5 - Cure for me

"Mas eu não preciso de uma cura para mim
Eu não preciso disso
Não, eu não preciso de uma cura para mim
Eu não preciso disso"

Cure For Me, Aurora

O único motivo pelo qual eu queria passar na Polônia era visitar o museu do holocausto. Sei que parece mórbido, mas essa viagem era justamente ver coisas que nunca vi e me peguei pensando que se não fosse pelos livros de história, eu nunca teria visto fotos desse lugar.

Então, após deixar as coisas no hotel, segui para um micro-ônibus que levaria os turistas até Auschwitz-Birkenau. Me sentei no fundo e coloquei meus fones, o ITZY havia acabado de lançar sua nova música e eu precisava parabenizar minha irmãzinha pelo seu excelente trabalho. Já ia mandar mensagem para ela quando meu celular tocou, olhei para a tela e era Felix:

— Yongbok! Eai? — Com o tempo, Felix não se importava mais de que chamássemos ele por seu nome coreano. Lembro-me de como ele reclamava quando o chamavam assim, mas se tornou hábito.

Oi Hyun. Curtindo o passeio?

— Seria mais divertido se você estivesse comigo pra gente fazer aquela tour que sempre sonhamos. Eu fui no concerto de Mozart e juro, meus ouvidos foram agraciados. — Falar disso me fez pensar em Brianna e não contive um sorriso ao lembrar dela e principalmente sobre nossas noites.

— Por falar nisso, quem é a garota que estava com você em Viena?

— Então já foi parar nos tabloides. Uau. — Incrível como não perdem tempo para uma boa fofoca.

Sei que o Chan me pediu descrição, mas eu iria morrer, a descrição é a ultima coisa que eu deveria me preocupar . De fato eu não me policiei para não ser visto com Brianna, mas sinceramente eu queria que vissem que idols tem suas vidas pessoais. As pessoas precisam parar com comportamentos doentios por causa de seus ídolos.

— Achei que você tinha dito que seria cuidadoso.

— Felix eu estou morrendo. A minha última preocupação agora é a mídia.

— Hum... Espero que ela esteja bem, o pessoal está a atacando na Internet.

Totalmente previsível, uma grande parte do fandom do K-pop consegue ser incrivelmente tóxico.

— Imaginei. Como sempre os fiscais de idols iriam dar as caras no twitter. Eu vou falar com ela, nos falamos depois?

— Se cuide! Toma seus remédios e fique bem.

Talvez eu não estivesse tomando a medicação corretamente mas isso é detalhe é ele não precisava saber disso.

— Combinado! Fica bem estou desligando.

Desliguei o celular e logo procurei pela notícia e ela apareceu sem muita dificuldade no meu celular: "Hyunjin do Stray Kids é visto em Viena com garota misteriosa ". O site também enfatizou o fato de que eu estava em hiatus para cuidar da saúde e de repente estou na Europa a fim de sugerir que meu hiatus na verdade era para estar viajando com uma garota. A foto era minha e de Brianna no concerto de Mozart e os comentários sobre a aparência da garota eram ridículos. Como as pessoas podiam se limitar a cor de pele e tamanhos de corpos? Todo corpo é belo de sua própria maneira. Então resolvi mandar uma mensagem para Brianna:

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Brianna (Viena🎻)

Meu anjo
8:43am

Espero que você esteja bem...
8:43am

Não ligue pra nenhum dos comentários. Você é linda, absolutamente linda
8:43am

Espero que esteja bem
8:44am

*Foto*

Nossa...
9:03am

As Stays me odeiam mesmo.
9:03am

Elas podem me chamar de gorda o quanto quiserem.
9:05am

Eu consegui algo que nem 1% delas conseguiria.
9:05am

O meu beijo?👀
9:05am

Ir pra cama com você...
9:06am

Você tem um ponto fortíssimo
9:06am

Hahahahaha
9:06

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Segui conversando com Brianna até que o micro-ônibus chegou no seu destino. Assim que desci, senti o clima pesado do lugar. Havia trilhos antigos que seguiam para a construção feia, a entrada possuía um arco com algumas escritas em uma língua estranha para mim, devia ser alemão. A cerca de arame farpado rodeava o local, não conseguia ver até onde se estendia, dando uma sensação horripilante só de olhar.

O guia turístico juntou o pequeno aglomerado de gente e fez as considerações iniciais. Mesmo que ali fosse um museu para mostrar a humanidade os horrores do holocausto, também era um túmulo, milhares de vidas se perderam ali e eu já estava me arrependendo de ter ido.

Andamos por um longo corredor onde só se via arame farpado, até chegar nos prédios onde alojavam os judeus. Tudo ali exalava morte e entrar naquelas construções me fazia pensar em quão bárbaros os seres humanos podiam ser. A violência não deveria ser de nossa natureza, mas parece que é a única resposta quando se existem conflitos sociais.

Seguimos para uma vala, onde de acordo com o guia turístico foi um dos pontos mais impactantes da libertação do campo. Ali os soviéticos encontraram uma pilha de corpos irreconhecíveis, milhares deles, milhares de vidas ceifadas pela ignorância humana. Aquilo me fez sentir tonto, e me causou arrepios. Ao olhar para o outro lado da vala, eu posso jurar que vi aquela mulher fantasma, usando roupas dos anos quarenta, como se tivesse vivido na época de todos esses horrores.

O grupo seguiu andando e eu fiquei para trás me sentindo perturbado. Desviei meu olhar da visão da mulher e peguei minha garrafa d'água dando uma boa golada para afastar o mau estar. Quando eu ouvi uma voz próxima a mim até assustei:

— Você está bem? — O homem me olhou preocupado.

Ele era alto e usava roupas um tanto sociais demais para sua idade fora o óculos de grau, aquela armação o envelhecia muito mais, não devia ter mais do que quarenta anos. Seus cabelos eram escuros, sua barba estava mal feita e ele parecia um pouco cansado. Apenas sorrio e o respondi de forma simpática:

— Acho que não quero continuar o passeio...

— Tudo bem, não são todos que conseguem mesmo. Pode esperar no micro-ônibus.

Sorrio novamente para ele e fiz todo o caminho de volta para o veículo. Definitivamente foi a pior ideia que tive, pelo menos poderia procurar algum museu na Polônia para recompensar minha vinda aqui. Demorou um certo tempo até todos voltarem para o ônibus e o homem que falou comigo se sentou no outro banco ao lado e sorriu para mim:

— Se sentindo melhor?

— Porquê manter um lugar desses de pé? — Aquela construção era horripilante.

— Para alertar a humanidade sobre erros que outros possam vir a querer cometer de novo.

— Isso é possível no mundo em que vivemos? — É difícil de acreditar que tamanha barbaridade pudesse se repetir com o entendimento que se tem hoje em dia.

— Sempre há loucos...

Nisso eu tenho que concordar. Sempre haverá um louco gritando coisas sobre ordem e patriotismo enquanto uma grande massa se cegará com a suas falsas verdades e discursos de ódio.

— Eu sou Bartov. — O homem então se apresentou para mim.

— Hyunjin. — Curvei levemente a cabeça para ser educado.

— Veio a passeio?

— Sim, é daqui?

Ele assentiu e eu apenas continuo com um sorrisinho em resposta. Aquele lugar mexeu comigo pois me sentia completamente mal. Minha cabeça rodava e meu corpo permanecia fraco, se continuasse nesse ritmo eu iria desmaiar e estava sozinho ali. Olhei para frente e a mulher estava em pé na porta do ônibus, seu semblante sério me assustava, pude notar que toda vez que seu semblante estava assim eu passava muito mal. Só precisava chegar no hotel, se desabasse ali seria melhor do que na rua.

Quando o micro-ônibus parou em frente ao hotel, levantei num pulo mas não vou longe. Ao descer o primeiro degrau as luzes do dia ficaram fortes demais para mim e senti meu corpo cair antes de perder completamente a consciência.

Quando abri os meus olhos, me sentia numa espécie de dejá-vu. Minha cabeça e rosto doíam e demorei a perceber que estava num quarto de um hospital. Me sentei com muita dificuldade, sentindo dores pelo corpo, e notei que Bartov estava ali. Lembro que o olhei com estranhamento, o que ele fazia ali? Quando o homem me viu, veio em minha direção:

— Olá. Finalmente acordou. — Seu semblante demonstrava preocupação, preocupado demais considerando que nem me conhece.

— O quê... Aconteceu?

— Você caiu do ônibus e bateu a cabeça. O médico te avaliou e disse que não quebrou nada. Mas eles disseram que seria bom fazer mais alguns exames e verificar se está tudo bem mesmo.

— De jeito nenhum! — Vi o acesso em meu braço e não pensei duas vezes o arrancando. Meu ato fez com que meu sangue espirrasse no lençol branco, aquilo doeu pra caramba, mas naquele momento não importava.

— O que está fazendo? — Ele perguntou surpreso com minha ação repentina.

— Indo embora. — Pressionei o local de onde arranquei o acesso para estancar o sangue e já dei um passo em direção a porta.

— Não posso permitir. — Ele se colocou na minha frente e eu o olhei como se fosse um doido.

— Você nem me conhece. Isso me faz pensar o porquê está aqui.

— Te socorri e me voluntariei para te acompanhar no hospital, já que ninguém te conhecia.

Ainda não estava muito convicto, mas ok. O sangue ainda escorria e Bartov foi até uma bancada onde arrumou algodão e me entregou. Pressionei o local estancando o sangue mas ainda me sentia tonto e quase cai se não fosse por ele envolvendo seus braços na minha cintura e firmando meu corpo. Malditas pernas que me traíam.

— Volte para a cama, eu vou chamar o médico e ele vai cuidar de você. — Ele disse e sua voz soava preocupada. Minha cabeça ficava repetindo: quem é esse cara?

— Eu já disse que não! Eu preciso ir embora... — Pisquei algumas vezes e recuperei a força do corpo então o empurrei para que me soltasse.

— Permita-me acompanhá-lo até o hotel. Você claramente não está bem.

Aquele cara não ia sair do meu pé então apenas dei de ombros e o deixei me acompanhar. Acabou que se provou útil pois meu corpo estava fraco e ele me apoiava quando necessário. Consegui sair escondido dos médicos, o que nos mostra o quão eficiente aquele hospital era e Bartov foi me guiando pelas ruas polonesas até chegarmos num ponto de ônibus.

— Porquê está sendo legal comigo? — Perguntei curioso. Ele não tinha nenhum motivo aparente para querer me ajudar.

— Gostei de você... Digo, fui com sua cara. — Ele disse meio atrapalhado.

Rio baixo e tenho que admitir que ele foi muito gente boa me ajudando assim então precisava mostrar um pouco de gratidão:

— Obrigado.

Ele se sentou do meu lado e passou a olhar o movimento da rua. Já eu, o observava de soslaio. Podia estar falando com um serial Killer e nem sabia:

— Porquê está viajando sozinho Hyunjin? — Ele me perguntou do nada para puxar papo.

— Porque estava em Auschwitz? Você disse que é daqui então porquê...

— Creio que perguntei algo primeiro.

Me recusei a responder, é ele quem tem que dar respostas, já que insistiu tanto em ficar na minha cola. Olhei para frente e fiquei aguardando o ônibus passar. Então ele resolveu me responder primeiro:

— Eu nunca estive lá para ser sincero... Eu apenas decidi ir, mas naquela hora que te vi eu também estava muito mal com todo aquele ambiente. É que eu percebi que já tenho quase quarenta anos e nunca fiz nada a não ser trabalhar e ser um bom marido... Quer dizer... Pelo menos era um. — Sua voz saiu com melancolia enquanto ele soltou um suspiro de cansaço.

— O quê aconteceu?

— Sua vez. — Ele abriu um pequeno sorriso e eu acabei cedendo.

— Tá! Eu percebi que a vida é curta e decidi viajar pela Europa. Meus amigos tem as ocupações deles e por isso vim sozinho. — A vida realmente é curta.

— Justo... — É tudo que disse e seguiu um momento de silêncio. Definitivamente podia estar falando com um psicopata.

— O que houve com seu casamento? — Deixei minha curiosidade perguntar.

Ele parecia relutante, mas por fim disse:

— Minha esposa descobriu que sou gay... — Oh, isso de fato me surpreendeu, mas não o interrompi, deixei ele continuar. — Mas eu não a trai e nunca sequer fiquei com um ... Homem, o diabo me atentou sabe e me fez ser assim. — Mordi o lábio para reprimir a risada de escárnio, definitivamente não podia interrompê-lo. — Mas eu gostava de minha esposa e agora ela me chama de abominação e não me deixa ver nossa filha. Já rezei a Deus várias vezes que tire esses desejos sujos mas...

Tá já deu desse papo de Deus e finalmente o interrompi:

— Meu amigo, não existe um botão pra desligar sua homossexualidade. Isso não é uma opção e creio que Deus não vai lhe ajudar em muita coisa com isso.

— Não diga isso! Deus ouvirá a minha prece e terei minha família de volta. — Ele protestou.

Revirei os olhos. Tinha pena da alienação que esse homem se encontrava:

— O quão religioso é esse país?

— Hum... diria que noventa e oito por cento da população é cristã ativos na igreja.

— É, foi uma péssima ideia vir pra cá. — Já tenho riscado a Polônia das listas de lugares legais para se conhecer ou voltar.

— É ateu? — Perguntou, mostrando interesse em manter o assunto.

— Eu não gostei daqui.

Não quis dizer que sim para ele não vir palestrar sobre Deus, bíblia e igreja. Bartov me encarava e eu o olhei pensando o porque tanto me olhava. Então ao parecer que chegou em algum lugar com seus pensamentos, disse:

— Vou te fazer mudar de ideia, me dê um dia e te apresento as belezas da Polônia.

— Não tô afim. — Estava mesmo convicto de que ele era um serial killer, queria me matar e fazer alguma bizarrice com meu corpo, coisa de psicopata.

— Por favor aceite, você vai gostar. — Ele insistiu e pelo seu olhar dava para ver o quanto implorava por uma companhia.

Suspirei fundo. Na realidade eu podia sim, meu próximo compromisso era somente na Bélgica e ainda faltava dois dias. Ele tem sido legal comigo, se fosse um psicopata e me matar não é como se fosse mudar alguma coisa na minha vida, então digo:

— Tá, um dia.

— Será o suficiente, prometo.

Tenho minhas dúvidas mas tanto faz, eu não resisto a minha curiosidade de saber aonde as coisas iriam me levar.

Acordei com meu celular chamando. Era I.N me ligando por chamada de vídeo. Atendi apesar de saber que devia estar com a cara horrível:

— Diga. — Falei com a voz um pouco arrastada.

Te acordei?

— Não... Eu já tava acordado. — Menti, mas quase soltei um ronco .

Hum desculpe acordá-lo hyung. O que houve com seu rosto? Está todo roxo. Você brigou com alguém?

— Eu cai de cara no chão ontem, mas tô bem. — Falo com tranquilidade mas isso não pareceu deixá-lo mais tranquilo.

Segui minha conversa com I.N e ele me contou que tinha algumas fotos minhas na Itália circulando na internet. Bang Chan já tinha deixado uma mensagem completamente desgostoso com minha negligência na Áustria e ele deve ter ficado mais irritado depois disso. Porém eu estou nem aí para o que a mídia disser sobre mim, dali uns meses iriam estar todos chorando pela minha morte porque a hipocrisia humana é assim.

Quando Innie finalmente me deixou desligar, vi que já precisava me arrumar. Bartov devia estar me aguardando e mesmo que eu não estivesse muito animado para o tal passeio, não era certo deixá-lo esperando. Passei maquiagem no rosto para não parecer tão acabado e vesti roupas mais despojadas - uma bermuda jeans com um moletom branco que possuía uma listra vermelha na altura do peito- coloquei meus óculos escuros e amarrei uma parte do meu cabelo. Ao me olhar pelo espelho, não consegui reprimir o pensamento de "só morrendo pra aceitar a companhia de um completo estranho que pode ser um assassino."

Evito ao máximo julgar as pessoas, mas ele era meio estranho e religioso. Do mesmo jeito que os religiosos fervorosos são homofobicos eu também tenho meus preconceitos com eles.

Encontrei com Bartov que primeiro me levou para tomar café numa lanchonete famosa da região. Ele começou a me contar curiosidades sobre a cidade e eu tentava ouvir tudo atentamente, eu tinha que fazer caso mesmo que nosso passeio era um tanto quanto inusitado. Depois, caminhamos pelas ruas de Cracóvia, um lugar bonito e perguntei a ele se havia museus por ali, mas fui informado que em sua maioria eram todos sobre a segunda guerra mundial. Isso me fez pensar que já fazem mais de setenta anos desde a segunda guerra e o país ainda guardava as cicatrizes de todas as atrocidades. Porque o ser humano consegue ser abominável assim?

As nossas diferenças é o que nos torna mais belos, nossas culturas nos enriquecem, nossos trejeitos são preciosos e mesmo assim sempre terá aqueles que querem sobressair aos outros. Eu não sei, sempre tive uma visão muito ampla sobre o mundo, sempre fui questionador demais. Nunca concordei com as desigualdades e preconceitos afinal por fora podíamos ter diferenças mas no final ainda somos humanos. Todo ano temos trezentos e sessenta e cinco oportunidades de evoluirmos, mas a maior parte prefere pensamentos retrógrados e desunião, infelizmente seres humanos são ignorantes.

Fomos andar de quadriciculo pelas montanhas da região e era totalmente perceptível a solidão que Bartov se encontrava. Seus "amigos" (que eram todos da igreja que ele frequentava) se afastaram depois que sua esposa explanou sua orientação sexual. As pessoas conseguiam ser tão ignorantes que me irrita. Sempre ficando mais evidente para mim que não é um casal formado por dois homens que está destruindo os lares hoje em dia...

Quando voltamos para a cidade, perguntei a ele se havia algum bar e o mais velho me levou em um pub que liberavam cerveja grátis por uma hora. Pegamos nossa primeira caneca e nos sentamos mais ao fundo. Ficamos em silêncio apenas observando a galera dançar aquela musica estilo folk. Bartov ficava me encarando despistadamente, talvez eu tenha ficado o dia inteiro calado só ouvindo o que ele tinha a dizer:

— Então Bartov, quando descobriu que era gay? — Resolvi puxar assunto pela primeira vez no dia. .

Ele me olhou um pouco tímido e bebe bastante de sua cerveja primeiro antes de me responder:

— Trabalhava num escritório de contabilidade e conheci um rapaz lá. Logo que o vi, senti algo diferente em mim e por mais que negasse eu sabia muito bem que sentimentos eram aqueles... Eu só... Não podia fazer isso. Minha filha completou quatro anos e estou casado a seis. Minha esposa é uma mulher adorável e tínhamos uma vida simples porém boa e eu estraguei tudo por me sentir atraído por um homem. Isso não está certo... — Ele se lamentava enquanto sua voz saia de forma melancólica, no fundo era de dar pena. — Minha esposa não fala mais comigo e eu sinto falta da minha pequena... Mesmo tendo pedido demissão do meu emprego, para ficar longe desses sentimentos, ela continuou me afastando, estou perdido. — Ele bebeu mais uma boa quantidade da cerveja e ficou em silêncio demonstrando estar amargurado.

— Você é um completo idiota! — Disse de uma vez o que estava segurando e ele me encarou surpreso, antes de debater continuei. — Pra começo de conversa, se sua esposa fosse tão adorável como diz, ela não estaria espalhando pelos quatro cantos que você é gay e te impedindo de ver sua filha. Não existem leis que proíbem isso? Como pode uma mulher afastar o pai de uma filha por causa de um pensamento tão antiquado? Você é um idiota por apenas se lamentar ao invés de resolver essa situação.

Ele me olhou em silêncio, mesmo que que a verdade é dolorosa ele sabe que eu tenho razão.

— E outra, manda sua esposa, amigos, vizinhos todos pra casa do caralho! Ninguém absolutamente ninguém pode ditar o que você deve e não deve fazer. Se tá tentando reconquistar sua esposa ok, mas coloca nessa sua cabecinha que a gente só aceita aquele amor que achamos que merecemos. Então se pergunte, é isso que você merece?

— M-as não é bem assim.. minha esposa acha que eu serei uma má influência para nossa pequena... — Eu juro que queria lhe dar um belo tapa para ele acordar, mas respirei fundo e me recompus.

— Diga-me Bartov... Você matou alguém?

— Não...

— Não estou convencido disso ainda mas continuando, roubou alguém? — Ele me olhou, estranhando minha fala, mas negou com a cabeça e eu prossegui. — Abusou de alguém ou é viciado em drogas?

— O quê? Quem pensa que sou Hyunjin? — Sua voz se alterou claramente ofendido.

— Então porque você seria uma péssima influência para sua filha?

— Porque homossexualismo é errado...

— Ah tenha paciência você fala como se ser gay fosse uma doença. Acredita em Deus certo? Vocês cristãos não pregam o amor? Como pode Deus odiar sua criação apenas porque ama alguém igual a si? Acorda homem errado é esse seu julgamento. Eu acho válido que as pessoas acreditem numa força maior que elas para lhes dar esperança, mas se essa força maior gera ódio entre os seus para mim não serve.

Todo aquele papo tinha até feito esquecer da minha cerveja. Peguei a caneca e a virei de uma vez, era uma cerveja Pilsen, leve e cítrica. Levantei e peguei outra caneca, quando me sentei na mesa de volta, Bartov perguntou:

— Se você não acredita em Deus... No que acredita?

— Em você, em mim, naquela garçonete, naquele moço dançando ali. Acredito nas pessoas. Muitos passam a vida implorando a Deus por uma mudança na vida quando não percebem que orações são inúteis se você não causar a mudança que precisa. Milagres não vem de graça...

— Isso foi profundo. — Ele encarou seu copo com uma expressão de tristeza.

— Vamos beber Bartov. Deus não vai curar sua amargura, mas essa noite o álcool sim!

A música estava animada e eu aproveitei bastante do tempo do álcool liberado. Em algum momento me chamaram pra dançar e eu levantei e dancei o com aquelas pessoas diferentes a mim. Bartov estava retraído em seu canto e eu não poderia deixá-lo ali. Alguém precisava urgente ensiná-lo a ver o lado bom da vida:

— Venha dançar Bartov. Se liberte das suas amarras. — Disse indo até ele e tomando seu copo de cerveja de suas mãos.

— Não é tão fácil assim...

Eu já estava meio bêbado então não é como se estivesse me preocupando com muita coisa. Puxei a cadeira e me sentei ao seu lado, passando meu braço em seu ombro:

— Meu amigo você precisa viver. Olhe só pra mim, viverei somente por mais uns cinco meses, mas estou pleno porque vivi cada segundo dessa miserável vida fazendo aquilo que me deixa feliz. Você é saudável e poderá viver até sua velhice mas será infeliz, porque não se permitiu quando pôde... Não se reprima idiota...

— Você está doente? — Ele me olhou surpreso mas eu fiquei todo descontraído.

— Eu estou vivo agora e estou do seu lado, não é? Seja feliz Bartov!

Ele ficou me encarando e eu permaneci sorrindo. Então para minha surpresa ele me puxou pela nuca e me beijou. Correspondi imediatamente o segurando em seu rosto. Conseguia sentir que ele estava assustado, ansioso, mas de certa forma feliz com aquele beijo. Quando nossos lábios se separaram, nem dei tempo que ele dissesse algo, já puxei sua mão e o levei para o meio daquelas pessoas onde bebíamos e dançávamos. Obviamente mais beijos rolaram até que ele descobriu que era delicioso roçar seu membro enrijecido no meu e de repente a noite estava ficando mais interessante.

Já estava terminando meu cigarro enquanto terminava meu desenho no meu caderno. Minha cabeça rodava um pouco mas dessa vez tenho certeza que era o resquício do álcool. Bartov ainda dormia tranquilo na cama do hotel e eu aproveitei disso para desenhá-lo, eu não era muito fã de barba então decidi que iria desenha-lo sem e ficou bem mais bonito assim. Já estava nos últimos rabiscos quando o homem acordou. Ele olhou assustado para o quarto e sentou me encarando todo confuso:

— Como...

— Você veio parar aqui? Você quis vir pra cá e assim viemos. — Disse com muita tranquilidade e creio que isso o deixou mais nervoso.

Ele olhou para seu corpo e ele estava sem camisa, tive que me segurar para não rir da sua cara de assustado, afinal entendia sua confusão e seu medo:

— Nós... Transamos?

Por mais tentador que tenha sido, afinal ele insistiu muito e ouso dizer que quase aconteceu mas...

— Não Bartov, você só dormiu comigo. Não que não tenha rolado um clima mas devido as circunstâncias, se você quiser transar com um homem, que seja sóbrio.

Meu medo era que ele se arrependesse depois e eu já havia mostrado o caminho o beijando e o proporcionando momentos mais íntimos. Agora ele precisava se descobrir.

Bartov assentiu e mostrei a ele o desenho que fiz o deixando impressionado. Depois quis saber sobre a doença e contei tudo a ele. Ficamos conversando por mais um tempo e o homem parecia sem jeito mas ao mesmo tempo era como se tivessem tirado uma tonelada de cima de seu corpo. Meu celular começou a despertar indicando que estava na minha hora de ir. Eu iria pegar um avião pra Bélgica e precisava me apressar:

— Bartov foi um prazer conhecê-lo, espero que consiga ver sua filha e que se resolva consigo mesmo.

— Eu lamento novamente pela sua doença. — Deu um sorriso fraco e eu apertei seu ombro.

— Está tudo bem de verdade. Eu não sofro mais por isso.

— Queria ser bem resolvido assim como você.

— Só depende de você bebê.

Ele me encarou ansioso e eu o beijei novamente. Foi só meus lábios encontrarem o seus que suas mãos me apertaram contra seu corpo, tão forte que até perdi o ar.

— Calma, eu preciso respirar.

Rimos juntos e ele me puxou com mais delicadeza dessa vez e seguimos para um beijo breve, apenas para que ele sinta que não há nada de errado em pessoas do mesmo sexo fazerem isso.

— Adeus Bartov. — Disse pegando minhas coisas e rumando para a saída do quarto.

— Foi um prazer Hyunjin.

O olhei pela última vez. As pessoas ao seu redor poderiam dizer o que quisessem, tenho certeza que o que irá curar sua angústia é o amor, e não há nada de errado com nenhuma forma de amar, seja de homem para mulher, homem para homem e afins. O amor é um templo e se a humanidade queria ter fé em algo, com certeza deveria ser nesse sentimento.

Existe algo mais belo do que o amor?

Existe sentimento mais profundo do que o amor?
Existe algum sentimento mais doloroso do que o amor?

O amor
O maldito amor

Através dele podemos sorrir
Através dele podemos criar as mais belas memórias
E através dele também podemos criar os mais terríveis traumas

Traumas que muitas da vezes nos destrói

O amor também é luto
Por aqueles que se vão e não podemos mais encontrar

Mas mesmo assim buscamos o amor
Porque mesmo que ele doa
Ainda não existe sentimento mais lindo que o amor...

(Poesia autoral)

Não esqueça da estrelinha

BIG HUG

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