6 - We Are Young

"Hoje à noite
Nós somos jovens
Então vamos deixar o mundo em chamas
Nós podemos queimar mais brilhante
Que o Sol"

— We Are Young, Fun e Janelle Monae


Dentro do avião, passei por dores tão terríveis, que por um instante estivesse prestes a vencer e eu morreria ali mesmo. A dor estava intensa e foi impossível fingir que nada estava acontecendo. Felizmente, não precisei recorrer ao hospital, pois conseguia reconhecer meus limites. Assim que recuperei as forças, escapei das comissárias de bordo, que buscavam ajuda no aeroporto, e fui para o hotel, onde me joguei na cama na esperança de me livrar daquela terrível sensação.

Ao olhar para o lado, vi a mulher deitada ao meu lado. Às vezes, conseguia enxergá-la com mais clareza do que em outras aparições. Ela vestia um vestido branco e seus cabelos castanhos caíam pelo corpo. Sempre que a via com mais nitidez, uma sensação de familiaridade me invadia, mas eu nunca conseguia lembrar de onde a conhecia.

— Você está se tornando minha melhor amiga, sabia? — Disse a ela, embora soubesse que não obteria resposta, já que ela apenas me encarava sem piscar. — Por que você aparece para mim? Quem é você? Por que é tão bonita? Você não vai me responder, mas tudo bem, apenas fique aí. Preciso descansar antes do próximo compromisso.

Certa vez, me convidaram para uma festa rave e eu pensei que esse tipo de evento não era para mim. Apesar de gostar de me divertir, parecia que esse tipo de festa era demais até mesmo para alguém como eu. No entanto, após saber que estava prestes a morrer, comecei a me questionar se não teria me privado de uma experiência única. Como estava na Europa, decidi participar de uma das maiores festas desse tipo: a Tomorrowland. Já tinha assistido a vários vídeos na internet. Muitos DJs que eu apreciava estavam presentes e a festa durava quase uma semana, vinte e quatro horas por dia, com um grupo de jovens animados, embriagados e drogados, espalhando todo tipo de doença contagiosa fritando ao som de música eletrônica intensa. Como não tinha mais com o que me preocupar, comprei um ingresso para apenas uma noite e lá estava eu, na Bélgica.

Os jovens que costumam frequentar essa festa geralmente acampavam no local, mas para mim, a ideia de dividir espaço com um monte de desconhecidos não parecia muito divertida, especialmente por eu ser uma figura pública. Por isso, decidi reservar um quarto em um hotel modesto próximo ao evento. Enquanto eu me preparava, já conseguia ouvir o som frenético da música, indicando que a festa estava em pleno andamento. Antes de me aventurar nessa rave, eu precisava fazer uma refeição.

Eu não havia contado aos meus amigos sobre a Tomorrowland, porque sabia que eles dariam um jeito de vir me buscar, o que era algo que eu queria evitar. Então, para todos os efeitos, eu estava na Holanda, e de fato, esse era o meu próximo destino. Já tinha me alimentado e tomado um banho demorado. Enquanto eu escolhia a roupa que usaria, meu telefone tocou. Olhei rapidamente e vi que era o Gyu. Ele já havia me ligado mais cedo, mas naquela hora, não me sentia muito bem, então não o atendi. Peguei o celular e respondi rapidamente:

— Oi.

Por que não atendeu mais cedo?

— Estava ocupado. — Tentando não morrer. — Precisa de algo?

Queria saber como você está. Onde está agora?

— Na Bélgica. Me diga, se você fosse a uma festa rave, que roupa usaria? — Eu olhava para minha mala sem conseguir decidir o que vestir para esse evento. Um adentro sobre festas raves: são quentes, se você não é adepto a suar, não vá em uma.

VOCÊ VAI NA TOMORROWLAND? FICOU MALUCO? — Beomgyu gritou do outro lado da linha, e eu pude ouvir a voz do Yeonjun pedindo para ele parar de gritar.

— Ah, faça-me favor, esperava essa reação de qualquer um, menos de você. Desde quando ficou tão certinho? Virou moralista agora? — Não era possível que, no fim da minha vida, o Beomgyu tivesse decidido mudar.

Você está morrendo, Hyun! Essa festa é insana e rola de tudo lá! Eu me preocupo com você, droga!

— Hey, pare com isso, bebê. Essa viagem é para eu poder fazer tudo que me privei, então não venha dizer o que devo ou não devo fazer. Se eu cair morto em uma rave ou em uma cama de hospital, qual a diferença que fará? — Ele não me respondeu, e eu fiquei chateado. Só porque eu estava com câncer, ele queria bancar o certinho agora? Que se dane tudo isso. — Vou desligar até depois.

Eu iria com uma calça jeans, alguma regata larga, sabe, porque deve fazer um calor danado em uma rave. — Ah, finalmente, se tem algo que eu e o Beomgyu não somos, é moralistas.

— Eu estava pensando exatamente isso. Como sempre, conectados. Obrigado, Beargyu. — Uma das melhores coisas de ser amigo dele é como nossas mentes trabalham juntas.

Hey... Posso pedir uma coisa? Por precaução?

— Fala... — Coloquei o celular no viva-voz e comecei a trocar de roupa.

Se importa de ativar sua localização em tempo real? Apenas por precaução, caso algo de ruim aconteça, saberei onde você está e assim poderei fazer algo.

Ponderei sobre isso. Acho que no fim, seria útil, pois realmente não sabia o que poderia acontecer em uma festa rave. Então, o pedido do Gyu era válido.

— Está certo. Eu vou te mandar, mas... Nenhuma palavra para os meus amigos, entendeu? Só vai falar algo, se algo ruim acontecer.

Combinado.

Após enviar minha localização, recebi um agradecimento. Ao conferir as horas, percebi que o valor elevado do ingresso para o evento não justificava ficar parado no hotel; era importante aproveitar cada momento. Usando boné e óculos escuros, procurei manter um perfil discreto. No entanto, logo começaram a me abordar, alguns perguntando se eu era Hyunjin do Stray Kids. Apenas sorri em resposta, e algumas pessoas até mesmo começaram a me seguir. Ignorei o assédio e me concentrei em entrar no evento, diretamente na área VIP, que estava lotada com Martin Garrix se apresentando no palco.

A decoração do local era encantadora, com referências a um jardim místico, incluindo elfos, gnomos, fadas e muitas plantas. Na área VIP, havia um bar privativo, onde peguei uma bebida para começar. Enquanto milhares de pessoas na pista se divertiam ao som da música ensurdecedora, eu também me deixei levar pelo ritmo, tentando absorver a energia do ambiente.

Após o show de Martin Garrix, durante o intervalo, peguei outra bebida e um cigarro. Enquanto me acomodava em um sofá, observei as pessoas ao meu redor. Percebi que a maioria na área VIP pareciam ser extremamente ricos, até hoje não gosto de assumir quanto paguei no meu ingresso, muito dinheiro para algo superficial. Ao virar a bebida e me sentir relaxado pelo cigarro, uma garota de biquíni e saída de praia se aproximou:

— Você é Hyunjin, do Stray Kids? — ela perguntou, olhando para mim.

— Acho que não consigo mais esconder. — Tirei o boné e os óculos, e ela sorriu ao confirmar minha identidade. — Olá, como se chama?

— Sou Rachel, não posso acreditar que estou te vendo pessoalmente. Amo "God's Menu" até hoje.

Rachel parecia uma modelo, alta e esbelta, com seios pequenos destacados pelo biquíni laranja, um piercing no umbigo e uma tatuagem na lateral do corpo, parcialmente coberta pela saída de praia. Sua pele era parda e seus cabelos castanhos claros, uma garota bonita.

— Fico agradecido.

— Está sozinho? — ela perguntou, olhando ao redor em busca de mais alguém.

— Sou um lobo solitário. Estou aqui para me divertir. — Sorri de lado, e ela pareceu contagiar-se com meu sorriso.

— Ah, então deixe-me apresentar meus amigos. Você vai adorá-los.

Ela estendeu a mão, e eu não tinha pretensões de me envolver com alguém naquele evento,mas aceitei, atraído pela experiência que poderia viver ao conhecer seu grupo de amigos. Rachel me levou para uma área mais reservada, onde havia duas piscinas, e ali conheci seus amigos. Uma outra garota olhou em minha direção e disse:

— Não acredito que você encontrou um asiático no meio desse mar de gente.

— E não é qualquer asiático. É o Hyunjin do STRAY KIDS. — Ela falou, cheia de si, e sorriu para todos.

— Nem fodendo! — Disse um rapaz que se levantou para me cumprimentar. — E aí, se divertindo?

Estendi minha mão, e ele correspondeu ao cumprimento. Era um homem branco extremamente atraente, com uma bermuda estampada e uma regata branca que destacava sua musculatura e uma tatuagem de símbolos desconhecidos para mim.

— Acredito que vou me divertir mais agora. — Disse simpático.

— Este é o Dean, cuidado com ele; tem cara de hétero, mas quando menos esperar, vai querer te chupar. — Rachel entrou na conversa, e eu ri alto diante de seu comentário.

— Gosto assim... — Esbocei um sorriso malicioso, provocando reações ao meu redor.

— Hmmmm, gostei. Você é gay? — Uma das garotas perguntou, e eu a encarei.

— Gosto de pessoas.

— Alguém que sabe se divertir! — Dean retribuiu o sorriso pervertido.

— E aí, China! — Outro homem e muito atraente se dirigiu a mim. No entanto, seu comentário soou preconceituoso, o que me fez afastar dele.

— E aí, palmitinho. — Devolvi a mesma ironia, já que sua pele era branca como um palmito.

O rapaz apenas riu, como se apreciasse o sarcasmo, só podia ser hétero do pior tipo. Anos de convivência com Changbin me fizeram identificar esse tipo de pessoa à distância.

— Este você não precisa ter dúvida, cem por cento hétero. — Rachel comentou sobre seu amigo causando risos e uma cara indignada vindo dele.

Enquanto o show de Alesso começava, encontrei um lugar para sentar em meio a aquelas pessoas. A música ecoava no ambiente, e eu balançava a cabeça de acordo com o ritmo. Ao meu redor, as pessoas consumiam bebidas caras, e eu me deixava levar pelo clima festivo, sem me importar em gastar todo o dinheiro que acumulei ao longo da vida.

No momento de minha partida, nada daquilo teria importância. Antes de viajar para a Europa, providenciei uma reserva na conta de meus pais, para garantir o amparo deles na velhice. Além disso, fiz uma doação significativa a uma instituição que auxilia pessoas em situações de fome extrema na África. O que restou, decidi gastar livremente durante minhas aventuras.

Eu me divertia entre estranhos, saboreando cada momento como se fosse único. Que pena que nem todos podem se dar ao luxo de seguir os seus impulsos, ou talvez sejam prudentes demais. As pessoas se encaixam em rotinas, se submetem a regras e se aprisionam em sistemas, quando precisam urgentemente soltar as amarras e se permitir um pouco de irresponsabilidade. Somos jovens e deveríamos ter todo o tempo do mundo, mas não temos nada. Claro que eu não sou um modelo de conduta ou de discurso. Apenas... Vivam a vida com mais leveza e não se cobrem tanto. Bom, já falei demais, vamos voltar ao que interessa.

Em determinado momento, a moça chamada Rachel sentou-se em meu colo e me beijou intensamente, enquanto eu acariciava suas pernas. Ela se ajoelhou à minha frente e abriu o zíper da minha calça, iniciando um momento íntimo ali mesmo, sem se importar com a plateia. Em meio à atmosfera em que todos estavam sob o efeito de substâncias psicoativas, ninguém se importou ou impediu pois estavam todos fazendo o mesmo ou pior.

A mulher continuou até que meu corpo estremeceu e todo o meu desejo se concentrou nela. Surpreendentemente, sem cerimônias, permitiu-me avançar ainda mais, estimulando-me. Normalmente, as mulheres com quem me envolvia não aceitavam certas práticas, mas ali estava Rachel, saciando meu desejo. Segurei firme em sua cintura e intensifiquei os movimentos. Pouco importava que ela gemesse alto demais; o som alto da música disfarçava.

E então as coisas começaram a ficar verdadeiramente insanas...

Alguém me ofereceu um comprimido rosa, e embora meu subconsciente alertasse para que eu recusasse, acabei cedendo e o ingeri sem hesitar. Inicialmente, não senti nada além dos efeitos já presentes em meu corpo, resultado do álcool e da maconha. No entanto, pouco a pouco, comecei a me sentir estranho, como se flashes passassem diante de mim.

Recordo-me de Dean me empurrando em uma piscina e pulando logo em seguida, nossos lábios se tocando em um beijo frenético, enquanto eu não conseguia resistir e transei com ele ali mesmo. Em seguida, lembro-me do show de Alan Walker, no qual me vi na pista, pulando ao som de "The Spectre", a última música que recordo ter tocado.

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*The Spectre*

Aquela aparição também marcou presença naquela noite. Ela surgiu diante de mim, como uma visão, vestindo um traje deslumbrante de lantejoulas coloridas. Eu a desejava, queria tocá-la, queria saber se ela era real. Seria ela a morte, a quem eu me rendia como o Deadpool? Alguém me agarrou e me beijou, e eu ouvi risadas ao meu redor, sem saber quem eram. Meu celular não parava de vibrar, e eu vi que eram os meus amigos do SKZ. Eles me bombardeavam de ligações e mensagens, querendo saber se eu estava na Tomorrowland. Eu só pensava "estou ferrado, eles me descobriram".

Também havia várias mensagens no Bubble, eu ignorei o Bubble por muito tempo, mas agora era a hora perfeita. Esse app tinha um sistema de lives exclusivas e eu me joguei na rede, gritando para o mundo que eu estava morrendo. Sim, eu estava morrendo e logo só restaria a lembrança de Hwang Hyunjin, o maldito e desgraçado main dancer do SKZ. Ninguém precisaria chorar por mim, eu estava na escuridão, assombrado pelo meu próprio fantasma. Afinal, a vida é isso, nós nascemos, amamos, vivemos, mentimos e morremos. Então, que se dane tudo, que se dane esse mundo podre, que se dane as regras que os idols devem seguir, que se dane a JYPE, que se exploda tudo. Eu só queria dançar até o fim, até o meu último suspiro.

Off: Bubble é um aplicativo pago onde permite os fãs trocar mensagens diretamente com o artista.

Meu celular voltava a tocar, e era Yeji, minha querida irmã. Atendi com um sorriso enorme no rosto e gritei:

— YEJI-SAAAAAMAAA, queria ser um dançarino tão bom quanto você! — Todos comparavam nossas habilidades, mas eu preferia ser modesto para inflar o ego dela. Eu era melhor.

— O que você está fazendo, seu idiota? — Parecia irritada.

— Só estou sendo feliz. Uau, olhem aquela estátua; quero subir nela... Ei, me ajude a subir nisso. — Disse a uma pessoa aleatória ao meu lado.

— Hyunjin... Você usou drogas? — A voz espantada de Yeji fez com que eu gargalhasse, naquele momento não tinha certeza se havia usado. Minha visão já começava a girar, e eu me sentia sem fôlego, como se estivesse flutuando. Será que, se subisse naquela estátua e pulasse, eu voaria de verdade? Juro que meu corpo estava mais leve que uma pluma naquele momento.

— Você deveria vir aqui também, irmãzinha. Ei, WHY SO SERIOUS? — Cantei trecho de uma música do grupo ao qual ela pertence, e ela desligou na hora.

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*Cheeshire, música que o Hyunjin se refere*

— Quem era? — Perguntou alguém.

— Minha irmã, ela é demais! Deveria comê-la também.

— Prefiro você! — Forçando a vista, percebi que era Dean ao meu lado o tempo todo.

— DEAN! Sinto que vou vomitar. Há quanto tempo estamos aqui? — Deixei-me cair sobre ele, e ele sorriu maliciosamente.

— Já são quase cinco da manhã. — Uma voz feminina disse ao nosso lado, não tenho certeza se era Rachel.

— Quer mais um? — Dean mergulhou a mão no bolso, e dessa vez era uma pílula azul.

— Você vai matar o garoto desse jeito! — A mulher o repreendeu, e minha risada como resposta os deixaram assustados.

— Já estou morto desde que saí da Coreia, querida.

Tomei a pílula e a joguei na boca. Dean me avisou que haveria uma festa na casa de amigos e, assim, nós todos fomos para lá. Ele me levou para um quarto e tivemos relações de novo e de novo. Não conseguia entender de onde vinha tanto desejo por seu corpo, só sabia que quanto mais me entregava a Dean, mais o desejava. Refletindo agora, teria sido esse o segredo de Gyu? Ele queria transar comigo sempre que nos esbarravamos. A tensão sexual que existia entre nós dois era surreal. Lembro-me que no fundo, desejei que o Han não levasse seu relacionamento com o Gyu a sério, pois estava me arrependo de ter que dividir a atenção de Gyu em específico com meu amigo.

Não deveria ter imaginado Gyu enquanto fodo com outra pessoa, pois eu o queria comigo. Nunca admitierei isso a ele, mas em uma dessas noites, tive pensamentos eróticos que me levaram a bater várias para ele. Esse é o nosso segredinho.

Então fiquei sozinho no quarto, e a única coisa que passava pela minha cabeça era "por que tudo aqui está tremendo?" Para qualquer direção que olhasse, tudo tremia. Caminhei na direção de vozes que ouvia, mas não encontrei Dean ou Rachel. Mesmo assim, sentei-me com aquelas pessoas e novamente me senti como se estivesse flutuando.

Olhei para as minhas mãos e algo estava errado com elas, como se estivessem derretendo. Um certo desespero tomou conta de mim e olhei em busca de ajuda. Vi a aparição da mulher dançando em cima da mesa. Precisava tocá-la, senti um desejo desesperado de alcançá-la, como se tudo ficasse bem se conseguisse.

Levantei e tentei correr até ela, mas não fui muito longe, minhas pernas travaram e acabei no chão. Não conseguia respirar, estava desnorteado pelo pânico que tomava conta do meu corpo. Rostos surgiram ao meu redor, mas estavam todos borrados. Parecia haver alguém me segurando e me balançando, mas não conseguia ver quem era ou ouvir o que dizia, seu rosto estava confuso demais para mim.

Meu corpo tremia, minha cabeça doía como se estivesse sendo parti­da ao meio. Por que tudo em mim parecia errado? Eu me sentia completamente mal. Além da sensação de sufocamento, o pânico não me deixava respirar, parecia que meu corpo estava atrofiado ali mesmo. Olhei desesperado para o lado e vi a garota deitada ao meu lado.

Estendi minha mão para tentar segurar a dela. Por mais que tentasse, nossos dedos estavam distantes demais, mesmo que ela estivesse ao meu alcance. Eu queria chorar por não poder alcançá-la, seu sorriso transmitia paz em meio ao caos. Não poderia aguentar mais, meu coração batia acelerado e senti uma dormência estranha nas pernas, que tomou conta do meu corpo. Achei que estava morrendo e só desejava, que fosse rápido.

Acordei em um sobressalto, abrindo os olhos para me deparar com o quarto do hotel. O reconheci imediatamente pela mancha no teto que me chamou a atenção desde a primeira vez que entrei ali. Tentei me sentar, mas uma onda de náusea tomou conta de mim, me forçando a vomitar seja lá o que estava no meu estômago. Minha cabeça ainda girava e meu corpo tremia, sinal de que o que quer que eu tivesse bebido, foi forte.

— Argh, não vou limpar isso. — Alguém resmungou, que me fez olhar assustado para a voz familiar, vendo Gyu mexendo no meu celular.

— Como você me achou? — Questionei, estreitando os olhos confuso com a presença repentina dele.

— Fácil, assim que ligou a localização, peguei minhas coisas e vim para a Bélgica. Algo me dizia que isso não ia acabar bem, e minha intuição se provou certa. — Explicou Gyu.

Flashbacks das últimas horas me atingiram como uma bomba, as memórias confusas, mas eu sabia que tinha ultrapassado todos os limites. Antes de encarar o tamanho do estrago que fiz, fui ao banheiro e tomei um longo banho na vã tentativa de me sentir melhor, mas a sensação de desfalecimento persistia. Ao sair do banheiro, apenas de cueca, arranquei o celular da mão de Gyu, que reclamou:

— Por que está mexendo no meu celular? — Questionei, enquanto verificava o que ele estava fazendo.

— Você gravou vídeos e tirou fotos da sua aventura de ontem. Receio informar que algumas dessas fotos, seja por seu próprio celular ou de terceiros, acabaram na internet, como aquela em que está com uma garota só de biquíni no sofá, uma foto bem... Íntima, eu diria. Vejo que está fazendo bom uso do seu dinheiro. — Provocou Gyu.

— Ah, cale a boca. — Não precisei nem checar o Twitter para encontrar fotos da noite anterior. Imagens que deixavam claro que eu havia transado com aquela garota, selfies minhas com diversas pessoas aleatórias, já que aparentemente tirava foto com qualquer um que se aproximasse. Havia também imagens minhas beijando pessoas aleatórias no rosto. Nesse momento, um único pensamento martelava em minha mente: "Que merda", enquanto passava a mão irritado pelo cabelo, lamentando o excesso cometido. As drogas, é claro, haviam facilitado tudo, mas será que eu apenas estava extravasando tudo o que estava reprimido em mim, devido ao pouco juízo que ainda possuía?

— Bang Chan deve ter descarregado o celular de tanto ligar. E não só ele, seus pais também. Não contei a ninguém, fique tranquilo. — Gyu falou, orgulhoso por cumprir sua palavra de não revelar onde eu realmente estava.

— Você é realmente muito leal. Merece uma estrela no nome. — Pisquei para ele, e ele sorriu.

Joguei a camisa que usei no maldito evento sobre o local em que vomitei, dando um fim à bela peça da Louis Vuitton. Mais tarde, uma camareira viria limpar. Meu celular estava caótico, todos os membros do grupo enchendo as conversas com perguntas sobre o que estava acontecendo, se eu realmente havia usado drogas. Eu estava ferrado.

— Acho que meu tempo de vida foi reduzido para um mês, porque o Bang Chan vai me matar. — Comentei, e Gyu riu alto.

Mas sabe de uma coisa? Naquele momento, o que importava mesmo? Vários escândalos ou apenas me divertir? Quando nos damos conta de que vamos morrer, percebemos que as coisas devem ser vistas de forma mais leve, e não me importava com o que falariam de mim. Apenas me arrependi de ter revelado no Bubble que estava morrendo. Não me recordava dessa parte, mas os STAY lembravam, e a internet estava um caos, com teorias sobre morte e até mesmo possessão. Decidi então fazer algo que já não fazia há algum tempo para tentar resolver essa bagunça. Saímos do quarto e procuramos um lugar bem iluminado. Encontrado o local, improvisei um tripé com a mão de Gyu e iniciei uma transmissão ao vivo no Instagram.

— Olá, olá a todos, olá.

Fui cumprimentando as pessoas que entravam na transmissão. Quando percebi que quase um milhão de pessoas estavam assistindo simultaneamente, sabia que era hora de começar a falar:

— Peço desculpas pelo meu comportamento das últimas vinte e quatro horas. Certamente, exagerei, e peço desculpas se causei preocupação a todos, não foi intencional. Acho que ficou bem claro que aprontei bastante e não vim aqui para pagar de santo, afinal, tenho vinte e sete anos. Não sou mais uma criança, assim como tenho certeza que a maioria que está assistindo também não é. Se beijei um homem ou uma mulher, e daí? Vocês nunca fizeram isso? Se não, sinto muito, estão perdendo, mas enfim, o verdadeiro motivo da live é esclarecer sobre o Bubble...

— Quero que saibam que durante toda a minha vida, me esforcei para ser o melhor para vocês, e vocês sempre estiveram do meu lado em todos os momentos que precisei, mesmo quando estive fraco. Pensar em vocês me dava forças para continuar, e só de lembrar de toda a trajetória do SKZ, me sinto grato por todas as alegrias que me proporcionaram. Então acho que preciso ser honesto com todos... Nesse exato momento, há um tumor inoperável me levando aos poucos, e está tudo bem. Não quero que sofram, não quero que chorem, quero que sejam felizes porque eu estou feliz. Aproveitei a minha vida, e vocês a tornaram mais colorida. Agora estou viajando por aí, conhecendo lugares e pessoas, aprontando um pouco. — Segurei o riso em deboche. — Enquanto ainda posso e...

Parei para refletir sobre as últimas memórias, até mesmo na loucura da festa rave. Eu estava feliz e ansioso pela próxima aventura a vivenciar, e não pude evitar sorrir para a câmera.

— Estou muito bem com isso, já aceitei meu destino, e realmente estou em paz. Se algum STAY me ver na rua, por favor, não hesite em vir falar comigo. Somos muito mais do que ídolo e fãs, somos amigos, e eu posso dar um abraço e sorrir com os meus amigos uma última vez. — Aquilo soou melancólico, mas faz parte. — Obrigado, STAY, amo cada um de vocês. Posso nunca ter visto o rosto da maioria, mas... ninguém morre de verdade enquanto a lembrança se fizer presente em seus corações. Eu sempre estarei com vocês enquanto pensarem em mim. Preciso desligar porque há mais lugares para ver, mas como diz o Bang Chan, grande abraço e eu te amo!

Gyu desconectou a transmissão e me encarou com um ar de ironia.

— Isso foi muito emotivo. — Comentou.

— Calado. — Disse, lendo os comentários, vendo que a notícia, como eu já imaginava, deixou todos devastados.

— Você pediu permissão para a empresa para fazer essa live? — O idiota continuou me provocando.

— Calado. — Respondi.

Eu não estava mais preocupado com a retaliação da JYPE, pois não existia mais uma carreira para defender.

— Então, para onde vamos agora?

— Vamos? — Sua pergunta me fez desviar a atenção do celular e encará-lo. O que ele queria dizer com isso?

— Disse ao meu manager que ia tirar uns dias de folga, e olha só, estou aqui. Alguém tem que limpar a sua bagunça. — Explicou Gyu.

— Você sabe que vai ser questão de umas vinte e quatro horas para o mundo saber que está andando comigo. E a sua empresa?

— Para o que a Hybe me serve? Eu não sei como até hoje ninguém jogou fogo naquilo. — Gyu disparou, arrancando uma risada de mim.

Ele então se aproximou e selou meus lábios de forma demorada.

— Senti saudades... — Foram suas únicas palavras, com nossos rostos ainda colados.

Música do Stray kids que a garota menciona:

[Deveria haver um GIF ou vídeo aqui. Atualize a aplicação agora para ver.]

Não se esqueça da estrelinha

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