É uma corrida de pouco mais de 400 metros. Não muito longe mas também
não muito perto.

Todo mundo já estava afastado, juntos, esperando.

Eu posso ver Luke Peterson, meu caro marido, de braços cruzados com os olhos em mim. Preocupado e talvez com um pouco de raiva por não escutar ele.

Do outro lado, Luísa está roendo as unhas. Ela disse que não ia torcer por mim mas sua expressão diz exatamente ao contrário.

- Certeza que não quer desistir, Lily? - Rodrigo pergunta com um sorriso de vencedor

Eu ergui uma sobrancelha

- Certeza que não está com medo de perder? - Pergunto

as pessoas ao redor riem, sentindo o desafio no ar. Rodrigo segura bem as rédeas do seu cavalo, e diz:

- Boa sorte, mas por vias das dúvidas, eu vou ganhar - diz

Eu sorrio e olho para frente

- Isso é o que veremos.

- VAI LILY! - Senhora Peterson exclama para a minha surpresa, arrancando uma expressão de ofendido de Rodrigo e uma longa gargalhada da noiva, Catarina.

Então Catarina caminha até nós. Poucos metros. Quase a nossa frente.

Eu passo a mão na cabeça da doce Nina. Me inclino sobre ela e sussurro:

- Vamos nos divertir, garota.

Ela bufa, acho que isso é um sim. Sento de maneira certa e espero o sinal.

Eu vou conseguir.

Eu vou conseguir.

Eu vou conseguir.

- Estão prontos? - Catarina pergunta

- Sim - Seu noivo responde e pisca para ela, confiante

- Pronta. - Respondo. Ela assente e começa a contar.

- Um, dois e - Ergue a mão pro alto - VAI!

Então eu puxo as rédeas, e vejo Rodrigo fazendo o mesmo, conduzindo seu cavalo a correr na mesma velocidade que o meu.

Nina corre com velocidade, focada e determinada. Claramente treinada para isso. Corremos como se o fim do mundo estivesse nos alcançando.

Não posso dizer que estamos indo mais rápido, Rodrigo está indo na mesma velocidade. As pessoas, as arvores, o gramado, tudo passa com uma faísca na nossa visão.

A velocidade enchendo nossos corações e estruturas de adrenalina. A tão famosa adrenalina que a tanto tempo não sentia.

Nina corre e corre, cada vez mais rápida. Cada vez mais determinada. Cada vez mais focada.

Mas mesmo assim não parece o bastante.

Então eu me lembro.

Tudo o que eu faço aqui, sempre que faço algo que costumava fazer nos três meses que estive aqui, sempre vem como uma memória na minha cabeça.

E naquele instante não foi diferente.

Luke verifica a cilha, checando se está tudo de maneira confortável e amarrado corretamente.

- O que eu faço agora? - Pergunto para Luke, segurando às rédeas e sentindo minhas mãos tremer. Sentar em cima de um cavalo não é algo que faço todos os dias, para ser honesta nunca o fiz

Seu cavalo parece tão à vontade comigo mas eu estou morrendo de medo.

- Agora - Ele sorriu, os fios dourados brilhando com a luz solar - Você suspira, e se sinta confortável. Se ele sentir seu medo vai hesitar.

- Eu estou apavorada.

- Lily - Ele coloca a mão por cima da minha - Você só aprende as coisas quando perde o medo e cria coragem para tentar.

Assinto, suspirando assim como ele pediu

- Anda, eu sei que tenho uma noiva corajosa - Piscou, eu ri achando engraçado e talvez me deixando mais leve confortável.

- Tudo bem, estou pronta.

- Vamos começar aos poucos, por agora, você deve criar confiança com ele, e mostrar onde quer ir.

- Ok.

- Apenas confie nele, e ele confiará em você, confiança é a base de tudo.

Rodrigo consegue me passar, já estávamos correndo para voltar ao ponto inicial, a linha de chegada e ver quem iria ganhar.

Confiança é a base de tudo.

Confiança é a base de tudo.

Use esse conselho ao seu favor, Lily!

- Ei, Nina! - chamo, puxando as rédeas pedindo para ela parar. Ela para e eu vejo Rodrigo correndo cada vez para mais longe. Nina está cansada, mas está atenta. As pessoas longe com certeza olham confusas. - Presta atenção em mim

Ela bufa em resposta

- Você é uma égua linda - passo a mão em seu pescoço - Mas para a gente conseguir passar daqueles idiotas precisamos fazer isso juntas, topa?

Ela bufa de novo, eu sorrio e puxo a incentivo a correr.

- Vamos lá, Nina! Essa corrida é nossa! - Exclamo, e ela acelera.

Nina acelera tanto a ponto de conseguir alcançar Rodrigo que olha para trás confuso, tentando acelerar mais. Então Nina corre, e corre, cada vez mais rápido.

Quando vi ultrapassamos Rodrigo.

Quando notei, tínhamos ganhado.

- Puta merda, que corrida foi essa? - Grita Luísa pasma

Todos estão ao nosso redor, enquanto desço da Nina e viro meu pé de meu jeito. Faço uma careta pela dor e me apoio em Nina.

- Você está bem? - perguntam preocupados

Assinto sorrindo amarelo, apesar de estar doendo ignoro e olho no olho escuro de Nina.

- Você foi maravilhosa - sussurro fazendo carinho

- Vocês duas foram - Luke diz, atrás de mim e então coloca meu braço por cima de seus ombros, sua mão vem de encontro a minha cintura - Você torceu o pé?

- Eu estou be...

- Vai lá, amor - Catarina incentiva Rodrigo vir até mim, ele vem com uma nota de cem

- Devo admitir Lily, você corre bem.

Peguei os cem, e guardei no bolso. Eu sorri e agradeci os elogios.

- Você estava correndo a cavalo em algum lugar na cidade? - Luísa pergunta confusa

- Não

- Então, como?

Dei de ombros. Não iria falar para ela e nem ninguém que o que mais me incentivou foi lembrar do primeiro dia que Luke me ensinou.

- Melhor ver seu pé - Luke diz, preocupado

Nego

- Não foi nada demais.

- Certeza? - Luísa pergunta

- Sim.

- Vamos voltar para nossas cervejas então - A mãe de luke diz, animada. Todo mundo concorda e começa a sair, indo em direção a casa principal.

Todos menos o dono da Nina que me segura junto ao seu corpo.

Luke me observa sob seus olhos atentos

- Me deixa cuidar do seu pé.

- Não tem nada de errado com meu... Aí! - Grito agudo ao sentir um leve choque ao tentar pisar direito

- Pelo menos uma vez, hoje, me escuta Lily - Ele diz

A contragosto, assinto. Ele aponta com o queixo para a casa dele. A nova casa dele.

- Aguenta ir até lá?

- Acho que sim.

- Por via das dúvidas - Ele simplesmente, me pega no colo de surpresa me deixando confusa e talvez um pouco, tímida

- E a Nina? - aponto para ela

- Ela sabe voltar para o estábulo sozinha.

- Mas...

- Vamos lá, Lily, eu não mordo. A menos que peça.

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