8 - Not About Angels
"Quão injusto é o nosso acaso
Encontramos algo tão verdadeiro
Que está fora de alcance
Mas se você encontrasse nesse vasto mundo
Você teria coragem de deixá-lo ir?
Pois quanto aos, quanto aos anjos
Eles vêm e vão
E nos fazem especiais
Não desista de mim"
— Not About Angels, Birdy (From the motion picture "THE FAULT IN OUR STARS")
Fiquei segurando a mão dela, incapaz de acreditar no que estava sentindo. Sua pele era suave, macia e quente. Apertei sua mão para verificar se não estava sonhando. Era surreal poder sentir a presença da garota que me atormentava há tanto tempo. Apertei sua mão mais uma vez para me certificar de que aquilo era real:
— Todos os coreanos gostam de segurar a mão de garotas desconhecidas? — Ela brincou. Na verdade, eu segurei sua mão e não queria soltá-la.
— Desculpe... — A soltei e me belisquei.
Não estava sonhando, pois senti a leve dor ao apertar minha própria pele. O tumor estava realmente piorando; a alucinação se tornou muito real e, se continuasse assim, eu perderia a percepção entre o que é real e o que não é.
— Você não para de me encarar... isso é bem estranho.
— É que... antes, você não falava e eu não conseguia sentir você... Tudo bem, acho que posso aceitar o fato de que o ecstasy mexeu com meu cérebro.
— Você usou drogas? Meu Deus, por que fez isso? — Sua voz soou preocupada.
— Você sabe, já que é fruto da minha imaginação, estou morrendo... — Disse, voltando a encarar o quadro. Pelo menos agora eu tinha companhia nos meus passeios solitários.
— Você está morrendo? — Ela me olhou surpresa e seu olhar ficou triste.
— Pare com isso, é irritante! — Como se minha alucinação não soubesse o que está acontecendo comigo.
— Ok, é muita informação que acabei de receber, mas... Eu não sou fruto da sua imaginação; foi você quem apareceu para mim em um sonho.
— O que? Do que você está falando? — Olhei para ela sem entender absolutamente nada do que ela queria dizer com aquilo. — Sabe de uma coisa, as pessoas vão começar a achar que sou louco se eu continuar falando sozinho em frente a um quadro. Pode continuar me seguindo como sempre fez, você não me assusta mais.
Ela continuou a me olhar com expressão confusa, o que só me irritou ainda mais. Decidi sair dali quando uma senhora passou e a tal Ellie falou:
— Bonjour madame, j'espère que vous apprécierez la visite.
*Bom dia senhora, espero que aprecie a visita.
A senhora sorriu para ela e agradeceu, isso só estava piorando:
— Pardonnez-moi, mais pouvez-vous la voir? — Perguntei assustado para a senhora.
*Perdoe-me mas a senhora consegue vê-la?
— Mais bien sûr, pourquoi pas? — Ela me encarou como se eu fosse um esquisito.
*Mas é claro, porque não conseguiria?
A garota sorriu triunfante para mim e eu fiquei cada vez mais assustado. O guia turístico disse que precisávamos continuar andando e ela tomou a iniciativa de falar:
— Acho que já entendi o que está acontecendo. Vamos andando e eu te explico.
Mesmo relutante, comecei a andar ao lado dela. Ela era mais baixa do que eu, exalava um perfume floral e fazia questão de sorrir para todos que a olhavam. Sentia-me desconfortável por estar ao lado da garota que antes achava que não era real e agora era. Tudo o que conseguia pensar era que o tumor estava piorando. Já sabia que isso aconteceria, mas ainda assim era estranho. Naquela hora, eu só conseguia pensar que provavelmente estivesse entubado em uma cama de hospital e tudo aquilo fosse apenas um delírio da minha alma entre a vida e a morte. Paramos em uma sala cheia de esculturas e, finalmente, ela começou a explicar:
— Você tem aparecido nos meus sonhos e eu fiquei sem entender o motivo. Seu rosto era estranhamente familiar para mim. Então pesquisei na internet por asiáticos e você apareceu. Hwang Hyunjin, dançarino do Stray Kids. Foi aí que lembrei de onde te conhecia. Fico surpresa que você não se lembre de mim. — A observei, ainda sem entender, e ela continuou. — La Sylphide, apresentado pela companhia de ballet da Ópera de Paris em 2022.
Quando ela disse isso, foi como se eu tivesse voltado ao passado. De repente, estou no aeroporto com Felix, acabando de chegar na França depois de horas no avião.
— Dizem que a França fede. — Felix falou, tirando seus fones e ajeitando seu moletom.
— Não se esqueça dos ratos. — Entrei na brincadeira, rindo e pegando minha mala.
— Meninos, ajeitem bem suas roupas, porque os seguranças não vêm. — Haein, nossa staff, disse depois de desligar seu telefone.
— Por quê? — Felix perguntou.
— Erro de comunicação. Teríamos que esperar umas duas horas para eles chegarem aqui.
— Que maravilha. — Fiquei de mau humor, observando a staff. Naquela época, eu não sabia, mas Haein era uma das melhores pessoas da equipe de produção e, posteriormente, se tornou nossa amiga.
Escondemos nossos rostos como pudemos e saímos da sala de desembarque. Ninguém percebeu quem éramos e agradeci muito por isso. Logo estávamos no hotel e teríamos apenas dois dias em Paris. Eu e Felix decidimos visitar alguns pontos turísticos e, à noite, iríamos à Ópera de Paris assistir ao espetáculo de ballet "La Sylphide". Assim, seguimos nossa programação e, ao entardecer, voltamos para o hotel e nos vestimos apropriadamente. Encontramos Haein na recepção e fomos até a ópera.
A construção do lugar era belíssima, a arquitetura europeia me deixava apaixonado. A casa estava lotada e seguimos para nossa fila. Nossos ingressos eram para o camarote e rapidamente assumimos nossos lugares. Até então eu nunca tinha visto uma peça de ballet e estava bastante curioso para saber se iria gostar ou não.
— Olha, é dividido por atos. — Felix me mostrou o folheto explicando a história de cada ato.
— Que história triste. — Disse ao ler o folheto.
O ballet era sobre uma fada chamada "Sylphide" que se apaixonou por um homem que está prestes a se casar. Ela o seduziu até que ele desistiu do casamento e fugiu para a floresta, onde encontrou outras fadas e tudo parece perfeito. No entanto, ele foi enganado e acidentalmente matou sua amada Sylphide.
— A maioria dos ballets de repertório tem histórias trágicas. Antigamente, não havia novelas, então era assim que a alta sociedade se divertia. — Haein comentou e nós rimos.
O anúncio de que o espetáculo estava prestes a começar foi feito e a orquestra se apresentou primeiro. Era incrível saber que tudo estava acontecendo ao vivo. Não vou mentir, a JYPE desembolsou uma boa quantia pelos ingressos no camarote. Foi um pedido especial que fiz ao nosso antigo CEO e ele felizmente atendeu. Então, o primeiro ato começou, mostrando uma casa com homens vestindo trajes escoceses dançando.
— Uau, olha para o corpo daqueles bailarinos, quantos homens gostosos em um só lugar. — Observei o quão definidos seus corpos são.
Felix riu alto e Haein me olhou assustada. Como staff, ela sabia bem quando fingir que não ouviu nada, mas geralmente evitávamos essas pérolas na frente da equipe. A noiva do rapaz entrou em cena, eles dançaram e gesticularam de forma bem dramática. Ali fiquei pensando em como o ballet devia ser difícil. Por mais que pareça bobo, há muita técnica por trás. E foi ali, admirando a habilidade das bailarinas de sustentarem seus corpos em bonitas sapatilhas, que a "Sylphide" entrou e me deixou hipnotizado.
A garota que interpretava a fada usava um lindo vestido branco e dançava com tanta graça que fiquei vidrado em cada movimento. Sabe aquela atração imediata? Acho que é esse tipo de coisa. Mesmo executando movimentos que claramente não são fáceis, ela mantinha uma leveza surreal, como se realmente fosse uma criatura mística.
— Depois do evento, podemos cumprimentar os bailarinos? — Perguntei a Haein sem tirar os olhos da bailarina.
— No camarote, sim. — Ela respondeu.
— Você consegue me arrumar flores?
— Ah... posso tentar.
— Então vá.
Haein apenas assentiu e saiu do camarote. Continuei observando a bailarina e toda a sua graça. Ela era perfeita e precisa em cada movimento.
— Fazia tempo que não te via tão encantado assim por alguém. — Felix murmurou, também observando a bailarina.
— Por que será que nunca saí com uma bailarina? Tem gente que tem fetiche por flexibilidade, não é mesmo?
— Vai tentar o Kama Sutra, é?
Dei uma gargalhada alta ao ouvir a pergunta. Certa vez, estávamos todos bêbados e falando sobre sexo, e Changbin disse que tentou uma posição diferente e não conseguiu, e assim surgiu o assunto do Kama Sutra. Acho que as pessoas ficariam chocadas se soubessem de tudo o que os idols conversam longe das câmeras, poderíamos ser todos cancelados.
O ballet se estendeu por mais duas horas e, ao final, a bailarina foi apresentada como Ellie Mitchels, um nome que certamente ficaria gravado em minha memória. Haein conseguiu arrumar algumas rosas brancas para mim, embora não fossem tão impressionantes quanto eu esperava. Mas não disse nada, afinal, era tarde da noite, onde ela iria conseguir um belo buquê de última hora?
Caminhamos até os bastidores do espetáculo, onde havia uma fila enorme para cumprimentar a Prima Ballerina. Felix reclamava que estava com fome, mas eu insistia em esperar para vê-la. Quando finalmente chegou minha vez, Ellie estava usando um robe rosa-claro e seus cabelos estavam molhados e soltos devido ao gel. Ela sorriu ao me ver e eu não pude deixar de me perder em seus encantadores olhos castanhos-esverdeados.
— Eu devo dizer "Brava, bravíssima, estupenda?" – Perguntei, tentando demonstrar que estava admirado.
Ela ficou um pouco sem jeito e me perdi nas curtinhas tímidas que surgiram em seus lábios. Seu sorriso era lindo e seus olhos instigavam minha curiosidade, como se houvesse muitos mistérios a serem desvendados neles.
— Obrigada, rapaz – Ela respondeu com um sotaque francês característico.
— Pra você – Entreguei as flores, percebendo que já havia um mar de flores ali. É coisa tradicional do ballet que as primas ballerinas recebessem flores do público.
— Muita gentileza sua, são minhas favoritas – Ela cheirou as rosas e as colocou junto com as outras flores. Não sei dizer se ela disse aquilo apenas para ser gentil, mas as guardou com cuidado, mostrando que realmente valorizava o gesto. – E vocês são?
— Sou Hwang Hyunjin e esse é Lee Felix – Aponto para Felix, que cumprimentou-a cordialmente.
— Olá – Felix disse, exibindo todo o seu carisma.
— Espero que tenham gostado do ballet – Ellie disse.
— Vocês foram incríveis – Felix elogiou.
— Nós também somos bailarinos. Somos os principais dançarinos de um grupo de kpop – Falei confiante.
Ela era a dançarina principal da companhia, enquanto eu era de uma boyband. Era uma coincidência interessante.
— Oh, Oui, entendo. Esse tipo de dança não é meu estilo, mas dançar qualquer ritmo é maravilhoso. Meninos, tenho que cumprimentar mais pessoas, não estou mandando vocês irem embora, é que há mais gente – Ela disse rapidamente, mas não estava pronto para me despedir, queria mais...
— Será que eu poderia te ver outra vez? – Perguntei sem perder tempo, e ela deu um sorrisinho tímido.
— Desculpe, garoto, eu tenho namorado. Mas... A temporada de Natal deve começar em breve e já estou escalada para ser a Sugar Plum em "Nutcracker". Poderá me ver novamente se vier prestigiar a apresentação. — Ela piscou, fazendo seu próprio marketing, e eu fingi ser atingido no peito, derrotado.
— Tudo bem – Me obriguei a me despedir daqueles olhos cintilantes.
Felix não perdeu a oportunidade de me zoar pelo resto da noite, por ter ficado caidinho nela sem nem considerar que a garota recusaria meu convite. No dia seguinte, seguimos para o real motivo de estarmos ali: o lançamento de um perfume caro. Nos dirigimos ao terraço de um prédio onde estava acontecendo o evento de um perfume caríssimo da Yves Saint Laurent. Encontramos várias pessoas famosas, tiramos fotos e, no final, o evento estava agradável.
Para minha surpresa, tive a oportunidade de vê-la novamente. Ellie apareceu na festa e estava deslumbrante, com seu cabelo solto e um elegante vestido verde água que combinava perfeitamente com seus olhos. Infelizmente, ela não estava sozinha. Ao seu lado, havia um homem alto e moreno. Ellie nos viu, sorriu e veio em nossa direção:
— Parece que nos encontramos mais rápido do que eu esperava. Olá, Hyunjin, Felix — ela disse, enquanto eu me perdia novamente em seu olhar cativante.
Ellie parecia uma princesa com uma beleza única e delicada. Sua baixa estatura lhe conferia um ar jovial e o vestido rodado contribuía para a imagem de realeza. No entanto, ela estava acompanhada por alguém que claramente não combinava com ela. O homem tinha uma expressão fria, com o rosto marcado por uma barba mal feita e cicatrizes de acne que o faziam parecer mais velho do que realmente era. Por que ela estava com ele? Qualquer pessoa que os visse poderia facilmente perceber que eles não tinham a mesma energia.
— Ellie, que surpresa — fiz uma breve reverência, e Felix também a cumprimentou.
— Este é Rob, meu namorado.
— Como vai? — o homem disse, enquanto apertávamos as mãos.
— Estou bem — respondi, embora não tenha gostado da forma como ele me olhava. Mesmo assim, tentei ser simpático.
— Bom, preciso cumprimentar outras pessoas. Foi ótimo vê-los.
Ellie disse, e os dois saíram juntos. Felix voltou a me zoar, mas jurei para mim mesmo que daria um soco nele se gostasse um pouquinho menos dele. Como só havia champanhe disponível, bebemos socialmente. Porém, logo me entediei e comecei a andar sem rumo pela festa. Falei com algumas pessoas ao acaso até que notei Ellie na pista de dança, com uma expressão tão triste que não pude ignorar. Resolvi me aproximar.
— Eu não posso aceitar isso — disse, pegando duas taças de champanhe e oferecendo uma a ela. Ellie me olhou sem entender, mas aceitou a taça. — Esse semblante triste não combina com você... Alguém tão bela como você deveria apenas sorrir.
Ela sorriu e tomou o conteúdo da taça de uma só vez.
— Todos têm o direito de ter dias ruins.
— Não você. Alguém como você merece flores e chocolates todos os dias.
— Eu não como chocolate — ela me cortou. Deveria imaginar que a alimentação de uma bailarina era restrita.
— Você está perdendo um dos grandes prazeres da vida.
— O que você quer? Está flertando comigo desde ontem. Já disse que tenho namorado — Ellie começou a ficar irritada. Gyu sempre me diz para parar de flertar gratuitamente com todo mundo.
— E onde ele está? Que deixou uma bela flor aqui sozinha e com a cara triste.
— Você diz isso para todas? É assim que elas vão para a cama com você — sua voz soou ácida, e eu a encarei. Ellie estava perdendo sua aparência pura e angelical. Que segredos você esconde, Ellie Mitchels?
— É assim que pareço para você? Como um cafajeste? — perguntei, curioso.
— Sim, como um cara que não para de dar em cima de uma garota que namora — respondeu Ellie.
— Permita-me dizer algo... Você é como uma lagarta, aparentemente frágil e pequena, mas há algo em você querendo se libertar e voar como uma borboleta. — Não fiz esse comentário levianamente.
Havia algo no olhar de Ellie que transmitia uma urgência para se libertar. O que a voz não diz, os olhos revelam. No entanto, como todo ser humano, às vezes as correntes que nos prendem são pesadas demais para serem quebradas. Percebi que toquei em um ponto sensível, pois ela ficou pensativa. Era minha chance:
— Me diga, Ellie, o que está impedindo você de abrir suas asas e voar?
— Talvez, olhando pela perspectiva de uma bailarina, eu ainda não tenha encontrado a música certa que me faça dançar do meu jeito...
— Então, aproveite a pista de dança e dance comigo, dance ao seu próprio ritmo.
Um sorriso iluminou o rosto de Ellie, o mesmo sorriso encantador que vi nela ontem. Foi uma pequena conquista para mim.
— Obrigada, você conseguiu me distrair. Aproveite a festa, Hyunjin.
Ellie me olhou pela última vez antes de se afastar e desaparecer no meio das pessoas. Voltei para perto de Felix, que estava interagindo e tirando fotos com Dua Lipa. Juntei-me a eles e foi uma experiência incrível conhecer uma artista tão talentosa como ela. Enquanto conversávamos, trocamos nossos números de telefone, algo insignificante para alguns, mas estamos falando de Dua Lipa. Tentei arranjar uma companhia para Felix, mas ele sempre fugia de relacionamentos, não sabia o que estava perdendo.
Decidi dar mais uma volta pela festa, ficar parado em meio a pessoas desconhecidas e fora do meu ritmo me deixava entediado. Segui por um corredor quando ouvi vozes vindas de lá. Parecia uma discussão em francês, naquela época meu francês era limitado, mas fiz um esforço para entender o que estavam dizendo:
— Pourquoi continuez-vous d'agir ainsi? — Era uma voz masculina e estava muito brava.
*Porquê você continua agindo assim?
— Nous sommes à une fête, s'il vous plait ce n'est pas le moment de faire une scène. — Dessa vez foi uma garota quem disse.
*Estamos numa festa, por favor não é hora de fazer cena.
— Vous continuez à donner des balles aux autres!
*Você fica dando bola para os outros!
— Lâchez-moi, vous me faites mal!
*Me solta, está me machucando!
Ao ouvir essas palavras virei o corredor na mesma hora e vi Rob segurando Ellie que estava acuada pelo braço. Ela me olhou assustada e o homem gritou comigo:
— Qu'est-ce que tu fais là?
*O que você tá fazendo aí?
— Solta ela, tá machucando a garota! Laisse-la partir, tu finiras par la blesser — Tento dizer a mesma coisa em francês, mas era difícil de pronunciar as palavras.
— Vai me dizer que deu pra esse aí também. — Ele fala em inglês.
— Para com isso Rob eu nem o conheço direito. O vi pela primeira vez ontem no ballet. — A voz dela saiu como uma súplica.
— Menteur, tu agis comme une chienne voulant écarter les cuisses pour le premier qui arrive!
*mentirosa, você age como uma cadela querendo abrir as pernas para o primeiro que chegar.
Eu não consegui compreender o que ele disse, mas pelos olhos marejados de Ellie, percebi que foi algo ofensivo.
— Cara, qual é o seu problema? Solta ela!
— Não se meta onde não foi chamado. — Ele me encarou de forma ameaçadora. No entanto, não posso permitir que ele a trate dessa maneira.
— Serei obrigado a chamar os seguranças.
Então o homem partiu para cima de mim e desferiu um soco em meu rosto. Ellie gritou e pediu ajuda. Seguranças e curiosos apareceram para ver o que estava acontecendo. Haein e Felix chegaram e me tiraram do local. Sentado em um sofá, limpava o canto da boca. Aquele desgraçado causou um corte em meus lábios e os convidados não paravam de me olhar. Não consigo expressar a raiva que senti naquele momento... Como um homem pode levantar a mão para uma mulher? Ele não viu o medo estampado no rosto dela? Desgraçado, cretino...
— Pode me dizer por que estava brigando com aquele homem? — Perguntou Felix, demonstrando irritação e preocupação.
— Ele estava machucando ela...
— E você decidiu ser um herói? Francamente, Hyunjin... sua sorte é que é uma festa privada, porque se isso vazar para a mídia... — Repreendeu Haein.
— O quê? Vão me obrigar a entrar em hiato de novo? — Falei sarcasticamente. Não bastava a confusão com a história do bullying, em que eles decidiram que o melhor era me afastar do grupo?
Então Ellie se aproximou de nós e a encaramos. Ela claramente estava constrangida, com os olhos avermelhados, provavelmente de tanto chorar. Aquilo me afetou profundamente. Alguém como ela não deveria ser tratada dessa forma. Nenhuma mulher deveria chorar por causa de um homem. Ela pensou cuidadosamente e começou a falar:
— Vim pedir desculpas... O Rob não é assim, ele está passando por momentos difíceis e tem descontado em mim... E obrigada por me defender.
— Você vai voltar para aquele cara? — Olhei para ela incrédulo, ainda tentando entender suas justificativas.
— Hyunjin, acho que isso não é da sua conta. — Felix me interrompeu.
Como alguém poderia querer voltar para alguém assim? Por que as pessoas se apegavam a esses relacionamentos? É por isso que eu preferia não me envolver com ninguém. Sentimentos são complicados demais. Se ela fosse desapegada como eu, já teria deixado aquele homem e seguiria em frente. Mas ela optou por estar ali, sujeitando-se a uma relação claramente abusiva porque provavelmente o amava e não conseguia abandoná-lo.
— Foi um prazer, Hyunjin. — Ela disse, recusando-se a responder, e saiu. Foi a última vez que a vi.
Pelo menos, até recentemente. Eu estava em meu dormitório assistindo a vídeos aleatórios no YouTube quando fui direcionado para um vídeo de Swan Lake e a vi dançar. Confesso que fiquei obcecado por uma semana, assistindo a todos os vídeos em que ela dançava, mas percebi o quão idiota isso era e parei de dar importância. No entanto, de alguma forma, sua imagem continuou em meu subconsciente, acompanhando-me desde que descobri minha doença e agora, de forma surpreendente, pessoalmente. Acordei daquele lampejo como se tivesse saído de um transe e sorri imediatamente para a garota que não era mais apenas uma ilusão de um cérebro doente.
— Claro, como pude esquecer seu rosto?
— Parece que finalmente se lembrou de mim. — Seus olhos verdes me encaravam. Por que essa garota, mesmo sendo real, ainda parecia tão etérea?
— Como pude esquecer, Ellie, é você! — Exclamei animado, com tantas perguntas para fazer a ela.
— É incrível que ainda se lembre das flores que me trouxe. Eram camélias, plantadas no jardim dos fundos da Ópera de Paris. Eu amo essas flores.
— Então a Haein roubou as flores? Uau... Não posso acreditar que me esqueci de você.
— Acontece, já faz algum tempo, mas me diga... Você está morrendo? — Ela voltou a me olhar com preocupação.
— Tenho um tumor inoperável no cérebro. — Falei casualmente, como se não fosse nada, e ela ficou assustada.
— Oh meu Deus, sinto muito.
— Está tudo bem. — Paramos em frente a uma escultura grega e ficamos em silêncio por um breve momento até eu perguntar. — Como sabia onde eu estava?
— Na verdade, eu não sabia, foi apenas uma coincidência. Estou viajando pela Europa para respirar novos ares e acabei encontrando você aqui. — Ela respondeu sem problema algum.
— Isso só pode ser mentira. Também estou viajando pela Europa. — Era incrivelmente coincidência demais que a garota por quem me apaixonei anos atrás, a quem via como um fantasma em minha imaginação, tenha me encontrado por acaso no museu e também esteja viajando pela Europa.
— Muitas coincidências, talvez seja o destino. — Ela me fitou com seus olhos castanho mel, tão preciosos como cristais raros.
— Eu não acredito nisso. Essas conversas esotéricas são bobagens. — Respondi, e ela não conseguiu conter um riso diante do meu ceticismo.
— Eu acredito... Será você o meu destino, Hyunjin?
Eu não tinha resposta para ela, apenas a encarei. Como poderia o universo ter conspirado para nos encontrarmos ali? Coincidências existem e acontecem. Meu celular vibrou e era Gyu me perguntando que horas eu voltaria. Não queria encerrar o passeio agora, precisava vê-la novamente:
- Você aceitaria sair comigo amanhã à noite? Desculpe, nem perguntei se você está em um relacionamento ou casada... - Olhei para ela, um pouco ansioso.
- Não estou envolvida com ninguém e adoraria jantar com você, Hyunjin.
- Ótimo! - Pontos para mim.
- Mas ainda podemos conversar bastante, há muito para ver no Palácio. - Ela girou, olhando ao redor, e isso me fez sorrir. Realmente, ainda havia muitas alas para serem exploradas no palácio. Desculpe, Gyu, mas ele pode esperar um pouquinho mais.
- Podemos conversar bastante. - Ofereci meu braço, e ela prontamente aceitou.
Não esqueça a estrelinha ⭐
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