26 ♻ time ♻

Enquanto Yugyeom parecia estar se despedindo de todos os garotos, eu já estava junto da porta da saída, esperando por ele.

Todos estávamos indo embora. Já eram onze horas da manhã e tínhamos passado pela noite, embora dormindo algumas horas, talvez três ou quatro, pelo menos alguns de nós.

Encostado ali, na ombreira que separava o pequeno corredor na entrada para a sala, eu via o quão zombies todos pareciamos, quase adormecidos pelos cantos.

Eu acabei fechando os olhos, sem saber se o Kim demoraria, enfiando as mãos nos bolsos da calça e encostando a nuca na parede.

Não soube dizer quantos segundos ou minutos tinham passado até que eu sentisse dedos em volta do meu ombro, o toque leve e os meus olhos abrindo-se de forma lenta, pensando em como eu ainda precisava conduzir até casa.

"Ei." Disse-me Jimin, óculos postos no nariz, mas eu nem perguntei, sabendo que ele os usava quando cansado, assim como eu.

"Hun... Oi." Eu acabei resmungando, desencostando-me, as costas doendo por estar contra a esquina da parede, a mão subindo para arranjar a franja. "Você precisa de carona?"

"Eu..." Ele acabou divagando, olhando em volta, vendo como Hoseok ainda não tinha se levantado do sofá, deixando-o indeciso se o mesmo o levaria em casa como combinado. "Não era isso que eu vinha dizer."

"Ah..." Murmurei eu, porque eu não estava suspeitando que era isso, eu estava só oferecendo. "O que era?"

"Bom..." Jimin afastou os cabelos para o lado, a mão tocando a armação fina de lado, como se a ajeitasse e descendo logo depois. "Foi bom te ver." Declarou ele, e eu acabei ressaltando o olhar, sem pensar, o fazendo me olhar estranho, mexendo o queixo devagar, sem saber para onde olhar, sem querer deixar as coisas estranhas ali. "Mas uma carona realmente seria legal!" Acrescentou logo a seguir, mudando o assunto de forma drástica.

E aquilo não era nada demais, nada mesmo, não havia motivo para hiperventilar, no entanto...

"Sim, pois, Hoseok parece... Não sei, acho que ele vai adormecer ali."

E nós dois olhamos o Jung, o mesmo quase cedendo ao sono ali mesmo, no sofá de Min Yoongi, mais uma vez na noite.

"Está esperando Yug?"

"Sim, eu preciso levar ele também e-"

"Ei, Jungkook..." Chamou-me o Kim, debaixo do ombro do outro, Taehyung, a voz sonolenta, e o olhar embasbacado. "Pode me deixar antes na casa de Taehyungie... A mim e Taehyung... Na casa dele..."

Eu acabei rindo, esfregando os olhos, porque o meu melhor amigo mais parecia bêbado do que sonolento, e todos percebemos isso pela forma como andava e falava.

Eu acenei, sem achar que ele estivesse prestando atenção e depois de acenar uma vez a Yoongi e Hoseok eu saí, logo atrás de Jimin e os outros dois.

O meu carro estava na frente da casa, mas quase que não era visto dali. O tempo estava consumido como se fosse de madrugada, tudo estava enevoado, mesmo sendo uma parte baixa da cidade, e de certeza que ia chover.

Eu estava caminhando atrás de Jimin, vendo os Kims entrarem nos bancos traseiros do carro, que eu tinha destrancado de longe, quando Jimin se virou, a mão subindo para os cabelos.

"Ya, você quer que eu conduza? Você parece cansado..." Ele parou, ali na minha frente, o fundo enevoado atrás dele tornando a sua figura tão nítida em relação a tudo, como se naquele espaço mínimo entre nós não houvesse ar possível.

E as coisas ainda eram assim. Estávamos levando, pela primeira vez, aquela coisa de sermos amigos a sério, no entanto, não estávamos mantendo muita distância e talvez isso significasse que não estivéssemos sendo muito bons naquele requisito da amizade.

Era aquilo, amizade não era sobre distância, mas ali, entre nós dois, a proximidade incitava desejos afundados que não podíamos revelar, embora os soubéssemos tão bem e nunca os esquecessemos.

No meio de tudo isso, Jimin e eu ainda queríamos estar perto, mas não estávamos nos beijando, não estávamos nos agarrando pelos cantos nem dormindo juntos. Não estava sendo carnal entre nós daquela vez e não deixava de ser bom, mas, ao mesmo tempo, doloroso. Porque embora não fosse de sexo que nós vivíamos, era uma forma crucial na forma como comunicavamos muitas vezes, era nos beijando que passávamos tanto tempo, e agora sem isso, só sobrava o resto e era bom. Era bom, mas também sabíamos que era uma desculpa para não nos magoarmos. 

Jimin foi conduzindo até casa de Kim Taehyung, onde ele e Yugyeom ficaram, e depois éramos só nós, embora o trêmulo da minha cabeça contra o vidro fosse embalador de mais.

Sem me lembrar quando havia caído no sono, ao abrir os olhos, tudo parecia mais embaciado do que antes. As gotas finas caíam pelo vidro da frente e a minha bochecha estava fria de antes estar contra o vidro. A minha cabeça mexeu lentamente, olhando a chave do carro pendendo na ignição, perto dos jeans pretos de Jimin, e nós estávamos estacionados em frente do restaurante, da minha casa.

Havia um casaco nos meus ombros, que antes estava no banco de trás e era meu, e que caiu para as minhas pernas quando me mexi e notei o horário que o carro marcava.

Era meio dia e dezassete minutos, e nós tínhamos deixado a casa de Yoongi por volta das onze.

Jimin bocejou antes de me notar acordado, o celular entre as pernas esticadas, tentando ficar confortável e os dedos deslizando pelo ecrã de forma preguiçosa.

"Ji..."  Eu nem terminei, a voz saindo rouca, o carro quente e ele se virando para mim.

"Oh, bom dia!" Ele murmurou com sono, a mão acariciando-me os cabelos por um segundo e sorrindo de lado. "Eu não quis te acordar, você parecia um bebê!"

"E você... Você ficou aqui?"

"Em minha defesa, eu estava ganhando coragem."

Não estava nada, não por aquele tempo todo, jogando joguinhos no celular e me cobrindo com um casaco.

"É?" Eu entrei no jogo, sorrindo e olhando para o lado de fora depois.

"Eu pensei em te deixar, mas não deu."

"Porque está chovendo."

"Sim, claro, por isso." Ele concordou rápido, puxando a chave da ignição e entregando-ma.

"Vem." Eu mandei, a mão empurrando a maçaneta e fazendo a porta abrir, quando ele tocou o meu cotovelo e eu parei, as pernas quase fora do carro.

"O quê?"

"Vem comigo." Explicitei, sorrindo de lado e querendo sair de novo. Dessa vez não me puxou.

"Eu... Eu estou cansado." Jimin disse-me, sem entender as minhas intenções, mas eu escutei até o final. "Preciso de dormir... Não é que eu me importasse de passar tempo com você, mas... essa noite foi..."

"E se viesse e descobrisse ao que estou me referindo?" Eu o interrompi, finalmente, sem saber lidar com a forma como agora ele dizia todas as coisas que sentia.

"Hun...Você vai subir?"

Eu acabei saindo do carro, fechando a porta e abrigando-me em baixo do toldo que protegia a frente do restaurante, esperando por ele e trancando o carro.

Como podia ele achar que eu estava o convidando para passar tempo no restaurante?

Eu me apressei a abrir a porta da entrada, Jimin no meu encalço, tremilicando e protegendo as mãos dentro das mangas, agora com o frio do exterior nos atingido.

Nós subimos as escadas com a pouca energia que nos sobrava, alcançando o meu quarto com pressa, todos friorentos e Jimin sentou-se na cama, encolhido, me observando enquanto eu abria o armário e puxava as roupas mais quentes que eu encontrei.

"Isto serve em você?" Eu me virei, um conjunto moletom nas mãos, e Jimin ergueu o rosto, como se pudesse dormir ali de tão cansado, acenando que sim e sorrindo de lado.

"Talvez fique grande."

De certeza que ficava grande, porque não era a primeira vez que ele as vestia e as minhas roupas já eram largas por natureza.

Nós dois nos trocamos e eu peguei mais um cobertor para a cama, porque de repente era como se fosse inverno, de um momento para o outro e o barulho da chuva batendo na janela auxiliava todo aquele pensamento.

"Achava que eu ia te deixar ir nessa chuva?" Eu perguntei, brincalhão, metendo-me debaixo dos cobertores e vendo-o fazer o mesmo.

"Eu posso dormir no chão ou... em um sofá? Eu..."

Não sabia o que eu tinha dito de errado para ele querer as coisas assim agora, mas eu neguei, o puxando mais para o meio do colchão.

"Aqui não chega para nós dois?"

"Está frio, e eu tenho tendência a..."

Eu sabia qual era a tendência dele. A tendência dele era me agarrar por tudo o quanto era canto, com direito a pernas enroladas e tudo muito muito próximo.

"Legal." Foi o que eu disse, sem me importar, passando-lhe um braço pela cintura e passando os cobertores por cima de nós até os cabelos.

"Então não tem problema?"

Eu acabei negando, esfregando o meu nariz no dele, como um beijinho à esquimó e partilhando o travesseiro com ele.

Com tanto sono, nenhum de nós adormeceu de imediato, como se ambos tivéssemos algo entalado.

Eu não tinha e sabia disso, porque depois de tudo não havia nada que eu ainda quisesse dizer-lhe, não havia nada preso e que me limitasse. Eu estava bem, queria estar e pretendia continuar por um longo tempo. Mas e ele? Estava?

"Jungguk..."

Ele não abriu os olhos, aninhado contra mim, a sua perna metendo-se entre a minha sem se aperceber, e eu juntei o meu queixo ao topo da sua cabeça, fechando os olhos também e segurando-o ali.

"Sim."

"Só porque está a chover?"

Então era aquilo, mas não tinha como eu suspeitar que agora, com todas as formas em que Jimin mostrava sensibilidade que antes não, ele iria ser atingido por uma coisa dita da boca para fora.

"Está me assustando." Eu respondi, baixando o rosto e passando a ponta dos dedos pela bochecha dele, logo abaixo dos olhos fechados.

"Não gosta das coisas que eu digo?"

Eu sorri sem ele ver, sentindo-me como se levitasse ali, sentindo que nunca antes ele foi tão sincero.

"Não entendo porque nunca as disse antes." Eu contornei, a minha palma na mandíbula dele e o queixo se erguendo para mim, sem ter noção de que se fosse um milímetro mais... "Mas pode me dizer tudo o que quiser, você devia saber."

Foi quando ele abriu um olho, notando a proximidade, talvez pelo ar quente batendo em seu rosto ou os narizes se tocando de repente, que soube que não nos podíamos soltar mais.

"Quero te dizer algo há algum tempo."

Por dentro eu virei um turbilhão e por fora saiu uma lufada de ar pela minha boca.

Estávamos ali, juntos e agarrados, abraçados, quentes um no outro, e havia algo que ele queria me dizer. Há algum tempo.

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