33 ♻ no salvation ♻

''Vou te ajudar, ok?'' 

Jimin questionou aquilo, como se eu tivesse hipótese de escolher se eu realmente queria ajuda ou não, já que no segundo seguinte estava deixando o carro e correndo pela frente até o meu lado, abrindo a porta enquanto Taehyung saía dos bancos de trás. 

O loiro libertou o meu cinto de segurança, tocando a minha coxa com calma, pedindo-me que saísse e, revirando o olhar, eu joguei as pernas para fora, saltando para o chão. 

''jungguk!'' Ele resmungou, levando a mão à testa e passando-me um braço pela cintura. 

''Eu estou bem...'' Eu tentei dizer, um suspiro escapando pelos lábios e Kim Taehyung rindo de nós. 

''Jungkook.'' 

A voz da minha mãe acabou assustando os três, que ainda não a havíamos notado ali, na porta do restaurante, cansada, segurando o casaco de fazenda nos braços e um sorriso triste e forçado. 

''O que aconteceu?''

''Nós dois precisamos conversar.'' Disse-me ela, sem soar mais doce, e eu espreitei pelo lado dela, vendo o meu pai atrás do balcão. 

''Jimin e Taehyung iam subir comigo... '' Eu olhei os dois, sem saber sobre o que aquilo poderia ser e depois de um suspiro a minha mãe não disse mais nada. ''Aconteceu alguma coisa?''

''Os seus amigos podem subir, mas vamos conversar os dois. Agora.''

Ela disse aquilo e no segundo a seguir já se apressava para abrir a porta de casa, entrando e deixando-a aberta para nós. 

''O que você fez?'' Taehyung questionou-me, vendo graça naquilo, e eu me larguei de Jimin, subindo atrás dela, com pressa e curiosidade. 

A minha mãe estava na cozinha, perto da mesa de jantar e eu a segui, entrando no cómodo e fechando a porta, entendendo que de alguma forma ela queria que aquilo fosse entre nós. Ela ainda tinha o casaco em braços e até ali eu ainda não tinha entendido que aquele era o meu casaco, não o dela. Com calma, ela enfiou as mãos nos bolsos, puxando o que eu sabia que tinha lá e atirando para cima da mesa. 

Eu encarei o maço de cigarros, depois o isqueiro, que veio logo a seguir e subi o olhar para ela, que para além de preocupada estava zangada. 

''Nem tente me dizer que são de outra pessoa.''

''Não são.'' Eu não quis mentir, engolindo em seco ao vê-la separar os lábios. Talvez ela pensasse que realmente eram de outra pessoa. 

''Quem foi?'' 

''Quem foi o quê?'' Eu me vi perdido e depois me mexi rápido, agarrando a caixa pequena e jogando-a no lixo da cozinha. ''Ninguém. Não foi ninguém. Foi um erro meu. Foi estúpido.'' 

''Foi Jimin? Taehyung?'' 

''Não foi ninguém.'' Persisti, afastando os cabelos da testa. 

''Eu te conheço, Jungkook. Acha que não? Eu tenho a certeza que você não começaria sozinho.'' Ela ia dizendo, certa daquela verdade. ''Você não ia acordar um dia, ir no quiosque e comprar um maço de tabaco só porque sim. Quem te disse que isso era bom? Quem te fez acreditar que isto ajuda alguma coisa?''

''Mãe, quem me fez acreditar fez errado, ok?'' 

''Você comprou isso!'' Exclamou ela, pousando o casaco na cadeira e apertando a beira da mesma com os dedos. ''Se você comprou isso então não tem volta!'' 

''Mãe.'' Eu chamei, me aproximando dela, segurando-lhe os ombros com calma e sorrindo de lado. ''Pode confiar em mim? Por favor, você me conhece. Você tem toda a razão e isso... Isso não é vicio nenhum. Me perdoe.'' 

Ela suspirou, finalmente se aproximando de mim, segurando nas palmas das mãos o meu rosto.

''Eu te amo, garoto.'' Disse ele, me fazendo engolir em seco. ''Eu não quero te tratar como uma criança... Eu só te amo demais para deixar você cometer esse erro.'' 

Eu a encarei, tomando as palavras dela para mim. Eu era ciente de que fumar um cigarro não ia resolver nenhum problema da minha vida, sabia que levá-los como uma salvação para a alma era um conto inventado, sabia de tudo. Sabia que não queria ser um fumador, sabia de tudo, mas é tão fácil ir na conversa e... ir. Afinal qual era o pior que podia acontecer?

Fazia algum tempo desde que não havia uma briga entre mim e os meus pais e eu sabia que aquela não iria chegar aos ouvidos do meu pai em especial, porque a minha mãe confiava em mim. No entanto, também sabia que, dali em diante, ela continuaria convicta que tudo aquilo tinha o dedo de mais alguém e levaria pouco para chegar à conclusão, embora falsa, que aquilo era culpa de Jimin. 

Não era, porque não podemos culpar os outros pelos nossos erros ou não-erros. Quando fazemos algo que achamos ser certo não corremos para dizer que foi a culpa de alguém e nem dizemos culpa porque é uma palavra tão destinada a algo mau. Somos egocêntricos e dizemos que só pudemos contar connosco mesmos. Então não devíamos fazer o mesmo com os erros que cometemos. Eu não faço isso. 

Jimin estava à espera no meu quarto, sentado na beira da cama, as pernas cruzadas e as mãos impedindo a sua queda enquanto se balançava minimamente, completamente impaciente. Abriu um sorriso quando me pendurei na ombreira da porta, com dores no corpo mas um sorriso tímido no rosto. 

Claro que olhar Jimin ainda doía, claro que tudo o que estava para trás ainda pesava, tudo o que era recente e tudo o que não era, mas jurávamos que íamos esquecer. 

''Se encrencou?'' Ele perguntou, brincalhão. 

Eu soltei uma risada fraca e fui em frente, sentando-me do seu lado. 

''Não.'' 

Os nossos ombros estavam lado a lado mas, pela primeira vez, era Jimin quem parecia um miúdo, tão pequeno e inseguro sobre os segredos que o mundo guardava. Segurei a sua mão, como se os meus dedos fossem algum alicate longo e depois o olhei, afegando-lhe a pele. 

''Peço desculpa.'' Eu pedi, honesto e com medo, no fundo da mente os piores cenários do que podia ter acontecido. ''Eu fui irresponsável e nós... nós tivemos sorte.'' 

Jimin negou, sem perceber que realmente tivéramos sorte, porque Jimin via na frente um rosto estragado, como se levasse anos de vida na pele, mas eram só arranhões ensanguentados. 

''Isso vai deixar uma marca, sabe?'' A palma da sua mão moldou-se ao meu maxilar e o polegar pousou sobre o que seria o maior arranhão na minha bochecha, pressionando-o de leve. ''E por favor...'' Ele suspirou, me olhando. ''Por favor, não peça desculpa.'' 

''Jimin.'' Em um impulso lento eu soltei a sua mão e segurei o seu maxilar também, deixando a minha testa ir contra a sua e ficando mais perto do que eu realmente deveria, sabendo que eu era tão mau tomando decisões, tão mau a ceder aos meus desejos. ''Nós poderíamos... Você poderia...'' 

''Sh.'' Ele mandou logo, sem querer ouvir o resto e apertando mais a palma da sua mão contra mim, levando o meu queixo a seguir em frente, num reflexo do que estava habituado a fazer quando estávamos assim, perto. 

As suas pálpebras desceram, fechando os olhos com calma e não nos movemos mais, pensando no mesmo: O mundo colidiria se nos beijássemos ou seria mais uma volta?  

O meu olhar alargou-se quando, aos meus ouvidos, chegou a voz de alguém que eu não queria que chegasse. Eu queria Jimin, queria ouvi-lo dizer que se fodam todas as coisas que dissemos, queria ouvi-lo dizer que me queria, que me queria a mim, que não havia fachada alguma que fosse nos afastar do que realmente queríamos, mas isso não veio. 

''Kook! Kook!'' 

A voz da garota fez Jimin se afastar, embora não parecesse assustado e então soltar uma pequena gargalhada, passando a manga da camisa pelas narinas e olhando a porta, esperando ver Aurora, que subia as escadas enquanto chamava por metade do meu nome. 

''Ei, como você está?!'' Ela chegou a barafustar, aproximando-se de mim, e quando parecia que ia tocar-me eu afastei-me, com medo da dor de ser esmagado caso ela o fizesse e isso levou-me a cair de costas na cama, me fazendo gargalhar. ''Jungkook!'' 

''Pare! Pare!'' Eu mandei, a voz doída, abanando os meus pés no ar e fazendo-a afastar-se. 

Jimin riu, me distraindo por um segundo antes de erguer o corpo. 

Aurora era, provavelmente, a que sabia menos do sucedido e, por isso, consequentemente, era a que mais quereria saber. Talvez, sabendo disso, Jimin ficou de pé, anunciando que iria embora e que devíamos nos encontrar depois, se eu estivesse me sentindo bem. 

Do lado de fora do quarto, com a porta levemente encostada e com Aurora do lado de dentro, eu fiquei na frente de Park Jimin e disse: 

''Você não precisa mesmo de ir...'' Eu quase que resmunguei, descontente com aquilo. 

''Eu quero te levar em lugar.'' Ele declarou, como se pensasse de forma séria no assunto e ignorando o que eu dissera antes. ''Quero que me deixe te levar em um lugar em que... em que estaremos só os dois e quero... Quero conversar. Nós podemos fazer isso?'' 

Invadido por nervosismo e alívio, eu acenei lentamente e, antes de ir, Jimin afagou o meu braço e sorriu curto. 

Alívio parecia, a ínicio, uma coisa boa, saber que Jimin queria conversar, que ele sentia que precisávamos de conversar, mas depois vinha o resto, o medo, o nervosismo. Porque, das duas uma, ou Jimin e eu aceitávamos o que sentíamos um pelo outro e enfrentávamos isso juntos, ou, então, apercebíamos-nos que havia demasiada bagagem entre nós e, dentro dela, nenhuma salvação.  

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