13 - Iniciações Beta (PARTE 1)
POV DIMITRI
Fiquei feliz por estar novamente bem com a Brenda. Devia muito a ela e, sinceramente, a pequena festa que ela preparou para mim foi a melhor coisa que podiam ter feito nessa ocasião. É terrível ter que remoer tantas dores e lembranças ruins em seu próprio aniversário.
Todos os que olham ao meu redor não fazem ideia da real dor que eu sinto. Da saudade que sinto de Sondra.
Lidar com o fato de que eu devo seguir em frente nesse novo século e nessa nova realidade vem sido o maior desafio que eu já enfrentei em meus noventa e quatro anos. Foi pior do que quando eu e meu batalhão atravessamos o campo de batalha na Polônia, sem munições e com uma das minhas pernas baleadas. Foi bem pior do que isso.
Mas eu deveria seguir em frente. Não desistiria de saber o que houve com Sondra. Precisava saber se ela teve uma vida boa e com esse tal de Google eu sabia que saberia. Só precisava pegar o jeito com mais umas aulas de Brenda e seria o suficiente. Mas, agora eu deveria me concentrar em algo: A prova.
Estava tão nervoso quanto rato na ratoeira. Eu tinha estudado muito, mas nunca parecia o suficiente. Brenda me orientou a não estudar mais até o dia do teste. Então, eu o fiz.
Eu não sei porque, mas tudo o que ela falava me fazia sentir uma necessidade idiota de obedecê-la. Eu me atraía por ela de alguma forma. Uma forma estranha. Mas eu simplesmente tentava esquecer isso. Era bem melhor não complicar ainda mais. Afinal, as coisas já andavam bem complicadas.
Lá estava eu, na frente da grande porta de madeira, aguardando o Sr. Tucker chamar a mim e aos demais candidatos. Brenda me orientou a esperar na frente da sala antes das três horas da tarde. Eram três e quinze e nada. Até que apareceu um homem careca e magro, acompanhado de outros dois rapazes de uniformes azuis carregando um lote de folhas. Resolvi perguntar para ele.
"Com licença, meu caro. O senhor sabe onde está o Sr. Tucker?"
"Quem?", ele perguntou, sem diminuir o ritmo do passo.
"Sr. Tucker. Vim fazer o teste para entrar no curso de história!"
Ele parou e me olhou com desdém.
"Garoto! Quem aplica o teste sou eu e você está atrasado. Pode ir embora."
Eu não pude acreditar no que eu ouvi. Foi como se o meu mundo desmoronasse. Porém, não me dei por vencido. Foram meses de aulas para deixar tal chance escapar pelos meus dedos. Então segurei no ombro dele e falei, já me desesperando.
"Senhor eu estou aqui desde às duas e meia. Achei que quem aplicaria a prova era o Sr. Tucker e ele não apareceu..."
"Não recebeu as recomendações do teste em seu e-mail?"
"Eu... Não tenho e-mail."
Ele riu, com deboche e desdém, dizendo:
"Não tenho tempo pra gracinha de irresponsável.", e começou a andar outra vez, com os homens o acompanhando, com o mesmo olhar de desprezo.
Fiz de tudo para alcançá-los.
"Por favor, senhor! Eu estudei muito."
Ele bufou, coçando a careca lustrosa.
"Qual o seu nome, moleque?"
"Dylan. Dylan Samberg.", já não estranhava mais meu novo nome.
"Entra logo na porcaria da sala. É a porta de vidro ali no final do corredor."
"Obrigado senhor. Que Deus te abençoe!", disse, indo correndo.
Escutei ele falando algo do tipo "cada doido que me aparece", e entrei na sala.
Estava lotada.
Tinha pelo menos trezentos alunos lá e, pelo o que eu entendi na lista de presença, aquela não era a única sala. Peguei uma prova e me sentei ao lado de um gordo irritadiço e uma moça de cabelos curtos e negros.
A princípio a prova me assustou. De repente pensei: sem chances. Jamais conseguirei fazer essa prova com questões tão complicadas, ainda mais as de atualidades. Fui primeiro para aquelas que não mudavam tanto: matemática e história.
Demorei cerca de uma hora para fazê-las. Eram muitas, mas não tive problemas. A matemática muda pouco, mas sua base é sempre a mesma e a história do mundo já fora escrita. Vem com atualizações, claro, mas antes disso sempre permanece.
Linguística tive problemas. Muitas expressões e formas de falar mudaram. Além do fato do meu inglês ser britânico, ao invés de canadense, minha escrita é dos anos quarenta. Não conheço todas as mudanças gramáticas. As interpretações de texto também foram complicadas. Coisas como Geração Y, Twitter e Wallscreen não entravam em minha mente. Apenas tentei.
Atualidades. Me matou. Lembrei de todas as explicações de Brenda sobre as eleições americanas, Trump ser quase um nazista e Clinton ser uma otária (não sei ainda o que isso quer dizer), o Islã, revolução LGBT (que também ainda não sei o que é), feminismo militante (muito menos), clonagem e células tronco. Definitivamente eu reprovaria naquilo.
"Seja positivo, Dimitri". A voz doce de Mitchoff ressoava em minha mente. Então prossegui, tentando manter a pequena centelha de esperança acesa em mim. Depois de três horas, entreguei a prova.
Quando saí do prédio, vi Brenda, com sua toquinha colorida na cabeça e apreensiva me esperando e Kat ao lado.
"E aí?"
Cheguei perto delas e falei um tanto desanimado.
"Fiz meu melhor, brotinhos. Mas não sei se passarei."
Brenda apertou minha mão e disse num tom encorajador:
"Você é inteligente e experiente. Sei que conseguirá."
Senti meu rosto esquentar. Ela despertava o pior em mim e isso era frequente. Desperta o cara que eu reluto ainda em ser: Dylan Samberg, e me faz esquecer de Dimitri Strauss. O Dimitri que era cem por cento de Sondra Yelzen. Isso me corroía por dentro.
Era como se eu dependesse dela.
Era como se ela fosse uma versão feminina de mim. Esses sentimentos me frustravam e faziam minha consciência pesar como nunca.
Desvencilhei-me de suas mãos pequenas, seguindo tímido para longe do prédio.
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Duas semanas depois, enquanto passava pano no chão da pizzaria - sozinho pois era folga de Brizza e Brett - Brenda entrou, completamente histérica e com um papel na mão.
"DIMITRI!", chegou aos berros. Larguei o rodo e segurei seus ombros enquanto ela tomava fôlego.
"Calma, brotinho. Me diga... O que foi?"
"Leia essa carta. Agora."
Abri a carta, que já estava toda amarrotada.
Caro Sr. Samberg,
É com muita honra que queremos avisá-lo que o senhor foi aprovado no vestibular, para a classe de História - 2016/2° período. Apresente os documentos pertinentes para a matrícula, abaixo, até o dia 02/11.
Atenciosamente,
Comitê Reitoral.
Senti uma felicidade que a tempos não sentia.
"Brendy eu consegui!", gritei, exasperado.
"SIM!"
"EU CONSEGUI!"
Pulamos juntos e peguei ela no colo. Comecei a girar, vendo o cenário se dissolver em borrões expressionistas.
"Para seu doido."
Até que o pé dela bateu em um copo de uma das mesas e foi lançado com tudo contra parede. Resolvi parar, ainda rindo do acidente esquisito.
"Foi o próprio Sr. Tucker que me entregou. Disse que está orgulhoso."
"E agora? Acho que eu devo pedir demissão para o Sr. Lion."
"A escolha é sua. Agora, vai precisar se concentrar nos seus estudos."
Como se adivinhasse que falávamos dele, o Sr. Lion chegou, cantarolando uma canção italiana.
"Sr. Lion, preciso falar com o senhor.", não esperei que me desse boa tarde.
"Ora ora, eu também menino Samberg. Queria dizer que estou orgulhoso de você. Você vem me ajudado muito e só tenho que agradecer. As vendas aumentaram muito. Ganhamos muitos clientes novos que, por incrível que pareça, são garotas em sua maioria."
Brenda deu uma risadinha.
Fiquei completamente sem graça com tudo aquilo. Como eu poderia pedir demissão assim? Ele ainda precisava de minha ajuda, pelo visto.
"Ah... Obrigado mesmo Sr. Lion."
"O que queria falar comigo mesmo?"
"Ah... É que eu... Fui aceito na universidade."
"Mamma Mia! Parabéns menino!", Ele me deu um grande abraço e um beijo em cada bochecha.
"E eu ia pedir se... Eu poderia trabalhar em uma carga horária menor?"
"Bom... Como as coisas estão indo bem para nós, eu aceito. Mas só se arrumar a fachada de nossa pizzaria."
RI, aliviado, já assentindo.
"Não se preocupe. Farei meu melhor."
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No dia seguinte, estava entregando os documentos na secretária da universidade. Mais cedo, tínhamos passado na casa daquele garoto que fazia identidades falsas. Fomos eu, Kat e Brenda. Ele ficava com o olhar de peixe morto toda vez que Kat falava. Era o mesmo olhar com que eu ficava ao ver Sondra na escola, aos meus doze anos. A avó dele insistiu que ficássemos para tomar chá e depois de uma hora vendo fotos horrorosas da infância do menino, conseguimos sair de lá.
"Sr. Samberg, assine aqui, aqui e aqui.", o secretário apontava para os campos em branco, marcados com um recente x.
Era difícil copiar exatamente a mesma assinatura que eu tinha inventado para a minha falsa identidade, mas com esforço eu consegui. O simpático moço da secretaria pegou os papeis e me entregou um cartãozinho.
"Essa é sua carteirinha. Nós já escolhemos um dormitório para você."
"Isso não vai ser necessário!"
Alguém atrás de mim falou. Quando me virei, vi que se tratava de um dos estranhos amigos de Brenda, Tyrone. E ele estava acompanhado do meu mais novo arqui-inimigo: Kevin Pyro. Eu realmente não gostava desse tal de Kevin, mas em minha festa fizemos as pazes, então eu deveria manter o falso sorriso no rosto toda vez que o via, até o fim dos tempos.
"Lembro que te disse que quando entrasse, poderia entrar na nova classe de aspirantes beta.", Tyrone brincou.
"Ah... Sim.", respondi sem reação.
O moço nos olhou desconfiado.
"Bom, se você for de uma fraternidade, pode abrir mão do alojamento. Desejo boa sorte nos estudos."
Saí acompanhado daqueles dois jovens fortes, com poses de narcisistas. Realmente não confiava neles. Eram exatamente como Holden Dranz era. Mas resoli jogar o mesmo jogo deles.
"Se for aceitar, teremos uma festa de recepção hoje à noite. Queremos, pelo menos, quinze novos aspirantes. Seis, após as iniciações, se tornarão betas oficiais. Topa?"
"Bom, eu não sou de recusar desafios, então... Topo!"
Todas as forças do meu ser gritavam para não fazer isto. Mas eu fiz, numa necessidade idiota de mostrar a Brenda que eu podia ser como esse tal Kevin. Ainda melhor. Eu notei como a forma como olhar dela para ele mudou. Como eu disse anteriormente, ela despertava o pior em mim.
Então arrumei minhas malas, me despedi do Sr. Lion, agradecendo por me ceder lar nas últimas semanas e fui para a enorme casa dos betas. Eram quase seis da tarde, quando Dexter me buscou. Eu mandei uma mensagem de texto para Tyrone (já estava pegando o jeito com isto), pedindo uma carona e ele mandou Dexter. Quando chegamos a casa estava silenciosa.
"Já estão todos na festa. Então se arrume bem. A boa impressão é o que conta para você ser selecionado como aspirante."
"Ok."
"É no final da rua. Nossa recepção é junto da dos sigmas e das kappas lambdas. Mas não se engane: os sigmas são nossos arqui-inimigos."
Sem intenções, lembrei de Kevin, na hora que ouvi a palavra "arqui-inimigos".
"Captado. Até mais, parceiro."
Comecei a subir as escadas, até que percebi que esqueci algo importante.
"Hey, parceiro, onde é o banheiro?"
Ele riu e foi até mim.
"Vou mostrar onde pode descarregar suas malas e se trocar. Geralmente nenhum cara faz isso em nossa casa sem já ter sido aceito como aspirante. Mas o Ty e o Kevin parecem gostar de você, então, sinta-se em casa. Vem comigo."
Fomos subindo pela casa vazia que, ao cair daquela tarde, estava muito sinistra. Entramos num quarto cheio de fotos de família, capacetes e armas do exército e aparelhos. Um quarto de um verdadeiro homem. Uma das camas estava vazia.
"Aqui na beta temos meio que uma subdivisão por quartos. Temos os atletas, os caras de bandas, hipsters, youtubers, modelos, até caras nerds. Você deve se perguntar 'como caras tão populares e até clichês tem tanta diversidade entre si?' E eu respondo que é tudo aparência. Somos muito diferentes. E de militares aqui só tem eu e o Chiquito, o mexicano. Depois de você virar um beta, pode ficar aqui conosco."
Aquilo trouxe a mim uma felicidade sem precedentes, pois, pela primeira vez, senti que me identifiquei com alguém. Mal via a hora de conviver com estes... caras. Compartilhar de nossas lutas e vitórias.
"Obrigado Dex."
"Agora se troca. Quer que eu te espere?"
"Eu agradeceria muito."
"Ok, Bro."
Ele pegou o caderninho luminoso chamado notebook e sentou em sua cama. Fui até o banheiro, lavei o rosto, tirei a calça jeans coloquei uma bermuda estilo camuflagem de exército. Troquei a camisa simples por uma blusa amarela com um bichinho de óculos, também amarelo. Saí do banheiro e Dexter olhou para mim, assombrado e falou num tom altíssimo e carregado de horror.
"Não, não, não pera... VOCÊ COMPROU UMA CAMISETA DOS MINIONS?"
Surpreso com a pergunta, respondi.
"Sim... Gostou?"
"Cara... Eu acabei de falar que você deve causar uma boa impressão. Se você aparecer com isso os sigmas vão zoar pra sempre. Nem Tyrone vai conseguir manter você nessa mais."
Fiquei um tanto magoado.
"Katrinne e Brenda gostaram.", repliquei, coçando a cabeça.
"Não escute as garotas quando o assunto é estilo! Aliás, não escute as garotas pra nada. Espera aí!"
Ele foi até seu guarda roupa e tirou uma blusa preta, meia manga.
"Coloca isso."
Tirei a camiseta amarela e coloquei a que ele pediu.
"O que acha?", ele perguntou, mas já com uma expressão de mãe orgulhosa.
"Meio apertado, mas..."
"As garotas gostam quando os músculos se destacam, mano. Espera aí, coloca minha corrente do exército."
Eu a coloquei. Pensei que teria o nome dele escrito, mas não havia nada.
"É só um acessório. Uma vez soldado, sempre soldado né?"
Ri, sentindo que realmente tinha gostado muito de Dexter. Acreditei seríamos grandes amigos, só por compartilhar memórias de militar.
"Sempre."
"Pronto, agora você é um verdadeiro ímã pra garotas. Vamos lá."
Saímos da casa e fomos em direção a festa que ficava no quintal de outra fraternidade. Mas não era um quintal simples. Era enorme. Tinha vários jovens dançando músicas estranhas com copos de bebidas na mão. Assim como na Poison, os garotos e as garotas dançavam extremamente colados. Bem diferente de nossas festas de antigamente. Mas, ainda sim, era bom e não tinham músicas que faziam barulho de metralhadoras. Ainda.
Vi umas garotas me observando com o olhar mal-intencionado. Dexter tinha razão sobre a roupa. Dei um tchauzinho tímido para elas e eles começaram a se aproximar. "Droga", eu pensei. Devia ter anotado que nunca é legal dar tchauzinho para garotas que te olham como a próxima caça em uma festa universitária. Para minha sorte, Katrinne e Brenda me abordaram no mesmo momento.
"Nossa, gatinho, você tá bonitão mesmo ein..."., Kat brincou, deslizando os dedos na corrente que Dexter me emprestara.
"Eu tento."
Brenda estava quieta demais. Percebi que estava trocando olhares com o tal Kevin, que estava do outro lado do quintal. Isso me incomodou, e muito. Então resolvi chama-la para dançar, na tentativa de tirá-la desse jogo.
"Quer dançar pouquinho, Brendy?"
"Ahn... Claro."
A música que tocava agora se assemelhava com as da Poison.
"Que tipo de música é essa?", perguntei, puxando-a para mais perto, pela cintura.
"Eletrônica.", a voz saiu um pouco tensa.
"Como se dança isso?"
"Assim..."
Brenda se soltou de mim começou a fazer alguns passos. Jogava os braços para o lado e fazia um movimento com os pés, muito difícil de acompanhar. As pessoas pararam para olhar, quando ela aumentou o ritmo e alguns começaram a acompanhar os mesmos movimentos. Tentei acompanhar, com medo de parecer desengonçado por causa da minha altura. Mas, simplesmente, consegui dançar tão bem quanto eles. As pessoas nos aplaudiam e agitavam.
"Ual, arrasou Samberg!", Katrinne disse.
"Foi o que eu falei uma boa impressão!", disse Dexter, se aproximando de nós.
"Valeu cara!", suspirei, ofegante.
Depois de alguns instantes, cada um dos presidentes falaram os nomes dos aspirantes aceitos. Os betas ficaram por último. Tyrone pegou o microfone e começou.
"Os nomes, dos aspirantes Beta são: Phillip Dunks, Matthew Pincard, Will Steward..."
Ele foi dizendo os nomes e conforme eles passavam, perdia a esperança que ele me chamaria.
"...Ruan Gonzales e Dylan Samberg."
Comecei a comemorar com as garotas e Dex.
Agora eu era um aspirante beta.
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Já estávamos prontos para dormir. Tyrone disse que dormiríamos na Grande Sala, pois ainda éramos aspirantes. Deitamos nos enormes colchões infláveis de acampamentos e começamos a nos conhecer. Fiz amizade com três caras: Matthew Pincard, Dennis Goldman e Harrison Farrell.
"Onde você morava antes de vir pra cá, Samberg?", Dennis me perguntou.
"Bom eu... Morava no interior da Inglaterra."
"Por que não tentou Oxford?", perguntou Matt.
"Katrinne, minha prima, morava aqui então, pensei que seria uma boa tentar em um lugar onde eu já conheço a pessoa. E vocês... por que a Beta?"
"Porque é onde os melhores estão... E ter uma gatinha de fraternidade é sempre demais. Sem falar as festas. E vocês?", perguntou Harry.
Eu não sabia ao certo o que responder, mas acabei sendo tão sincero que nem eu acreditei no que tinha falado.
"Pra impressionar uma garota."
"Sempre são elas.", Matt brincou.
"Mas essa é especial. Sabe... eu tinha uma namorada e para mim ela era tudo. Ainda é, de certa forma. Mas a vida e o tempo foram maldosos conosco e não podemos mais ficar juntos. E tem essa garota... não entendo meus sentimentos."
"Cara, o que você está esperando? Se você terminou com sua ex e tem essa menina, vai com tudo. Você ainda tá vivo.", Dennis encorajou.
"Eu sei... Minha... Ex é que não está."
Fiz de tudo para não chorar e parecer um maricas. Mas os caras pareceram compreender.
"Sinto muito, bro.", disse Matt, dando tapinhas nas minhas costas.
"Não esquenta!", disse, surpreendendo a mim mesmo com o fato de eu saber usar essa gíria.
"Mas ainda acho que você deve tentar ficar com essa garota. Nunca é tarde pra seguir em frente."
Me senti menos culpado por tudo. Por tentar deixar Sondra, meu grande amor para trás. Sim, era difícil. Mas eu deveria seguir em frente, pelo meu próprio bem.
"Acho que... Vou tentar."
"Você consegue, bro."
Deitamos. Fiquei encarando o teto escuro da Grande Sala e cai no sono.
Uma corneta me acordou. Senti meu corpo sendo arremessado com tudo para o lado. Quando me levantei, vi Kevin, Tyrone, Dexter e os outros veteranos bagunçando a cama de todos os calouros.
"São três da manhã, bem-vindos ao inferno, Bichas.", gritou Tyrone.
Iniciação.
"Estão preparadas para a iniciação, meninas? Se não estão sugiro que parem de chorar e comecem a reagir.". Kevin zombou.
Todos os garotos se colocaram de pé. Kevin continuou.
"O primeiro desafio vai ser o seguinte. O encontro relâmpago. Vocês terão uma hora pra encontrar uma garota desconhecida na rua e chamá-la para irem com vocês no Mc Donalds 24 horas aqui perto. Eu roubei essa ideia... de um filme. Mas com algumas adaptações: vocês vão vestidos de mímicos."
Os garotos começaram a resmungar.
"Sem chorar, garotas. Imaginem só que tarefa legal vai ser um mímico maluco abordar garotas na rua às três da manhã, chamando pro Mc Donalds. A prova começa agora. Vocês têm uma hora pra se vestir de mímicos, convidar uma garota e aparecerem no Mc. Ah... Não vale chamar amiguinhas. Conhecemos vocês mais do que imaginam.", Kevin disse a última frase, olhando para mim.
Ao sinal deles, fomos correndo até o baú enorme na porta da sala e pegamos uma muda de roupas de mímicos como blusas listradas, suspensórios e calças apertadas. Depois, maquiagem e sapatos. Kevin olhava tudo, se certificando de que realmente estávamos fantasiados. Jogamos pó na cara e passamos uma espécie de batom preto. Então saímos.
Já não tinha ninguém na rua.
Os garotos saíram correndo, batendo na porta de fraternidades femininas, o que era arriscado. Fui correndo, procurando um sinal de vida. Como eu queria Brenda ali. Em segundos, comecei a escutar barulhos de gritos. As fantasias, na certa, estavam assustando. Até que vi uma menina, confusa, de vestido florido andando pela rua ao telefone. Quando ela me viu deu um gritinho e jogos os livros que estavam em sua mão para o alto.
"CALMA! Não sou um psicopata."
"Todos os psicopatas falam isso!", ela disse, ainda ofegante.
"Qual o seu nome?"
"Por que quer saber?", ela deu alguns passos para trás, hesitante.
"Estou num ritual da fraternidade Beta... E meio que tenho que levar uma menina até o Mc Donald's, quer ir comigo?"
"Como eu vou saber que você não é um maníaco estuprador?"
"Estou no campus, lembra? Sou aluno e não correria o risco de manchar minha ficha assim. E eu juro."
"Sei não...", ela começou a recolher os livros e eu comecei a ajudar.
"Por favor, só tenho uma hora."
Ela terminou e deu um longo suspiro.
"É muito bom que você me pague um quarteirão viu? E espero que seja um beta gato por baixo disso tudo."
Dei um sorriso e segurei a mão dela, já correndo.
Chegamos faltando dez minutos para acabar o tempo. Passei no meu primeiro teste. O nome da garota era Lynn Kount e era muito simpática, apesar de doidinha. Comemos dois hambúrgueres deliciosos e saímos de lá por volta cinco horas da manhã.
Estava tão angustiado que acabei contando a ela o mesmo que contei sobre Brenda aos garotos. Como ainda não tenho tantos amigos, me resta compartilhar meus segredos aos desconhecidos. Mas ela me ajudou muito.
"Sei que é triste, mas você deve seguir em frente. Se você sente algo, mesmo que pequeno por essa garota, você deve seguir seu coração."
Agradeci ela milhares de vezes por esse conselho e disse que poderíamos fazer isso mais vezes, sem a fantasia de mímico, é claro.
Acordei para meu primeiro dia de aula morto. Quase dormi na sala, mas ansiedade não me permitiu. Decidi que era dia de chamar Brenda para um encontro. Um encontro de verdade.
Comprei um buquê de margaridas e fui até o jardim que ela sempre ficava, quando ela estava estudando. Mas a cena que eu vi não era que eu esperava.
Ela beijava outro cara.
Esse cara era o Kevin.
Capítulo Revisado e Corrigido📝📌
Beijos Carol❤
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