25 ♻ lie ♻

Depois daquele jogo, a regra era que não havia privilegiados. Ninguém dormia nas camas, ninguém dormia nos sofás.

E claro que tinha muito mais que se falar daquele jogo criado por Yoongi, incluindo explicitar que, claro que sim, o nome de Jimin tinha saído da minha boca mais algumas vezes, por todas as horas que jogamos, mas claro que também nunca mais saía dali.

Não era como uma volta ao passado, porque não eram memórias ou remorsos, eram lembranças, trazidas propositadamente pelas perguntas dos nossos amigos. Não era culpa nossa que tivessemos um passado e ele significasse tanto.

Daquela forma, em frente dos sofás e onde antes tinha a mesa de centro, estavam cobertores a servir de colchão, todos esticados pelo chão, e outros efetivamente para nos cobrirmos.

Yugyeom e eu estávamos no meio, mas o mesmo estava virado de costas para mim, olhando Taehyung, então eu virei-me também, encontrando Jimin do outro lado, abrindo um dos olhos quando me sentiu mover.

"Acho que eles ainda estão competindo." Eu murmurei-lhe, ajeitando a almofada por debaixo da minha cabeça, e Jimin sorriu de canto, segurando a ponta do cobertor dele e puxando-o para cima de mim, cobrindo aos dois.

Mas depois Jimin voltou a fechar os olhos, sem dizer nada, sem se mexer mais, a mão de volta para si, tudo para si.

Não era estranho, mas era peculiar. O que esperava eu? Ele estava respeitando aquela decisão, estava respeitando uma amizade. E, no fundo, esse é que era o meu medo ou não?

"Jimin." Chamei eu, pensando em tocar-lhe a face no lugar, querendo fazer isso, e por querer não fiz.

Ele abriu os olhos, a mão segurando a barra do cobertor e tudo posto em mim. Eu susti o ar dentro de mim e pisquei uma vez.

"Você também me teve como ninguém." Eu disse, encolhendo os lábios, mas ele não sorriu, ele não esboçou nada com algo que eu estava tão feliz por deixar sair de mim.

"Então porque não disse o meu nome?"

Eu esfreguei a bochecha na fronha. Aquela não era a conversa que eu esperava ter e de repente sentia-me abalado por todos os nossos amigos poderem estar, possívelmente, ouvindo tudo aquilo.

"Porque eu não quero que..." Eu acabei suspirando, aproximando-me mais e tentando de alguma forma manter aquilo entre nós. "Eu não acho que nós devemos continuar lembrando de tudo, de todas as vezes."

"Porquê? Eu gosto."

"O quê?"

"São lembranças boas."

E no fim, eu acho que aquele era o problema.

Como nunca tinha tido algo tão bom, Jimin agarrava-se às melhores coisas, e eu, que nunca tinha tido algo tão mau, agarrava-me às piores.

"Mas se te incomoda, então não precisamos mais." Ele acrescentou, embora contragosto, e eu neguei levemente, a face contra a almofada e a minha mão subindo por baixo dos cobertores até encontrar a dele, tocando a ponta dos dedos, e apenas a ponta, que foi o que foi necessário para perceber.

"Você tem razão, são boas..." Cedi eu, engolindo em seco, mas não era uma mentira. "Mas se continuarmos, então acho que afetará nós dois." Eu esperei concluir, sem saber como, puxando a mão dele para mim e beijando-a, mantendo-a para mim. "De uma forma em que será impossível sermos amigos."

"E você quer que sejamos amigos. Entendi." Ele pareceu concluir o meu pensamento em voz alta, como se concordasse com tudo e fosse o maior entendedor.

"Você não quer?" Questionei eu, embora a medo, tentando brincar com aquilo, mas Jimin prendeu o lábio inferior e mexeu uma vez a cabeça para o lado.

"Talvez seja melhor assim." Desculpou-se ele, a sua mão deixando o calor da minha de forma delicada.

"Pelo menos estamos tentando." Eu tentei aliviar a tensão disfarçada, a minha mão com vontade de segurar a dele e sem poder.

"Sim."

E terminou ali, porque depois daquilo Jimin fechou os olhos por alguns segundos e depois virou-se, dando-me as costas.

Ali estava eu, entre o meu melhor amigo e Park Jimin, o que seria até agora hiperbolamente descrito como o amor da minha vida.

Era isso, Jimin não era menos e não tinha como ser mais. Não tinha como evitar uma coisa daquelas, tinha? Era o mais inevitável possível.

"Ei, Jimin..." Eu murmurei entre um suspiro, chegando-me perto dele, o braço passando-lhe a cintura, mas foi quando o meu rosto se aproximou da nuca dele que Jimin mexeu o braço e me empurrou.

Eu estranhei, mas não desisti, porque amigos podiam fazer aquilo, não era um crime nem um regra infrigida, então eu me empurrei mais uma vez, prendendo-me contra ele até ter os meus lábios logo abaixo dos cabelos da nuca dele.

E então, ao invés de me empurrar, Jimin pousou a mão na minha e incitou-a a subir, entrelaçando os nossos dedos daquela forma e beijando os meus.

Eu sorri, porque era mais uma das coisas inevitáveis, sem pensar beijando-lhe a pele ali, abaixo da nuca e apertando-o contra mim.

Embora aquele lugar, aquela coisa ali, fosse confortável, eu e Jimin não acordamos assim pela manhã.

Eram onze e meia quando a falta de calor humano e a sensação de parecer uma salsicha me abandonou. Jimin ainda estava nos meus braços, virado para mim e em cima de um deles, estava encolhido e com frio. Já nenhum dos nossos amigos estava deitado, pelo menos não no chão, e as vozes ao longe foi o que chegou primeiro.

Tentar esquivar-me dali não era uma opção, e levantar-me e fingir que ninguém tinha visto aquilo era dar uma importância que não tinha. Afinal... e daí que Jimin e eu dormimos juntos? Estava frio, eramos amigos e podíamos fazer isso um pelo outro.

"Se vamos ser amigos..." A voz dele me chamou atenção de repente, a ponta dos dedos quentes tocando o meu queixo, na linha do maxilar. "Preciso te contar a verdade."

Mas qual? Qual mais?

"O quê?" Eu perguntei, sonolento, mexendo o queixo para que se encaixasse melhor nele.

"Eu não estava mentindo quando..."

"Nossos amigos finalmente acordaram!" Festejou o dono da casa, adentrando a sala e assustando Jimin, que se sentou de imediato.

"Quando o quê?" Eu perguntei, nervoso, e Jimin me olhou, depois Min Yoongi e eu de novo.

E ele negou, sorrindo de canto e ficando de pé.

Fosse o que fosse, a minha esperança tinha uma suspeita, mas a realidade só tinha medo.

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