motivo de sua provável morte. Ou, até mesmo, sequestro. Ou escravidão. Ou ainda pior.

Sua garganta se fechou de medo e seu corpo começou a tremer. Num ato insensível e mal pensado, Margareth elevou o espelho e tacou-lhe um soco com a maior força que pudera recriar – aquilo causara em seu punho feridas graves, mas, naquele momento, a adrenalina poupava-a de notar o roxo que se formava por ali. – O reflexo desmanchou-se em diversas linhas e o vidro quebrou-se em numerosos pedaços. Marga escolheu o mais pontiagudo entre todos e largou os restos em cima da cama. Se observasse a si mesma como uma outra pessoa, diria que havia enlouquecido completamente. Mas, ali, não havia tempo para isso, pois, assim que o espelho quebrado caiu sobre os tecidos do chão, as cortinas da cabana abriram-se e revelaram dois homens, que, logo que notaram a presença da criatura, sacaram suas espadas de modo hostil.

— Uma invasora! — Gritou um dos homens, com nojo empregado na voz. — Quem é você e o que faz aqui?

Ela igualmente apontava seu pedaço de espelho quebrado para eles. Apesar da furiosa feição impregnada em seu rosto, a menina esforçava-se para não chorar. Os dois homens, todavia, ainda se estivessem amigáveis e calmos, continuariam a esbanjar medo em seus adversários. Ambos pareciam a mesma pessoa: brancos, altos, com ombros largos e rostos enrugados. Vestiam armaduras feitas de couro, com uma insígnia laranja bordada ao peito. Antipacifistas utilizavam-se de insígnias verdes. E, ainda que pressentisse o perigo carregado nas mãos dos rapazes, conseguiu enxergar uma pitada de esperança ao perceber que não tratava-se dos piores inimigos.

— Fale, agora! — insistiu ele, que aproximava-se cada vez mais da garota.

Ela, porém, permanecia calada e estática. Observou sua garganta fechar-se novamente e torná-la incapaz de abrir a boca para explicar-se.

O homem que havia feito as perguntas abaixou sua guarda ao perceber a ineficiência das ameaças da jovem. Ele soltou um sorriso desdenhoso ao parceiro, que devolvia o mesmo.

— Solte a arma, docinho — disse ele, com um ar de superioridade — antes que nós a façamos soltar.

Mas Margareth não a soltou, tampouco respondeu à pergunta.

Em vez disso, no âmago de seu desespero, avançou sobre ele com um grito descontrolado. O ataque foi contido no mesmo segundo pelas mãos do guarda, e o amigo, que até então, apenas observava, desferiu um golpe na mão em que a garota segurava a arma. Ela jogou o objeto no chão e imediatamente gritou de dor, observando o enorme corte tomar forma e rapidamente inundar-se em sangue. O líquido veio a escorrer mais rápido do que o devido e, quando parou para raciocinar sobre a situação, já havia perdido as forças de seu corpo. Com os olhos lacrimejantes e a cabeça a girar, ela foi de encontro ao chão. Seu estômago roncava, seus pés latejavam, seu punho ardia e sua mão parecia abrir-se mais a cada segundo que se passava. Ela comprimiu a face. Só queria ir para casa.

— O que está havendo aqui!? — perguntou a, até então, Majestade, após ouvir os gritos e adentrar a cabana. Marga, ainda com os olhos entreabertos, conseguiu enxergar a mulher que pairava à sua frente. Marcavam sua aparência uma pele pálida, estatura alta e cabelos louros que encontravam-se num estado irresoluto de sujeira. Não fosse por suas caras vestimentas, a garota não seria capaz de acreditar que aquela velha pudesse chegar perto de ser uma majestade.

A desconhecida moveu seu olhar à jovem, com descrença no que via. Margareth, por sorte, não enxergava o suficiente para notar o desprezo com o qual foi tratada de imediato.

— Não faço ideia de onde veio, majestade — respondeu um dos homens, enquanto apontava para a garota como se a mesma fosse um animal abatido. — Mas estava armada.

— Parecia assustada — completou o segundo, sem preocupar-se muito com a situação da mesma. — Deveríamos deixá-la por aqui? Não teremos muito tempo até que o barco esteja pronto para irmos.

A então Majestade continuava a fitar a jovem, que, rezando para que acordasse de um profundo sonho, balbuciava o nome de Enrico entre as lágrimas. Ela aproximou-se por alguns passos, carregando um olhar frio que sequer ponderou em demonstrar piedade, e calou-se por inquietantes segundos.

— Não — concluiu. — Não podem saber que estávamos por aqui, de jeito nenhum. Desmontem a cabana e levem-na conosco. Podemos interrogá-la, caso sobreviva à viagem.

E foi tudo o que Margareth conseguiu ouvir, até que perdesse o resto de seus sentidos.

Oi, meus queridos e queridas e querides! Eu gostaria de agradecer pelos 15 votos no primeiro capítulo do livro. Por ser uma história nova, eu não esperava isso em tão pouco tempo. Espero que continuem aqui e podem ter certeza de que logo, bem logo mesmo, a boiolagem começa.

Se você gostou desse capítulo, deixe seu voto e/ou comentário! Isso me ajuda a saber a opinião dos leitores :)

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