As tardes de estudo estavam ficando cada vez mais sérias, e isso surpreendia Kageyama, que jurou que o ruivinho não levaria os encontros que estavam fazendo a sério, afinal, Hinata era a própria definição de brincadeira.

Ele amava brincar o tempo todo, fazer piadas e se divertir. Era como se ele tivesse preferência em fazer os outros felizes em vez de si mesmo, mas acabava se divertindo ao mesmo tempo, ainda mais quando envolvia Kageyama.

Mas vê-lo ali, sentado na mesa envolto por tantos livros e apostilas, parecia irreal. Caso ele se esforçasse mais um pouco, Kageyama poderia ver uma sutil fumaça saindo da cabecinha dele; achava isso super adorável, já que era longe de sua realidade.

Até mesmo as tentativas de contato que Kageyama tentava fazer eram cortadas com Hinata balançando a cabeça negativamente, afastando-o um pouco. Isso não doía nele de alguma forma, afinal, entendia como ele estava se sentindo naquele momento.

Como bons amigos de longa data, os dois sempre comentavam sobre o desejo que tinham de passar naquele concurso e assim fariam tudo dar certo, de uma maneira ou de outra. Teriam que fazer alguns sacrifícios, e Tobio apenas sabia que precisava ajudá-lo de alguma forma a passar por toda aquela fase de estudo mais intensa.

O próprio Kageyama se dedicava completamente em estudar a sua parte da matéria, fazia simulados e muitos exercícios, tantos que sua mente ficava pensando neles quase que o tempo todo, isso quando não era o pequeno Hinata que estava fazendo esse papel.

Era divertida a ideia de que em algum momento a vida deles tinha mudado tanto que saíram daquela birra infinita que tinham um com o outro, como do comecinho de quando se conheceram, para uma dupla infalível, tanto que não se viam mais sozinhos.

— Você está tão aéreo hoje — Hinata murmurou, tirando os olhos da lista de exercício que fazia apenas por um minuto, o que já surpreendeu o maior. — O que está passando na sua cabecinha?

Levou algum tempo para que Kageyama entendesse o que ele mesmo estava pensando. Muitas coisas. Ele não conseguia colocar em palavras exatas, por isso a sua mente divagava tanto e, às vezes, levava muito tempo para entender ou até mesmo notar que tinha alguém falando consigo.

Divagava muito pensando em Hinata. Ele amava pensar no ruivinho e em como a sua presença era essencial em sua vida, no seu dia a dia. Completavam-se de uma forma e, com isso, era até estranho quando os amigos os viam sozinhos para fazer qualquer coisa em um dia comum.

— Tobio, precisa me dizer se quer algo. Ainda não tenho bola de cristal e você sabe que eu odeio segredos.

— Mas não é um segredo... — O maior tentou se defender, notando que havia conquistado a atenção do ruivo quando ele se virou totalmente em sua direção, largando a caneta que segurava com uma certa brutalidade.

— Certo, então o que tanto está pensando?

Ah, o próprio Hinata sabia muito bem quais eram os pensamentos do maior, mas ouvi-lo dizer seria essencial para compreender a dimensão de onde estavam se metendo. Caso eles se envolvessem àquela altura da vida, seria algo que os mudariam para sempre, por completo.

Shoyo havia perdido as contas de quantas vezes já havia sonhado em podê-lo chamar de seu namorado, tratá-lo por apelidos carinhosos e ficar ainda mais grudado em Kageyama, sem se sentir deslocado ou culpado pelos olhares das pessoas estranhas que não sabiam nada sobre eles.

Era claro que os dois não precisavam de um pedido oficial para estarem juntos e poderem fazer coisas que casais fazem, mas fazia parte da cultura que compartilhavam, e de certa forma, diziam-lhes que estavam indo pelo caminho certo.

O menor então decidiu que era hora de tomar a iniciativa e se levantou, caminhando até o colo de Kageyama, esse que não pensou muito, se é que teve tempo, antes de abraçá-lo. Como amava a sensação do corpo do menor se encaixando no seu com tamanha perfeição.

Passavam um certo tempo nessa posição, até mesmo quando estavam com os outros meninos do time recebendo as orientações do treinador, quando estavam em alguma palestra, ou simplesmente em casa e precisavam de um carinho maior sem qualquer motivo que fosse, apenas para ficarem mais próximos do que o normal.

Mas nesse momento era diferente.

Havia uma atmosfera com uma energia especial, quase como se indicasse o que estava por vir. Nenhum dos dois arriscava dizer algo, mesmo que mantivessem os olhos fixos um no outro, tentando nunca esquecer os traços que cada rostinho tinha quando estavam bem pertinho um do outro.

— Não ouse dizer nada até que eu termine, entendeu? Uma palavra e eu te deixo aqui sozinho por sabe lá quanto tempo. — Hinata ameaçou, vendo o outro concordar com a cabeça de forma discreta, até mesmo a sua respiração parecia mais rápida.

— Em algum momento dessa semana me caiu a ficha de que eu deveria parar e analisar o caminho que a minha vida estava indo até então. Não, não estou dizendo que não gosto de dividir a casa com você, uma cama e até mesmo o banho em algumas noites, mas sim no sentido do quão grato estou por ter uma pessoa como você na minha vida e em como todos que diziam que você era um egoísta estavam terrivelmente errados. — Shoyo fez uma breve pausa, deixando um sorriso surreal escapar enquanto brincava com alguns fios do cabelo de Tobio, que parecia entregue completamente ao menor nos seus braços. — A última definição sua deveria ser essa, talvez nem deveria, você é a pureza e leveza em pessoa, Tobio. É a minha vida toda em questão de apenas uns anos juntos, eu nunca entendi como fez isso comigo e meu coração, mas eu preciso que saiba que o meu amor por você irá muito além de apenas uma amizade, apenas algo que fazemos por sermos muito próximos.

— Não ouse dizer que somos apenas amigos! — Tobio o interrompeu, recebendo um tapa fraquinho no braço e logo fazendo uma feição falsa de dor. — Amo a forma como demonstra me amar, viu?

— Desde que aceite me amar o tempo todo, mesmo em momentos de pura raiva, vamos ficar bem.

E certamente eles fariam isso se amando o tempo todo, mesmo com todos os momentos ruins que pudessem surgir nesse meio tempo, afinal, amar envolvia enfrentar qualquer obstáculo.

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