37 - O Casamento
Eu não o vi mais desde então.
Três meses se passaram sem que eu sequer visse o rosto dele.
E as coisas em minha vida aconteceram de forma tão rápida e tudo ao mesmo tempo. Meu curso estava no final, e conversas de formatura vinham de todos os lados da minha classe.
Kat parecia muito animada para isso. Dizia que não via hora de finalmente jogar toda essa coisa de prova e trabalho para o alto e finalmente começar a viver a vida de sucesso que ela deveria viver. Já eu... Não ligava para mais nada.
Estava completamente entorpecida. Ora minha mente estava em Dimitri, ora estava nos flashbacks de Sondra e eu realmente parecia que estava perdendo a mim mesma.
Andava calada, nunca saía para nada e nem tinha interesse em nada. Estava pior do que na época em que eu estava isolada em meu dormitório, com a mente toda mergulhada em meu livro. Kat, como a boa amiga que sempre foi, viu bem o meu estado. Certa tarde, enquanto chegava de um dia de compras, ela jogou pilhas de sacolas na poltrona e caminhou até o meu sofá.
"Chega, Mitchoff!"
Ergui mais a minha edição especial de Harry Potter - uma que Dimitri tinha dado a mim - e perguntei desentendida, com os olhos nas páginas.
"Chega? Chega do que, Katrinne?"
Ela arrancou o livro da minha mão e jogou longe. Um aperto em meu peito quase me assassinou ao ver o livro caído de uma forma que, com certeza, o amassou.
"De ficar aí toda depressiva por causa de um homem. Caramba, Brenda. Há pouco tempo atrás nem homem você tinha. E com certeza era muito mais feliz."
Cruzei os braços e fiquei encarando os montes que minhas pernas faziam debaixo do cobertor.
"Nós vamos sair.", Kat disse depois de perceber que minha única resposta seria o silêncio.
"O que? Pra onde?", sobressaltei-me.
"Vamos a Poison."
"Droga, Kat, já disse que não gosto de ir a este lugar!", gritei, me levantando do sofá.
"Então escolhe outro. Você não vai ficar aqui trancada nem mais um segundo. Esquece o Dimitri, Brenda. Você está melhor sem ele."
"Não dá..." hesitei um pouco, coçando a minha testa. "... Pra esquecer ele assim tão fácil."
Kat bufou e se jogou no sofá.
"Por que não? Por que ele seu personagem? Agora ele é só um cara, minha amiga."
"Não é... Por isso... As coisas estão mais complicadas do que parecem, Kat."
Contei tudo a ela depois. Sobre os flashbacks, sobre Antonie Keyne e o que Pascolle disse sobre a forma que eu e Dimitri estávamos conectados. Que isso só poderia acabar de uma forma: ele morto.
Kat segurou firme uma de minhas mãos. Seu olhar era coberto por compaixão e até mesmo tristeza. Ela gostava muito de Dimitri também.
"Mas como estão estes flashbacks? Ainda muito frequentes?"
Suspirei com melancolia.
"Gostaria mesmo de dizer que não. Pensei que se eu estivesse afastada dele, quem sabe, eles perdessem a intensidade. Mas nada mudou. As vezes não sei quem eu sou."
Kat apertou minha mão, solidária. Ela poderia ser bruta, as vezes. Mas sabia ser um amor nas horas certas.
"Me dói saber disso e saber que ele está longe e não me quer. Estaríamos quase completando um ano de namoro, agora que o natal está chegando e agora tudo está tão confuso..."
"Não fique assim, amiga. Ficar se remoendo por isso não vai te ajudar em nada. Nem ficar trancada aqui. Vamos, se levante e vamos sair.", ela disse, já me puxando com si mesma.
"Já disse que não gosto da Poison, Katrinne!", fiz um bico e murchei os ombros, sem relutar.
"Não perguntei. Hoje você vai gostar de lá."
Kat me levou até o banheiro, me obrigando a tomar um banho. Separou um jeans escuro e apertado junto de uma jaqueta de couro preta e me maquiou de forma estupidamente exagerada. Depois, tratou de cuidar de si mesma.
Fiquei batendo os saltos da bota de cano alto no azulejo do chão, impaciente com todo esse plano de Kat. Mas não pude deixar de me sentir bem por contar tudo a ela. É como se eu tivesse tirado fardos de cimento das minhas costas.
Minha amiga sempre foi minha confidente. Demorou um tempo para que eu liberasse meu coração a ela e confiasse de uma vez. Quando nos tornamos colegas de quarto, pensava que Katrinne seria um mal em minha vida. Ela sempre foi fogo e eu gelo. E não houve nenhum momento de conexão intensa e dramaticamente espontanêa que nos uniu. Foi algo simples.
Ela tinha mania de fazer comentários em voz alta enquanto lia. E eram tão engraçados que eu me segurava para não rir. Me lembro que certo dia, quando eu estava estudando e ela lendo A Maldição do Tigre, em meio ao silêncio de nossas concentrações, Kat gritou no meio do nada:
Kelsey! Sua vadiazinha dos infernos. Espero que um kappa te devore, sua praga.
Ri tanto que pensei que meu pulmão seria expelido pela boca. Ela me olhou e com certa vergonha, fechou o livro. Foi quando me sentei ao lado dela em sua cama e disse que odiava tanto a personagem quanto ela.
Foi ai que eu percebi que apesar de tantas diferenças, ainda tínhamos muito em comum. Que, talvez, fogo e gelo seriam uma boa combinação. Daí em diante, nossa amizade germinou e cresceu como um pé de feijão bem regado.
Naquele dia escolhi sorrir. Decidi deixar a Brenda chata para trás e ser um pouco mais Kat. Fui animada com ela, com músicas altas e extremamente femininas no carro, e esquecendo de Dimitri e Sondra, até a Poison.
"Phellix não quis vir?", perguntei na fila da entrada.
Kat riu e me fez dar a voltinha clássica dos passos de dança.
"Hoje não amiga. Hoje é noite das...", ela esperou, infantilmente, que eu terminasse a sentença.
"Garotas!", concluí rindo.
Entramos após quinze minutos. Não paramos no bar, nem no banheiro, nem em lugar algum além da pista. Começamos a nossa famosa dancinha ridícula das amigas e roubamos sorrisos e risadas histéricas uma da outra. Finalmente eu me sentia uma jovem comum. Deixei naqueles minutos minha felicidade despreocupada, enquanto expelia de mim a melancolia que guardei durante os meses após o termino.
Mas tudo voltou, como uma fita rebobinada, quando aquele homem alto, de olhos castanhos e tão naturalmente bonito esbarrou em mim.
O famoso e clichê esbarrão. Mas diferente de todos os clichês, onde o casal se apaixona logo após ele, entre mim e Dimitri houve somente a troca de olhares dura e amargurada. Prendi a respiração e Kat congelou.
Eu não iria dizer nada. Iria virar as costas e sair do lugar. Mas as palavras seguintes saíram automaticamente.
"Pensei que tinha medo dos barulhos estranhos da boate.", afirmei sem humor algum na voz.
Queria ser outra pessoa para bater em minha própria cara.
Ele riu, de forma completamente odiosa.
"Me desculpe se eu não sou mais o cara que você sempre quis que eu fosse."
Alguns caras gritaram seu nome falso. Os vi de longe e reconheci: os antigos aspirantes Beta.
"Quer dançar comigo?", perguntei.
Se antes eu queria bater em mim mesma, agora eu queria me matar. Foi a pior ideia que eu já havia tido. Kat me olhou chocada, provavelmente me xingando internamente assim como xingava as protagonistas idiotas dos livros que lia.
Dimitri me olhou sem emoção alguma, me puxou pela cintura e colocou minhas mãos em volta de seu pescoço. Meu coração virou asfalto no Sol caribenho.
Kat se afastou até o bar, nem tentando disfarçar o sorriso malicioso. E eu não entendia nada daquela situação. Parecia um daqueles sonhos loucos e sem sentindo. Ele não me olhava. E não parecia feliz.
"Obediência patética faz parte dos efeitos do Imaginare?", ele perguntou após duas músicas.
Senti bile subindo pela minha garganta.
"Não sei. De qualquer forma eu perguntei se você queria. Não exigi nada. Você é quem quis."
Ele me olhou finalmente. Piscou algumas vezes e voltou seu olhar ao nada. Após mais infinitos instantes, provoquei.
"Está bem familiarizado com sua situação, ao ponto de falar a palavra Imaginare de forma tão natural."
Ele riu e apertou levemente minha cintura.
"Estou há meses estudando este livro. Conheci o velho que guardava ele e descobri muitas coisas."
"Encontrou alguma forma de voltar para Sondra?", perguntei sem sarcasmo e ele riu com todo o que existia no mundo.
"Se eu tivesse achado, acha que eu estaria mesmo aqui?"
Me desvencilhei e o empurrei.
"Vai continuar sendo um idiota por quanto tempo?", cuspi.
"Talvez pelo mesmo tempo em que você foi uma mentirosa!"
Me afastei dele e fui até Kat.
"Vamos sair daqui? Por favor?"
Ela olhou para a direção de Dimitri, com preocupação e me segurou pelas mãos.
"Ok. Vamos."
Caminhando pela calçada, contei a Kat como foi a recente conversa.
"Releve, Brendy. Sabíamos no fundo que ele ficaria assim se descobrisse. Tenha paciência."
"Não, Kat. Ele não vai me perdoar."
"Não? Ele até dançou com você."
Um sorriso bobo invadiu minhas expressões.
"Não sei.", falei, ficando séria de novo. "Ainda estou preocupada com os flashbacks e déjà vus."
"Esqueça isso tudo só por hoje. Vamos, ainda está cedo. Vamos aproveitar."
"Vamos a alguma festa de fraternidade louca e suja?", brinquei fazendo a dança do robô.
"Não. Vamos ao cinema mesmo. Está na hora da última sessão."
Conseguimos entrar na sessão dos filmes antigos. Gatinhas e Gatões me deixou ainda mais desanimada, mas ainda assim foi bom sair com Kat.
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Há algumas semanas atrás, recebi o convite do casamento de Jullian e Allison. O design do convite era todo trabalho em listras pretas e brancas e pensei que gostaria de algo no mesmo estilo quando eu casasse, se eu casasse algum dia. Concordei com Kat que, dessa vez, iríamos juntas e sem receios.
O meu vestido e o de Kat combinavam no modelo. O dela era vinho, com o decote um tanto mais fundo que o meu e o vestido que escolhi era azul marinho, um pouco mais modesto, mas ainda parecido com o dela: batendo nos joelhos e com babados.
O casamento seria no Hotel Dupport, um hotel cinco estrelas, perto do litoral gelado da cidade. Chegamos ao Hotel e ambas ficamos maravilhadas com os ornamentos do Hotel. Parecia um castelo em sua extensão vertical e horizontal. Ao entrar, recepcionistas vestindo trajes formais nos receberam como se fossemos duas rainhas. Brinquei com Kat.
"Se o meu casamento não for assim, eu me recuso a casar."
A cerimônia seguiu-se calma e de forma harmônica. Jullian estava parado embaixo do grande arco de flores do final do salão. A decoração variava entre cores creme, rosa e violeta. Delicado comparado ao contraste moderno que os convites passaram.
Allison estava linda. Também não esperava, pelo jeito excêntrico dos dois, que aceitariam um casamento tão tradicional... Tão mágico.
Os votos foram feitos e o sim foi dito. Kat enxugou uma lágrima e eu ri com a sensibilidade da loira. Admito que eu também fiquei muito sensível aos doces votos nostálgicos e apaixonantes dos noivos. Realmente feitos um para o outro. Outro motivo de me sentir mergulhada em uma tristeza sobrenatural.
A festa se arrastou para outro salão, desta vez combinando com o design do convite. Músicas agitadas faziam todos os jovens sacudirem seus corpos como em um baile secundarista. Kat e eu fomos convidadas a nos sentar com Hazel e Maggie, que foram mais que simpáticas. Passei a perceber que, sem o ciúmes idiota, elas poderiam ser grandes amigas minhas. Como Kat.
Após muito tempo rindo e jogando conversas inúteis de menininhas, Kevin veio até nossa mesa roubar um petisco e me chamar para dançar. De terno e cabelos loiros penteados de forma descolada para o alto e com gel, Kevin ficara ainda mais bonito. Pensamentos loucos me fizeram imaginar se nós namoraríamos se Dimitri não tivesse vindo ao meu mundo.
Coloquei os braços em volta de seu pescoço e ele, respeitosamente, em meus ombros, evitando qualquer constrangimento. Como Kevin mudou em meu conceito em apenas um ano. De garoto promíscuo ele passou a ser um príncipe encantado. Acho que eu mesma o escondi atrás de meus preconceitos e enalteci demais seus defeitos, esquecendo que onde há defeito, há também qualidade.
"Obrigada, Kevin.", falei em meio a valsa.
"Por?", ele perguntou sorrindo.
"Por ser meu amigo apesar de tudo. Poderia ter me deixado, mas sempre esteve aqui."
Durante os meses que Dimitri esteve longe, Kevin foi meu confidente. Contei a maioria das coisas para ele por mensagem. Mas suas palavras digitais foram suficientes para me confortar. Dimitri encarava de longe. Eu o encarava também. E meu coração virou miúdos quando o vi se retirar para fora do salão.
"Já falou com ele?", Kevin questionou, já adivinhando o problema.
"Não. Ele está muito difícil."
"Claro, você mentiu para ele.", falou rindo.
Dei um soco em seu ombro
"Mas é verdade. Já pediu desculpas?"
"Não. Ele não me deu chance alguma."
"Brendy as vezes um simples pedido de desculpas bastaria. Anda... Vai falar com ele.", ele se desvencilhou de mim e me deu um leve empurrãozinho.
"Sabe...", disse me virando para ele outra vez."... Você é um rival muito bom. Me tem em seus braços e me joga para outro."
Ele me olhou sorrindo e depois trouxe seriedade em seu olhar.
"Depois do que você me contou... Sobre o Imaginare.... Se realmente vocês têm o tempo limitado, deveriam gastá-lo sem motivos bestas. Desça do orgulho e peça desculpas."
Pensei rapidamente e ele tinha razão. Dei um leve beijo em seu rosto. Corri até o exterior do salão. Ele não estava na recepção.
Não estava no bar.
Nem na área de recreação.
Nem no restaurante.
Frustrada, subi um lance de escadas e cheguei ao primeiro andar. O corredor era um misto de moderno e clássico, tingido de tons bege, dourado e vinho. Me sentei, encostada em uma das paredes, encarando minha sandália de tiras marfim.
"Está me seguindo?"
Me levantei em um salto, com dificuldade de me manter equilibrada. Dimitri estava só com a camisa branca por baixo e o casaco do smoking nas mãos. Cheguei um pouco mais perto e disse.
"Sim."
Ele olhou para cima, com um sorriso esnobe.
"Já conversamos."
Me aproximei mais dois passos, e ele ainda estava um pouco distante.
"Não conversamos não."
Ele mirou seus olhos com profundidade nos meus e meu tempo parou. Eu quase podia ver as partículas atômicas ao nosso redor. E moscas voando em um ritmo compassado. Eu estava ampla.
"Me perdoe, Dimitri. Eu sinto muito mesmo. Eu menti. Menti e não ia mesmo contar a verdade, porque fui extremamente egoísta. Fiz você renegar sua própria história e o seu verdadeiro amor, porque eu queria você só pra mim. Eu fui um monstro e você tem toda a razão de me odiar."
"Acha mesmo que desculpas vão adiantar?", ele perguntou seco e irritado.
"Não. Não acho.", disse, com um princípio de choro. "Mas é o mínimo que eu tenho que fazer. Eu nunca quis que você fosse meu brinquedo. Fui possessiva, mas sempre quis que você mostrasse ao mundo quem você era e do que era capaz. Um homem bom, que não perdeu a inocência apesar das circunstâncias, que faz o mundo ser irreal e real ao mesmo tempo. Que tem seus defeitos, como todos, apesar de eu tê-lo imaginado perfeito. E é marcante por onde passa."
Cheguei mais perto. Apenas um passo de distância.
"Eu te amo. De verdade. Pelo que você é e não pelo o que eu criei. E eu me recuso a acreditar que o que vivemos foi falso, apesar das minhas mentiras."
Segurei a respiração e dei um leve beijo em sua boca. Depois disse:
"Você sempre foi alguém sem mim. E espero mesmo que eu te feito feliz, algum dia. Mas por favor não me odeie. Não precisa ficar comigo. Mas não me odeie."
Fechei os olhos e com toda a dor do mundo, me virei e quando tomei coragem de dar o primeiro passo para o mundo sem Dimitri Strauss, ele segurou o meu pulso e me puxou de volta para onde eu estava. Só que mais perto dele.
Ele me encostou na parede, subiu sua mão do meu pulso para o meu braço e dele para o ombro. Depois brincou com o meu cabelo e tocou minha bochecha. E eu tinha certeza de que eu morreria com o buraco que se abriu em meu estômago ou de ataque cardíaco.
"Como eu poderia te odiar, brotinho?"
Colocou alguns fios atrás da minha orelha e eu senti um choque de milhões de volts correrem aonde seus dedos estiveram.
"Se eu sou um personagem de livro, acho que te devo uma cena digna de um romance meloso, não é mesmo?"
E eu ri, sem saber se aquilo era real, mas ele ao menos me deu tempo de raciocinar quando me beijou. Seus lábios faziam uma obra de arte nos meus, com explosões de sentimentos e intensidades. E velocidades. Ora lentos, ora velozes. Profundos e superficiais. E ele não se contentou só em beijar os meus lábios, mas se dividia bem entre eles e minhas bochechas, orelhas, pescoço e minhas mãos.
Depois de tomar fôlego o alertei.
"Alguém pode aparecer!"
"Então vamos melhorar o show."
Ele colocou ambas as mãos na parte de trás dos meus joelhos e me ergueu. Comecei a rir mas ele ignorou, me colocado em seu colo e usando a parede como um bom apoio.
"Que droga é essa?", perguntei rindo.
"A cena romântica. Sempre tem colo. Mas não se acostume tanto, porque você pesa mais do que parece."
Ri e nos beijamos de novo. Apertei tanto a gola da camisa dele que pensei que a arrancaria a qualquer momento. Ele realmente não aguentou e caiu em cima de mim, fazendo que uma nova sessão de beijos irrompesse no corredor. Eu me lembrei do cenário apenas quando uma empregada me flagrou quase arrancando a camisa dele.
"Oh meu Deus! Que pouca vergonha é essa?"
Começamos a rir, ajeitei levemente meu vestido, ele pegou o smoking e saímos correndo rumo aos telhados, como adolescentes fugindo da diretora.
Hellou.
Sim o shipp voltou 🌚🌚🌚
Beijos pimpolhos. ❤❤❤❤
Carol ❄⛄
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