6 ♻ ketchup ♻

O olhar certeiro de Jimin cortava-me a respiração de forma tão intrigante quanto uma flecha quando rompe o ar e rasga a primeira folha que cai no outono. 

A música ambiente do lugar era mexida, era divertida, porque afinal aquele era um lugar feito para entretenimento, mas era como se eu vivesse a melodia mais triste no meio de toda a vida mundana à minha volta. Era como se, ao som do piano, um voz rouca, áspera e antiga acompanhasse o som e eu me movesse, feito marioneta, ao ritmo dela, deixando-me levar pela saudade imensa que eu tinha de ver Jimin, ou de tocar nele, sorrir com ele e todas as outras coisas que fazíamos.

''Amigo.'' Yugyeom apertou o meu ombro, encostando-se ao meu lado, os dois esperávamos a nossa vez de lançar a bola para a pista e fazer pontos, encostados na margem das mesas. 

''O que foi?'' Eu murmurei, com o canudo do refrigerante entre os lábios, sugando as últimas gotas do mesmo e olhando o mais alto. 

''O que aconteceu no banheiro?'' Ele perguntou, mais como um pedido, suplicante e curioso, porque já era a terceira vez que repetia aquela pergunta. 

Eu sorri de canto, pousando o copo agora vazio na mesa e ganhando impulso para caminhar em frente, ouvindo o Kim gemer em frustração enquanto, mais uma vez, eu avançava sobre a pista larga, do lado de outra, a qual Jimin jogava. 

A canção mudava, não era mais deprimente. 

Ainda não era a música ambiente, nunca era, mas era daquelas com a melodia despreocupada, um título com a palavra ''amor'', ''louco'' e ''estúpido''. A banda não era conhecida, as palavras eram banais, mas diziam tudo o que havia para dizer, a voz era tão comum quanto outra qualquer, mas ficava no ouvido. 

''Não faz strike e diga suas últimas palavras.'' Yoongi disse ao companheiro de equipa, e eu sorri de canto, pegando uma das bolas com calma, depois olhando o team dele. 

''Ketchup é bom.'' Eu respondi, mesmo que aquilo não fosse dirigido a mim, e depois cerrei o olhar sobre os pinos ao longe. ''São essas.'' Eu disse mais baixo, rindo, o canto do meu olho percebendo Jimin me encarando, sabendo tanto quanto eu. 

Segundos depois eu estava virando costas a todos os pinos derrubados, comemorando em silêncio e com gestos vitoriosos e idiotas, provocando principalmente Yoongi, o qual estava tão esperançoso antes. Mesmo assim, mesmo que Jimin não tivesse derrubado todos os pinos, ele ainda tinha uma outra chance de derrubar os que faltavam, então eu fiquei quieto, o orgulho em cima, caminhando para o seu lado, sem barreiras entre nós. 

''Vai, campeão.'' Eu trocei, cruzando os braços, as pernas distanciadas, pose excessiva de orgulho por algo que eu ainda não tinha ganho. ''Se perder eu posso te levar em casa.'' 

''No carro.'' Ele corrigiu, sorrindo de canto, e logo depois se movendo para jogar a bola com força, sem chance de eu retrucar. 

O sorriso que cresceu no meu rosto foi desviado quando Yoongi correu para bater nas costas de Jimin, esfregando as mãos no cabelo dele e tentando de alguma forma castigá-lo por os ter feito perder. 

''Amigo.'' Yugyeom ficou do meu lado, o mesmo gesto, mão no meu ombro, mais sorridente agora devido à recente vitória, e eu desviei o olhar do outro team, vendo o quanto o meu festejava por uma coisa tão boba. ''O que aconteceu no banheiro?'' 

Antes de eu poder voltar a rir sobre a insistência naquela pergunta, Taehyung estava junto de nós e Yugyeom estava apertando o meu ombro de uma forma que me dizia para deixar aquilo para depois. 

''Jungguk nunca desaponta, não é verdade?'' Ele comentou, alegre, e eu sacudi os ombros, sem estar muito interessado em conversar com Taehyung como se nada se tivesse passado. 

''Foi divertido, pessoal.'' Hoseok disse, um pouco alto de forma a todos o ouvirmos, já em forma de despedida e eu vi Jimin se mover por trás dele, pegando a sua jaqueta e depois pousando a mão no ombro do amigo. 

''Te vejo logo.'' Foi o que ele disse, de forma tão simples que até a mim me doeu, e segurando a jaqueta sob o ombro, pendurada por um dedo, ele caminhou para fora, sorrindo de canto ao passar por mim, insinuador. 

E eu o segui com o olhar, percebendo mais tarde a empatia de todos sobre mim, me encarando como se fosse tão chocante a óbvia vontade de querer seguir Park Jimin. 

''Nos vem-''

''Tchau.'' Namjoon me interrompeu, Hoseok gargalhou, e Taehyung negou com a cabeça, revirando o olhar depois e, ignorando-o, eu segui o caminho para fora, sendo fácil apanhar o passo de Jimin, lento até que eu estivesse atrás dele. 

A verdade era que Jimin caminhava como que para conquistar, os passos leves mas certos, e o ar, uma coisa tão promiscua e invisível quanto ar, parecia que se abria para ele passar, como se ele fosse tanto que nem de ar ele precisava. 

E as palavras de Jimin eram corruptas, tão corruptas, porque me dissera que o podia acompanhar até ao seu carro, mas não me disse que falaria comigo, não me disse que caminharia do meu lado ou me daria atenção e eu devia ter suspeitado. 

''Hey, Jimin.'' Eu chamei, sem me dar por desistente. 

E não sabia o que fazia, não sabia o que fazer. Sabia pouco, mas o que sabia era certo. Fosse como fosse, eu e Jimin não podíamos voltar ao antes, não podíamos voltar a envolver-nos, mas eu também sabia que Jimin não podia passar por aquilo sozinho, mesmo que fosse tarde, talvez fosse tarde, ele não podia, não devia, não era justo que, por uma coisa tão dolorosa, ele fosse obrigado a passar por outra ainda pior. 

Não se envolve a morte em graus de dor e não se envolve amor com necessidades. 

''Diga.'' Ele parou, me olhando, a mão sobre o próprio ombro descendo e vestindo o casaco, sentindo a brisa gélida e os cabelos fugindo da sua testa. ''Jungkook?'' 

''Não era nada...'' Eu murmurei, sem esperar que ele me olhasse, parasse, falasse, e depois ele voltou a caminhar e eu fui com ele, arranhando a minha garganta e aproveitando a chance. ''Se divertiu hoje?'' 

Ele acenou, mas sob aquela face eu só via as palavras do pai de Jimin tatuadas, me dizendo que ele não largava a bebida, que era difícil para ele, que ele ignorara o ocorrido por tanto tempo. 

Nós continuamos caminhando por algum tempo, as palavras diretas querendo deixar a minha boca, me perguntando ao mesmo tempo quanto mais tempo eu teria para as fazer, sem saber por onde começar ou o quanto eu devia ou não questioná-las. 

''Venderam a casa?'' Eu perguntei, entre todas as perguntas as quais eu podia fazer. 

''O quê?'' Ele parou por breves milésimos de segundo, depois continuando, afastando os cabelos da testa para o lado, o capuz sobre os mesmos agora e deixando as mãos nos bolsos da jaqueta. ''Está no meu nome, mas não quero falar sobre isso.'' Respondeu-me então, o maxilar cerrado e eu concordei, entendendo o tema delicado. 

''Então, do que você gostaria de-''

''Jungkook.'' Ele me parou e interrompeu, ficando na minha frente e segurando o tecido da minha camiseta entre os dedos, me olhando, e eu parei bruscamente, quase chocando com ele, o olhando também. ''Me responde com sinceridade.'' 

''Ok.'' 

''Está aqui por mim ou por meu pai?'' Ele questionou, o pomo de Adão descendo em seco, o olhar sem vacilar, esperando a minha resposta, e eu o encarei por todo, a saudade daquela naturalidade e proximidade a chegar com pressa. 

''Você.'' Eu respondi, a voz saindo escassa, e ele acenou uma vez. 

''Gosto da sua camiseta.'' Ele disse-me, empurrando o punho contra o meu peito e me puxando para ele mais uma vez, sorrindo de canto. 

''Me ofereceram.'' 

''Quem?'' Ele perguntou, brincalhão, tão bem recordado quanto eu. ''Seus amigos não foram, eles têm mau gosto.''

''Não sei te dizer.'' 

Os meus pés me traíram, me aproximando dele ainda mais, e de modo a não encontrarmos as nossas faces Jimin aproximou o nariz do meu pescoço, tão bem quanto ele sabia, e logo depois ele estava me empurrando com a mão ainda na minha camiseta, se virando e se afastando, voltando a caminhar. Eu respirei fundo, porque esse era o plano, mais nenhum. 

''Está com frio?'' Eu supus, o interrogando, vendo como cada vez se tentava agasalhar mais, e voltei a correr para o acompanhar. 

''Não está frio?'' Ele devolveu, me olhando, porque eu não tinha frio, mas também não tinha como a minha jaqueta fina o aquecer. 

Então eu parei, o segurando pelos ombros e ele me olhou feio enquanto eu pegava as suas mãos nas minhas, no entanto, nada mais fez, então eu insisti, puxando-as para perto da minha boca, e levado pela memória dele me fazendo o mesmo, eu bufei para as suas mãos e quando ele sorriu, tomado pelo mesmo que eu, eu sorri até as minhas bochechas inflarem de ar. 

''Teve problemas estacionando o carro?'' Eu murmurei, voltando, quase inutilmente, a aquecer as mãos dele. 

''Não, porquê?''

''Estamos andando faz um tempo...'' Comentei, olhando em volta.

''Eu vim de carona, meu carro está estacionado na porta de minha casa.'' 

Eu deixei os meus lábios partirem-se em surpresa, porque aquela era uma das maiores aberturas que eu já recebera, principalmente pela parte de Jimin. 

''Eu quero conversar.'' Confessei, baixando as mãos dele da frente da minha face e o encarando, esperando um momento sério. ''Não sobre... Nós? Só conversar.'' 

''Adoro quando conversámos.'' Ele insinuou, as mãos subindo para os meus ombros, os pés acompanhando o movimento e deixando-o na minha altura. 

''Fique quieto.'' Mandei, pressionando para baixo, apertando-lhe o ombro até causar uma leve dor e em contrapartida ele acertou as minhas costelas. 

''O que você quer?''

''Palavras e café.''

''Palavras e café?'' 

''Café já está bom.'' Eu sorri de canto, uma vez mais, e ele fez o mesmo, acenando em concordância, o celular vibrando no meu bolso. ''As palavras eu arranco depois.''

Yug 
| Amigo 
| O que aconteceu no banheiro?


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DOU UM BEIJO EM QUEM LEMBRAR DA REFERÊNCIA DO KETCHUP. 

A coisinha do carro aknkjfakfja Tem um filme muito legal no netflix ''about time'', eu roubei de lá x)

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