quinze

   Eu observo.

Observo seus olhos fechados.

Seu rosto calmo, tranquilo, enquanto o sol entrava pela janela do seu quarto escuro, e o som dos animais lá fora se mantinha presente.

Não é a primeira vez que o vejo assim.

Não é a primeira vez que vejo Luke Peterson nu, com apenas um lençol escondendo seu belo corpo.

Não é a primeira vez que eu me vejo igualmente nua, deitada ao seu lado observando seu rosto sereno dormindo tranquilamente. Sem pressa para acordar.

É cômico. Pois ele é o homem da Fazenda. Ele é o homem da casa, basicamente. Ele é o faz tudo que às 6h em ponto da manhã deveria estar acordado para por em processo sua habitual rotina.

E quem acordou primeiro? eu.

Eu que a poucos instantes estava dormindo, sentindo seu braço meu circulando. Me causando calor. Me causando conforto.

E então meus olhos se abriram e eu vi a cena que não vi por quatro anos.

Eu vi ele, todinho pra mim.

Não faço idéia de quanto tempo fiquei encarando seu rosto, suas feições, seu jeito tranquilo. Eu simplesmente não faço idéia do porque tudo isso aconteceu.

Mas então eu entendi.

Quando ele abriu os olhos e focou unicamente em mim, tão intensos, tão vivos, tão eletrizantes, eu entendi.

Eu entendi que por mais que esconda, o mínimo que seja, eu ainda sinto.

Eu sinto muita coisa que não estou preparada para descrever. Para aguentar. Para suportar.

Porque pra tudo isso não é preciso apenas coragem, é preciso suportar.

Suportar os outros sentimentos arrepiantes e medonhos que vem junto.

Então eu me faço uma pergunta que não me faço há exatos quatro anos.

Eu, Alicia Campos, estou preparada para TUDO isso?

Estou preparada para tudo que Luke Peterson me traz?

Eu me sinto tão covarde. Me sinto tão desprezível. Me sinto uma menininha. E ninguém nesse planeta faz eu me sentir assim.

Só ele.

Talvez, ouvindo meus pensamentos ou lendo as mensagens ocultas que meus olhos transmitem, ele suspira.

E então levanta da cama, indo pegar suas roupas que foram tiradas com total pressa ontem a noite. Ele veste. Não olha pra mim em nenhum momento.

Pelo menos eu acho, pois também evito olhar pra ele.

Evito olhar pra ele enquanto meus olhos estão vidrados nas janelas que deixam os raios solares entrar.

Então eu me levanto, e vejo seus olhos.

Eles estão em mim.

E não estão duros. Não estão maliciosos. Não estão felizes.

Estão magoados.

Eu sinto isso, eu vejo. Eu sinto os meus olhos lacrimejar.

E novamente volto a me perguntar:

Por que Luke Peterson faz eu me sentir assim?

Por que ele arranca de mim qualquer emoção e sentimento com apenas um olhar?

Essa é a primeira vez desde que voltei que nós dois não falamos nada. Apenas nos olhamos, com o sentimento mais triste possível estampado.

- Imagino que você queira esquecer isso - Ele disse, seriamente.

Mas por mais séria e dura que sejam suas palavras, eu sinto o receio.

É a primeira vez que Luke me deixa ler ele completamente.

Eu consigo ler a mágoa. A tristeza.

O medo.

O medo de um "sim" sair dos meus lábios.

O medo de eu levantar e gritar que isso foi um erro, ir embora e nunca mais voltar.

O medo de eu fazer o que fiz há quatro anos. Simplesmente ir embora.

Engoli em seco. Eu não precisava tomar uma decisão aqui agora do tipo levantar e ir embora. Não precisa neste instante pensar em Diego, Penélope ou qualquer outra pessoa desse planeta que seria uma interferência para o que aconteceu ontem não tivesse de fato acontecido. Não preciso e não quero.

Eu não preciso tomar decisões agora.

Eu preciso viver.

E eu entendi isso quando ele me tomou em seus braços ontem. Entendi a falta que sentia disso tudo.

Das emoções e sentimentos que apenas ele me trás.

Mas na mesma proporção que amo tudo isso, eu odeio.

Então eu neguei com a cabeça, segundos depois da sua pergunta e abri a boca pela primeira vez hoje para dizer uma verdade que veio do meu coração.

Do. meu. coração.

- Eu não quero esquecer - sussurro

Ele foi pego de surpresa. Não esperava por isso e honestamente eu também não.

Meus pés já estavam no chão prontos para irem em direção a saída e talvez em direção a um aeroporto.

Porque eu sabia que isso era perigoso.

Que o que aconteceu foi perigoso. Perigoso o bastante para definir qualquer coisa daqui pra frente.

Mas eu estou cansada de pensar nas consequências. Cansada de viver em cima de uma corda bamba tomando todo o cuidado do mundo para não cair.

E eu me sinto uma completa filha da puta por isso.

Por Diego.

Por Penélope.

Por mim.

Por ele.

Me sinto uma completa filha da puta quando eu fico em pé e jogo o lençol aos meus pés. Ficando completamente nua na sua frente, de novo.

Não quero pensar em consequências.

Não quero pensar em problemas.

Não quero me preocupar.

Não agora.

Eu apenas quero viver. Viver intensamente com ele de novo.

Com o meu marido.

E ele também quer. Porque Luke toma meu corpo novamente diante do seu. Beija meus lábios como nunca.

E então transamos mais uma vez. Sentindo aquela conexão, aquilo tudo de novo.

E eu sorrio.

Sorrio enquanto fazemos amor.

Eu não quero pensar nas consequências, estou cansada de viver em cima de uma corda bamba.

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