37 ♻ mistakes ♻
Sabemos que é pleno verão quando vemos nos vizinhos a confiança de deixar a roupa no estendal a esturricar ao sol por todo o dia sem o receio de que possa chover. Percebemos isso, porque às nove da noite ainda vemos esses mesmos vizinhos a regar os jardins e a lavar os carros. As pessoas reclamam nos supermercados porque, ao que parece, o ar condicionado não está ligado. Os latinhas que vão pelas ruas encontram os donos a reclamar por o A/C do carro não funcionar e, de repente, até parece que o verão é uma chatice. Andamos o ano todo a chamar pelo calor e quando ele vem é completamente insuportável, dizem nas notícias que nem na praia se está bem.
Sente-se no ar a falta do pólen da primavera e finalmente damos lugar aos suspiros de calor.
O primeiro suspiro que ouvi graças à chegada do calor veio de Park Jimin. Mal entrei no estúdio, sem saber que iria ter aquela visão em específico, deixei cair a chave da porta. Claro que, ao bater no chão e causar barulho, alertou a minha chegada ao de cabelos loiros.
"Finalmente..." Resmungou ele, deitado no sofá, as pernas nuas esticadas e a camisola no tronco, de barriga para baixo, mal lhe cobrindo a boxer. "Está tanto calor!"
Eu pisquei duas vezes, fechando a porta e apanhando a chave para a pendurar na mesma.
Estava calor, estava mesmo, e de repente parecia estar infernal de calor.
"Você já almoçou?"
Com a cabeça enterrada no travesseiro, Jimin negou sem falar, deixando que eu lhe desse um beijo perto da orelha antes de ir até a cozinha.
"Você estava esperando que eu viesse e cozinhasse para você?"
"Eu estava esperando que essa porra de calor fosse embora!" Exclamou ele, realmente incomodado e preguiçoso.
Eu cheguei a gargalhar, procurando pelos armários algo que pudesse ser uma refeição.
"Você podia ter me dito e eu traria algo do restaurante..." Disse eu, sem ver nada que parecesse comestível. "É melhor pedir alguma coisa, certo?"
Jimin apenas encolheu as pernas quando eu me aproximei, levantando-as para permitir que me sentasse e então deixando-as cair sobre o meu colo.
"O que eu queria mesmo..."
"Sim?" Eu perguntei, apertando o músculo da perna dele entre os dedos.
"Era aquela pizza... do cafézinho aqui debaixo..."
Eu suspirei, encostando a cabeça para trás e resmungando.
"Estou namorando uma senhora grávida com desejos, verdade?" Eu brinquei, sem fazer questão de me levantar ainda.
"Por favor..." Ele pedia, manhoso.
"Eu posso ganhar algo com isso?" Sugeri, ainda com a mão na sua perna. "Tipo a sorte de o meu namorado poder virar a cara para me beijar?"
"Você pode ganhar mais do que isso se acertar os ingredientes."
"Você sabe que eu irei." Eu respondi convencido, levantando-me.
Antes de sair, ele ainda respondeu:
"Estou contando com isso."
Desci as escadas com um sorriso maroto, a minha chave do estúdio girando entre os dedos enquanto passava pelos degraus de forma rápida.
Jimin e eu estávamos oficialmente namorando há dois meses e até ali tudo o que nos fora provado era que éramos capazes de manter uma coisa que tínhamos adiado por tempo demais.
A única coisa que fez Jimin sair daquele sofá foi o cheiro a pizza que encheu o estúdio quando abri a porta e voltei para dentro.
"Arrr, que cheirinho." Ele quase gemeu, sentando-se no sofá e empinando o nariz para o ar.
"Você está fechando o restaurante hoje?" Eu perguntei, como se não soubesse, pousando a pizza na mesa pequena em frente do sofá e sentando-me.
"Sim..." Ele murmurou, puxando a caixa para o colo.
Quando suspendi uma sobrancelha ele se aproximou, selando os nossos lábios de forma rápida e devotando toda a sua atenção para a comida.
A verdade era que nenhum dos nossos amigos sabia dizer se que o fazia Jimin ser responsável com aquele trabalho era o lucro por trás ou o medo de desapontar a sogra, pelo menos era sobre isso que apostavam. Jimin estava trabalhando no restaurante há algumas semanas, praticamente desde a altura que a minha mãe entendera que eu nem sempre podia estar lá e sozinha ela não conseguia. O papel colado na porta do restaurante desapareceu em questão de segundos e logo depois lá estava eu, espetando Jimin na sua cara como se fosse a primeira vez que se viam. Claro que a senhora Jeon fechou o olho para o facto do quão mal aquilo iria ser se eu e Jimin também fossemos por esse caminho.
''Você partiria os pratos do restaurante se a gente terminasse?'' Eu perguntei de repente, encostando-me para trás no sofá e sorrindo de lado ao vê-lo parar tudo o que fazia.
Com um fio de queijo entre os lábios e a fatia de pizza, Jimin me olhou de lado. Depois de lamber os lábios, respondeu:
''Volte a dizer isso e eu parto os pratos na sua cabeça.''
Eu gargalhei, puxando o celular do bolso e mexendo nele. Eu não estava fazendo nada em concreto, mas claro que aquilo chamou a sua atenção mais uma vez.
''O que você está fazendo?''
''Mexendo no celular.'' Respondi de forma idiota, sem levantar o olhar para o ver com as sobrancelhas sobrepostas em indignação.
''Mas estamos juntos.'' Ele argumentou, a gordura da pizza escorrendo para os dedos pela forma boba como a segurava.
Eu subi o olhar, sem entender o que aquilo significava. Jimin quase que tinha um beicinho completo nos lábios.
''Quer que eu guarde o celular?'' Ele acenou, mordendo mais um pedaço. Estava tudo bem, até eu dizer: ''Mas você não está me dando atenção.''
''Eu estou comendo!'' Ele gritou de repente, me fazendo arregalar o olhar, indignado. ''Quer que eu faça o quê?! Não posso comer você!''
O meu queixo foi em frente, os meus lábios se separando e os dele também. Em um segundo estávamos nos rindo como dois perdidos, completamente entregues à risada, lágrimas nos olhos e dores na barriga.
Foram poucos os segundos para que voltassemos a ser consumidos pelo calor e deixar aquilo de lado. Eu já estava habituado às mudanças do Jimin, mas era sempre uma surpresa quando o via relaxar o rosto, torná-lo numa expressão pensativa logo depois e em seguida chamar por mim.
"Jun." Ele chamou, virando o rosto lentamente na minha direção.
Ao invés de se aproximar, Jimin se encostou ao outro canto do sofá, as pernas abertas e para cima e a feição preocupada.
"O que foi?" Achando que ele diria uma coisa boba, eu sorri de canto, esperando com paciência.
"Como você acha que conseguimos?" Ele perguntou ao fim de um tempo, depois de pensar nas palavras mais acertadas.
"O quê?" Eu me virei um pouco também, o cotovelo repousando sobre o sofá e mão espalmada na bochecha.
"Depois de tudo, como você acha que ainda conseguimos estar juntos?"
Ergui outro sorriso, negando com a cabeça.
"Quantas mais vezes me vai perguntar isso?"
"Até você ser honesto." Jimin respondeu de imediato, entregando a sua dúvida. "Você diz que é porque nos amamos, mas isso é apenas uma parte da equação."
Ao ouvir o termo matemático, acabei fazendo uma careta.
"Não sei outra forma de te responder..." Confessei, suspirando. "Não estou te mentindo nesse aspeto."
"Eu sei que não..." Jimin encostou metade do rosto nas costas do sofá, tristonho com aquilo. Honestamente, também não tinha uma resposta, via-se de longe, mas esperava que eu a tievesse. "Mas você está ignorando alguma coisa? Tentando esquecer vezes e vezes sem conta algum momento ruim?"
Eu repeti aquela questão para mim mesmo. Sem mentir, respondi depois:
"Não." Disse primeiro e, como não transmitira segurança, assegurei em seguida: "Não mesmo. E acho que tenho uma resposta para você, mas vai odiá-la."
"Por favor, me diz."
Querendo acabar com a agonia dele, eu cocei os cabelos da nuca, nervoso e envergonhado, antes de admitir.
"Não poderíamos ficar juntos deste jeito se realmente não amassemos um ao outro." Eu declarei e o olhei, ele que esperava pelo resto. "Mas conseguimos porque fomos contra todas as hipóteses e chances. Ninguém acreditava na gente, era incrível, e agora todos estão nos invejando, se questionando como mantemos isso funcionando. Pela primeira vez estamos cumprindo um pacto, estamos confiando um no outro."
"Porque eu não gostaria dessa resposta?" Jimin se pegou sorrindo e então se aproximou de mim e me abraçou de forma carinhosa, com as pernas e os braços.
Pousei o queixo no topo da sua cabeça, sorrindo antes de a beijar e então respondendo:
"Porque acho que não fizemos isso sozinhos." Contei, animado, mas com o tom solene. Antes que Jimin pudesse perguntar, continuei. "O destino continua brincando connosco. Nos testando."
"Nos testando?"
"Quantas vezes dissemos a nós mesmos que isso não iria resultar? Eu perdi as contas de quantas vezes eu disse que não correria mais por você, mas eu acabei te encontrando, mesmo quando eu não tinha mais fôlego."
Jimin me agarrou mais, sentindo com aquilo. Mesmo que a minha resposta não fosse uma mentira, ele se sentia melhor agora. Aquilo lhe dava esperança para que no futuro conseguíssemos manter a estabilidade que tínhamos alcançado nos últimos meses.
"O que fazemos com a lista gigante de erros que cometemos?"
Eu soltei uma gargalhada.
"Arranjamos uma casa com lareira e queimamos ela."
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