14 ♻ pub ♻

Quando Mô entrou pelo lugar a dentro, enchendo o lugar de luz, abanando os braços em silêncio no ar, eu  esbocei um sorriso sincero, recebendo-a com um abraço e agradecendo pelas felicitações. Depois disso ela abraçou a minha mãe, esta que uns meses atrás ficara tão feliz por a ver pairar por ali mais uma vez, o que era de louvar, porque a minha mãe era uma das pessoas que nos via como o casal do futuro, e agora... Agora não, nem um mísero olhar suspeito, nem tão pouco um comentário sobre o assunto. 

As coisas estavam tão diferentes agora. 

''Hoje eu vou conhecer Jimin, então eu estou animada!'' Ela exclamou, fazendo questão de mostrar a todo mundo que aquilo estava acontecendo, mas felizmente todo o mundo resumia-se a Kim Yugyeom e a minha mãe. 

''Você poderia estar animada por ser o meu aniversário...'' Eu fingi-me incomodado e Yugyeom acompanhou a risada que escapou de mim logo depois. 

Era natural ela dizer algo do género, porque ao contrário do que toda a gente pensou, eu não andava evitando falar de Jimin quando tudo se deu. Não. Eu só não andava falando com alguém que eles esperassem. Tê-la de novo na minha vida era uma surpresa, até mesmo para mim, mas não era ruim. Era bom. 

''Como eu posso estar animada sobre isso quando você me convidou para ser a sua carona?'' Ela atirou, como se fosse verdade, e a minha mãe negou com a cabeça, aproximando-se de mim com um pano sobre o ombro e beijando-me a bochecha. 

''Se divirtam, mas com juízo.'' Ela mandou então, o olhar pesado sobre nós os três e eu acenei uma vez. 

As coisas estavam realmente diferentes, porque um ano atrás, eu estaria entrando por aquela porta sozinho, minha mãe estaria segurando um bolo caseiro em mãos ou da cafetaria ali perto e os clientes estariam cantando ''parabéns a você'', mesmo sem saberem quem eu era. 

Um ano atrás, Jimin estaria ali me dando um cornetto. Dali uns dias faria um ano desde que eu sentira o forte ardor de sumo de limão contra a minha face, contra o meu olhar e o colarinho da minha tshirt. Dali a duas semanas, faria um ano que eu estaria caindo nos braços de Park Jimin. Uma lista tão grande.

Pela noite dentro não haviam planos, nem mesmo depois de encontrarmos Jimin e Taehyung no centro da cidade. Nenhum de nós queria algo fechado, nenhum de nós queria estar entre quatro paredes e fazer silêncio, e parecia estar tudo nas minhas mãos. 

''Deixa eu sugerir.'' Taehyung disse ao fim de alguns quarteirões caminhando, pousando o braço pelos meus ombros e caminhando do meu lado. 

''Deixo.'' Eu respondi-lhe, fazendo os outros rirem e sabendo o que ele sugeriria. 

''O que aconteceu à velha festa em um pub?'' 

''Nem pensar!'' Foi a única garota ali quem contrapôs, agarrando o casaco fino contra o peito, e todos nós paramos, decididos a decidir ali e agora o que fazer com a noite. ''Olhe o que vai parecer, uma única garota no meio desse tanto de rapaz.'' 

''Você só vai parecer a namorada chata de um de nós.'' Taehyung sacudiu os ombros, e eu ri, vendo-a tremer de frio e estendendo-lhe o casaco de moletom que tinha comigo, fazendo o loiro rir. ''Neste caso, do Jungkook.'' 

''Vou tolerar porque de certeza está mais quente lá dentro.'' Ela cedeu então, levando os Kim a festejar, porque ultimamente Yugyeom estava adquirindo o gosto do outro Kim por pubs, por música alta, dança e bebidas. 

E eu sacudi os ombros, pouco interessado sobre o que fazíamos ou não, mas certo de que se havia algo que animaria aquela noite esse algo seria bebida. 

Eu deveria ter suspeitado que ter Kim Taehyung caminhando por motivo nenhum enquanto conversávamos entre nós era algo que nunca aconteceria, e por isso nós encontramos um pub apenas a mais um quarteirão dali, no entanto, ele acabou parecendo o mais longo deles todos. 

''Eu me lembro quando Jungkook era uma semente.'' Mô comentou, fingindo-se chorosa, empoleirando-se no meu braço, e eu ri-me do drama, negando comigo mesmo. 

''Porque está falando do pinto dele essa hora?'' Taehyung fingiu resmungar, defendendo-me falsamente, e Jimin finalmente soltou uma risada, as mãos nos bolsos do casaco enquanto caminhava. 

''Vocês são cruéis.'' Disse ela a respeito, afegando-me o braço, mas mesmo assim eu abstive-me da conversa. ''Jungkook cresceu imenso, ok?'' 

''Vocês estão ouvindo as barbaridades que essa garota fala? Eu já vi o pinto dele, não é nenhuma Torre Eiffel.'' 

''Você nunca viu nada.'' Eu murmurei, baixinho o suficiente para que quase ninguém me ouvisse. 

''Míope.'' Jimin fingiu tossir, soltando a palavra pelo meio, e eu o encarei de imediato, sem acreditar no que dissera, e Mô aproximou a boca da minha orelha. 

''Eu gosto dele.'' Segredou-me então, mas aquilo não significava nada. 

''Jimin!'' O Kim loiro exclamou, como se o repreendesse, mas o Park apenas sacudiu os ombros. 

Querendo ou não, aquilo foi o gatilho para que o ambiente entre todos nós fosse se tornando cada vez mais descontraído. Dentro do pub, todos estavam pedindo bebidas para todos, acordados de que no final dividiríamos a conta, e no nosso circulo não nos importávamos por estarmos em um lugar cheio, não nos importávamos de dançar como loucos e beber como malucos. 

Sabíamos que a intenção de Kim Taehyung ao puxar Yugyeom para si não era nos deixar de parte, e não era realmente isso que se passava, mas ao ver os dois a sensação bêbada que pairava por ali, quando o meu olhar se cruzou com o de Jimin, é que éramos para ser nós. 

A melhor escolha daquele dia fora trazer Mô connosco, porque ela era a alma da coisa, dançando entre nós, tão livre quanto podia, cantando as músicas que passavam, soltando gritos de guerra, e sempre querendo mais, como se não houvesse amanhã. E em algum momento não havia mais essa de dançar entre nós, porque Jimin se tinha desvanecido em algum momento, e a garota na minha frente não me dava realmente a hipótese de o procurar. 

Não sabia o que tinha a bebida que ele trouxe para nós escassos minutos depois, mas sabia que era pura e descia bem, e foi a partir daí, a marca da bebida na noite, que aquela deixara de ser uma noite qualquer em um pub.

Quando se foi a ver, não havia mais nada nem ninguém entre mim e Jimin, a proximidade já era mais do que a estipulada pelos limites da amizade e as sensações eram das melhores recordações. 

''Não gosto dessa garota.'' Ele sussurrou-me no ouvido, os lábios gelados contra a minha orelha e as mãos nos meus ombros, uma perna entre as minhas. 

''Somos amigos.'' Eu respondi, como se houvesse algo para justificar, segurando-lhe a cintura entre os dedos. 

''Nós também.'' 

E essa era a coisa, no final eu e ele éramos sempre amigos, mas eu não tinha nem uma única amizade como aquela. Isso não era estranho?

''Eu não sabia o que trazer de presente.'' Segredou-me em seguida, a mão descendo com cuidado pelo meu peitoral, e os corpos se movendo continuamente. 

''Jimin.'' Eu disse sério, igualmente assustado, quando senti algo vibrando contra a minha coxa, mas o rosto dele subiu, achando aquilo estranho, quando eu percebi, tarde demais, que nada tinha a ver com ele. ''Deve ser minha mãe!'' Eu disse demasiado alto, tocado pela realidade fora da bolha em que estava antes, puxando o celular do bolso das calças e sentindo-o vibrar contra a palma da minha mão. 

''Eu atendo.'' Ele disse sorridente, puxando o aparelho de mim e lavando-o à orelha, a outra mão cobrindo a outra orelha para que pudesse escutar. ''Olá, senhora Jeon!'' Exclamou ele, alegre, e olhando-me intercaladamente, ainda sem sair de perto de mim. ''Sim, eu digo! Eu sei! Eu estou tentando também!'' 

''O que estão falando?'' Eu perguntei, o puxando contra mim para que me ouvisse e numa tentativa de ouvir através do celular, mas sem chance naquele ambiente. 

''Oh, eu posso fazer isso!'' Dizia, sempre animado, falando alto para que fosse ouvido, até que desligou a chamada e enfiou o telemóvel no próprio bolso, as mãos voltando para mim, dessa vez em volta do pescoço. 

''O que ela disse?'' Quis saber, levemente preocupado, mas pela maneira que ele sorria... ''Você vai me jogar mais uma vez?'' Eu perguntei então, e Jimin estreitou as sobrancelhas, fingindo que não me ignorara um segundo atrás.  

''Te jogar?'' E levantou as sobrancelhas, como se estivesse surpreso. ''Eu jogava você... Em uma cama.'' 

''Temos um pacto.'' 

E tínhamos, não tínhamos? 

Jimin acabou parando no lugar, a ponta dos dedos roçando os cabelos da minha nuca, quando piscou os olhos lentamente, apercebendo-se de algo. 

''Hoje não, não temos.'' 

E sentir os lábios de Jimin mais uma vez, depois de tanto tempo, era mais do que levar um homem à loucura, ou ao céu, ou mesmo ao inferno. Nem se sabia o que era voltar a sentir os lábios de Jimin contra os meus, nem se sabia, veja lá. 

E pior do que isso tudo, é que quebraríamos aquele pacto tantas vezes na noite e mesmo assim isso não seria o pior que faríamos. 

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