22 - "Olá, Riverwood!"
Eu e Dimitri passamos mais dez dias juntos antes da viagem. Ele topou ir comigo e, para evitar questionamentos dos meus pais, concordamos que ele seria meu "namorado" para eles.
E isso talvez tenha sido um pouco verdade. Apesar de não termos nos beijado desde aquele dia na Disney, estávamos muito próximos. Depois de lhe contar toda a minha trágica história, eu o ajudei a fazer as entregas.
"Essa moto é um pouco grande demais!"
"Pelo amor de Deus, Dimitri! Olhe seu tamanho!", disse, rindo.
No início, ele ficava com muito medo de dirigir em tal velocidade. Então, eu o acompanhava na garupa e me abraçava com firmeza às suas costas, enquanto vagávamos noite afora, pelas ruas de Vancouver. Após dois semáforos, ele tomou coragem e começou a ir mais rápido. O medo inicial se extinguiu quando ele viu que ainda tinha jeito, e todo o pavor de velocidade passou foi para mim. Não havia como descrever a sensação. Meus braços envolta de seu quadril, meu rosto enterrado em suas costas enquanto o vento batia em minha jaqueta gigante. Podia sentir os pequenos folículos de neve se derretendo em meu rosto. A dor de ter me lembrado de Isaac, Riverwood High e o vídeo se esvaiu neste momento.
Dimitri nunca fora tão meu quanto naquele momento. Nem mesmo quando eu o escrevia.
Ele dormiu no meu dormitório durante os dez dias, na cama de Kat. Ele manteve a palavra de não apressar nada, então era quase como se ele fosse qualquer amiga que vinha dormir comigo e Kat. Exceto pelo fato de eu estar completamente atraída por ele, mas isto eu tentava ignorar. Vimos muitos filmes e comemos muita pizza e chocolate quente. Gostaria de voltar para aqueles dez dias.
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Dimitri esfregava as palmas das mãos uma na outra, esfregava as têmporas e caminhava para lá e para cá no quarto. Parecia bem nervoso com nossa viagem para Wisconsin, enquanto arrumávamos nossas malas.
"Brotinho, acha que eu peguei roupas o suficiente?"
Olhei para a mala e novamente o que tinha lá não passava de duas mudas de roupa e menos de meia dúzia de cuecas.
"Não!" disse, revirando os olhos e jogando mais um bolo de roupas em sua mala. "Agora dobra!"
Enquanto ele terminava de fazer as malas, eu ia jogando em uma sacola os salgadinhos secretos que íamos comer no avião. Nós dois colocamos jaquetas enormes, a minha amarela e a dele azul, e saímos.
"Estamos parecendo dois bonecos de neve!", falei, enquanto chamava um táxi.
"Eu sou o boneco de neve bonitão!", ele disse, fazendo uma dancinha estranha que me deu uma enorme crise de risos.
O táxi chegou quinze minutos depois. Enquanto íamos até o aeroporto, Dimitri esquentava suas mãos nas minhas.
"Vai dar tudo certo. Vai ser supimpa! Aí, macacos me mordam, estou nervoso..."
Tirei as mãos das dele e dei um beliscão em seu braço.
"O que foi que eu disse sobre essas gírias do século passado?"
"Aí!", arquejou, enquanto esfregava a mão onde eu belisquei. Apesar da jaqueta ser grossa, eu o fiz com força. "Estou tentando, brotinho! Sabe eu evoluí muito!"
"É, percebi..."
Já no avião, enquanto comíamos um dos salgadinhos secretos da sacola, contei a Dimitri um pouco dos meus pais e do meu irmão, Declan.
"Meu pai é fazendeiro, como quase todo mundo em Riverwood. Ele vende legumes e leite em uma feirinha que fazem lá e tem até algumas pequenas empresas alimentícias que compram coisas dele. Mamãe o ajuda... Pode parecer que ela é uma simples dona de casa, mas ela mexe com serviço pesado tanto quanto ele!"
"Nossa, eles lembram... Meus pais!", ele falou com um ar de hesitação.
A verdade é que os pais de Dimitri, de certa forma, foram inspirados nos meus. Exceto a traição do pai dele, claro. Meu pai estava muito longe de ser um nazista. Mas em relação ao estilo de vida do Sr. e Sr.ª Strauss, a inspiração vinda de meus pais era inegável.
"Meu irmão, Declan, você já conheceu aquele dia no Skype... Sabe, o vídeo!", ele assentiu. "O Declan e eu éramos mais grudados que chiclete embaixo da cadeira de escola. Se você o vir vai até achar que ele e eu somos gêmeos. Ele tem meus olhos e os mesmos cabelos loiro- escuros. No Sol ele é praticamente loiro. E... Ah ele é incrível apesar de sempre tirar sarro de mim, me chamando de fuinha!"
"Já gostei desse cara!" ele deu uma risada despojada e pegou mais salgadinhos. "Mas, e aí, ele mora com seus pais?"
"Não... Ele estuda engenharia civil na NYU. Ele e Kat já namoraram sabia?"
"Sério?"
"Aham! Mas não deu certo. Ele achava Kat muito arrogante e Kat achava ele muito chato. Acho que não era pra ser. Ele começou a namorar com uma garota chamada Tori, mas acho que ele não dá sorte no amor. Talvez seja de família..."
Ele segurou minhas mãos.
"Talvez a sorte dele mude agora. Você vai me deixar mudar a sua?"
Respondi apenas com um sorriso e recostei minha cabeça em seu peito. Algo ainda me impedia de dizer um sim definitivo para Dimitri. E eu não sabia o que era.
Não era medo de relacionamentos. Eu conhecia bem o caráter dele. E não era mais medo de não ser correspondida. Ele vinha provando que seus sentimentos por mim cresciam cada vez mais. Era outra... Coisa.
Depois desta conversa, nós ficamos vendo filmes do Stallone. Havia algo em Dimitri que provava que o mundo atual estava mesmo mudando-o: ele não se assustava mais com tiros. Com o passar do tempo, percebi que muitas reações que ele tinha devido aos seus traumas já não eram tão fortes quanto antes. Claro, que ele ainda se via sensibilizado com assuntos que envolvam a Segunda Grande Guerra. O caso "Lars e Eun Hee" era a prova disto. Entretanto, parecia que, gradativamente, a vida de Dimitri se alinhava a uma vida normal.
Depois de tudo, dormimos um pouco até a viagem acabar.
Ao chegarmos ao aeroporto, tentei ligar para Declan. Ele combinou comigo, antes de viajarmos, que ele viria me buscar, para que eu não precisasse pagar outro táxi ou Uber. No entanto, a ansiedade já estava dando nós no meu intestino. Eu ainda não havia contado para ele, nem para os meus pais sobre Dimitri.
Passamos perto das lanchonetes, nas portarias... Nada. Até que avistei, perto das escadas, o garoto alto, irritante, de cabelos e olhos indecisos no quesito cor - como os meus - segurando uma plaquinha na mão. Nela estava escrito "Brenda Fuinha".
"Decão!"
"Fuinha!"
Puxei o meu irmão para um abraço que pareceu tão longo quanto um ano bissexto. Eu não o via pessoalmente há mais de um ano. A sensação de poder senti-lo tão próximo de mim novamente era como explodir de nostalgia e conforto familiar. Agora, mal via a hora de ver novamente meus pais e os bichos da fazenda.
"Hey, eu conheço você... Daquele dia na Webcam!", Declan se voltou para Dimitri. Meu irmão tinha uma memória de elefante. Nada escapava dele. Eu, em contrapartida, demorei meses para decorar o nome da sua última namorada.
"Ah... Sim, olá sou Dim... Ah, Dylan Samberg."
"Prazer, Declan Mitchoff. Ei, Brendy, ele é primo da Kat, não?", ele me perguntou, trocando olhares decodificados, assim como fazíamos na infância. Ele queria, na verdade, saber porque eu o trouxe.
Resolvi soltar a bomba logo de uma vez.
"Então, Decs... Eu e Dylan meio que estamos namorando e eu... Trouxe ele pra passar o natal com a gente!"
Declan contraiu o rosto em uma expressão de surpresa. A expressão de surpresa dele sempre foi um imã para as minhas risadas. No entanto, me contive. Suas sobrancelhas arqueadas, a testa franzida, a boca semi- aberta e o nariz dando uma tremidinha, assim como quando eu contei para ele que vendi todas as suas cards colecionáveis do Naruto.
"Escuta, se você for um otário com a minha irmã, eu juro que corto a sua garganta!"
Dimitri também ficou um tanto espantado, mas depois riu. A expressão dura de Declan foi mudando assim que ele pegou a minha mão e disse:
"Relaxa, eu não vou ser. Prometo!"
"Bom mesmo. Agora vamos!"
Fomos até o estacionamento e entramos na caminhonete de Declan, velha, vermelha e enferrujada. Eu sentei no banco do passageiro e Dimitri atrás.
"Então, Dylan. Me conta, o que você faz da vida, a perspectiva que tem dela, seus hobbies, quantas namoradas já teve..."
"Pelo amor de Deus, Declan!", eu o interrompi. "Papai já vai fazer este mega interrogatório quando o conhecer, então, pra que perguntar tudo isso?"
"Não é com você que estou falando, Fuinha, e sim com o garotão aí..."
Bufei e me recostei no banco furado de couro.
"Relaxa, Brendy. Ele tem razão. Bom eu estudo história, pretendo trabalhar como professor ou em um museu, sobre meus hobbies... Bem... "
Eu conhecia bem os hobbies de Dimitri. Bem, os hobbies que ele tinha em meu livro. Ele gostava de consertar coisas. Ele vivia inventando engenhocas que ajudavam nos serviços diários da fazenda. Além disso ele gostava de cantar, tocar gaita e explorar. Gostava de festas de bairro também. Nenhum destes hobbies se encaixavam nos de qualquer um que vive no século XXI. Não era nada igual ao que eu gostava de fazer como ir ao cinema, ver séries e escrever, ou igual ao que Kat gostava como comprar, ir a baladas e fazer as unhas, ou igual aos gostos Kevin como sair com os garotos da Beta, planejar eventos beneficentes da fraternidade e, ao mesmo tempo, ser um nerd viciado em paintball.
Apesar dos fatos inegáveis, Dimitri me surpreendeu com a resposta. Ele usou seu velho hobbie de cantar musicas antigas e elaborou sua resposta.
"Gosto de musica. Quer dizer, gosto de escutar, gosto de cantar e as vezes compôr. Faço varias listas...", ele hesitou.
"Playlists?", Declan complementou.
"Isso. De todas as gerações!"
"E quais as suas preferidas?"
"Das antigas gosto de Beattles, Pink Floyd... Das mais recentes eu gosto muito de Coldplay e Imagine Dragons."
A vez de fazer cara de chocada e de tremer o nariz foi a minha, naquela hora. Não sabia que ele já estava tão atualizado assim no assunto das músicas. Lembrei do dia que o peguei cantando Spice Girls. Pelo seu jeito explorador de coisas e tendências, com certeza ele estava tentando montar um gosto musical e andava escutando de tudo. A única coisa que eu ainda não havia descoberto era quem arranjou um diskman para ele. Também não sabia como ele não errara nenhum dos nomes de bandas que ele havia citado para o meu irmão assim como errou o nome de Justin Bieber no dia que fomos para a Disney. Suspeitei que ele só decorava o que ele gostava.
"Nossa cara, você tem um gosto muito bom!", Declan dizia entusiasmado. "Você toca alguma coisa? Já teve banda no Ensino Médio?"
"Toco violão. É, mais ou menos isso!"
A noticia do violão também me deixou chocada. Ele andava fazendo muita coisa nos tempos livres e eu estava perdendo tudo. Perdendo toda sua evolução.
"Terminando de responder suas perguntas... Sobre religião, eu sou cristão desde pequeno, apesar de não frequentar instituição nenhuma no momento! E namoradas... Só tive uma além da sua irmã."
Meu rosto ferveu de vergonha.
"Ah, nem vem com essa, cara. Uma só? Eu duvido!"
"É sério! Eu não tive muito tempo pra namorar. Eu já servi."
"Serviu? No exercito?", Declan o olhava pelo retrovisor.
"Não, Declan, serviu a cerveja!", disse, tirando o sarro.
"Brenda e suas piadas sem graça!", Declan pegou em meu capuz da jaqueta e fechou meu rosto com ele. Odiava quando ele fazia isso. Os dois riram.
"Então", Dimitri disse por fim, "Servi por uns tempos!".
"Esteve em combate?"
"Sim... Não foi fácil."
"Imagino, cara... Imagino!"
Então, graças a Deus, já estávamos entrando na nossa pequena fazendinha, encerrando o interrogatório sem fim de Declan Mitchoff e trazendo a mim uma onda imensurável de alivio.
Grandes camadas de neve escondiam o gramado familiar da fazenda. Provavelmente, os bichinhos estavam quentinhos nos estábulos e mamãe, preparando uma caneca de chocolate quente enquanto papai acendia a lareira. Meus pés afundavam na neve. Dimitri pegou em minha mão e me ajudou a levar a bagagem. Declan estava com as chaves, então o esperamos para entrar, com meu coração rasgando o meu peito a cada batida ansiosa.
"Chegamos, família!", anunciei, quando enfim entramos na casa.
"Brenda? Bebê!"
Minha mãe, tão parecida comigo, veio correndo da cozinha e me afagou com um abraço. Seus cabelos espessos quase entraram em minha boca. Papai, logo atrás, gordinho e com os cabelos ralos, me apertou ainda aninhada a minha mãe, com um de seus clássicos abraços de urso.
"Ah, mamãe e pai! Senti tanta saudade!"
"Finalmente os Mitchoffs estão reunidos!", papai bateu a palma no meu ombro, quase me desmontando. Odiava quando ele fazia isso, também.
"Ah... Mitchoffs e Samberg!"
Neste momento, Dimitri apareceu, atrás de Declan.
"Mãe e pai... Esse é Dylan Samberg! Meu namorado!"
Hey everyone!❤
O capítulo tá um pouquinho menor que o comum, mas relaxem... Muita coisa ainda vai acontecer em Riverwood.
Ps: Riverwood - Wisconsin é uma cidade fictícia da história. Queria criar uma cidade com características próprias, portanto, só o estado é real😂😂
O que acham que vai acontecer nessas férias? Sera que realmente a Brendy ta assumindo o Dimi ou é só desculpa?🌚 e o pai dela? Como será que vai reagir?
Bjus da Tia Carol!
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