Uma promessa e uma surpresa.

Pedro:

— Você promete que amanhã chegará cedo? — pergunto a ele, vendo-o colocar seu pijama de costas para mim. Realmente, ele continua bastante sexy até nessa posição.

— De novo com isso. Pedro! Já disse, não sei que horas poderei chegar amanhã. Vai depender de como as coisas andarem. — Ele termina sua fala após abotoar o último botão.

— Mas, Leon, eu estou há meses querendo fazer algo amanhã. Você sabe que adoro fazer coisas especiais em datas comemorativas. — Faço biquinho enquanto ele dá um sorriso e me beija.

— Não posso prometer algo que sei que você ficará bravo caso não consiga cumprir. Agora vai para o seu canto da cama. Quero me deitar, amanhã levanto cedo e você sabe disso. 

— Não! Não saio daqui até você me prometer! — Estico meus braços como forma de bloqueio e ele me olha indignado. Sabe que eu não vou ceder tão facilmente a ter o que quero.

— Para de ser criança, Pedro! Já disse que amanhã levanto cedo e você não tem mais cinco anos de idade para continuar com isso! — Ele cruza os braços, com cara de irritado.

— Vai, me promete, Leon? Pelo menos amanhã! Fala para mim que chegará antes das dez da noite. Pelo menos isso você promete para mim, por favor! — Abraço sua cintura e o olho. Ele revira os olhos.

— Está bem, eu prometo. Agora anda e vai para o seu canto! — Dou um sorriso para ele e vou indo para o meu lugar.

Como uma prova de protesto de quem foi obrigado a prometer algo, Leon vira de costas para mim. Dou um sorriso e o abraço, falo um "Eu te amo" em seu ouvido e ele se vira para mim. Ele coloca minha cabeça em seu peito e me abraça. "Idiota, eu também te amo." é falado no meu ouvido.

No meio desse abraço apertado e com um sorriso largo em minha boca, caio no sono. Sei que Leon terá que acordar cedo no dia seguinte. Não só ele, como eu também terei, afinal tenho que estar ao vivo com os meus alunos a manhã inteira. Isso que dá pegar oito turmas para dar aula. Pelo menos naquele dia são só três.

— Ei, Pedro, desliga o despertador! Não aguento mais esse barulho! — Leon se mexe na cama, se cobrindo até a cabeça.

— Ele está do seu lado, é só você desligar — falo, abrindo os olhos. Ainda nem apareceram os raios de sol. 

— Anda logo ou quebrarei esse relógio se isso continuar! — Se mexe novamente. Depois eu que sou a criança.

— Se quebrar, faço você comprar outro. seu idiota. Acabei de comprar isso e você concordou em ter um. — Passo por cima dele, pego o relógio e desligo o despertador. — Anda, levanta, precisamos fazer o café da manhã antes de você sair para trabalhar.

— Não quero ir! Aqui está tão bom, principalmente sem esse barulho.

Saio da cama primeiro e vou ao banheiro lavar o rosto para dar uma acordada. A água gelada bate em minha pele me fazendo arrepiar. Realmente precisava disso. Olho para a cama e dou dois tapinhas onde está a cabeça dele ou onde achava que estava embaixo do edredom.

— Esquentarei a água para o café e arrumarei a mesa. Vê se levanta logo, não me faça te chamar de novo, hein! — Ele se mexe, mas não me responde.

Não ligo tanto para isso, sei o quanto ele é chato para acordar, mas sei também que aquela mexida significou um sim à minha chamada, então logo logo ele estará na cozinha para me ajudar.

Moramos em um apartamento, no último andar. Ele é bem espaçoso e tem uma boa localização na nossa cidade. Eu que escolhi morar em um apartamento em vez de uma casa. Sempre quis morar em um. Leon não ligou muito, disse que se fosse perto de seu trabalho, aceitaria qualquer lugar.

Abro a geladeira, olho o que têm. Pego dois ovos, maionese, presunto e queijo, algumas frutas e o leite. Coloco tudo em cima da pia, me agacho e abro o armário, pego a chaleira para esquentar a água. Ponho ela no fogo. Enquanto esquenta a água para o café, vou fazendo o que iremos comer. Frito os ovos, passo a maionese no pão, coloco presunto e queijo, ponho o ovo dentro e o fecho. Abro a sanduicheira, coloco os dois lanches dentro e a fecho.

Enquanto faço isso, Leon toma seu banho. Coloca seu terno e vem na minha direção. Me beija no pescoço, bochecha e, por fim, na boca, me dá bom dia e fala que vai preparar a mesa enquanto eu termino aqui. Retribuo o bom dia e confirmo com a cabeça sua sugestão. Ouço a chaleira fazendo seu barulho irritante, pego o açúcar, coloco dentro, mexo bem e quando vejo que está tudo dissolvido, desligo o fogo. Coloco o filtro, o pó de café e começo a pôr a água quente. Assim que termino, a sanduicheira liga sua luz verde, dizendo que os sanduíches já estão prontos. 

Leon aparece com os dois pratos, os serve com os sanduíches e leva tudo para a mesa de jantar. Depois volta e pega as nossas canecas. Enquanto ele faz isso eu vou guardando as coisas que usei, vou pondo a frigideira e a chaleira na pia, lavo as frutas e coloco-as em uma bandeja. 

Finalizamos o preparo da mesa e comemos. Não sei se isso é muito trabalho para se fazer de manhã, mas aqui para nós dois virou rotina. Após termos tomado todo o café, ele me ajuda a lavar a louça.

Espero ele acabar de se arrumar, o acompanho até a porta e desejo um bom trabalho. O lembro da promessa que fez e dou um sorriso, acenando enquanto ele fecha a porta de entrada. 

Me viro e vou indo para o banheiro novamente. Preciso me arrumar para dar as aulas. Começo a tomar um banho relaxante, escolho uma roupa confortável, mas não muito, não quero dar um ar de "sou um professor desarrumado perante as câmeras, pois estou em casa". O que meus alunos iriam pensar? 

Passo perfume e tudo mais, ligo meu computador, vou ver o horário de minhas aulas e tenho uma logo cedo, outra às 9:20 horas e a outra 11:10. Ultimamente não gosto de pegar a última aula igual a essa, parece que estou dando aula para primário.

Respiro após ver meu horário, pego minha garrafinha de água e sento-me novamente. Vejo o ângulo da câmera, pego meu microfone, os materiais e entro online em ponto às 7:40 da manhã. Os alunos começam a entrar e eu já começo a explicar e tudo mais.

Sou um professor de história. Tenho 24 anos. Eu e Leon temos a mesma idade, a única coisa que muda são os meses. Ele, por incrível que aparente, é mais novo. 

Amo dar aula, é uma paixão que não consigo descrever. Por ser jovem ainda, muitas turmas que pego interagem comigo e sabem se comportar durante as minhas aulas, não são iguais nas outras matérias. Me apaixonei por história desde o primeiro contato. Ouvir sobre coisas marcantes do passado é o melhor. Isso me faz sentir um certo nojo em ver como as coisas estão indo atualmente. Em pleno século 21, parece que as pessoas estão mais decaindo do que subindo, principalmente nesse país lindo com uma certa pessoa que não deveria nem estar lá em cima. Mas melhor nem falar da política atual. 

Leon sempre foi apaixonado por cálculo. Conheço ele desde o meu ensino médio. Ele era um nerd completo, mas em vez de fazer matemática ou ciências contábeis, decidiu fazer administração, pois amou um curso que tinha feito e queria muito ser CEO de uma empresa, coisa que ele conseguiu após sua graduação e finalização do estágio.

A empresa em que ele trabalha também ajudou em seu crescimento. Ela é conhecida e é de um amigo de seu pai. Diz Leon que o amigo dele estava devendo um favor desde quando os dois eram jovens, por isso aproveitou para entrar na empresa e tentar crescer por lá.

Eu não tiro o mérito do meu incrível namorado, ele soube como fazer a empresa crescer. Foi surpreendente ver o gráfico dos últimos anos. Ele tinha me mostrado desde quando entrou e fiquei chocado, nunca esperava ver algo assim na minha vida. Foi aí que percebi que ele realmente se dedica ao máximo no seu trabalho.

Eu e Leon começamos a namorar no final do ensino médio. Sempre fui apaixonado por ele, em todo lugar que ele ia, eu ia junto. Não sei dizer, mas algo nele sempre me puxava. Até que um dia, na escola, durante uma forte chuva e quase ninguém por perto, ele me puxou para um canto secreto, onde ninguém conseguia nos ver, e me beijou. Foi meu primeiro beijo.

Após este maravilhoso beijo, ele encostou sua testa na minha, os dois vermelhos, e disse: "Feliz aniversário Pedro.". Me surpreendi quando escutei isso. Naquele dia tinha me esquecido por completo do meu aniversário, mas o que me deixou mais feliz foi depois de dois meses desse dia. Enquanto a gente ficava escondido de todos, ele vinha dormir em casa e eu na casa dele, nunca tentamos ir mais além, era algo que eu não estava preparado ainda, naquele tempo eu não sabia o quanto o Leon me observava. Afinal, ele sempre foi muito atencioso e nunca tentou nada além do que ele sabia que eu deixaria. 

Uma semana antes do natal, eu tinha ido na casa dele e dito que minha família iria viajar para o interior esse ano, para visitar meus parentes e tudo mais. Ele me olhou com uma cara de quem já esperava e disse: "Tudo bem, então te vejo só em janeiro certo?". Me indignei, afinal esperava pelo menos um olhar triste, já que não iríamos nos encontrar durante um bom tempo. Mas antes que eu pudesse brigar com ele, Leon se agachou e tirou uma caixinha de seu bolso: "Já que eu não poderei fazer algo bonito depois, terá que ser assim. Pedro, aceita namorar comigo?"

Fui pedido em namoro no quarto dele, onde eu estava todo desarrumado para a ocasião e não estava nada romântico, mas lágrimas saíram dos meus olhos e eu aceitei, pulei em cima dele e o enchi de beijos. Foi realmente o melhor presente de natal que eu poderia receber, mesmo que tenha sido uma semana adiantado.

Após ter aceitado, ele colocou a aliança no meu dedo e no dedo dele. Depois me puxou para a sala, onde seus pais estavam, e falou que começou a namorar, mostrando a minha e a aliança dele. No começo os pais do Leon ficaram sem reação, pois não sabiam se parabenizavam ou se brigavam com nós dois. Mas, após ouvirem a declaração do filho, dizendo que me amava e que se não apoiassem o nosso namoro iria continuar do mesmo jeito e tudo mais, vieram na nossa direção e nos abraçaram.

Em minha casa foi algo mais difícil. Em comparação com a família dele, a minha era mais séria. Nos sentamos na sala com meus pais após eu os ter chamado. Olhei para baixo e não sabia o que dizer, estava muito nervoso, nunca disse a eles algo íntimo sobre mim, principalmente sobre minha orientação sexual e tudo mais, mas Leon colocou sua mão sobre a minha, me fazendo perceber que eu tinha que fazer isso cedo ou tarde.

Após a revelação, meus pais começaram a brigar com a gente, dizendo muitas coisas que se não fosse pelo meu namorado, iriam me machucar mais do que machucaram. Após eu ter chorado horrores e ter ameaçado sair de casa e viver com o Leon o mais cedo possível, eles aceitaram o nosso relacionamento. Contudo, tenho que dizer que foi bem difícil eles se acostumarem. No começo foi algo sério, mas depois tudo foi melhorando.

Como eu tinha dito a eles, iria sair o mais rápido possível de casa para ir morar com o Leon e foi o que eu fiz. Após perceber que iria conseguir me virar sozinho, fui falar com meu namorado e ele gostou da ideia. Escolhemos o apartamento e tudo mais e aqui estamos.

Dando meio-dia e o horário da fome começar a cantar, finalizo minha última aula, me despeço dos meus amados alunos, desligo a chamada e tudo mais. Me estico todo e vou indo na direção da cozinha. Abro a geladeira, os armários e vejo até na dispensa. É, meu almoço vai ser macarrão com algumas coisas que sobraram do jantar de ontem e um suquinho de uva. Terei que fazer as compras agora à tarde, não tem nada na geladeira.

Enquanto como, envio mensagem para o Leon. Estou com saudades, não aguento viver longe desse homem. Ele diz que está cheio de coisas para fazer e tentando adiantar outras para ver se consegue chegar mais cedo hoje, nem almoçar direito ele está conseguindo. Fico com pena, mas não posso desistir de conseguir o que eu quero. Em meio à quarentena, eu, Pedro, farei um jantar à luz de velas com o meu namorado, custe o que custar. 

Leon e mais algumas pessoas importantes da empresa precisam ir hoje lá para arrumar os cronogramas de trabalho, questionar se devem demitir alguns ou algo assim por causa da queda que deu, por causa da pandemia e tudo mais. Isso deixou meu namorado sem tempo para mim durante o início da quarentena toda, afinal, ele começou a calcular desde o começo para entregar um ótimo material nessa reunião que sabia aconteceria cedo ou tarde. Como disse, ele ama o seu trabalho. Me pergunto se ama mais do que me ama.

Desde o meio de maio venho falando a ele sobre o que quero fazer no dia dos namorados. O incomodei todos os dias com isso até que finalmente consegui fazê-lo me prometer que chegaria cedo, e Leon não é de quebrar promessas. Corto o assunto que estávamos tendo antes dele me dizer que entraria para outra reunião e falo que farei compras enquanto o nosso lindo robô vai aspirando e passando pano na casa. O melhor investimento em toda a minha vida.

Pego a minha máscara, a carteira, coloco o produto que quero que o robô passe durante seu percurso inteiro, o programo e vou para o mercado. Dentro do carro, já vejo o tamanho da fila. Dou um suspiro e pego o carrinho de compras. Entro na fila e torço para que ande rápido.

Faço a compra quase do mês, chego em casa e já passo álcool em gel em tudo. Guardo em seus devidos lugares e vou ajudar o robô a limpar a casa. Arrumo nosso quarto, levo as roupas sujas para lavar, separo as pretas, as brancas e as coloridas, lavo a louça, tiro o pó que começou a aparecer na estante da sala, passo as roupas já limpas e as guardo. Realmente minha mãe sentiria orgulho de mim. 

E quando finalmente acabo de arrumar tudo e sento no sofá, pego meu celular para ver as horas, seis horas da tarde. Dou um suspiro e logo tenho que começar a preparar as coisas para o nosso jantar romântico. Realmente hoje ninguém estragará meu dia, é o meu momento.

Enquanto como pipoca, assisto vídeos aleatórios no YouTube e fico vendo pelo celular se meus alunos estão me mandando as coisas, aparece uma notificação de chamada. Leon está me ligando.

— Alô? Oi amor, como está indo as coisas aí? Eu acabei de arrumar a casa, logo vou tomar banho e começar a arrumar as coisas para o nosso jantar.

— Pedro, você realmente quer fazer isso hoje? — ele pergunta com um tom de voz desanimado. O que será que houve?

— Sim, você sabe que sim. Fiquei mais de um mês enchendo você por causa disso! Mas o que houve, meu amor? Aconteceu algo na empresa? Está tudo bem? Você parece desanimado.

— Não vou poder sair cedo hoje, Pedro. Tenho muitas coisas para fazer ainda e…

— Como assim, Leon?! Você me prometeu que sairia cedo hoje. Ao meio-dia disse que estava adiantando as coisas e agora me vem com essa?! 

— Aconteceu um imprevisto, Pedro, e eu fui para resolver. Nisso eu atrasei tudo e…

— Imprevisto? Que imprevisto? Sempre com essas coisas de novo, Leon!

—  Eu tive que sair para resolver um assunto e quando voltei me deram mais e mais e…

— Leonardo, já chega! Cansei, sempre a mesma coisa! Você sabia que eu queria fazer isso há mais de um mês! Você sabia!

— Pedro, eu…

— Que seja! Bom trabalho e feliz dia dos namorados! — Desligo a chamada. Realmente não quero mais saber desse assunto, não quero mais ouvir nenhuma desculpa vindo dele. Sempre a mesma coisa, sempre foi assim, que raiva, que ódio! Por que ele liga mais para o trabalho do que para seu próprio namorado?

Passo as mãos no meu cabelo, meus olhos começam a encher de lágrimas. Minha mente não está aceitando o fato, não está aceitando que ele me deu um bolo. Olho para a cozinha, lembro o que comprei e tudo mais, o esforço que fiz a mais hoje só para agradá-lo, mas nem isso… Nem isso posso fazer, pois ele só liga para o emprego… Eu deveria ter lembrado que não era tão importante assim para ele.

Mas meu orgulho não me deixa ficar chorando, não me deixa abaixar a cabeça. Minha mente teimosa não quer ceder ao não que ouviu agora há pouco. Ela quer continuar, quer fazer isso acontecer. Olho para o relógio, seis horas da tarde, eu ainda posso, já que chegará tarde, ainda dá tempo. Me levanto e vou na direção da cozinha, pego o meu avental. Se não vou ter uma noite romântica com ele, então será só para mim o jantar romântico.

Pego o vídeo que deixei salvo no Youtube, da receita que queria fazer para ele. Peço a Alexa para pôr a minha playlist que mais amo nesse mundo e calmamente dou play no vídeo e começo a me preparar para fazer igual ou tentar fazer igual, afinal não parecia ser nada fácil e ainda algo completamente complicado para um iniciante na culinária igual a mim. 

Quando finalmente termino tudo, até mesmo de lavar a louça, a fome começa a me invadir. Olho novamente para o relógio, nove horas da noite. Cozinhar realmente demanda um bom tempo. Dou um suspiro quando penso naquele idiota. Retiro o meu avental e vou na direção do banheiro. 

Calmamente tomo meu banho relaxante, me depilo, faço o banho mais revigorante que já fiz, saio com pele de neném. Cantarolo até meu guarda-roupa, escolho sem pressa as mais elegantes peças de roupas que tenho, passo meu perfume favorito, arrumo o cabelo e tudo mais. Me olho no espelho. Sim, sou realmente um cara sexy e super atraente.

Vou até a cozinha e de um armário que tinha quase escondido em um canto retiro os pacotinhos das velas aromatizadas, pego com aroma de baunilha, para dar um clima super romântico. Começo a arrumar a mesa, sem tentar dar uma olhada para o bendito relógio, mas toda vez que vou da mesa à cozinha, o olho de relance. 

Após finalizar a decoração da mesa, tudo bem tranquilo. Ele não chegará tão cedo assim afinal. Me sento, a exaustão do dia começa a bater, cruzo os braços em cima da mesa, encosto minha cabeça. Será que ele vai demorar tanto assim? Retiro meu olhar insistente do relógio e fico admirando uma única vela que acendi, realmente tem um cheiro de baunilha. Com todas as luzes apagadas e somente a luz da cozinha acesa, junto com a pequena vela a minha frente, adormeço.

Leon: 

Dezenove, vinte, vinte e uma… Já são nove horas da noite e eu preso aqui ainda. Acho que ninguém ficaria até tarde resolvendo assuntos da empresa que trabalha, só um louco doente que quer tanto ter um final de semana livre de dores de cabeça. Eram gráficos, termos, assinaturas, tudo que amo trabalhar, mas que estava lutando contra o tempo para finalizar. Se não fosse por causa daquele bendito assunto, já teria terminado.

Quando finalmente termino, olho para o relógio de pulso, nove e meia da noite. Pedro nem deve estar a minha espera. Ele realmente já deve ter ido dormir. Mas se tiver acordado, realmente não me perdoará ou olhará na minha cara por uma semana. Suspiro, junto as minhas coisas e vou embora. Em meia hora estou em casa. 

Paro na porta em busca de minha chave. Meus ouvidos estão atentos. Tento ouvir algum barulho, mas nada, nem a TV está ligada. Engulo seco o pensamento dele ter ido dormir, realmente não me perdoará hoje. Abro a porta com cuidado, a casa toda escura, menos a cozinha. Será que ele está comendo algo ou ficou bêbado e adormeceu ali?

Fecho a porta com delicadeza, retiro meus sapatos, deixo a minha bolsa em cima da cômoda e vou na direção da luz, afrouxando a gravata. Olho de canto se ele está na cozinha, mas nada, somente as panelas em cima do fogão… É, ele realmente fez um jantar, só para ele. Me aproximo delas e abro algumas, mas antes de colocar meu dedo e experimentar, sinto um leve cheiro de baunilha. 

Me viro para trás e vejo uma pequena fonte de luz. Vou até onde essa luz está e o vejo, todo elegante, adormecido. A mesa toda decorada e a pequena vela quase se apagando acesa. Ele me esperou, mesmo dizendo que não iria, mesmo o deixando bravo por não ter conseguido chegar na hora marcada. Mas o assunto que eu tinha que resolver tem a ver com ele. Se soubesse dessa surpresa, acho que não ficaria nem um pouco bravo.

Dou um sorriso e volto para a cozinha. Preciso fazer algo para ele acordar sem ficar bravo comigo. Farei o que ele supostamente estava esperando para fazer comigo. Coloco meu avental, o que ele sempre diz que ficaria sexy em mim com terno, e começo a ligar o fogo. Esquentar a comida, assim ele acordará com fome e não tão bravo como antes. 

Acabo de esquentar tudo e de colocar na mesa. Quando acorda e olha para mim, está sonolento e sem entender direito o que está acontecendo. Só vê as coisas feitas com a claridade das velas com cheiro de baunilha. 

— Era para eu fazer isso — ele fala emburrado e sonolento, com uma expressão de bravo para mim. — E era só para mim, não incluí você, já que não conseguiu cumprir sua promessa. 

— Mesmo? Então por que você fez tanto assim? — pergunto, já servindo seu prato. 

— Porque estou morrendo de fome. — Ele para o olhar no prato. — Por que você não conseguiu vir como você prometeu?

— Eu disse a você, aconteceu um imprevisto e eu tive que resolver…

— Imprevistos… — ele me corta e suspira. — Você poderia ao menos dar mais valor para mim do que para o seu trabalho, ao menos hoje poderia ter feito isso… Você sabe que isso era…

— Importante para você e que você ficou no meu pé quase um mês inteiro? Sim, eu sei, mas não pude dizer não a esse compromisso.

— Você não me ama. Se amasse, ligaria para mim em vez de ficar toda hora ligando para trabalho. — Ele se levanta com os olhos cheios de lágrimas, está prestes a sair correndo para o quarto, mas o impeço segurando seu braço. — Me solta! Eu não te dou dinheiro por minuto igual o seu amado trabalho dá! Me deixe em paz!

— Pedro, não é assim, não foi o trabalho esse compromisso. — Ele me olha surpreso. —  Foi algo mais importante que ele. 

— Mais importante?

— Sim, mas agora senta, come, se acalme. Sabe que não conseguimos resolver nada de barriga vazia.

Ele silenciosamente olha para o prato e para mim. Provavelmente está com muita fome, já que aceita sem insistir. Jantamos silenciosamente, realmente esse clima não está nada romântico. Sempre que tento puxar assunto, ele me corta. Como pode ser tão fofo bravo? Não sei como pode ser tão infantil assim, mas não pediria para mudar nada, eu o amo desse jeito mesmo.

Após terminar de lavar todas as coisas sujas e guardar a sobra na geladeira, vou até onde ele está, sentado no sofá com uma taça de vinho, no escuro, já que insiste em deixar as luzes das velas acesas. Sento ao seu lado, bebo um pouco de vinho antes de tentar novamente falar com ele. Deixo minha taça em cima da mesa e peço para ele fazer a mesma coisa. 

— Pedro, eu tenho um assunto sério para falar com você.

Pedro:

— E o que seria, Leon? — Já não estou com paciência, já não quero saber das desculpinhas que ele inventará sobre o motivo de não ter conseguido vir mais cedo.

— Primeiro olhe para mim e para de ficar com essa cara fechada. 

— Falar é fácil, já que não foi com você que aconteceu o bolo. 

— Por favor, Pedro, não seja tão infantil. — Ele olha para o relógio e volta o olhar para mim. — Eu não tenho tanto tempo assim. 

— São onze e meia, claro que tem tempo. 

— Vai cooperar?

— Tá! Fala logo o que quer. — Dou uma respirada forte e me viro para ele.

Quando faço isso, ele segura em minhas mãos e as olha, depois vira seu olhar para mim. 

— Pedro, vou te contar o motivo por eu não ter conseguido chegar cedo. Um deles foi que queria terminar tudo que precisava fazer nesse final de semana antes para conseguir ter um tempo com você. E a outra… Bem, estamos juntos há muito tempo, então eu sabia que se não fosse por mim, essa iniciativa nunca ia rolar.

— O que você quer dizer com isso? — Um certo receio dele tentar terminar comigo passou por minha cabeça, mas, ao contrário disso, ele se agachou na minha frente, tirando uma caixinha do seu bolso.

— Pedro. — Ele abre a caixinha, onde vejo dois pares de aliança dourada. — Você aceita se casar comigo? Aceita ser o futuro esposo desse idiota que não consegue cumprir uma simples promessa?

— Eu… — Não estou acreditando. Lágrimas caem sem parar dos meus olhos e não consigo fazer nada a não ser tampar meu rosto com as mãos.

— P-pedro, eu te assustei? E-está tudo bem? Por que está chorando? — Ele se levanta e segura meus ombros. Sem pensar muito, o abraço.

— Eu aceito, Leon — falo no meio de alguns soluços — Aceito me casar com você! É só que eu pensei que você ia terminar comigo ou algo assim. Fiquei com medo e aliviado ao mesmo tempo. 

— Mas por que eu terminaria com você? Eu te amo mais que tudo nesse mundo. 

— Eu também te amo. — Afasto meu rosto do seu peito e o olho. Ele se aproxima e me beija. 

— Me dá seu dedo. – pede. – Deixa eu pôr a aliança nele. 

Ele a coloca no meu dedo anelar esquerdo. Ainda estou sem acreditar. Estou noivo, estou noivo do melhor cara do mundo, do homem da minha vida. As lágrimas começam de novo. Alcanço o celular e tiro uma foto nossa, preciso deixar isso marcado antes de darmos continuidade no quarto. 

E assim feito, antes mesmo dele me agarrar e começar a me levar para o quarto, perguntando qual seria seu presente, se seria de novo o meu vale especial que ele sempre amava ganhar nos dias dos namorados, posto a nossa foto no meu Instagram com a seguinte frase: 

"Não importa o quanto julguem ou o quanto vocês briguem. Não importa quantas vezes você custe a pensar na pior das opções, o amor sempre te surpreenderá com um lindo presente em um momento de uma queda infinita. Hoje me tornei noivo, e, com a felicidade de agora, marco esse momento aqui e desejo a todos um feliz dia dos namorados." 

Fim.

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