16 ♻ marisol ♻
''Eu não estou entendendo...'' Jimin especulava, a bochecha espalmada contra o meu abdómen e as minhas costas contra a cabeceira da cama, enquanto as dele ainda estavam contra o colchão, as pernas dobradas e as minhas também, o lençol sobre ambos. ''Esse Mickey gosta da Marisol?''
''Claro que sim!'' Eu exclamei, ajeitando o celular para que ele conseguisse ver o que eu estava vendo. ''Eles nunca vão ficar juntos, ela é muito inteligente.''
''Mas ela está na turma dos repetentes?''
Jimin estava tentando, estava tentando entender aquela série que eu vinha vendo para passar o tempo.
''Porque ela falta as aulas porque ela trabalha.'' Expliquei eu, paciente, deixando o celular de lado antes que outro episódio começasse e não houvesse volta.
O meu rabo escorregou pelo colchão até que as minhas costas encontrassem o mesmo, o braço por trás do corpo de Jimin e a bochecha dele agora contra o meu peito.
''Mas ela não tem idade para trabalhar.''
''Como você sabe?'' Eu retruquei, divertido, olhando o teto.
Era engraçado, fingir que nada aconteceu. Nada. Nadinha.
''Ela está no ensino médio.''
Aquilo era deveras perspicaz.
Eu não disse nada, aproveitando o facto de Jimin estar bem com a vida naquele dia, e talvez fosse pela ressaca, mas não era. Jimin estava todo manhoso ali, todo ele, porque os dois éramos saudades, éramos tomados por ela a cada toque e tinham sido tantos toques na noite passada que éramos movidos por eles.
''Jungkook.'' Ele disse-me então, o tom mais sério, menos manhoso, mas o braço cruzou a minha barriga, abraçando-me assim. ''Eu quero tentar algo diferente.''
''Pode ser daqui a dez minutos?'' Eu brinquei, levando-o a beliscar-me a pele.
''Tem de ser agora.''
''Exigente.'' Eu continuei a brincar, percebendo a forma como se afastara gradualmente, erguendo o corpo sobre o colchão e olhando-me, levando-me a endireitar da mesma forma.
''É sério.''
''O que foi?''
''Eu quero tentar... uma coisa.'' Dizia-me ele, sem desenvolver, a mão pousando em cima do meu ombro, e eu acenei uma vez, de repente atónico, perdido no olhar ansioso e receoso.
E então ele moveu-se, o lençol escapando das minhas pernas, as minhas costas de novo contra a cabeceira quando se aproximou de uma forma lenta, quase medrosa, e a mão segurou os cabelos da minha nuca, embora com força, mostrando o nervosismo dele.
''Jimin, o que foi...''
''Sh...'' Mandou-me, sem mover um músculo, os lábios quase colados nos meus, tudo quase colado em mim, mesmo os nossos olhares, tão cheios um no outro.
''Você quer tentar me beijar?''
E ele me beijou, a mão descansando contra a minha nuca, soltando o aperto, e os lábios macios contra os meus, com tanta calma que até doía, aquela calma que não pede por mais nada.
''Tenho medo.'' Disse-me em um sussurro honesto, a saliva que nos ligava sendo partida e levando-me a passar a língua pelo lábio, embora ele estivesse ali, ainda tão perto.
''Do quê?'' Perguntei eu, inocente, querendo engolir em seco, com medo agora, o olhar para baixo, incapaz de o olhar a ele.
Jimin não tinha medo. O que era aquilo?
''De nós.'' Admitiu, como se custasse, a mão apertando-me os cabelos mais uma vez e apercebendo-se do que fazia soltando-os e descendo-a para o meu ombro, uma distância sendo provocada quando o impedi de ir, segurando-o ali por mais um pouco.
''Não precisa.'' Garanti, a medo. ''Somos só nós.''
''Não, não somos.'' Sabia lá eu... ''Somos o que nos rodeia e é tanta coisa.''
''Do que você está falando?'' Quis saber, agora preocupado com o rumo da conversa, e então Jimin se escondeu em mim, o queixo sobre o meu ombro, os braços em minha volta, e eu o puxei mais, deixando-o ficar ali, colado em mim mais uma vez.
''Você me namoraria agora?'' Perguntou então, a voz saindo rasgada, os braços quase pendendo. ''Depois de tudo?''
''Não sei, eu já quis te namorar tantas vezes.''
Tantas tantas.
''O que você não esquece?''
Era tanta coisa, ele tinha razão.
Eu deveria dizer-lhe? Devia dizer-lhe quando nem me olha nos olhos? Devia dizer-lhe quando quer saber mas não quer ver a dor? Devia soltar o que nem o diabo quer agarrar?
''Me diz tudo.'' Acrescentou em pedido.
E eu devia poupá-lo? Devia ter em conta o coração ou a dor da facada nas costas que ainda não curou?
''Não esqueço quase nada, mas é porque sou assim.''
Ele me olhou ali, as mãos segurando-me o maxilar, os lábios tocando os meus em um beijo tão pequeno e os olhos fechados.
''Por favor.''
O que você quer de mim, Jimin? Que eu me despedace mais um pouco ou que te deixe construir tudo de novo?
''Não consigo esquecer que se desvalorizou para tentar me esquecer.'' A saliva desceu de forma tão morta que quase secou a meio caminho. ''Não consigo esquecer que me quis tão longe que beijou o meu melhor amigo.''
Beijou-me a pele, o rosto escorregando pelo meu pescoço até a omoplata, o queixo pousado lá e o ar escapando todo de mim. Preso por todo esse tempo? Seria?
''Não consigo esquecer que não estive com você quando precisou de mim.''
Será que aquilo era o que doía mais?
Apertou-me o ombro, como se soubesse e os dedos escorregaram até caírem contra a minha coxa entre nós, e então afastei-o, fazendo-o encarar-me.
''Somos como Mickey e Marisol?''
''Não.'' Eu acabei rindo daquilo, contagiando-o a ele. ''Mickey nunca teve uma chance.''
''Quantas é que eu tive?''
Eu ri mais uma vez.
''Você não é Mickey.''
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