21 ♻ dry ♻
''Honestamente, Gguk, já deu.'' Dizia Yugyeom convicto, e não importava se se Taehyung soubesse daquilo provavelmente cortaria a sua goela. ''Eu te disse, quem vem para brincar não joga justo.''
''Isso é alguma frase ou...?'' Eu cheguei a rir, sentado na mesa de esplanada de forma descontraída, os meus dedos amassando o topo da latinha quase vazia de Iced Tea de pêssego. ''Para de ser assim, eu não fui legal com ele.''
''E quantas vezes ele não foi legal com você? Sei lá, deixa eu ir buscar os dedos de todo mundo para ver se dá para contar.'' Implicava ele, demasiado naquele dia, se se fosse a notar, o que me fez estreitar as sobrancelhas.
''Cara, ele fez algo a Taehyung ou assim?'' Perguntei eu, querendo saber, porque nunca antes Yugyeom ficara tão irritado sobre Jimin até aquele ponto, mesmo que houvessem tantas outras coisas para que ficasse assim.
''Não, ele fez a você.'' Yugyeom, que antes estava encostado para trás na cadeira de metal, aproximou-se da mesa, os cotovelos pousados na cadeira e as mãos unidas na frente da barriga. ''Cansei desse cara. Ele brincou e brincou e ele é ótimo como amigo, de verdade, parece ser. Mas vocês? Vocês não são amigos.'' Negou ele com a cabeça, deixando-me incrédulo. ''E às vezes ele te trata como se fossem realmente nada.''
''Eu não sei, eu acho que desta vez...''
''Desta vez, eu sei.'' Prosseguiu ele, sem dar descanso, empenhado naquilo. ''Sei de tanta coisa. Sei que lhe vai dar uma chance nova, mais uma na lista, sei que ele vai estragá-la com as coisas impulsivas que ele faz e diz, sei que vai se magoar, mas tudo ok, porque você consegue superar, Jun, tal como no fim vai saber admitir que tudo isso poderia ter sido evitado se você me escutasse.''
Eu acabei por não dizer nada, piscando devagar e comprimindo os lábios para dentro. Yugyeom tinha razão, eu sabia, e ele sabia ainda mais, mas o que sabíamos os dois é que na prática as coisas acabam não sendo tão simples quanto soavam, ou talvez fossem e eu não visse.
O meu olhar acabou subindo quando Taehyung chegou, pousando as mãos sobre os ombros de Yugyeom primeiro, por trás deste, e sentando-se logo depois na cadeira livre entre nós dois.
E enquanto Taehyung entrou numa conversa com Yugyeom sobre algo que acabara de acontecer consigo em uma aula, a qual eu devia estar ouvindo, foi quando eu me vi sozinho em pensamentos, pronto para reflectir sobre o quão verdadeiro era o que Yugyeom dissera.
Jimin não podia vir agora e dizer-me que me queria namorar, podia? Ele não podia simplesmente se assumir pronto para uma coisa como aquela quando depois de menos de vinte e quatro horas juntos nós estávamos chateados um com o outro. Isso era o que doía, era verdade, que na mesma quantidade que Jimin fazia bem, ele equilibrava fazendo mal. Não era proposital, eu sabia, e eu gostava de tudo, gostava tanto de todas as partes. Queria as partes todas, mas daquela vez, logo daquela vez, o lado racional era o que ganhava dentro de mim e esse lado dizia-me que eu e Jimin não conseguíamos ser nada juntos, não havia pelo que tentar e causar mais caos.
''Onde está Jimin?'' Perguntei eu, interrompendo a fala de Taehyung, que me olhou estupefacto, depois Yugyeom, questionando-se se devia dizer, e Yugyeom não sabia, mas confiando no melhor amigo ele simplesmente acenou.
''Cara...'' Taehyung arrastou a fala, contendo-se. ''Ele não é de aço, ok? Ele hoje me pediu a chave que você me deu, então talvez ele esteja no estúdio.''
Eu fiquei de pé, olhando aqueles dois e questionando-me sobre, como de uma forma estranha, alguém que dizia ''aço'' ao invés de ''ferro'' e alguém que dizia frases como ''quem veio para brincar não joga justo'' combinavam tanto e ao menos eram capaz de admitir para si mesmos.
Sem dizer mais nada eu deixei os meus amigos, caminhando com as mãos nos bolsos da jaqueta de ganga comprida e pesada, sabendo o caminho para o estúdio dali e dizendo a mim mesmo que eu podia andar isso tudo. A temperatura estava a favor, porque embora começasse a esfriar de forma lenta, caminhar me aquecia um pouco, principalmente quando acelerei o passo, sabendo que se me demorasse era capaz de Jimin não estar mais lá quando eu chegasse, caso ele estivesse mesmo.
Pelo menos saber que ele pedira a chave a Taehyung, a qual eu fizera questão que soubesse estar com o amigo dele, me confortava de algum modo. Ele estava ali por um motivo e só de pensar nisso eu não pensava mais no frio, nem no calor, nada me consumia, porque quando Jimin dançava eu perdia-me.
No estúdio, embora se ouvisse a música baixa no corredor, através da porta, eu bati os dedos na mesma com calma. Talvez achando que não era eu, Jimin abriu a porta e deixou-a de imediato, caminhando para a frente dos espelhos na parede, passando o braço pela testa, empurrando os cabelos para trás e apanhando uma garrafinha do chão, bebendo com verdadeira sede e cansaço.
''Trouxe miojo?'' Perguntou ele, finalmente se virando e dando de caras comigo, alguém que ele não esperava ali, deixando os lábios entreabrirem-se e puxando a regata para baixo, cobrindo parte dos collants.
Um riso seco deixou a minha garganta, porque eu já vira muito mais do que aquilo e agora ele estava se escondendo.
''Nós podemos conversar?'' Perguntei eu, engolindo o ciúme no topo da garganta sobre quem quer que fosse que estava trazendo miojo para ele. A porta ainda estava aberta, porque eu não sabia se ele me deixaria tentar, mas acenou tão calmo que achei ser uma alucinação, fazendo-me encostar a porta com calma e respirar fundo, ganhando coragem.
''Eu achei que era Taehyung, ele me disse que... estava vindo...'' Comentou ele, já desconfiado no meio da frase, e eu sorri, sabendo que o loiro tinha feito aquilo por mim, para que Jimin me deixasse entrar.
''Ele te prometeu miojo? É um bom truque.'' Garanti eu, querendo desanuviar o ar pesado, e Jimin foi se movendo calmamente para trás do sofá, em pé, cobrindo todo o corpo da cintura para baixo, como ele queria antes. ''Antes de tudo, eu quero me desculpar. Ou tentar, pelo menos.'' Disse eu, embora não fosse tudo o que tinha para dizer, e Jimin, quieto, subiu o canto do lábio e acenou, como se entendesse sem eu ter de dizer mais nada. ''Você não é um deslize para mim e...'' Eu acabei coçando a nuca, envergonhado e tocado pelo assunto. ''E não quero ser um deslize para você.''
''Ya, eu te disse que não era.'' Respondeu então, sem ser duro, os braços cruzados, mas esticados, tentando criar alguma defesa.
Eu enfiei a palma da mão no bolso traseiro da calça, abrindo as minhas defesas e me aproximando dele, por trás do sofá, ignorando todo o seu esforço para se esconder ali, segurando-lhe a mão.
''Quero te pedir uma coisa.'' Eu anunciei, puxando a mão do bolso e passando-a pelo nariz, olhando a minha mão na sua, depois o seu olhar, que não me largava, fazendo-me desviar com rapidez. ''Quero tentar, quero mesmo.''
''O quê?'' Jimin uniu as sobrancelhas, sem entender, e antes que houvesse lugar para esperanças eu continuei.
''Quero mesmo tentar ser seu amigo.'' Expliquei por fim, encarando-o agora, sem expressão alguma, guardando tudo para si, e a sua mão caiu da minha, o único gesto desapontado dele.
''Já tentamos isso.''
''Não tentamos nada.'' Eu rebati, negando com a cabeça. '' A única coisa que fizemos foi impor coisas que nos levaram ainda mais rápido a sucumbir aos nossos desejos... bom, desejos.''
''Foi?'' Incrédulo, quase chateado, Jimin perguntou-me.
''Não precisamos de regras, nem de pactos. Amizades não precisam disso. Nós podemos só ser... Ser nós mesmos. Eu gosto de estar com você, é legal, é bom, eu me sinto bem, e acho que podemos fazer isso? Você não acha? Como amigos.''
Como amigos, que ricos amigos.
''Jungkook...'' Jimin negou com a cabeça, um passo em frente, o braço nu passando pelos ombros do maior. ''Você quer isso?''
''Quero.'' Respondeu rápido, tão seguro na sua mente, e Jimin encarou-o, tão perto de si, a mão subindo para a bochecha do moreno. ''Quero mesmo.'' Quis assegurar, o tom saindo trémulo e Jimin se espremeu nele, ganhando altura e rindo-se com a garganta. E depois, logo depois, os narizes encostaram-se, a mão de Jungkook na cintura alheia, para depois, quando Park quis unir os seus lábios, Jungkook lhe segurar a mão e virar o rosto, entrelaçando os seus dedos e beijando-lhe a bochecha. ''Seremos bons amigos.'' Disse ainda, a seco.
Tão seco. Nem um beijo.
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