17 - Uma Selfie com o Mickey
Sexta-feira, após voltarmos de nossas aulas, preparamos nossas malas e separamos os documentos separados nossa grande viagem.
Eu e Kat havíamos montado um cronograma durante a semana para o que faríamos na viagem e grande parte das coisas se resumiam a distrair Dimitri para que eu pudesse cumprir o real objetivo daquela viagem: encontrar o manuscrito.
"Passaportes e RGs?"
"Confere.", Dimitri respondeu.
"Passagens?"
"Confere."
"Roupas?"
"O suficiente."
"Pegou cuecas?"
"Ah... Peguei duas.", ele disse, dando uma modesta coçadinha na cabeça.
"Vá pegar mais."
"Tudo bem!", ele disse animado, mesmo levando bronca de mim.
Nesta semana de preparativos eu briguei muito com ele em relação a organização e roteiros. Também dei conselhos como não andar sozinho e não fazer perguntas do tipo "quem é Elsa?" para os desconhecidos e não falar na frente dos outros que o passeio está supimpa. Mas eu sabia o porquê de eu pegar tanto no pé dele, e me irritar com facilidade. Foi a conversa. A conversa que eu ouvi entre ele e a Kat, em que ele admitiu que tinha interesse em mim mas que jamais me amaria como amou a Sondra.
Eu sabia que estava sendo completamente idiota em odiar ele por isso, até porque quem criou o sentimento dele por Sondra fora eu mesma e que eu nem deveria olhar para ele com outros olhos, sendo que eu namorava Kevin. Mas eu não poderia negar que eu o amava. E eu sabia que o amava. Negar a mim mesma este fato era algo impossível, mas eu poderia ainda suprimir meus sentimentos para mantê-los ocultos de Dimitri e de quem quer que fosse.
Kevin nos buscou de carro. Ele nos levaria até o aeroporto e depois seguiria com sua rotina de estudos. Ele aceitou melhor a história da viagem, depois de uns dias. Disse que confiava em mim e que não sentiria ciúme algum, o que fez eu me sentir ainda pior.
"Credo pessoal, vocês vão passar dois dias ou dois anos em Orlando?", ele perguntou, brincando enquanto colocava as malas em seu carro.
Ele ainda não sabia que Dimitri estava morando conosco então dissemos que ele veio da pizzaria até a Universidade para nos ajudar. Pedimos a Dimitri para que confirmasse nossa história e apesar dele odiar mentiras e reclamar infinitas vezes, ele concordou, porque sabia que nós só pedimos isso para ajudar ele.
Ele desceu com mais uma mala.
"Essa é a ultima. Malas, confere."
"Kat?"
"Ah... Não confere. Ela disse que ia se despedir do Phellix."
"Droga, eu vou lá buscar a perua."
Voltei para o prédio deixando Dimitri e Kevin sozinhos. Kat estava com os braços em volta de seu namorado, rindo e calma, na frente do dormitório dele. Admito que ainda estranhava ver ela namorando o cara que, um dia, ela odiou tanto.
"Katrinne!", ela deu um sobressalto, se afastando de Phellix.
"Nossa. Que susto ein, Brendão."
"Bren... Ah esquece. Precisamos ir. Senão perderemos o voo."
"Ok, ok sua chata. Amor te amo, se não responder minhas mensagens eu corto sua garganta à noite.", ela deu um beijo nele e saiu correndo comigo.
"TAMBÉM TE AMO KIT- KAT", ele gritou em resposta.
Em menos de uma hora já estávamos no aeroporto e, como sempre, atrasados. Dimitri desceu do carro e pegou duas malas e Kat mais uma.
"Vou indo lá fazer o check-in. Me encontra na cafeteria."
"Ok."
Então eu e Kevin ficamos sozinhos para a nossa despedida. Ele me abraçou e depois me encarou, ainda com os braços em volta de mim. Ver seus olhos e a forma como ele demonstrava estar apaixonado fez a culpa fervilhar em mim outra vez. Como eu podia julgar Dimitri por me iludir se eu estava fazendo exatamente o mesmo?
"Kevin... Preciso te falar uma coisa."
"O que foi, linda?"
Eu não sabia ao certo o que falar. Eu sabia que sentia algo muito forte por Dimitri e não era justo esconder isto dele, ainda mais se estávamos juntos. Eu sentia que era como se eu o traísse, mesmo não fazendo nada. Contudo, resolvi deixar isto de lado, pelo menos até o fim da viagem.
"Vou tirar muitas fotos em Hogwarts pra você!"
A tensão em seu rosto se aliviou.
"Nossa, me assustei agora. Eu ia até falar disso, mas já que você mencionou... Eu ia pedir pra você não ir ao Universal World. Só à Disney."
"Por quê?"
"Ah... Porque eu queria que você fosse comigo em breve. Que fosse uma coisa só nossa sabe..."
Dei uma riso rápido e depois um selinho.
"Relaxa. Não vou. Quando for para Hogwarts, vai ser com você. E só com você, tá?"
Novamente, como pequenas pérolas talhadas em uma pintura em auto relevo, vi o sorriso branquinho de Kevin, que me poupou minhas palavras com um beijo calmo.
"Até segunda!", disse, após se desvencilhar de mim.
"Até."
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Os assentos meu, de Kat e de Dimitri ficaram em fileiras separadas, mas até que bem próximos no avião. Na verdade, Dimitri ficou na mesma fileira que eu. Kat que ficou separada, devido um pequeno conflito nas reservas dos assentos. Eu fiquei na janela, em uma das fileiras do fundo, Dimitri ficou ao meu lado e um senhorzinho careca no assento do corredor, ao seu lado. Kat ficou no assento da janela, só que uma fileira a nossa frente. Dimitri parecia um pouco tenso. Estava suando. Toquei em sua testa e vi que o suor era frio.
"Ei, Dimi, você não tem medo de avião, né?", questionei.
"Ah... Na verdade eu tenho um trauma. Em um dos ataques aéreos em que eu estava, os nazistas conseguiram danificar nosso avião e tivemos um pouso duro de paraquedas..."
Claro, a cena da igreja aconteceu logo depois disso. Como não me lembrei disto eu não sei.
"Mas eu estou bem, brotinho. Claro que estou... É só um avião ninguém vai explodir ele... Não estamos em guerra...", ele disse, mas claramente não estava bem. Ele estava com os olhos fechados e o suor gotejante não cessava.
Apertei uma de suas mãos.
"Calma, Dimitri. Eu estou aqui, ok? Só finja que não é um avião. Olhe... Vamos assistir uma coisa legal.", peguei meu Tablet, passei um dos fones para ele e coloquei o desenho antigo do Mickey que baixei dois dias antes. Era aquele bem velho, em preto e branco, da época de Dimitri. Os olhos dele brilharam nostálgicos quando ouviu o clássico assobio do Mickey.
"Como encontrou isso? Ainda existe isso nessa época? O Mickey?"
Eu havia planejado tudo pra essa visita a Disney ser algo inesquecível para ele e o desenho fazia parte do plano.
"Claro que existe. Todos amam o Mickey."
O sorriso dele era, com certeza, algo que eu faria de tudo para ver todos os dias.
O senhor do lado nos viu assistindo o velho desenho do Mickey e falou:
"Minha nossa, lembro de assistir isto quando eu era criança."
Dimitri tirou a atenção do Tablet e respondeu o senhor, ainda com um sorriso enorme no rosto.
"É incrível, não? Hoje em dia tudo é colorido e digital, mas para mim os melhores são os em preto e branco, como nos velhos tempos."
"Não fazem mais desenhos como antigamente, rapazinho."
"Não só desenhos, como roupas também. Olha isso..."
Dimitri apontou para sua própria camiseta, com uma caveira verde estampada.
"Sou muito mais camisas listradas e elegantes e suspensórios."
O senhor olhou para ele, um parecendo tanto desconfiado com a intenção da conversa. Mas depois sorriu.
"Com um chapéu preto combinando?"
"É isso aí, parceiro!"
Eles riram juntos, como se compartilhassem uma piada interna.
"Os brotos adoravam quando me viam de chapéu.", o velhinho lamentou.
"Meu brotinho não gostava. Ela dizia que preferia ver meu cabelo e que ele era supimpa."
Ótimo, ele usou as palavras brotinho e supimpa em uma mesma frase, pensei.
Eles ficaram conversando por mais um tempão. Os dois tinham realmente muito em comum, até no aspecto de já terem sido militares, já que o senhor serviu na guerra do Vietnã. O senhor, as vezes, desconfiava da forma que Dimitri falava sobre o passado, mas em um certo ponto ele esqueceu isto e apenas se divertiu com a conversa. Depois o velhinho dormiu e Dimitri e eu começamos a assistir Orgulho e Preconceito, no Tablet.
Kat e eu tínhamos o hábito de mostrar uma para outra alguma reportagem ou algum vídeo que tínhamos visto na internet quando eles nos interessavam. Já havia passado quase quarenta minutos desde que o avião decolou. Os cintos de segurança já estavam soltos, então, Kat se escorou no banco dela e me deu seu celular.
"Gente, olhem que coisa romântica que postaram no Face da BBC."
Peguei o celular e vi junto com Dimitri.
Rapaz pede sua namorada em casamento no mundial Brasil × Alemanha. Golaço para o amor!
Ele enganou a moça direitinho! O jovem Jason, de 23 anos, no ultimo sábado fez a maior bagunça no estádio do Maracanã, pra declarar o seu amor por Annie, de 19. Com a permissão do Comitê Esportivo e dos dois times que iriam disputar o amistoso, ele fez tudo escondido e no centro do gramado, a pediu em matrimônio.
"Ela sempre se derreteu por estes jogadores alemães, então inventei que ela iria conhecer um deles. Foi a deixa pra preparar tudo para o pedido e pegar ela de surpresa!"
O início do amor dos dois também começou em um jogo, no pedido de namoro. E agora pulou para um novo estágio com este novo pedido. 7x1 pra Jason.
Na reportagem tinha fotos dos dois durante o pedido e depois fotos deles com as seleções da Alemanha e do Brasil, acompanhados dos pais e um casal de jovens.
"Nossaaaa, Kat. Se não for assim comigo, nem quero."
"Ela tirou foto com os chucrutes?", ele questionou, abismado.
"Eles são bonzinhos, Dimi."
"Bem bonzinhos mesmos!", Kat disse, com o olhar malicioso mirando a foto da seleção alemã.
"Safada! Você podia sugerir o tal pedido ao Phellix."
"E você ao...", Kat percebeu que ia falar besteira e ficou quieta.
"Meu pedido de casamento para Sondra foi simples, mas cheio de sentimento. Ainda assim, eu admiro esse rapaz pela coragem."
"Talvez quando você pedir outra pessoa em casamento, você possa fazer algo grandioso, também.", eu disse, tentando não parecer provocativa.
"Quem sabe?"
Após essa última conversa dormirmos até o fim da viagem. Chegamos pela Madrugada no aeroporto. Enquanto tirávamos nossas malas do bagageiro, Kat me pediu para chamar um Uber, para nos levar até o hotel. Poderíamos nos hospedar no Resort, mas não seria estrategicamente bom para a locomoção a outros lugares em Orlando que eu precisava ir. Mais especificamente, o escritório de Petunia Stiller. Fora que o hotel era mais barato que o resort em si.
Chegamos ao Hotel Daylin's já pela madrugada. Era um prédio branco e grande, com no mínimo vinte andares. Nosso quarto era o décimo primeiro. Quando entramos, senti o cheiro de lavanda e lençóis novos. O quarto era enorme, com cortinas e colchas em tons de bege, combinando e uma cama king size.
"Ual, Kat. Você caprichou.", bati palmas.
"Não é o Disney Resort, mas é um hotel bem legal."
"Ótimo, porque estou morto!", Dimitri deixou a mala no chão e se jogou na enorme cama.
Eu e Kat começamos a encará- lo de braços cruzados, mas ele permanecia de olhos fechados. Quando percebeu que as coisas estavam silenciosas demais, ele levantou a cabeça e notou nosso olhar.
"Ah, não! Chão aqui também não!"
"Ah sim, rapaz. Somos a maioria. Anda, pegue essas colchas e monte uma cama pra você.", eu disse, arrancando vários edredons do armário branco ao lado da cama.
"Ah eu odeio vocês."
Nós dormimos muito pouco. Como chegamos no hotel quase três da manhã, e iríamos acordar às oito, foi como se não tivéssemos dormido. Eu acordei primeiro, com o Sol teimoso transpassando a janela do quarto.
"Acorda pra cuspir, galera. Hoje é dia!"
Dimitri levantou de sua "cama" improvisada, com os cabelos emaranhados e olheiras escuras marcando sua pele clara.
"Ah... Já é pra acordar?"
"A Brenda é a única pessoa da face da Terra que gosta de acordar cedo.", Kat disse, também toda descabelada.
"Nós estamos em Orlando gente. O-R-L-A-N-D-O. E ficaremos só por dois dias. Temos que aproveitar o quanto pudermos."
"Bom, desta vez a Brendinha tem razão. Vamos lá".
Kat colocou um macacão de shorts jeans e regata preta por baixo. Eu estava com um shorts jeans comum e uma camiseta da Cinderela, tentando corresponder bem ao espírito Disney da ocasião. Para Dimitri, eu dei uma camiseta especial para o passeio, que eu comprei logo depois de comprar as passagens. Ela era preta, com uma estampa do rosto do Mickey grafitado. Ele a usou junto com uma bermuda branca e os tênis Vans. Tomamos um café no hotel e depois partimos para nosso primeiro dia de diversões.
"Brendy, quando você vai me explicar o porquê de assistirmos, usarmos e falarmos tanto do Mickey durante esses dias?", Dimitri perguntou, enquanto entravamos no Uber. "Quer dizer, eu amo o Mickey mas... O que você está aprontando, brotinho?"
"Aguarde e você verá!", apenas disse.
Quando chegamos nos portões do Disney World, apresentamos nossos ingressos e fomos até um dos carrinhos de tour do Parque. Um simpático moço, funcionário do parque e responsável pelo tour começou a nos instruir a respeito da história de Walt Disney, das diversas empresas de entretenimento que fazem parte do grupo, como Lucas Arts e Marvel, e dos lugares interessantes a se visitar depois do tour. Dimitri meneava a cabeça e piscava, tentando absorver tudo.
Depois que o pequeno tour se encerrou, o moço nos deixou na entrada de uma das áreas do complexo, com um outro funcionário sorridente.
"Olá, pessoal. Sejam muito bem- vindos ao Disney World. Sou o Henrie e passarei algumas recomendações para vocês antes de começarem a explorar o complexo. Mas primeiro, recomendo que baixem nosso aplicativo. Por ele vocês podem criar um roteiro, conhecer nossas atrações e saber se elas se incluem ou não no pacote contratado e poderão compartilhar instantaneamente em suas redes, todas as fotos e selfies que tirarem aqui, com uma resolução de tirar o fôlego. Podemos começar?"
Eu e Kat começamos a criar nosso roteiro e ficamos chocadas com a quantidade de opções que tínhamos. Tinha desde shows temáticos a parques aquáticos, cinemas especiais, especiais do Star Wars e Indiana Jones, das Princesas, da Pixar, shows de fogos, esportes radicais e montanhas russas que iam aos altos céus. Não seríamos capazes de curtir tudo em dois dias, então por hoje escolhemos o The Great Movie Ride, que reproduzia filmes antigos dos anos 30 à atuais, de forma interativa (Dimitri iria amar), um passeio na montanha russa do Aerosmith, um Star Wars Tour, um show da Bela e a Fera e finalizaríamos a noite em um dos pubs no calçadão. Isso só naquele dia, e ainda era pouco, pois às 17:00hs eu teria que sair de lá e ir até o escritório de Petunia, para pegar o manuscrito. Eu combinara com ela por e-mail e ela me passara seu endereço. Agora era torcer para que ela realmente estivesse lá.
"Não posso acreditar que os pequenos desenhos do velho Walt Disney viraram tudo... Isso. É incrível. Agora entendo o porquê dos desenhos e da camisa.", Dimitri não parava de sorrir,
Eu e Kat rimos pois a animação dele o fazia parecer com uma criança. E era muito fofo. Seu sorriso ia de orelha a orelha, e algumas leves covinhas nasciam em seu rosto. Algo que eu ainda não tinha reparado, mas elas só apareciam quando ele estava realmente muito feliz.
No primeiro passeio, o do cinema, ele admirou nostálgico a passada dos filmes antigos e a evolução para os novos. Em alguns momentos, ele parecia assustado, pois a atração envolvia muita tecnologia. Mas, o velho Dimitri Strauss parecia estar se habituando aos poucos com toda a nossa modernidade. Depois disso e de muitas fotos com diversos personagens, almoçamos no calçadão. O único personagem que não tínhamos visto ainda foi o tão amado Mickey.
Enquanto tirávamos fotos com o Pateta, Pato Donald e Ursinho Pooh antes de ir para a montanha russa, eu o vi. O Mickey. Só que ele não estava feliz como os outros personagens. Ele estava esgueirado em um dos becos das lojas do calçadão, chutando a cara de um Pluto de pelúcia com todo o ódio e força que podia. Aquilo me assombrou. Então, aproveitei a distração de Kat e Dimitri, vendo o príncipe colocando o sapatinho na Cinderela, e fui até o Mickey furioso.
"MERDA, MERDA, MERDA. MERDA DE PARQUE, MERDA DE PLUTO, MERDA DE TUDO!"
O Mickey, de voz feminina, gritava enquanto disparava contínuos chutes na cara do pobre Pluto de pelúcia.
"Ei! Calma pessoa! Por que tanta raiva."
O Mickey parou sua sessão de UFC e me encarou, com seus olhos de veludo por alguns instantes antes de, por fim, levantar os braços.
"Por quê? Vai reclamar na administração do Parque? Falar 'o Mickey de vocês tem uma péssima conduta e destrói todos os sonhos das crianças' ?"
"Não se você me explicar o que houve."
"Turistas idiotas.", o Mickey resmungou e tirou a máscara.
Por baixo, era uma garota cabelos castanhos- claros, longos e ondulados, de aparência latina e olhos como ônix.
Ela suspirou e seu rosto vermelho, aos poucos, retomou aos tons normais.
"Desculpa. É que passei maus bocados hoje. Você não tem culpa. É que eu... Não conseguia achar outra forma de desabafar minha frustração.", ela suspirou, com cada palavra saindo com amargura.
"Bom... Desabafa comigo.", me aproximei.
Ela olhou para o chão e, por incrível que pareça, começou a falar.
"E- eu sai de casa... Com um sonho: ser atriz. Fui para Los Angeles atrás de qualquer coisa. Fui figurante de algumas séries da Disney, aquelas bem infantis mesmo. E me ofereceram um emprego aqui no Parque. Como eu não tinha nada de chances de contrato em LA e precisava de um emprego, aceitei a chance. De ser o Mickey. Há três anos tenho que aguentar crianças mimadas chorando, turistas desaforados e ingratidão pelo meu serviço. Pedi a eles que me dessem uma chance no musical... Para ser a Pocahontas, mas desde que colocaram a insuportável da Margot Lucinda no papel, não dão mais espaço pra ninguém. E eu...", ela começou a chorar, atropelando palavras com palavras. "Minha mãe sempre achou meu sonho tolo. E no final ela tem razão."
"Não diga isso, moça. Eu... Também sempre fui julgada pelo meu sonho. Meu sonho sempre foi ser uma grande escritora. E sempre zombaram de mim por isso. Mas olha só... Se você não acredita em você mesma, ninguém poderá fazer isto por você. Provas no meio do caminho acontecem, mas as vezes elas servem para nos ensinar algo. Talvez o seu sonho esteja certo, mas a forma que você o busca está errada."
Ela olhou para mim. Com um brilho diferente na escuridão dos seus olhos. Então disse:
"Andei pensando nisso esses dias. Não falo com meus pais há um bom tempo."
"Talvez seja isso. Nada flui se você guarda mágoas."
"E sinto falta de Wisconsin. Creio que... O melhor seria voltar pra lá e recomeçar. Eu detesto o Mickey e não quero mais ser ele."
"Wisconsin? Eu sou lá.", ri.
"Que demais!", ela disse, com um sorriso que deixava seus olhos pequeninos. "Qual é seu nome?"
"Brenda Mitchoff."
"Eu sou Tricie Ortega."
"Prazer, Tricie. Hey... Eu sei que você odeia o Mickey e tudo mais, mas você poderia ser ele por mais uns minutos? O sonho do meu amigo é conhecer o Mickey."
Ela olhou para fora do beco e viu Dimitri rindo com o Pateta.
"É aquele ali?"
"Sim."
"Que gato!", mordeu os lábios.
E eu revirei os olhos.
"Tire o olho, ratazana."
Ela riu.
"Relaxa. Não furo o olho de ninguém!", ela colocou a cabeça do Mickey e segurou minha mão, com suas luvinhas brancas.
"Obrigada, sério. Deus te mandou até aqui pra me falar tudo isso.", agradeceu, com a voz abafada pela máscara.
"Disponha. Eu te desejo toda a sorte."
"Vamos lá tirar umas selfies idiotas.", ela disse, forçando a voz para parecer com a do Mickey. Realmente ela tinha talento.
Quando saímos do beco e Dimitri nos avistou, ele saiu correndo em nossa direção.
"MEU DEUS É O MICKEY MOUSE!", Ele gritou e pegou a pequena Tricie no colo.
Ela ficou segurando a cabeça da fantasia, enquanto Dimitri a girava, o que me arrancou muitas risadas.
Depois disso, muitas e muitas selfies com a garota- rato.
Capítulo revisado e corrigido
O que acharam da viagem? Da reação do Dimi a ver seu amigo Mickey? E a Tricie? Gente eu amei ela❤
Semana que vem terá mais dessa viagem e com uma surpresa especial 🌚
Esse capítulo é dedicado a minha amiga @Triz-Oliveira, que sempre me incentivou e pelas lindas homenagens a mim em Ainda Falta Você. Obrigada amiga❤
Até logo galera😘
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