1 - Último Capitulo
" Com meu coração palpitando, e o olhar desacreditado, vi Sondra correndo em minha direção.
'Agora podemos ser felizes, querido.'
As marcas da guerra sempre ficariam em mim. Mas vê-la me fez esquecer de tudo!
'Felizes a medida do possível!'
Fim
******
Finalmente eu tinha acabado.
Muita gente pode achar que esse final é feliz e clichê, mas não via nada mais justo do que um final feliz para Sondra e Dimitri. Depois de tudo o que passaram na guerra, Londres bombardeada e pelo o que ela passou no campo de concentração nazista, eles mereciam esse final.
Minha obra prima!
Talvez eu tenha exagerado um pouco ao enaltecer tanto a beleza, lealdade e bondade de Dimitri, mas, para mim, tal exagero era, no mínimo, necessário. Como Algumas Cartas estava encerrado, poderia, naquele momento, ao menos tentar ter uma vida social. Ou mais ou menos isso.
Eram mais ou menos nove da manhã quando Katrinne abriu a porta do nosso pequeno dormitório, aquele dia:
"Ainda nisso, Brendy? A aula começa em dez minutos!"
"Já acabei Kat!"
Ela me olhou cética e chocada:
"Acabou? Sério? Achei que não ia acabar nunca. Dimitri morre?"
Dei uma risada.
"O Dimitri nunca vai morrer, querida. Ele é minha obra prima!"
"E quando eu vou poder ler o final dessa história?"
Com o olhar perdido ao fundo de nosso quarto/casa eu disse:
"Em breve!"
Katrinne era minha colega de quarto há quase três anos. Nós duas fazíamos literatura, mas ela não era lá a aluna mais dedicada de nosso curso. Mas, com certeza, era muito mais bonita e sociável do que eu. Tinha cabelos loiros- dourados, olhos verdes e um carisma sem igual. Bem sociável. Sociável do tipo "Tenho um namorado diferente por semana".
Já eu... Bom... ao meu ver, naquele momento eu não poderia colocar amor na minha cabeça. Algumas Cartas era a minha chance de entrar no mundo de escritores aclamados. Ou, até mesmo, de ter meu nome nos Best- Sellers do New York Times. Definitivamente, Dimitri Strauss deveria ser o único homem da minha vida naquele momento.
Ao trazer o foco ao Dimitri, posso resumidamente dizer que ele é o protagonista do meu primeiro livro, Algumas Cartas, que é ambientado nos dias da Segunda Guerra Mundial. Dimitri era filho de um britânico e uma russa, que foi convocado para guerra assim que fez 18 anos. Ele tinha uma namorada que morava aos arredores da pequena fazenda em que ele morava com os pais. Ela era judia. Assim que ele foi para a guerra, escrevia cartas para ela e quando descobriu que ela foi enviada para o campo de concentração nazista, armou um plano para resgatá-la.
Modéstia à parte, sempre considerei a minha história bem criativa e ainda considero. Mas, apesar de minha entrega ter sido grande na história completa, concentrei em Dimitri toda a minha inspiração de escrita. Sempre com a tolice de inventá-lo em formas física e sentimental perfeitas. Ele era um cara intenso, e as reações dele perante as difíceis situações não me pareciam tão realistas. Nenhum ser humano na Terra faria o que Strauss fazia.
Katrinne dizia que idealizei nele a pessoa que eu sempre quis para mim. Eu não concordava. Ao meu ver, ele fora uma maneira para eu desenvolver cada vez mais minhas idéias. Não sei ao certo como explicar.
Depois de se trocar, Katrinne me tirou de minha pequena escrivaninha e vociferou:
"Você não vai conseguir sucesso algum se não for pra aula agora! Vai reprovar e não há 'Dimitri' nenhum que vai impedir isso."
Ri por dentro, me impressionando com a atitude repentina de dedicação de Kat. Mas, para evitar represálias, concordei sem contestar.
"Ok. Já vou me trocar."
Mais tarde, durante a aula de Latim avançado, Kat se recostou em sua mesa e, em meu ouvido, praticamente gritou alguns sussurros entusiasmados.
"Dexter me chamou pra festa de recepção dos calouros na Beta Gama Phi. Começa às seis, vai até amanhã, e você vai comigo!"
Dei um longo suspiro, que mais se assemelhava a um bufo.
"Kat, você sabe que eu não gosto dessas festas de república. Aliás, não gosto de festa alguma."
"E você está trancada no dormitório há quase um ano, escrevendo aquele raio de livro. É aula - dormitório, dormitório- aula. Chega disso. Vamos ver betas sem camisa, por favor, nunca te pedi nada!", Kat praticamente suplicou.
Mordi meu lábio inferior e brinquei, zangada, com meu cabelo loiro-escuro e lambido demais.
"Tem outra coisa: combinei com o professor Giani de nos encontrarmos na biblioteca às sete, para ele ler o primeiro capítulo de Algumas Cartas. Se ele gostar, vai falar com seus amigos editores. Não vai dar tempo."
"Fica lá só meia- hora por favor. Pra mim já é o suficiente!", ela juntou as mãos, em sinal de oração.
Ela ficou batendo as botas no chão de madeira da sala. Batendo e batendo, como uma criança impaciente. Depois de um tempo, cansei e me dei por vencida.
"Tá bom, tá bom. Estarei lá! Agora foco..."
Ela levantou as mãos, em sinal de pura comemoração e felicidade. Minha amiga sabia bem persuadir irritando alguém até a morte.
Por volta das cinco da tarde, Kat já começava a se trocar, então segui o fluxo da coisa. Enquanto eu coloquei apenas um jeans, camiseta preta e tênis básico, Kat colocou um vestido dourado curto, cheio de paetês e um salto alto. Estava linda, mas exagerada.
"Credo, Brenda! Não dava pra melhorar esse visual não?"
"Pra meia- hora? Não. E eu não posso ir vestida feita uma dançarina de boate pra ir ver o professor. Sem ofensa!"
"Não ofendeu. Na verdade, adorei!", ela resmungou, fazendo uma dancinha ridícula que só faria na minha frente.
Saímos rápido, mas atrasadas, como de costume e a festa, como sempre, estava uma bagunça. Meninas se mostrando, trogloditas da república se empurrando e dando em cima das garotas deliberadamente, outros nas várias piscinas da enorme casa dos betas e Kat logo se uniu ao apocalipse universitário, flertando com um cara qualquer e eu em um canto sentada em uma cadeira de madeira, observando a vida selvagem como um explorador da natureza.
De repente, um garoto falou alto, devido a música ensurdecedora:
"Não vai nem comer nada?"
Quando me virei, vi que era Kevin, o vice-presidente da irmandade. Eu simplesmente odiava esse garoto. Para mim, era só mais um rostinho bonito.
"Não, obrigada. Com certeza, até a comida aqui deve estar batizada."
"Não gosta mesmo das nossas festas?"
Bufei, impacientemente, esfregando minhas têmporas com a manga da blusa que coloquei mais cedo.
"Não gosto de festa nenhuma. Sou mais assistir a um show de um belo coral gospel!"
"Da próxima vez chamamos um...", ele riu suavemente e depois, inquieto, começou a gaguejar. "Olha... Ahn... E sobre aquilo que falei com você? De pegarmos um cinema qualquer dia?"
Lá vinha ele. Eu não o suportava.
"Escute, Kevin, não é por mal, mas... Ando muito ocupada. Falando nisso tenho que encontrar o professor Giani na biblioteca agora!", disse, já me levantando, tentando ser menos rude do que eu provavelmente estava sendo.
"Ah... Ok! Até mais Brenda.", ele replicou, já murcho.
Para mim, o dia que eu "pegaria" um cinema com ele seria nunca! Kevin Pyro não fazia meu tipo. Eu pensava que não, pelo menos. E não me importava o quanto ele ficaria chateado por cada fora. O não era inevitável.
Passei no meu dormitório para pegar o manuscrito e cheguei na biblioteca as 19:10hs. Tinha somente a bibliotecária e duas pessoas naquele lugar enorme.
Todos devem estar na festa dos betas, supus.
Procurei o professor por todos os corredores, mesas e nada.
Sentei-me e li de relance algumas páginas do meu livro. Meu orgulho. Só eu e Kat tínhamos lido.
Passou dez, vinte e trinta minutos. Depois uma hora. O tempo passava e nada do professor aparecer. Não era possível que ele tenha ido embora por causa de dez minutos de atraso.
Comecei a passear pelos corredores admirando os livros. Até que cheguei a um corredor escuro, diferente dos outros. Nem parecia que pertencia àquela biblioteca. Uma brisa desconhecida acariciou meu rosto levemente e senti arrepios nas bochechas. De repente, escutei um livro cair e dei um gritinho de susto.
Fui, temerosa, até ele e o peguei. Não havia nada em sua capa. Só uma imagem de monstros, seres míticos e animais saindo de um livro. Estava repleto de pó e sua capa tinha uma textura que lembrava muito madeira. Cortaria, se eu passasse minha mão com força nela. Quando abri o livro para olhar melhor por dentro, li em voz alta a primeira frase que meus olhos encontraram, em voz alta:
"Vita quae non est."
Vida ao que não existe.
De repente as páginas dos meus manuscritos voaram em uma corrente de ventania tempestuosa, que de forma alguma eu encontrava sua origem. Larguei o livro estranho no chão e peguei todas as páginas assustada e saí correndo de medo, deixando toda a coisa estranha para trás.
Quando cheguei em casa, tomei um banho rápido e me joguei na cama. Kat ainda não havia chegado. Estava triste pelo cano que o professor Giani tinha me dado, mas fiquei intrigada e mais preocupada com aquele livro estranho. Achava que tinha tomado alguma água ou comido algum bolinho "batizado" na festa dos betas porque tudo aquilo estava completamente fora do comum.
Adormeci e sonhei várias vezes com o livro sinistro.
ฯฯฯ ฯฯฯ ฯฯฯ
Quando acordei, a luz do sol já batia em meu rosto. Era sábado. Será que Kat já voltou?, pensei.
Olhei para a cama dela, outro lado do quarto e surpreendentemente tinha um cara deitado nela. UM CARA. Detalhe: estava vestido de soldado. Dei um salto, mas permaneci muda, tampando minha boca com as mãos para trancar o grito crescente em minha garganta. O cara ainda dormia. Não acredito que a Kat trouxe um GoGo boy pro nosso quarto!, pensei, de novo.
De repente escutei ele resmungar várias vezes: "Sondra... Sondra..."
Sondra? Esse nome era familiar. Me levantei, com cuidado e olhei bem para o rosto do cara deitado na cama de Katrinne. Meu coração acelerou como um carro de luxo, em alta velocidade e soltei o grito que estava segurando.
Sabe quando você lê ou escreve um livro e imagina de maneira clara o personagem dele? Então... aquele cara era exatamente... exatamente igual ao cara que eu imaginava ser o...
E ele acordou.
"O quê? Quem é você? Cadê a Sondra?", disse, apoiando as mãos no colchão de Kat e se levantando de uma forma tão rápida que eu mesma não poderia esperar.
Com a voz falhando, me manifestei:
"Ahmmm... Quem... Ahnn"
"Está surda, menina? Onde está minha noiva? Você a pegou?"
Eu ainda estava chocada demais. Petrificada. Aterrorizada. Ele caminhou até a porta e saiu do dormitório. Abriu a porta e gritou no corredor:
"Sondra! Meu amor! Onde você está? É o Dimitri, querida!"
Não era possível! Era completamente improvável. Aquele cara era... Dimitri Strauss!
Bạn đang đọc truyện trên: AzTruyen.Top