27 - Isaac Jones
"Tem certeza que é uma boa publicar Algumas Cartas agora?", Kat perguntava, enquanto esfumaçava o blush pêssego em minhas bochechas.
"E quando você acha que seria uma boa ocasião para isso, Kat? Se não for agora, não será nunca!"
"Então vai contar a verdade pra ele?", ela me petrificou com seu olhar condenador. Abaixei a cabeça, como uma criança que acabara de levar uma bronca. "Brendy, o Dimitri não é mais o mesmo vovô de alguns meses atrás. Ele descobriria sobre o livro em dois instantes."
"E se eu mudasse os nomes dos personagens?", perguntei insegura, mas já sabendo que aquilo não era uma boa ideia.
"Está mesmo cogitando essa hipótese?"
"Ok! Desisto.", disse, me levantando e encarando meu visual no espelho.
Saia preta, colada e de cintura alta que ia acima do meu umbigo, blusa branca - curta de uma forma que deixava uma parte superior da minha barriga exposta- e saltos pretos.
"Provocante demais para o meu gosto!", admiti, ainda mais naquele momento que eu estava tentando voltar a ser uma garota de igreja.
"Exatamente como você deve parecer agora. Uma veterana, segura de si... Comprometida! ", ela disse a última palavra cantarolando.
"Isso não faz o menor sentido.", bufei, passando a mão em meus cabelos, levemente enrolados por babyliss.
"Não faz mesmo. Mas você tá gostosa, garota. Não reclama."
Por algum motivo, eu não havia contado a Kat sobre a sensação estranha que senti no natal ao beijar Dimitri. O que foi estranho, porque eu contava tudo a ela. Algo dentro de mim trazia um sentimento de negação que relutava em acreditar que o que houve fora algo sério. Mas no fundo eu sabia que era algo mais do que sério.
"Mande mensagem para Dimitri e diga que estamos prontas!", Kat pediu.
"E o Phellix?", perguntei.
"Ele acha que é um pouco estranho um inspetor participar de festas universitárias.", Ela disse, retocando o batom vermelho e arrumando no corpo o vestido justo e rosa.
Há alguns meses, com certeza eu faria de tudo para escapar de qualquer festa dos betas. Mas naquele dia, em específico, eu estava animada. Não sei se tudo isso mudou porque conheci melhor Kevin e os meninos, mas a verdade é que eu estava feliz por ir naquela festa. E Dimitri também. Ele, quando foi convidado por Dexter, ficou entusiasmado de curtir a noite com seus antigos colegas de fraternidade, apesar de ter ficado pouquíssimos dias lá. Outra coisa que não mencionei sobre Strauss é que ele causa uma empatia espontânea nas pessoas. Ele sempre foi alguém muito fácil de se fazer amizade, até no exército. Mas havia exceções, como Kevin.
De qualquer forma, pelo fato dele ser o vice- presidente da Beta outra vez, com certeza sabia sobre o convite de Dexter. Uma náusea me pegou de surpresa quando tal pensamento passou em minha mente. Kevin via eu e Dimitri juntos pelos corredores do campus. Imagine um constrangimento elevado a centésima potência. Eu me sentia a garota mais imprestável do mundo. E mesmo com tudo isso, tomei a decisão de ir a bendita festa.
Eu e Kat ouvimos uma batida na porta.
"Sou eu, meninas!"
Abri a porta e concluí que não importa o tempo que eu passava com ele.... Ele continuava a me fazer delirar. Calças jeans escuras, tênis pretos e uma camiseta de camuflagem do exército. Tinha me esquecido do quanto amava ver caras com algum tipo de farda. Aquilo não era uma farda, mas já fora o suficiente para me deixar sem rumo.
Ele parecia estar tão chocado com minha aparência quanto eu estava com a dele. Me olhou, da cabeça aos pés, com a boca aberta.
"Nossa, brotinho!"
Corei e dei um soco em seu ombro.
"Agora não é hora para me deixar sem jeito, Strauss! Vamos."
O casarão Beta já estava entupido de gente. Música alta, carros espremidos no gramado, garotas com vestidinhos curtos e de salto, se achando as donas da casa. Bom... Naquele dia eu estava parecida com elas. Mas, ao colar minhas mãos nas de Dimitri, me senti segura de algumas possíveis cantadas baratas. Seria bem melhor se no mundo que vivíamos, eu não precisasse de um namorado para me sentir segura. Mas, o que eu poderia fazer além de me conformar?
"Samberg!", gritou uma voz masculina e alguém puxou Dimitri pelas costas. Era Dexter.
"Dex!"
"As garotas querem te ver, vem."
"Que garotas?", ele perguntou, percebendo meu desconforto.
"Matt, Den e Harry! Eles não param de falar de você!", ele disse com um sorrisinho maldoso.
Me senti um pouco desconfortável por Dimitri ter saído logo que entramos, arrastado por Dexter. Mas nós dois já namorávamos há quase dois meses, então não tínhamos mais tantas frescuras um com o outro. E eu tinha a Kat.
"Vem, baranga! Vamos dançar.", ela me puxou.
Então começamos uma espécie de dança louca, jogando nossos cabelos para cima, como uma mistura de dança do robô e havaiano. Enquanto as outras garotas tentavam sensualizar, eu e Kat fazíamos algo ridículo entre elas. O fato de sermos comprometidas não era lá o que eu imaginei que fosse. Pensei que, quando namorássemos, provavelmente não seríamos mais tão amigas como antes. Que perderíamos o foco.
Que bom que me enganei.
"Brenda Mitchoff. O tempo fez bem pra você ein, gracinha!"
A voz familiar trouxe um arrepio congelante que percorreu desde a sola dos meus pés até o meu coro cabeludo. Quando me virei, os olhos azuis e arrogantes dele me encaravam de cima a baixo. Não em forma de admiração, como Dimitri, mas sim de uma forma suja e lasciva que só Isaac Jones poderia encarar.
Antes que ele pudesse falar algo, saí correndo para longe da sala, subi as escadas e entrei em uma espécie de escritório, com porta de vidro e madeira de trilhos. Me sentei ao chão, escorada na escrivaninha, tentando segurar as lágrimas. Mas foi impossível. Aquele olhar me humilhava. O olhar que me deslumbrou na adolescência hoje era carregado de todo o tipo de acusação e vergonha possíveis. Vinte minutos. Foram vinte minutos de olhos inchados, lágrimas e rosto quente, até alguém entrar na sala.
"Quem está aí?", uma voz preocupada, mas familiar, questionou. Mas essa voz não me causara arrepios. Causara alívio.
"Kevin?", perguntei com a voz falha.
"Brendy?", ele ia acendendo a luz, mas eu o interrompi.
"Não! Deixe apagada por favor."
"O que houve?", ele foi até mim e se sentou ao meu lado. "Está chorando?", ele olhou bem para o meu rosto, secou uma lágrima com o dedão, mas hesitou. Como se tivesse feito algo que não deveria fazer.
"Não é nada.", menti.
"Não mente pra mim... Fala logo o que é."
"Nada, Kev. Não é nada mesmo é que eu... Vi alguém que me fez muito mal no passado."
"Quem?" ele perguntou.
Suspirei. Talvez se eu contasse minha vergonhosa história, Kevin veria que não sou tudo aquilo que ele pensava que eu era e sentiria menos dor ao não me ter. E ele era meu amigo, então contei, durante quase quinze minutos, a triste história de Brenda Mitchoff e Isaac Jones, só quem sem mencionar o nome de Isaac. E Kevin notou isso.
"Qual é o nome do infeliz, Brendy?", ele perguntou e sua voz estava cheia de ódio.
"Esquece isso, Kev."
"Brenda, qual é o nome?"
Hesitei, mas sabia que ele não descansaria até descobrir o nome dele. Foi uma péssima ideia ter contado.
"Isaac Jones."
"O safado é um aspirante?", ele perguntou retoricamente, com os punhos cerrados.
"Ele é?", perguntei.
Ele se levantou, acendeu a luz e me ajudou a levantar.
"Vou fazer umas coisinhas. Vá para a festa, procure o garoto russo e divirta-se."
"Não vai fazer besteira, vai?"
Ele rolou parte da porta e deu um sorriso torto.
"Não subestime meu poder de vingança e travessura, Mitchoff.", e saiu antes que eu pudesse falar algo.
Eu fiz o que ele pediu e fui atrás de Dimitri. Quando eu o avistei, ele percebeu minha expressão e saiu do meio dos meninos.
"Brendy?"
"BRENDA! O que houve?", Kat apareceu, atrás de nós. "Por que saiu correndo?"
De repente a música parou e a voz, um tanto amplificada, de Kevin soou pelo lugar.
"Hora da safadeza, pessoal!", as pessoas começaram a gritar e assobiar. Isaac estava escorado do outro lado da enorme sala, me encarando.
"Para todos os aspirantes, temos uma surpresinha de boas vindas. Temos uma visitante, de uma tão conhecida casa com o coelhinho na frente, esperando um de vocês lá em cima."
Mais assobios. "O que Pyro está aprontando", pensei.
"Vamos a um sorteio justo. Dexter, traga a meia fedida da sorte." ele apontou para Dex com o microfone.
Dexter entregou a ele uma meia suja, amarelada, e cheia para Kevin. Ele a remexeu e tirou um papelzinho de dentro dela.
"E o safado sortudo vai ser... Isaac Jones."
Isaac foi até a escada, onde Kevin anunciava o vencedor, com um sorriso arrogante.
"Parabéns, garoto. Ela está no quarto do Tyrone."
Todos riram e Ty revirou os olhos. Ou ele estava sabendo da travessura de Kevin ou Kevin estava bem ferrado. Kevin sussurrou algo no ouvido de Isaac e ele subiu.
"Brenda, esse nome Isaac é coincidência ou é quem eu estou pensando?", Dimitri perguntou.
Mas acabei me distraindo quando Kevin pediu para ligar a enorme TV e levar todos os convidados, de fininho para frente dela. A câmera, na hora, flagrou a imagem constrangedora de um Isaac nu procurando por alguém no quarto. Os risos começaram a retumbar na sala. Ele pegou um pacotinho de presente em cima da cama, leu o folheto cravado nele em voz alta: "coloque-me" e quando abriu o pacotinho, vimos que se tratava de uma calcinha fio-dental dentro. Os risos ficaram ainda mais altos quando ele a colocou e ficou esperando alguém aparecer. A pegadinha teve o fim quando a voz amplificada e risonha de Kevin ressoou pela casa toda:
"Bela bunda, Isaac!"
Desesperado, Isaac saiu do quarto, desceu as escadas, trêmulo, ainda com a calcinha, tentando entender tudo. Kevin ria, cercado por seus amigos e garotas também rindo, o filmando com seu celular.
"Isso vai ficar uma maravilha no Youtube."
Isaac furou o grupo e deu um empurrão em Kevin.
"Qual é a sua?"
"Você gosta de expôr as pessoas, Jones? Que sorte... Eu também gosto.", disse, colando o rosto no dele. Isaac se virou para minha direção, vermelho de ódio e se aproximou.
"Isso é tudo culpa sua, vadia!"
Dimitri cerrou os punhos, mas eu o segurei.
"Não, Dimi. Não vamos resolver isso assim."
Me aproximei dele e suspirei, surpresa com a minha calma e satisfação por sua humilhação. Todos estavam em silêncio para me ouvir e quando eu ia começar a falar, Isaac interrompeu com um riso.
"Acha que isso vai mudar algo? Eu sou homem, gracinha. As pessoas esquecem e eu dou a volta por cima. Agora você... Sempre vai continuar sendo o que é. Biscate."
Todos começaram a vaiá-lo e jogar copos nele. Eu ri, e aí fiz algo que não jurava que faria no momento: dei um soco bem no meio do nariz de Isaac. Ele cambaleou para trás e eu dei um chute bem onde dói mais.
"Se eu sou isso ou não, isso não te interessa. Vê se cresce, Isaac."
Todos começaram a me aplaudir e senti meu rosto esquentar pelo rubor. Isaac se levantou e quando ergueu a mão para mim, Kevin o puxou pelo ombro e disparou mais dois socos em seu maxilar. Dimitri chutou suas costas e ele caiu no chão.
"JÁ CHEGA!", Tyrone gritou. "Acabou a baixaria. Tirem esse fracassado daqui."
Então Kevin e Dimitri o pegaram e o enxotaram para fora da casa.
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"Essa noite foi louca!", Kevin dizia, enquanto eu, Dimitri e Kat tomávamos latinhas de coca-cola, sentados ao seu lado na escada externa em frente a casa.
"Sim", concordei. "Apesar de eu não concordar com a ideia de vingança, foi ótimo ver o Isaac tendo o que merece. Foram anos sofrendo com essa culpa."
"Culpa? Brendy todo mundo comete deslizes na adolescência. Não estou dizendo que você não estava errada. Estava, mas não justifica o que Isaac fez. Você não deveria se martirizar por tal coisa durante tanto tempo. Você é a garota mais pura e verdadeira que conheci.", Kat disse, me abraçando.
"Preciso concordar com ela, Brendy?", Kevin perguntou.
"Vocês são incríveis.", disse feliz, pois lembrei que não importava a opinião de pessoas alheias, se Deus e meus amigos sabiam quem eu realmente era.
Aquele dia foi tão bom que minha amizade com Kevin finalmente saiu do limbo estranho que se encontrava. Kevin ainda evitava se aproximar de mim quando Dimitri estava por perto, mas ele voltou a conversar comigo como antigamente. Contei para ele sobre a publicação do livro e, inicialmente, ele tinha a mesma opinião de Kat, mas por fim concordou que seria ótimo para minha carreira.
"Vou para Nova York sábado."
"Posso ir com você", ele sugeriu. "Não é bom andar sozinha por aqueles cantos."
"Oh não. Acho que não vai pegar bem, Kev. Eu namoro. Viajar com você, ainda escondendo do Dimitri é uma péssima ideia."
"Como amigos.", ele insiste.
"Kevin..."
"Olha, eu preciso ir pra lá também, resolver umas coisas na empresa do meu pai. Não vou pegar o mesmo voo que você nem ficar no mesmo hotel que você." Ele piscou e eu dei um tapa em seu braço. "Mas podemos nos encontrar lá. O que acha?"
Ia dizer não, mas hesitei. Não era uma ideia tão ruim.
"Ok, Pyro. Então nos vemos lá."
Mais um, amigos! Amanhã tem mais :)
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