16 - "Orlando?"

Ouvir o professor Giani, citando  de forma suspeita algo relacionado ao meu manuscrito, às seis da manhã, com certeza me estremeceu por dentro. Me estremeceu tanto que quase esqueci do fato dele interromper o meu quase- beijo com Dimitri.

"Meu manus... Aconteceu alguma coisa?"

"Ah, não nada demais. É porque vi suas mensagens e queria me desculpar por não tê- las respondido."

Vi Kat se levantando, irritada por ser acordada e com os cabelos emaranhados, indo até o banheiro. Dimitri se levantou do chão, após a queda, com o olhar desconcertante e transtornado, indo até a cozinha.

"Então por que está me ligando a essa hora?"

"Nossa... Nem me dei conta do fuso. Estou na Europa. Me desculpe, Brenda."

Senti meus músculos contraídos se relaxarem.

"Tudo bem. Eu já estava acordada. Do que se trata?"

"Bem, eu vi as mensagens que você me mandou, perguntando dele e peço perdão por não tê -las respondido antes. Foi difícil conseguir uma internet que preste aqui onde estou. Vi que você está preocupada em relação ao seu manuscrito."

"Ah sim. É porque eu cometi a grande burrice de entregar o manuscrito sem ter cópia alguma dele."

"Puxa, Brenda. Você deveria saber que isso não se faz.", o tom de repreensão dele me irritou, quase ao mesmo tempo que me angustiou.

"Me desculpe, professor. Mas são tantas coisas na cabeça... O senhor guardou ele direitinho, não?"

"Brenda... É por isso que te liguei. Para avisar que ele não está comigo."

Todos os meus músculos, desde os das costas até os da face, se contraíram novamente.

"O QUÊ?"

"Eu deixei ele aos cuidados de Petúnia Stiller, uma grande amiga minha e escritora. Ela tem contatos influentes nas maiores editoras da América. Me perdoe se eu mandei sem permissão, querida. Mas a história de Dimitri e Sondra é tão cativante que não quis esperar nem um minuto a mais por isto."

O que ele falou me deixaria completamente encantada e orgulhosa em uma situação comum. Mas ao pensar que toda a força vital de Dimitri estava sob supervisão de alguém que eu ao menos conhecia fez, praticamente, todas as palavras fofas do professor Giani a respeito do meu livro serem apagadas instantaneamente da minha cabeça.

"Obrigada, professor. Mas preciso saber onde essa moça mora."

Ele hesitou por alguns instantes, antes de enfim responder.

"Em Orlando."

"E-E-EM ORL-ANDO?", disse, com a voz entrecortada.

"Sim."

"Florida?"

"Exato."

Acho que se qualquer um pudesse ver as minhas expressões de horror naquele momento iria com toda a certeza se divertir muito. Eu fiquei literalmente de queixo caído e de boca aberta, como quando via Dimitri sem camisa ou o Kevin montado em sua moto e me entregando o seu capacete.

Reconheci que era a hora de recorrer novamente a grana alta da Kat.

Me despedi do professor Giani, dizendo que tentaria entrar em contato com ela. Mas eu não tentaria. Eu teria que ir até ela. Em Orlando. 

Depois de meia- hora, Kat já havia saído para a casa dos pais dela, como todo o domingo e Dimitri foi para a pizzaria. Não havia mencionado nada sobre a nossa última conversa. Sobre o fato de quase nos beijarmos. Isso me deixou um tanto incomodada, mas resolvi esquecer meus sentimentos confusos e contraditórios e ir passar o dia com Kevin. A maioria dos garotos da Beta foram fazer alguma coisa na cidade. Então, na casa só ficou Kevin, Dex e alguns aspirantes.

Combinamos de ver um filme. Eles escolheram Batman vs Superman. Estávamos no quarto do Dex, sentados no chão, enquanto ele colocava o DVD. O quarto que eu tinha  certeza Dimitri amaria dividir com Dex. Quarto de militar patriota. Senti um leve aperto no peito, pois sentia que a expulsão de Dimitri e o rebaixamento de Kevin na Beta foram por minha culpa. Mas resolvi esquecer, por hora. Agora eu tinha que focar na minha missão de buscar o manuscrito, ou simplesmente assistir ao filme com os meninos.

"Kevin, vai avançando os trailers que eu vou pegar batatas e cocas pra gente."

"Dex grandão come besteiras?", brinquei.

"Você não faz ideia", ele riu, saindo do quarto.

Aproveitei a deixa que Dexter saiu e mencionei o único assunto que passava em minha mente no momento com Kevin.

"Kev, o que acha de ir pra Orlando semana que vem?"

"Orlando? Por que tão longe e assim de repente?", ele me encarou desconfiado.

"Porque é lá que... O manuscrito está."

"O manuscrito? Do Strauss?"

"Existe mais algum?"

Ele negou com a cabeça e colocou a língua entre os dentes, em  reprovação. Eu já conhecia bem essa expressão Pyriana.

"Kevin, se algo acontecer com esse manuscrito ele morre. Você sabe disso. Eu sei que vocês ainda não se entendem tanto... Mas ele é uma vida."

"Ok, Brenda não precisa se justificar."

Ele já não estava mais tão animado quanto antes.

"Quer ir comigo?", perguntei novamente.

"Com você? Pra Orlando?"

"Escuta, não precisa ser só uma caçada ao livro do Dimitri. Podemos ir visitar a Disney ou o Universal World. Tem diversos parques lá. Você não sonha em conhecer Hogwarts e todas essas paradas de Harry Potter no Universal World?"

"C-como sabe que eu gosto de Harry Potter?"

"Espiei sua estante", disse, piscando.

O sorriso branquinho e encantador dele retornou.

"Eu sonho mesmo. Mas não posso. Sério. Ainda vou fazer minhas provas finais e estou com um pequeno projeto aqui em minha mente que eu preciso começar logo. E eu vou começar nesse final de semana."

"Que projeto?"

"Te conto mais tarde", dessa vez, ele piscou e Dex chegou com três bacias lotadas de batata e duas de pipocas.

"Como conseguiu trazer tudo isso?"

"Gata, isso aqui não é só pra exibir", falou, mostrando os músculos do braço, embaixo da manga da camiseta cinza.

"Cara não mostra isso pra ela. Com as dos parceiros não vale."

"Relaxa, Kev. O seu não fica atrás."

Dexter se sentou ao nosso lado, rindo e assumiu o controle.

"Vamos ver essa bosta logo. Quero ver o Batman chutando a bunda do Supergay."

"Que eu saiba é o Bat que gosta de dar uns amassos no Robin!"

"Deixem-me ver o filme, trogloditas!"

O domingo inteiro se resumiu a filmes e jogos de Xbox com Kevin e Dexter. Cheguei em meu dormitório quase 22hs e Dimitri e Kat já estavam dormindo. Tive a leve impressão de que, na verdade, Dimitri estava acordado. Ele não ficava tão tranquilo e imóvel enquanto dormia. Ele se mexia demais, inquieto. A ideia de que ele estava esperando eu chegar fez do meu estômago um playground, então fingi que tudo isso não passava de coisa da minha cabeça e fui tomar um banho para dormir.

Dimitri mal dirigiu a palavra a mim, pela manhã. Apenas pegou sua mochila preta, os cadernos e livros de história e saiu do dormitório antes que eu e Kat ao menos terminássemos de tomar nosso café.

"Ele parece zangado.", Kat sussurrou.

Cocei o meu braço e dei um gole em meu café, tentando ordenar meus pensamentos.

"Kat, me perdoa se fui grossa com você aquele dia. Você tem razão eu... Não venho sendo franca com os meus sentimentos."

"Então você vai terminar com Kevin?"

"N- não. Eu não posso."

Ela bufou e se levantou com sua xícara.

"Então você não entendeu mesmo nada do que eu falei."

"Escuta, Kat. Chega de enrolar preciso de você!"

Ela revirou os olhos e deu seu sorrisinho sarcástico.

"Sabia. Fala logo."

"O professor Giani me ligou ontem de manhã. E ele me disse onde está o maniscrito."

"E aí? Onde está?", ela perguntou, preocupada.

"Em... Orlando."

"Orlando? Flórida?"

"Sim amiga."

Ela riu, ríspida e sem humor.

"E você precisa de mim no ponto de vista monetário?"

Abaixei a cabeça, sentindo pontos de rubor nascendo do meu pescoço. Por este ângulo, parecia que eu era apenas uma destas amigas interesseiras.

"Ultimamente parece que você só precisa de mim pra isso.", Ela concluiu, pegando sua bolsa e saindo.

Um bolo horrível e invisível de ar subiu pela minha garganta. Hesitei por um momento, mas fui atrás dela, abrindo a porta do nosso dormitório.

"AMIGA!"

Ela parou, no meio do amplo corredor mas não se virou. Ela usava seu blusão de tricô preto e botas. Parecia luto pela nossa amizade. Grande analogia.

"EU SINTO MUITO. Eu preciso de você mais do que você imagina."

Ela se virou mas não saiu do lugar.

"Eu ando sendo uma vaca! Sério. E eu realmente acho que estou apaixonada por dois caras e não sei o que fazer. E eu poderia desabafar com você, mas só te ataco e...", comecei a soluçar, me vendo impotente ante ao choro inevitável.

Ela começou a caminhar em minha direção, sem expressão alguma, de maneira implacável. Até que ela me surpreendeu com um abraço apertado e caloroso.

Consolador.

"Era isso que eu queria. Que você falasse."

E eu correspondi ao abraço, chorando ainda mais.

"Me desculpe Kat. Me ajude... Eu não sei o que fazer... Com os meus sentimentos. E tenho medo de acontecer algo com o Dimitri..."

Ela me soltou, me encarando com seus olhos verdes e misericordiosos.

"Tá, Mitchoff. Eu vou te ajudar, como sempre. E sobre seus sentimentos, uma coisa de cada vez. Vamos focar na viagem."

Dei um sorriso maior do que meu rosto poderia aguentar.

"Eu te amo, idiota."

"Também te amo, vaca. Agora vamos retocar essa maquiagem. Está um horror. Desse jeito nem vai precisar se decidir entre Pyro e Strauss. Os dois vão sair correndo!"

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Depois da aula, fomos correndo para a agência de viagens, a fim de comprar as passagens e já fazer as reservas em algum hotel.

"Somente duas pessoas?", a simpática agente de viagens nos perguntou.

"Três."

"Vai levar o Dimi, amiga?", perguntei, feliz demais.

"Claro. Essa viagem se trata mais dele do que de nós e pensei em aproveitar a oportunidade de apresentá-lo ao Mickey."

Rimos juntas. Ela sabia o quanto Dimi adorava o Mickey. Afinal, o velho rato era uma das poucas coisas, dos anos de guerra, que permaneceram em nossa cultura atual.

"E o senhor que vai acompanhá-las é?"

"Dylan Samberg. Eu trouxe os documentos dele.", Kat arrancou uma pasta rechonchuda da bolsa e entregou para a mulher.

Ela analisou, papel por papel e meu coração quase parou ante a uma desconfiança velada.

"Como o passaporte dele é canadense, ele não precisará de visto."

Por fim, era coisa da minha cabeça. Suspirei aliviada.

"Pelo menos aquele nojentinho fez algo de útil!", Kat sussurrou, se referindo ao garoto das identidades falsificadas.

"Nós já verificamos tudo para não ter eventualidades na alfândega. Calculei o preço da viagem, com ida sexta-feira, às 21:00hs e retorno segunda-feira, meio-dia. Fechamos com essa quantia."

Olhamos o computador. O valor, com certeza, ficou bem salgado.

"Você me paga, Mitchoff. Toma moça, passe no cartão do papai. Ele vai me matar mesmo."

Ela concluiu a transação e nos entregou as passagens.

"Boa viagem, garotas."

Começamos a dar gritinhos, nos levantando feito duas loucas e saímos da agência. Mas Kat interrompeu nossa comemoração com apenas uma frase:

"Agora precisamos convencer Dimitri a viajar conosco."

Murchei. Mas ela tinha razão. Precisava conversar com Dimitri e entender o porquê dele estar tão estranho comigo naquele dia. Algo me dizia que tinha a ver com o "quase-beijo". Então, voltamos para a Universidade e o esperamos em nosso dormitório.

Eu estava lavando a louça e Kat fazia mais um de seus bolos de blueberry, quando Dimitri chegou em silêncio, com o uniforme engordurado da pizzaria. Já era quase nove da noite.

"Dimitri! Temos uma novidade!"

Ele nos olhou, meneando a cabeça, confuso.

"O quê é?"

Esfreguei minhas mãos, apertei meus lábios e dei a notícia com expectativa:

"Vamos para Orlando!"

"Orlando?"

"Sim! Lá tem diversos parques e roteiros divertidíssimos. Vai ser só por um final de semana, mas será ótimo. Imagine nós, os três mosqueteiros, nos divertindo horrores na América. O que acha?"

Ele ficou calado por um instante e depois andou em direção a saída.

"Tenho que estudar para as provas. Mas boa viagem."

"E-espera. Pra onde você vai?"

Ele parou na porta e respondeu com um sorriso dolorido.

"Tomar um ar."

E saiu, sem mais.

Meu chão cedeu como em um terremoto de alta escala com a reação dele. Eu esperava que ele ficasse chocado e quisesse arrumar as malas no mesmo momento que eu dera a notícia. Mas simplesmente sair? Não. Kat ficou tão desconcertada quanto eu. Ela lavou as mãos, as secou com um pano de prato e também foi saindo.

"Katrinne, o que você vai fazer?"

"Já volto. Vou ter uma conversinha com Dimitri. Fique aqui."

E também saiu.

Forcei-me a ficar bem ali. Quieta. Aguardando. Todavia, nunca foi do meu feitio esperar sentada por algo.

Então saí também.

Fui andando na ponta dos pés pelo corredor escuro até o gramado dos jardins que circundavam os dormitórios, na tentativa de achá-los. E acertei. Dimitri e Kat estavam sentados lá, conversando. Fiquei atrás de uma das pilastras do prédio, a alguns metros deles.

"... Não é nada, Kat. Estou bem. É que eu realmente preciso estudar muito."

"Você não me engana. Está estranho o dia todo, principalmente com a Brenda."

Vi ele meneando a cabeça, murcho. Os dois estavam de costas para mim. Me auto parabenizei pelo ótimo esconderijo.

"Olhe, eu vou falar pra você, mas, por favor, mantenha entre nós. A Brenda me irrita."

Fremente, agarrei a pilastra.

"Como assim ela te irrita?", Kat perguntou, pausadamente.

"Tudo nela me irrita. Aquele rosto fofo dela, o jeitinho animado e modesto. Sua humildade, o fato dela ser tão baixinha que não consigo nem abraçá- la direito. Seus olhos azuis, o cabelo que ora é castanho ora é loiro. O fato dela estar namorando outro cara. O fato de ela me deixar tão... Confuso!"

As batidas do meu coração irradiram por todo o meu corpo. Como uma doença contagiosa ou um choque elétrico.

"Você gosta dela."

Kat não perguntou. Concluiu. Contudo, ele respondeu, hesitante.

"Eu... Estou confuso. Acho que sim, mas..."

"Dimitri, olha eu ando muito do lado de vocês e pouco compreendendo minha amiga.", sorri pela defesa de Kat, mas meu coração não desacelerava por nada. " Hora de mudar isso. Seja sincero comigo. Olhe nos meus olhos e me diga: você ainda pensa na Sondra?"

Ele demorou a responder. Meu coração assumiu um ritmo novo. Ainda veloz, porém temeroso.

"Eu... Claro que penso."

"Ainda a ama?"

"Com todas as minhas forças."

As palavras me acertaram como um tapa odioso e feroz.

"E ama a Brendy com a mesma intensidade?"

Ele hesita novamente.

"Bom... Não. Não tem como. Eu amei Sondra Yelzen durante toda a minha vida. Brenda eu só conheço há poucos meses."

Não esperava chorar a partir deste diálogo. Mas chorei. Senti algumas lágrimas salgadas nascerem em meus olhos e escorrerem aos poucos em meu rosto ruborizado. Mas fiz de tudo para engolir o choro e continuar escutando. Eles não poderiam saber que eu estava ali.

"Então por que está fazendo isso com ela? Colocando ela em dúvida? Deixe ela viver o romance dela com Kevin. Ele sim tem sentimentos fortes por ela, e arrisco dizer que são tão fortes como os que você tem pela Sondra."

"Porque desde que eu apareci em seu mundo, a única pessoa que me fez sentir algo diferente foi a Brenda. A única que me deu uma esperança de seguir em frente."

"Mas você não pode ser egoísta ao ponto de querer que ela saia de um relacionamento de amor recíproco pra viver o desconhecido com você."

Ambos ficam calados por alguns minutos. O silêncio ameaçou dilacerar cada órgão vital meu. Depois Kat encerrou a discussão com uma declaração que guardei há muito tempo.

"Eu sempre acreditei que no amor e na guerra vale tudo. Se você me dissesse que ama minha amiga eu diria: 'Dimitri, vai com tudo. Lute pelo amor dela, nem que seja preciso fazer com que ela parta o coração de Kevin.' Mas você não a ama. E eu entendo. Mas você não pode fazer mais isso. Você diz que está confuso, mas você a confunde também."

"Confundo?"

"Dimitri, se toca. Você é bonito. Tipo... muito. É inteligente, um garoto doce e ao mesmo tempo guerreiro, justo. Altruísta. Viveu uma guerra, mas ainda consegue manter a inocência no olhar. Conhecendo minha amiga, você é tudo o que ela desejaria num cara. É lógico que você a confunde. Mas você não pode querer que ela largue do Kevin por você se você nem ao menos tem certeza de seus sentimentos."

Ela descreveu ele, como eu sempre o descrevi. Ele sempre foi tudo isso para mim. Tudo o que eu queria que uma pessoa fosse.

Tudo o que eu queria ser.

Ele me deixava mais do que confusa. Eu... Amava ele. Com toda a certeza eu amava Dimitri Strauss. E era um amor doloroso e ao mesmo tempo reconfortante. Dois opostos de reação concentrados em somente um sentimento.

Mas definitivamente era amor.

"Seja amigo dela. Só amigo. Um bom amigo. No dia que você amar ela tanto quanto ama Sondra, ou melhor... Mais do que a Sondra, aí sim, lute por ela. Se a dificuldade é achar alguém pra seguir em frente, simples: ache outra pessoa. Mas não queira fazer da minha amiga somente um escape pra sua dor. Ela não merece isso."

"Acho que eu... Devo desculpas a Brenda. Agi feito imbecil o dia todo."

"Vamos lá. Vamos fazer as pazes."

Quando percebi que eles estavam se levantando, sai correndo, sorrateiramente até o dormitório. Cheguei lá, abri a torneira e fingi que ainda estava lavando a louça. Escutei a porta se abrindo e eles entrando. Fingi cantarolar alguma coisa pra disfarçar a dor do impacto, do tiro que acabei de levar com a conversa dos dois. Um tiro quase tão real quanto qualquer outro. Sentia que a qualquer momento desfaleceria e sangraria até morrer.

Até que sentibalguém me abraçar por trás. Ele me envolveu com um de seus braços e apoiou seu queixo em minha cabeça. Como uma estranha sensação de Déjà vu, senti que ele já me abraçou assim, só que em outro lugar, em outra... Época. Na cena da casinha de campo da Sondra. Era quase como se eu estivesse lá. Podia ver tudo. As mangas de sua camisa listrada de vovô. As flores outonais que caíam sobre a janela de madeira quadrada. A cozinha de madeira azul, iluminada somente pela luz do dia. Meu vestido amarelo desbotado. Até que voltei da pequena viagem dentro do meu livro.

Até que voltei a ser Brenda.

"Me desculpa, Brendy. Eu quero viajar com vocês. Amigos de novo?"

Ele me soltou e eu me virei, pedindo a Deus para que ele não percebesse o quão destruída fiquei com um simples toque de seu afeto.

"Claro."

"Perfeito. Vou tomar um banho e vocês vão me contar tudo sobre a viagem.", ele deu um beijo em minha testa e depois bagunçou o cabelo de Kat, completamente animado pela viagem, diferente de alguns minutos atrás, indo para o banheiro.

Kat me olhou, apoiada sobre a mesa e disse quando ouviu o barulho do chuveiro sendo ligado.

"Me deve mais uma. E essa história de amigo... Foi ideia minha. Mas tenho quase certeza que não vai dar certo.

Capítulo Revisado💻

Beijinhos Tia Carol🌚❤

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