9 - Strauss Upgrade
Em pleno século XXI, um garoto de 22 anos, não saber o que é um e-mail era, no mínimo, bem estranho. Então, assim que resolvêssemos os assuntos do emprego com o Sr. Lion, teria que apresentar Dimitri ao nosso mundo moderno. Pensei que não seria difícil, já que ele é muito inteligente. Mas eu me enganei... E muito.
Após as aulas, eu e Dimitri fomos até a Pizzaria, sozinhos. Apesar de Kat ter concordado em ajudar, antes de sairmos ela disse que não poderia trabalhar conosco, argumentando que dedicaria seus tempos livres para escrever seu primeiro livro, algo que tinha a ver com piratas. Não sabíamos de era verdade, ou mais uma das desculpas de Kat para evitar trabalho duro, mas resolvi dar a ela o benefício da dúvida.
A Pizzaria que antes tinha uma bela fachada com detalhes italianos e um belo leão dourado no Outdoor, hoje tinha a pintura desgastada, o Outdoor furado e a portão entortado. O Sr. Lion precisava de muito mais do que dois jovens para ajudá-lo a tirar a Pizzaria do fundo do poço.
Tocamos a campainha. Dimitri estava um tanto nervoso e eu percebia isso pela sua expressão. Depois de alguns instantes, o Sr. Lion apareceu. Um senhorzinho baixo, de barriga saliente e camisa xadrez, cabelos ralos e barba branca.
"Menina Mitchoff... Como você está?”, Ele me cumprimentou alegre, com dois beijos no rosto. Bem italiano.
"Muito bem, e o senhor?"
"Vivendo, mocinha, vivendo... E Katrinne?"
Seu sotaque era muito engraçadinho. Me condenava por dentro a cada vez que sentia vontade de rir.
"Ela está com um novo projeto em mãos... Então somos só eu e ele."
"E você é o...", Ele se dirigiu a Dimitri.
"Sou Dylan Samberg. Prazer em conhecer o senhor."
"O prazer é todo meu. Vamos entrando, crianças."
Quando entramos, ele nos convidou a sentar em uma das mesinhas antigas da pizzaria, enquanto continuava a nossa conversa.
"Brizza me contou que vocês têm interesse em me ajudar."
"Sim! Dylan é primo da Kat e está sem emprego e lugar pra ficar. Queríamos que ele ficasse conosco, mas é contra as políticas da Universidade dividir dormitórios com alguém de outro sexo. ” Contra as políticas de Phellix Upplenight, na verdade, mas deixei tal detalhe fora da esfera. “Então pensei que poderíamos unir o útil ao agradável."
Sr. Lion coçou o queixo e permaneceu em silencio alguns instantes, à sós com os próprios pensamentos.
"Então quer morar aqui, Sr. Samberg?", perguntou após isto.
"Quem?"
Dimitri estranhou a princípio, mas depois notou que Lion se referia a ele.
"Ah... Sim, Sr. Lion. Prometo não atrapalhar. Sou disciplinado, limpo e não sou barulhento..."
"Ok, ok, garoto. Já entendi. Olha eu aceito, porque preciso de ajuda. Mas tenho três condições para você."
"Pode falar."
"Primeiro: infelizmente, a LionBlatt está em crise, como você pode notar, então só vou poder pagar cento e cinquenta dólares por semana e vocês dois terão mais que uma função. Serão 'faz-tudo.' Vão limpar, cozinhar e, se preciso, até entregar."
"Eu não sei dirigir moto, Sr. Lion, mas Dylan sabe."
Ele me encarou, espantado e levemente irritado. Ele realmente já dirigiu motos... Motos de 1945.
"Ok. Isso vemos depois. Segundo: Sr. Samberg, não vou poder te oferecer mantimentos por muito tempo. O que temos aqui é para uso da pizzaria. Depois de dois meses terá que comprar suas próprias coisas. Eu sei que eu estou parecendo 'pão-duro', mas infelizmente a minha situação não permite que eu ajude mais."
Dimitri deu de ombros.
"Sem problemas para mim."
"Terceiro: nada de garotas. Nem bebidas. Nem drogas!"
Rimos juntos.
"Não se preocupe, Sr. Lion. Sou um homem de respeito."
Ele se levantou e nós fizemos o mesmo. Cumprimentou Dimitri com um aperto de mãos.
"Então, bem-vindo, garoto. Pode trazer suas coisas. Tenho um colchão na dispensa. Você pode dormir lá. Me acompanhem."
Fomos até a dispensa, que agora seria a casa de Dimitri. Sr. Lion nos deixou olhando, enquanto pegava o colchão. Era um local com pouca iluminação, limpo, mas bem sinistro. Apertado com várias prateleiras cheias de pacotes fechados de molho de tomate, orégano, ketchup e muitas outras coisas. Ver aquele lugar, completamente inapropriado para alguém dormir, me fez sentir um grande arrependimento por estar praticamente expulsando ele do meu dormitório.
"Di... Tem certeza de que quer ficar aqui?", perguntei com um suspiro, que logo se juntou a um dele.
"Não se preocupe, Brendy. Eu fui tolo e rude de exigir que você e Katrinne me permitissem continuar no dormitório. Não é decente que duas damas abriguem um homem aonde moram ou dormem."
"Podemos fazer uma cama escondida pra você no closet da Kat. Ele é tão grande que as vezes parece Nárnia."
"O... O que é Nárnia?", piscou.
"Esquece... Tudo bem. Vamos ajudar na mudança. Mas só amanhã. Hoje, preciso fazer algo com você."
"O quê?"
Semicerrei os olhos, tentando transmitir um ar fracassado de mistério.
"Você saberá em breve!"
Liguei para Kat e pedi para que ela nos buscasse em frente a pizzaria e que levasse dinheiro. Quando entramos no carro ela dispensou cumprimentos e foi direto às perguntas.
"Por que shopping na segunda e por que tanto dinheiro?"
"Vamos comprar o primeiro Smartphone do Dimitri.", ralhei, colocando o cinto.
"Smartphone?"
Dimitri realmente ficava fofo e sem jeito quando não conhecia alguma expressão atual. Kat riu e deu partida no carro.
"Isso vai ser divertido!"
Quando chegamos, fomos direto em uma das diversas lojas de eletrônicos que aquele shopping tinha. Um atendente, ruivo e magricela nos atendeu com um sorriso enorme e estranhamente bizarro no rosto. Provavelmente ele trabalhava há pouco tempo naquele lugar. Ninguém nos atenderia daquele jeito trabalhando de domingo a domingo durante muito tempo.
"Boa noite, como posso ajudá-los?"
"Queremos um Smartphone para o meu... Avô. Ele nunca mexeu em um. Queremos algo moderno, mas, ao mesmo tempo, fácil de aprender a usar."
"Vou ver o que posso fazer.", e desapareceu nos fundos da loja.
Cinco minutos depois, ele apareceu com cinco modelos. Os três eram grandes, com câmeras traseira e frontal. Dois pretos, um branco, um dourado e um prata.
"Esses dois são Windows Phone, este é Android e esses... Já sabe são Iphones."
"Mas Iphone não é difícil de mexer?", questionei.
"Acho que depende, moça. Se seu avô nunca mexeu em celular algum, a dificuldade será igual para qualquer celular. Eu acho que os celulares da Apple são muito mais versáteis e possuem infinitos meios de ajuda para quem é leigo em tecnologia."
A boca de Dimitri estava tão aberta que uma família de moscas poderia fazer ninho em sua língua.
"Eu acho... Que é melhor eu mandar uma carta para vocês quando precisar conversar.", sussurrou em meu ouvido.
Katrinne bufou, retratando impaciência e ralhou para o vendedor.
"Não precisa ficar inventando historinhas pra receber por uma venda caríssima, querido. Pode passar o Iphone no caixa. E não é porque você me convenceu que ele é 'super versátil'. É porque eu sou rica e compro o que eu quiser. E já perdi a paciência. Passa essa droga logo."
"Como quiser.", disse, com ar de sarcasmo e levou o pacote até o caixa.
"Kat você é a garota mais abusada que eu já vi.", sussurrei, ainda olhando para o cara.
"Já não aguentava mais aquela cara cínica e feia daquele vendedor. E Di merece o melhor."
"Gente... Gente... Não sei se quero isso. Eu acho que não vou me adaptar.", ele mordeu o lábio.
Encarei o vidro abaixo de mim, onde vários outros celulares estavam e me pensei. Dimitri precisava se um incentivo grande para dar uma chance às novas tendências. Ele precisava ver algo incrivelmente fantástico. Então, uma ideia para um rápido “super projeto” brilhou em minhas ideias.
"Kat... Aquele estande de óculos de realidade aumentada ainda está na exposição tecnológica no centro do Shopping Ludwig?"
"Acho que sim amiga. Mas por quê?"
"Nos leve até lá."
Sem questionar, Kat nos levou ao outro shopping, que era muito maior e mais bonito que o anterior. Tinha o teto de cristal e pessoas com auras de sofisticação andavam por lá. Chegamos até a feira de exposição, que tinha vários aparelhos novos e até robôs e ficamos encarando cada estande e suas funcionalidades. Dimitri olhava tudo maravilhado. Até brincou com um robozinho vermelho que tinha rodinhas nos pés. Depois fomos ao estande dos óculos.
"Vou colocar os óculos em você."
"O que eles fazem?", perguntou, dando alguns passos para trás, quando me viu com os óculos em mãos.
"Para de ser teimoso e coloca logo."
Quando coloquei as tiras dos óculos envolta de sua cabeça e as lentes pesadas em seus olhos, ele deu um sobressalto e um pequeno arquejo.
"Calma, Di. Pense que é como uma TV. É uma realidade aumentada que mistura o nosso cenário real com coisas que não são reais."
O acalmei, segurando suas mãos. Até que vi um sorriso enorme surgindo, gradativamente em seu rosto.
"Isso com certeza é bem melhor que uma TV."
Ele desvencilhou suas mãos das minhas e as levantou como se tentasse tocar algo.
"Isso é fantástico."
Depois de tirar os óculos, o sorriso de Dimitri se recusava a partir. Andamos os três pelo shopping, em um silêncio divertido. Depois comecei.
"Di, eu sei que você não gosta que eu toque no assunto, mas preciso dar um exemplo que você entenda. Vocês e seus amigos soldados se comunicavam com família e amigos através de cartas, não é?"
Sua expressão se entristeceu rapidamente. Eu era muito hipócrita em perguntar isso, já que em sua história, as cartas eram fundamentais no relacionamento entre ele e Sondra.
Ainda assim, apesar de desanimado, ele me respondeu educado.
"Sim..."
"E quanto tempo em média demorava para vocês terem uma resposta?"
"Umas três semanas, ou mais. Mas por que essa pergunta agora?"
"Estou tentando responder sua pergunta de mais cedo. O que é um e-mail. Um e-mail é como um correio só que sem carteiros, papéis, envelopes e caneta."
"Como pode existir um correio sem tudo isso?", ele gesticulou, desdenhando.
"Simples... Tudo acontece na tela de um celular ou computador. Neles você escreve sua mensagem, coloca o remetente e destinatário e envia para quem quiser e chega no mesmo instante. A pessoa pode te responder em segundos. Tudo é feito pela internet."
"Internet?"
"Sim. É como uma linha de telefone, só que infinitamente mais complexa. Ela é praticamente infinita e muito rápida."
"É como mensagens em código Morse?"
"É muito melhor e mais fácil. Você se comunica muito mais rápido e de diversos meios... Por Whatsapp, Facebook, e-mail, Messenger, Skype... OH MEU DEUS, SKYPE!"
Gritei, me lembrando da promessa que fiz a Declan.
"O que houve, amiga?", Kat afagou as minhas costas.
"Marquei com meu irmão uma chamada de vídeo e já estou atrasada há uma hora!"
"Vamos lá eu vou acelerar.", ela puxou tanto eu quanto Dimitri pelas mãos e disparou pelos corredores do shopping.
"Lá vamos nós de novo!", Dimitri disse, já adivinhando que Kat iria a mil por hora em seu carrão.
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Quando chegamos, joguei a bolsa na cama e já liguei o notebook.
"Kat, ajuda o Dimitri a arrumar uma mala. Amanhã ele já se muda pra pizzaria. Ah e coloca o celular novo dele pra carregar."
"Nossa, agora eu sou a empregada?"
Mandei mensagem para Declan, avisando que estava chamando ele no Skype. Mas ele não visualizou. Depois de cinco minutos chamando e buscando conexão ele apareceu no vídeo, com um sorriso de soslaio.
"Aí Decão... Desculpa pelo atraso."
"Se não estivesse atrasada não seria você, Fuinha!", sorriu mais sinceramente.
"Nossa tá bonitão ein... Foi sair com a Tori?"
"Ahhh... eu terminei com a Tori.", murchou, olhando para baixo.
Murchei com ele, mas olhando para o lado, tentando adivinhar se Kat o ouvira da cozinha.
"O quê? E por que não me contou?"
"Foi semana passada..."
"Mas por quê?"
"Não estava dando mais certo. Ela cobrava muita a atenção e tinha objetivos diferentes dos meus!"
"Puxa que pena... Bom você podia aproveitar... Que a Kat tá solteira", falei sussurrando um pouco alto demais.
"Eu escutei, Brenda e te deixo claro que não cometo o mesmo erro duas vezes", Kat disse, passando da cozinha para o quarto.
"Também sinto sua falta, gatinha", Declan mandou um beijo.
Dimitri se aproximou, de fininho, saindo do banheiro com os cabelos úmidos após um banho e se sentou do meu lado na cama.
"Brenda! Não me diga que vocês conseguem falar com as pessoas da TV.", me empurrou, levemente e tentou prensar o rosto na tela do computador, como uma criança faminta encara os pães na vitrine de uma padaria.
"Brendy? Quem é esse?"
Gaguejei. Esqueci completamente que não queria que meu irmão visse ele.
"Esse... é Dylan Samberg, primo da Kat. Ele veio pegar açúcar e já está voltando para o quarto dele!"
"Aham... Prazer Dylan!", acenou.
"O prazer é todo meu, homem da TV."
"Esse cara é engraçado eu gostei dele.", Declan riu.
"Lembro-me que na minha época, as únicas coisas que víamos era Charles Chaplin, Mickey e Carmen Miranda em preto e branco."
"Ele é britânico e super Cult. Você se acostuma.", empurrei Dimitri para longe do raio de visão do meu irmão, antes que ele estragasse alguma coisa.
Fiquei conversando por duas horas com Declan sobre Tori e sobre o grande natal em família que estávamos combinando. Ele disse que nossos pais estavam passando problemas em casa e isso me deixou muito preocupada. No dia seguinte, teria que ligar para eles. Sentia a falta das vozes de meus pais. Nunca esperei tanto por um natal quanto o daquele ano. Eu pretendia ensinar Dimitri a fazer uma ligação em seu celular, mas estava exausta e ainda teria que acordar mais cedo para o levar até a pizzaria, antes da aula. Então fui dormir.
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Estávamos em uma ponte no meio de um bosque. Minha cabeça repousada em seu peito. Soluços, dor no peito e olhos ardendo em lágrimas. Eu estava chorando. Ele brincava com meus cabelos, tentando acalmar a fúria dos meus sentimentos.
"Foi real? Por mais que eu não seja real... O que vivemos foi real?"
Eu me levantei e olhei para ele, com meus olhos marejados.
"Foi mais real do que qualquer coisa que eu já vivi. Pelo menos para mim.", respondi por mim.
Ele segurou uma de minhas mãos.
"Para mim também!"
"Então por que estamos fazendo isso?", solucei;
Ele fechou os olhos e encostou sua testa na minha.
"Porque é o certo. Você precisa ser livre, Brenda. Você precisa de alguém de verdade."
Chorei como nunca, jamais, em qualquer momento da minha vida eu chorei. Como se tivesse um bisturi cortando minha alma, de forma dolorosamente lenta, de cima a baixo.
Ele afastou seu rosto do meu e olhou para as centenas de folhas que estavam entre nós.
"Agora queime- as."
Capitulo Revisado e Corrigido📌📝
Beijos Carol🌚❤
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