10: DESESTABILIZAR O INIMIGO 💢
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Sentado, ao lado de SeokJin, enquanto jantávamos, eu mais uma vez mexi o garfo no prato, mas não comi. Preso aos meus próprios pensamentos, eu não conseguia processar nada do que estava acontecendo à minha volta.
Jungkook e Taehyung namoraram.
Suspirando, tentei não imaginar os dois juntos, mas inevitavelmente, cenas irreais mas totalmente possíveis me vieram à cabeça. Imaginei os dois de mãos dadas, saindo para comer, indo ao cinema, conhecendo a família um do outro, postando fotos juntos… quando vi, eu já havia partido o pedaço de frango do meu prato em cerca de dez pedaços.
Por que diabos Jungkook tinha que estar aqui? O que eu faço agora?
O fato de Jungkook e Taehyung serem ex-namorados só pode ser uma decisão ruim de um autor babaca escrevendo um livro de romance mediano.
Girando os olhos, eu finalmente percebi que Jin me olhava. — O que?
— Você tá assim desde que se sentou — me disse. — Não deu uma garfada até agora… nunca vi você fazer isso. Geralmente você come até o prato e os talheres.
Lhe respondendo com uma careta, eu preferi ficar quieto, mas de repente não conseguia mais engolir aquilo. — Jungkook namorou o Taehyung.
Continuando a beber seu copo de suco normalmente, ele limpou os lábios com o guardanapo. — Eu sei.
Arregalando meus olhos, eu me virei na cadeira, incrédulo. — Oi?
Ele gesticulou os com as mãos, tentando se expressar. — Eu sigo os dois sabe… eu lembro de quando eles postavam fotos juntos.
Então, eles realmente postavam fotos, eu sabia.
— Por que não me disse? — quis saber, irritando-me.
— Eu literalmente não lembrava disso até hoje de manhã quando vi eles jogando — respondeu. — Mas faz tempo, relaxa…
Eu ia dizer outra coisa, mas resolvi dizer isso aqui: — Relaxar o que? Eu estou relaxado!
Jin assentiu, e eu sabia que ele estava zombando de mim. Eu disse: — Você sabe quanto tempo durou?
— Ah, pouco — respondeu.
— Quão pouco?
— Pouco.
— Pouco como?
— Pouco, ué. Uns… quatro meses.
— Isso não é pouco!
— Pra você — me disse. — Lembre-se disso… pra você.
— Em quatro meses muita coisa acontece — falei. — Pode ter sido o namoro mais curto da vida deles, e o mais intenso também.
Ele até abriu a boca para falar, mas parou, e só ficou me olhando. Perguntei: — O que?
Kim abriu um sorriso sutil. — Nada… tô tentando saber de qual dos dois você tá com ciúme. Acho que já sei.
Eu ri, desviando o olhar. — Achei que você me conhecesse.
— Eu também achei — disse e continuou com aquele sorriso. — Acho que descobri uma nova faceta do meu amigo.
Eu nem soube o que responder, porque minha mão já estava coçando com vontade de beijar a cara dele.
Mais tarde, andando a caminho do meu quarto, eu vi Taehyung passar por um dos corredores, seguido por Daichi, indo em direção às piscinas, eles davam passadas vagarosas e conversavam baixo. Eu mirei o céu, as estrelas vividas na noite, sentindo a brisa gostosa. Uma noite perfeita para um beijo de língua forte e sensual na boca.
Passando reto pelo meu quarto, eu os segui de uma boa distância, até que eles parassem de andar, sentados em um banco de madeira que beirava a piscina. Eles não eram os únicos ali, mas além deles, só havia mais um casal, que estava bem longe. O lugar perfeito para surgir um clima.
Me escondendo atrás de um dos banheiros externos, eu fiquei quietinho, os vigiando.
— Não sei, acho que a Irlanda recebe melhor os estrangeiros… — consegui ouvir Daichi dizer. — Mas se seu inglês for avançado, você pode ir pra qualquer lugar. Canadá também é legal… hm, duvido que você vá ter problemas em algum lugar.
Taehyung sorriu, parecendo um pouco envergonhado. — É… mas tenho que me decidir logo, as inscrições acabam em um mês.
— Você vai saber escolher — Daichi lhe disse. — Hm… soube que o time rival tem um jogador que você conhece…
— Soube? — Taehyung questionou.
— O pessoal comentou — meu ex explicou. — Desculpa…
Taehyung passou um minuto quieto. — Hm… e o que tem?
— Você tá de boa em jogar contra ele?
Pela primeira vez eu não quero tapar a boca de Daichi com espuma expansiva para revestimento de parede.
— Sim — Taehyung pareceu tranquilo ao responder. — Já jogamos algumas vezes depois que terminamos…
— Você não sente mais nada?
Porra, Daichi, não tinha como ser mais sutil? Precisamos de respostas.
— Não — Kim disse. — Só é estranho…
Por que?
— Por que? — Daichi tentou saber.
Taehyung riu. — Nada.
Mais cedo, ele não continuou o assunto na praia, assim que ele me contou sobre o namoro, eu nem consegui responder, e salvo pelo gongo, seus colegas de time o chamaram para se juntar a eles.
Daichi tentou desfarçar, rindo igual um idiota. — Nada… como?
Taehyung lhe deu um sorriso e se levantou. — Obrigada pelas dicas, e pelo tônico… tenho treino cedo amanhã, e o treinador tá uma fera.
Me escondendo melhor atrás do banheiro, eu esperei que eles tomassem seus caminhos antes de sair das sombras, caminhando a distância segura da piscina, pensativo. O que Jungkook fez pra namorar dois chuchuzinhos como Taehyung e eu?
Jeon nem mesmo faz o tipo do Kim. Não é?
Ou… ou eu estou equivocado?
Não.
Mirando a piscina, eu dei mais alguns passos para trás, antes de sair dali de uma vez. E entrando no meu quarto, peguei meus colegas experimentando roupas na frente do espelho. — Vão sair de novo? Vocês não cansam?
KiJoon se virou para mim. — Temos um date.
— É uma garota pros dois ou uma pra cada? — perguntei, me deitando.
— Ahn? — MinKi pareceu confuso.
— Não, só perguntei porque acho difícil vocês terem conseguido duas malucas pra sair com vocês — expliquei, e KiJoon me deu o dedo do meio, que não poderia me abalar menos.
MinKi se sentou aos pés da minha cama, me pegando de surpresa. — C-como… como faz pra ter um date bom?
Eu mirei KiJoon, que já começou a roer as unhas, me olhando, esperando o que eu tinha a dizer. O que é isso? Eu virei o grande mestre dos virgens?
Me sentando na cama, eu os olhei. — Eu sou gay, vocês sabem, né?
— Sim, mas você já saiu com tantos caras, que é impossível que você não tenha nada pra nos dizer — KiJoon me respondeu.
Isso foi um elogio ou uma ofensa?
Segurando minha risada, eu disse: — Primeiro, vocês precisam saber se elas querem só sair mesmo ou se querem transar.
Eles se entreolharam, e eu não obtive nenhuma resposta.
— Eu tô falando sério — lhes disse. — Se elas quiserem só transar e vocês chegarem lá com o papinho de zero a esquerda de vocês, elas vão tentar ir embora o mais cedo possível. E aí, tchau. Uma vez que uma garota perde o tesão, não se recupera mais.
— Como… sabemos? — MinKi me olhou, preocupado.
Eu girei os olhos. — Eu não sei. Geralmente fica bem na cara… pelo menos com homem é assim. — disse, e nós ficamos em silêncio por um tempo. — Espera, elas são daqui de Jeju?
— Sim — KiJoon me disse. — Conhecemos elas no bar.
Sorri. — Elas querem só transar.
— Certeza? — MinKi me olhou, como se sua vida dependesse disso.
— Bom — soltei. — São três alternativas: A) elas querem transar. B) Elas querem beber e comer de graça. C) Elas vão roubar as carteiras de vocês.
— Por que eu tô com medo das três? — KiJoon me perguntou.
MinKi se levantou num pulo. — Eu não raspei o saco… — e correu para o banheiro. — Droga, alguém trouxe gilete?
Suspirando, sentindo que havia feito meu trabalho, eu me deitei de novo, apanhando minha câmera e computador para fazer mais uma seleção de fotos.
De manhã, quando acordei, os dois ainda não tinham voltado, mesmo que tivéssemos trabalho a fazer, o que me preocupou um pouco. Eu esqueci de dizer a quarta opção: D) elas são traficantes de órgãos.
Me vestindo, pondo sandália de vô e chapéu de palha, eu notei que havia trazido justamente um shorts manchado de tinta de cabelo, mas o vesti mesmo assim, e saí, com minha câmera no ombro e óculos escuros na cara. Bocejando, eu me sentei ao lado de Hoseok no restaurante, o assistindo comer, educadamente, seu arroz com kimchi, enquanto eu destruía meus waffles com dupla calda de chocolate e chantilly.
Hoseok encarou meu prato. — São nove horas da manhã, Jimin.
Dando mais uma garfada, eu lhe disse. — E eu posso sair agora na rua e ser brutalmente assassinado. Você quer que minha última refeição seja pão de centeio?
Ele não quis me responder, então eu mudei de assunto. — Você acha que o Taehyung tem um tipo?
— Tá perguntando isso pra mim? — me olhou, sem entender.
Eu cruzei minhas mãos sobre a mesa. — Eu confio na sua opinião.
— Não — riu. — Você tá perdidinho, isso sim, por isso tá perguntando pra mim.
Me fingi de desentendido. — Não vejo a conexão nisso… então, o que acha?
— Você não tava indo bem? — me perguntou.
— Eu estou indo bem — garanti. — É só uma curiosidade. Tipo… com o que eu devo me preocupar ou não.
Hoseok terminou seu prato de comida, bebendo uma água, me disse em seguida: — Talvez a sua performance nem seja o X da questão. Talvez ele só esteja afim de você.
Olha, aí ele me pegou.
— Você acha que eu estou fazendo tudo isso à toa? — perguntei, o seguindo pelo restaurante até a saída.
— Não à toa — Jung me disse. — Mas talvez você possa ser mais verdadeiro… ele não é uma pessoa descartável. Ninguém é.
Parados em frente ao hotel, ele me disse: — Eu sei que você cria personalidades para atrair as pessoas, e às vezes finge ser o que não é, por meses, e mente o tempo todo… mas você não precisa ter medo de ser automaticamente rejeitado por ser você mesmo por um minuto. — ele fez uma pausa, mas continuou. — Eu não sei se alguma vez você foi só o Park Jimin, sem ter que fingir nada, mas… eu te garanto, você não é tão ruim assim. Vou indo.
Dito isso, ele simplesmente foi embora.
Rindo, um pouco atônito, eu tentei disfarçar a cara de tacho com que ele me deixou. Digo, do que ele estava falando? Eu não finjo o tempo todo, não, eu normalmente sou eu mesmo com os garotos. Eu até faço algumas coisas que eu não quero, e finjo gostar do que não gosto, mas… é tudo pra que as coisas deem certo. Além do mais, por que eu iria me expor assim? Pra que? Pra quem?
Esse Hoseok não sabe nem o que fala.
Ignorando tudo que ouvi, eu respirei fundo e atravessei a rua, começando uma caminhada pela orla, fotografando o movimento, eu segui por entre as feirinhas, fazendo fotos dos produtos vendidos, dos vendedores, das sacolas cheias de verduras, das abelhas que cercavam as frutas. Fiz fotos de um menininho que chupava um limão e fazia cara feia, mas que continuava a chupar mesmo assim, e de um cachorro, no momento exato em que ele conseguiu roubar um pedaço de carne seca que estava sendo vendida.
Rindo, eu fotografei a careta brava que o vendedor fez, enquanto xingava o cão. Tirei uma foto de uma senhora que simplesmente se enfiou no meu enquadramento, acenando para mim ao notar o que eu estava fazendo, e passando por ela, eu segui meu caminho, fazendo cliques das casas tradicionais que ainda restavam naquela região. Quando parei de tirar fotos, desci da orla para a areia, caminhando pela praia, evitando a água.
Naquela área havia poucas pessoas, já que os alertas eram de perigo, a maioria ficava na outra ponta da praia, mas eu ainda via pequenos grupos tomando sol, e até um senhor com um detector de metais, mas o que mais chamou minha atenção, não foi nada disso, e sim o fato de Jungkook estar ali. E não estar sozinho.
O que eu fiz pra merecer isso?
Parando de andar, eu observei a situação. Ele estava sentado em um tronco de árvore, ao lado de outro rapaz, um que era bem menor que ele, bem branquinho, franzino e encurvado. Jungkook falava perto do ouvido dele, dando sorrisos, e apontando algo na areia.
Franzindo minhas sobrancelhas, eu agarrei a barra da minha camisa, esperando que minha careta não fosse vista por trás de meus óculos e por baixo do meu chapéu. Jeon não devia estar treinando ou algo assim? Ele arranja tempo pra tudo, né? Que engraçado.
Me virando, eu decidi que ia voltar por onde vim, mas depois do primeiro passo dado, e voltei atrás, impulsivamente continuando o caminho até os dois. E parando há alguns metros deles, eu posicionei minha câmera e os fotografei, chamando suas atenções. — Perdão, mas vocês são muito fofos. Tudo bem se eu tirar mais umas fotos?
O rapaz ao lado de Jeon imediatamente fechou a cara, enquanto Jungkook apenas me olhou por um tempo, antes que um sorrisinho bem sútil se abrisse em seus lábios. Que merda eu tô fazendo?
— Por mim — Jungkook me respondeu, passando um braço pelos ombros de sua companhia.
— Que por mim o que? — o branquinho disse, escapando do toque dele. — Cê é meio sem noção, né? — me disse. — Por que não vai pra um espelho tirar foto da sua b-
— Yoongi — Jungkook o interrompeu.
— Eu só achei o casal bonito — lhes disse. — Não pensei que seria incômodo…
— Casal? — o tal Yoongi me olhou, quase enojado, e se levantou. — Apaga a foto que você tirou.
Ajeitando meu chapéu na cabeça, eu disse: — Vocês não são um casal? Parece. Deviam ser.
Jungkook, ainda sentado, afundou os pés na areia, ainda com aquele sorriso no rosto. Seu amigo se aproximou de mim. — Qual seu problema?
Eu também queria saber. Me ajuda a descobrir!
— Nenhum — sorri. — Eu tô expressando minha opinião. Não pode dar opinião aqui? Isso é censura.
Yoongi piscou os olhos lentamente. — Eu vou fazer com que sua cara seja censurada nos jornais de amanhã.
Algum salva-vidas por aqui?
— Relaxa, Yoongi — Jungkook pediu, se levantando, finalmente. — Eu conheço ele.
— E daí? — seu amigo perguntou.
Jungkook ficou calado por um momento. — É verdade… — soltou, me fazendo arregalar os olhos. — Mas, deixa que eu lido com ele, ok? — e pousou suas mãos nos ombros dele. — Eu te encontro no almoço.
Yoongi me deu uma última olhada feia e passou por mim, jogando areia nas minhas pernas. Eu fiquei no mesmo lugar, sem saber como proceder, eu guardei minhas mãos nos bolsos de trás do meu shorts. — Estressado, né?
Jungkook se aproximou de mim, puxando minha câmera. — Como faço pra você me enviar a foto?
Ele quer a foto pra quê?
— Eu passo do cartão pro computador primeiro — expliquei, nem sei porque. — Ele não me respondeu se vocês são um casal ou não.
— Você quer saber? — me olhou, desviando o olhar da câmera por um segundo.
— Quero — assenti. — Até porque você não me contou que já namorou o Kim Taehyung.
Dito isso, ele puxou a câmera do meu braço e voltou a se sentar no tronco. Eu tirei meus óculos e empurrei meu chapéu para trás, o deixando pendurado pela cordinha, e me sentei ao seu lado, de frente pro mar.
— Era importante eu te contar sobre o Taehyung? — perguntou, e eu vi que ele passava as fotos tiradas. — Você conhece ele?
E agora?
— Conheço — assumi. — Quantas pessoas da minha universidade você namorou?
— Duas — riu. — E você?
— Da minha ou da sua? — questionei e ele me olhou. — O que?
Rindo, ele abaixou a câmera, e me olhou, enquanto uma brisa passava e deixava mais visível a abertura de sua camisa, mostrando seu peitoral. Será que ele quer um sutiã?
— Eu e Taehyung ficamos juntos por menos de quatro meses — me disse. — Não deu certo… éramos melhores como ficantes.
— Por que? — perguntei mesmo.
Estava curioso, e a última pessoa que ia me fazer sentir vergonha, era Jungkook, porque ele não tinha o direito de me fazer sentir qualquer coisa.
Suspirando, ele me disse: — Só não. Caímos na linha tênue entre gostar muito de estar com alguém e gostar de fato dessa pessoa. Algumas pessoas só funcionam quando ficam juntas por algumas horas, apenas transando, falando besteiras. E quando você tenta ir além, não vai…
Eu sei do que ele está falando, mas eu vou fingir que não.
— Você sabe do que eu estou falando, certo? — me perguntou.
Não é possível. Desviando meu olhar, eu nem o respondi, ficando em silêncio. Pego de surpresa, eu vi ele tirar minhas sandálias dos meus pés, me deixando descalço. — A areia tá geladinha. Sente.
— Não tem bicho? — perguntei, hesitante.
— Só tô vendo uma bicha aqui — me disse, e eu lhe mostrei o dedo do meio. — Vai.
Incerto, eu mergulhei meus pés na areia, sentindo sua maciez e temperatura. Era bem gostoso.
Encarando meus dedos aparecendo por entre a areia, eu só percebi o que Jungkook fazia, quando ouvi o clique da câmera. Irritado, eu tomei a máquina de sua mão. — Para de mexer nisso. Não é brinquedo.
— Eu sei tirar fotos também — respondeu. — Vê, ficou boa a foto.
Mirando o visor, eu vi que ele havia tirado uma foto minha, e então a apaguei. — Eu não gosto que tirem foto de mim!
— Eu sei — disse. — Mas ficou boa… devia recuperar da lixeira mais tarde.
O ignorando, eu levei a máquina até a altura dos meus olhos, a posicionando na direção dele. — Você não pode só tirar a foto, tem que procurar a iluminação certa, e o ângulo certo. — e dei zoom, focando em seus olhos. — E o enquadramento certo, claro… escolha corretamente o que quer registrar… e espere o momento perfeito… — quando ele se virou, eu tirei a foto, o pegando enquanto seu olhar estava em minha direção, e sua cabeça não. — Você não quer tudo que está em sua frente… só o mais importante.
Abaixando a câmera, eu desviei meu olhar, voltando a encarar a água, as ondas que quebravam em nossa frente e os barcos lá bem longe. Não sei a razão, mas eu não me senti desconfortável ou estranho ao lado dele, mesmo sem falar uma palavra, uma familiaridade que leva tempo para alcançar. Certamente é porque eu o conheço há muito tempo… eu acho.
Depois de um longo período de silêncio, Jungkook me disse: — Eu sei que você não quis falar sobre isso naquele dia… mas… eu sinto muito por tudo que aconteceu.
Fechando meus olhos, eu joguei minha cabeça para trás, na direção do sol, observando o vermelho que ultrapassava minhas pálpebras, e sentindo o calor em minha pele. Eu queria poder esvaziar a minha mente por um minuto.
— Eu me perguntava todos os dias porque eu estava com você, se eu não tinha coragem de contar a verdade pra minha família — ele falou. — Eu me sentia um idiota, como se eu estivesse apostando na loteria mesmo sabendo que não iria ganhar. Mas… eu não podia evitar. Eu estava apaixonado.
Sentindo um frio na minha barriga, como se meus órgãos estivessem girando em uma máquina de lavar, eu apertei meus olhos com mais força. Por um momento, lembrei da textura dos nossos uniformes, dos comandos dos jogos que jogávamos juntos, do cheiro do seu cabelo.
— Quando meu pai pegou nossas conversas, eu senti que ia morrer — Jungkook me disse. — Eu deixei meu prato de bolo cair no chão, igual em um filme… — e riu baixinho, fraco. — Eu não sabia o que fazer. Ele disse que ia me matar, e eu acreditava, porque ele quase bateu no Jin quando minha irmã contou sobre ele… e o Jin nem era filho dele. Eu fiquei pensando… no que ia acontecer comigo. Ele só não me bateu mais porque eu disse aquelas coisas… quando ele saiu de carro, eu peguei minha mochila, enfiei umas roupas dentro e tentei fugir, mas minha mãe não deixou… ela disse que eu estava ficando louco, mas que ia dar tudo certo… — eu o ouvi respirar fundo. — Eu queria morrer.
Voltando a abrir meus olhos, eu o fitei. Eu não sabia o que dizer, então só sorri. Não era um sorriso de felicidade. Era um sorriso, de… compreensão. Compreensão? Acho que sim.
Se assumir te dá, acima de tudo, um sentimento de desapontamento, como se você estivesse decepcionando as pessoas. Não me lembro de sentir alívio algum quando saí do armário. Levei um tempo pra entender que eu ia ficar bem sem a aprovação das pessoas.
Dá medo mesmo.
— Eu fiquei bem — tentei dizer, pra tentar tirar de seu olhar aquele brilho culposo. — Pode parecer que eu sinto rancor… mas… — dei de ombros. — Minha mãe cuidou de mim.
Abaixando a cabeça, ele cruzou as mãos no colo, calado. Eu então lhe contei: — Minha mãe mandou uma sacola de merda de cachorro pro seu pai.
Levantando o olhar, surpreso, ele perguntou: — Foi ela?!
Assenti, abrindo um sorriso. — Isso me ajudou bastante, acredite.
— Ele ficou tão puto… — comentou, sorrindo por um segundo, antes de voltar a dizer: — Sinto muito mes-
O impedindo de continuar, eu lhe dei um tapa na perna. — Adolescente não sabe o que faz mesmo. — e suspirei. — Adulto também não…
— Ninguém sabe — ele respondeu.
— Exceto eu — suspirei.
Rindo, ele apanhou meu chapéu e o encaixou na minha cabeça. — Só não sabe se vestir.
Droga, eu sabia que alguém ia reparar. — Eu sei me vestir… só não… no litoral…
— Porque você só trouxe papete, camisa de tio e chapéu?
Afastando sua mão de mim, eu apanhei minha sandália e lhe mostrei a marca. — Isso foi caro, tá?
— É feio — me disse.
— Feio é roubar e não poder carregar — resmunguei, e ele caiu numa gargalhada meio chorosa, daquelas que ele só dava quando estava mesmo rindo. Se derramando por cima de mim, ele encostou a cabeça no meu ombro. — Sai.
— Hm — soltou, sem se afastar. — Eu te dou a minha bênção pra ficar com o Taehyung.
É o que?
— Que? — perguntei, e ele me olhou. — Do que tá falando?
Jungkook ainda tinha um sorriso zombeteiro no rosto. — Sabe quando você ia vir me cobrar sobre ele, se não tivesse algum interesse no caso? — perguntou. — No dia de São Nunca.
Em choque, eu olhei em volta, procurando pelas câmeras, porque não era possível que ele já tivesse notado minhas intenções. Ele tem parte com o capeta?
Sem saber o que responder, eu abri a boca uma ou duas vezes, mas nada saiu. Então ele continuou: — Só não brinca com ele. — pediu. — O Taehyung tem aquela pompa de príncipe de gelo, mas… tem sentimentos pra caralho.
Engolindo em seco, eu olhei para o mar, temendo que até os peixes pudessem desvendar meus pensamentos agora. Talvez eu deva pegar um avião de volta pra casa nesse exato momento.
— Eu preciso ir — disse, me levantando e juntando tudo que era meu. — Hm… você devia ir treinar. Eu não gosto de homens fracassados.
Rindo, ele assentiu, e jogando o cabelo para trás, acenou enquanto eu me afastava.
É nessas horas que eu penso em entrar pra igreja e virar pastor. Essa vida de gay não me leva a lugar nenhum.
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Atualização ✨
O que acharam? Ein ein
Próximo capítulo tem coisa boa 👀
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